STANISLAS BRETON — FILOSOFIA E MÍSTICA
VIDE: UNIVERSAL; PLOTINO
«TUDO». O neutro grego «panta», como de resto, seu análogo francês «tout» se presta a duas acepções, bem diferentes, do adjetivo indefinido e do substantivo: «tudo» e «o todo». Tudo, em sua acepção de indefinido, figura nas expressões de quantificador universal, de forma: (x) ou «para todo». No Prólogo, deveríamos traduzir o versículo de referência da maneira seguinte: para todo eu, se x veio à existência, então x foi-feito-pelo-Verbo». Não insistiremos sobre o enunciado negativo correspondente: «sem ele nada não foi feito do que foi (ou «fosse»)». Retornarei, em mais detalhe, em um parágrafo especial, sobre a relação Tudo-Nada. Adicionemos, para completar esta lembrança do elementar, uma precisão sobre a relação da proposição de quantificador universal às modalidades do necessário e do impossível. O mais frequente, com efeito, em uma certa escolástica, o universal está em estreita conexão com as modalidades fortes. Assim «para todo x» implica, por subentendido, «é necessário que» ou bem, quando a modalidade é de re, como se diz em linguagem técnica, o primeiro predicado é necessariamente ligada ao segundo. Assim a propriedade ligada ao «ser feito pelo Verbo». E se se substitui por necessidade um advérbio de tempo tal que sempre por exemplo (ou jamais, se se trata do impossível), se deveria compreender que este «sempre» não é ele mesmo inteligível senão em razão de um «essencial» que funda sua omnitemporalidade. E outros termos, não é possível afirmar que assim sempre é senão porque se percebeu, entre duas propriedades, uma implicação estrita, quer dizer «segundo a essência».
«O TODO». Quando passamos do indefinido ao substantivo, as coisas mudam. Tomado ao singular, o todo, quer se trate de uma casa, de uma floresta, de um país, de uma ordem religiosa etc. beneficia de uma unidade particular, irredutível à unidade lógica de uma classe ou de um conjunto. Este foi o mérito dos logicistas poloneses de se darem conta de uma diferença também original. Logo não se trata mais, neste caso, de uma relação de pertencimento ou de inclusão, tais como as precisa uma gramática dos conjuntos ou das classes, que as associa por vezes à lógica das proposições quantificadas. Eis porque, não hesitaram em falar, a este respeito, de relação «mereológica», para bem marcar, por esta expressão, a singularidade do todo. Logo qual seria a diferença entre a totalização operada pelo indefinido «tudo» e aquela que nos sugere o substantivo «o todo»? Se seria tentado a dizer isto: quando digo «para todo x», suponho que a atenção vai do singular-indivíduo a um outro indivíduo, e assim por diante, em uma sequência precisamente, a qual, de si, não poderia encerrar. Eu a encerro, no entanto, dizendo et caetera, mas ligando à fórmula a certeza que «o resto» será do mesmo grau e que, consequentemente, o que se segue ou poderia se seguir, se continuasse minha relação de indivíduo em indivíduo, me poria em presença das mesmas características. E é em virtude dessa certeza de uma propriedade que retornará, tão longe quanto prossiga a enumeração, em cada membro da sequência, que me permite encerrar a série e de pronunciar, sem muito temor: «para todo x».
Que aí há um problema, que a conjunção «e», indefinidamente repetida, não basta para me garantir que assim sempre será; e, neste sentido, que se fala de «semelhança», ou melhor de uma qualidade que a fundaria, restará sempre a justificar a audácia de uma passagem: indivíduos, em sua singularidade, ao qualificador universal que as totaliza em uma espécie de «todo abstrato».
Quando digo «o todo», posso, simplesmente, me referir a um singular que se apresenta a mim, com uma certa massa que se impõe: tal como um casa, uma floresta etc. Aqui ainda, é verdade, meu olhar e meu entendimento podem destacar, em os fixando, tal ou tal parte, mas esta parte, porque feita parte desta casa, desta floresta, e assim por diante, não aparece sempre senão em e por este singular que percebo. Dito de outro modo, e como nos ensinou a «psicologia da forma», só vejo a forma sobre um fundo sobre o qual ela emerge e que a sustenta, e me é impossível dele me separar, ao passo que, no caso, de enumerando-as em uma sequência, desta roseira, depois desta outra, e «assim por diante», me é perfeitamente permitido destacar cada uma delas e fixá-la nela mesma e para ele mesma, sem ter necessidade de apoiá-la em outra coisa que nela mesma. Tal é o sentido da conjunção «e» que não faz senão coordenar «independentes que têm a particularidade de se bastar a eles mesmos.» Enquanto que, em «o todo», os elementos, enquanto fazem parte, se subordinam, em lugar de se coordenarem, a seu englobante ou suporte que os têm e mantêm. O problema, aqui bastante análogo àquele que evocava a respeito da totalização operada pelo quantificador universal, seria o seguinte: certamente, quando contemplo uma floresta ou uma paisagem, me é fácil abarcar pelo olhar «o todo» que me é oferecido em espetáculo. Mas quando «o todo» se torna ou se chama «o mundo», não é mais questão de «abarcá-lo» pelo olhar. Então, como justificar a expressão e pretensão que ela implica? Sucintamente, não podendo, nestes Prolegômenos, me estender além da medida, diria que, na percepção simples da floresta, como na referência ao mundo, que seria o último englobante, experimento a insuficiência a se ater ao si e por si de cada um dos elementos que percorro, e do qual cada um me remete a seu outro, a esta margem que ele implica, e que, pela virtude desta insuficiência, me obriga a fazê-los se ater no todo que os contém e os mantém. Em suma, a dificuldade que afeta o quantificador universal, se encontra, ela também, embora de uma outra maneira, em «o todo» universal, como último englobante, tanto pela percepção quanto pelo entendimento; dificuldade que não é, no entanto, aquela, comumente, denunciada, «do conjunto dos conjuntos» que se contêm ou não se contêm.
No Prólogo joanico, sob o termo grego “panta”, é bem «o todo» em sua singularidade que parece visado; dito de outro modo, o universo dos seres e das coisas, enquanto existente pela mediação do Verbo. Farei abstração, para não complicar o percurso, de uma questão que pode ter, em filosofia, uma certa importância: Qual é a relação entre as duas formas de «tudo», em resumo entre o indefinido e o substantivo, entre o pensamento da quantificação universal e o pensamento do «universal concreto», entre «tudo» e «o todo»? Da minha parte, mas terei de me explicar em outro trabalho, é «o todo» que precede e torna possível o quantificador universal.