Se representarmos a psique como por, podemos imaginar a consciência pensante como a luz refletida na água e penetrando nela, pelo menos até uma certa profundidade. Essa imagem tem o mérito de mostrar que o pensamento é imanente à psique, mas distinto dela porque não é água. Essa luz psíquica nos parece corresponder ao termo latino animus, e nós a chamaremos de alma mental. R. Guénon ressaltou que a palavra mental (do latim mens) inclui a raiz indo-europeia men ou man, que designa o homem. De fato, a consciência mental caracteriza o homem como tal e o distingue de todos os outros seres.
Não é fácil definir a alma mental. Ela é a modalidade cognitiva da psique. Usaremos a imagem de um espelho para descrevê-la, porque a natureza específica desse conhecimento nos parece ser seu caráter indireto. A mente “reflete” o que sabe, ou então, para ela, saber é refletir seu objeto de conhecimento. A mente (ou pensamento) não penetra no objeto em sua própria essência, mas é o objeto que a “penetra”, não como tal, mas como uma abstração. O objeto “informa” a alma cognitiva, mas ao receber essa informação, a alma a reveste com sua própria natureza sutil. Sejamos claros: o que é conhecido não é a abstração, mas o objeto; mas esse objeto é conhecido por meio da abstração. Se preferir, a mente é o “meio de refração” pelo qual o objeto passa a ser conhecido.
O conhecimento é, portanto, alcançado pela “impressão mental”; a mente é o espelho refletor do mundo. Como já observamos em relação à cultura, esse caráter indireto ou reflexivo do conhecimento humano introduz entre o homem e o mundo o que Ruyer chama de “distância psíquica”1 que sustenta a possibilidade do símbolo. O inteligível, ou melhor, nesse nível, deveríamos dizer o concebível, existe não apenas nas coisas, mas também, de certa forma, “em si mesmo”, graças ao conhecimento humano, que pode ser dito, de certa forma, que atualiza, em um estado separado, a modalidade inteligível das coisas. Não se trata apenas de “pensar algo”, mas de pensar em algo, ou sobre algo. Essa possibilidade do símbolo é essencialmente realizada na linguagem, que não consiste primariamente em expressar algo, que é o que o animal faz, mas em falar sobre algo, o que nenhum animal é capaz de fazer (Op. cit., p. 95). Todas as discussões sobre a linguagem animal são baseadas em um mal-entendido ou em um desejo de surpreender os ignorantes). E, como falar de algo é falar de algo que está “ausente” e que, por essa razão, representamos, vemos que o conhecimento mental envolve não apenas o pensamento conceitual, mas também a memória e a imaginação, uma função da ausência no tempo e no espaço. Tudo isso é animus.
Cf. R. Ruyer, L’Animal, l’Homme et la Fonction symbolique, Gallimard, 1964. ↩