Cabala — Cabala Extática E Cabala Teosófica
Excertos de Walter Rehfeld, «Introdução à Mística Judaica»
Cabala é tradição, mas no sentido do mistério que não está aberto a qualquer um. Geralmente um discípulo cabalista é um escolhido. Não é qualquer pessoa que pode ser um cabalista, é preciso ter um certo tipo de personalidade e aceitar muita coisa sem questionamento. Esta é uma tradição em que a pergunta é proibida; o que está sendo ensinado não pode ser compreendido através da discussão, apenas por uma experiência mística própria. Então, deve-se esperar pacientemente até que a experiência divina venha.
Existe no misticismo algo que se poderia chamar de psicossomatismo, porque alguns dos pré-requisitos para a experiência mística são decididamente físicos, outros não o são. Este é um dos problemas sobre o qual se debruçam médicos e psiquiatras na investigação dos fenômenos místicos, tentando distinguir entre o que é fruto do psiquismo e o que é efeito físico nestas experiências cabalísticas.
Os mestres cabalistas tinham um certo número de sinais, entre os quais reconheciam um discípulo que se prestava à iniciação mística. Estes sinais são chamados em hebraico “Hacarat-panim”, o “reconhecimento da face”. Eles incluíam sinais fisiognômicos, grafológicos, xiromânticos e mesmo a horoscopia, a astrologia, à qual a mística sempre se associava. Isto vale particularmente para a parte da Cabala que chamamos extática. Existe uma outra forma de Cabala: a Teosófica. Enquanto a primeira é elitista, rigorosamente reservada a poucos escolhidos, a segunda é mais popular e aberta, criando grandes obras literárias, como o “Sefer Hazohar”, o “Livro do Esplendor”, um dos textos religiosos judaicos mais difundidos e mais venerados.
A assim chamada Cabala Extática visava um processo de êxtase, que levaria a uma visão do divino. Neste sentido, ela é uma direta continuação do misticismo da Mercaba, que também tentava colocar os seus discípulos em êxtase, para que eles pudessem viajar através dos espaços que levam ao Palácio, à presença Divina. Este misticismo por sua vez, não se interessa em compreender as exteriorizações da glória divina, o que o coloca frontalmente contrário à Cabala teosófica, cujas obras tentam compreender justamente isso.