A realidade criada, o cosmo, a natureza, o universo, ou qualquer nome que se dê, não se reduz ao mundo corporal ou material, mesmo quando se o vê em toda sua amplitude, quer dizer aí incluindo evidentemente as galáxias e hipergaláxias mais longínquas. A criação comporta em verdade dois outros «mundos» ou graus de realidade que a philosophia perennis designa sob os termos de mundo sutil, ou psíquico, ou anímico, ou vital, ou ainda «intermediário» para o primeiro e mundo inteligível, ou espiritual, ou angélico, ou mesmo «semântico» (semântico como adjetivo de «sentido», como aquilo cuja realidade é da ordem do sentido, para Ruyer) para o segundo.
Segundo um simbolismo geométrico, que respeita as «relações de indefinidades» que se pode observar entre eles, o primeiro mundo será representado por uma reta (indefinida à primeira potência), o mundo sutil por um plano (que, guardando uma indefinidade de retas, é indefinido à segunda potência), o mundo espiritual por um volume (indefinido à terceira potência). Inversamente, o mundo sutil aparece como uma limitação do mundo espiritual por redução do volume ao plano, e o mundo corporal como limitação do mundo sutil, pela redução do plano à reta. Isso mostra que o grau corporal, tão vasto quanto pareça aos olhos do homem moderno, não é senão uma limitação desprezível comparado ao mundo psíquico, e, a fortiori ao mundo espiritual. Eis porque a Revelação pode falar da «multitude de inumeráveis anjos». Enfim, deve-se visualizar um quarto grau: o mundo divino. Não sendo, propriamente falando, um mundo, poder-se-ia designá-lo pela expressão Metacosmo. Não é também figurável geometricamente, o que significa que escapa a todas as limitações: não é indefinido, mas realmente infinito.
A amplitude respectiva de cada mundo é evidentemente função do número de condições que o definem. Assim o mundo corporal (ou grosseiro) é determinado (limitado) por condições tais como o espaço, a matéria quantificada, o tempo, o movimento, a forma. O mundo sutil não está submetido à condição espacial, nem à matéria quantificada. No entanto, ainda está submetido ao tempo, ou melhor à duração, ao movimento quer dizer à vida, e à forma, quer dizer à organização individual. Ao nível do mundo espiritual, a duração desaparece e dá lugar à permanência, a vida e a forma individual (fechada nela mesma) dão lugar à unidade do ato e do sentido, à essência em ato, ao ser inteligível, que não é ele mesmo por fechamento sobre si e recusa dos outros seres como o ser vivo, mas que é ele mesmo por sua própria afirmação radiante e não exclusiva. Podemos dele ter uma ideia se comparamos figuras geométricas e cores ou qualidades. As figuras se opõem e se excluem por seus contornos fechados sobre eles mesmo, as cores se distinguem e irradiam umas sobre as outras por suas qualidades próprias.
Enfim, é igualmente claro que cada grau inferior encontra seu princípio no grau que lhe é imediatamente superior; o psíquico é o princípio do corporal e o espiritual do psíquico. Ou ainda o corporal é psíquico espacializado e quantificado, o psíquico é espiritual vitalizado e temporalizado. Pode-se evidentemente representar os três mundo como hierarquicamente superpostos, no entanto não se deve esquecer que se visualiza eles a partir do graus corporal em relação ao qual efetivamente os outros graus são superiores, mas eis aí o ponto de vista mais exterior. Do ponto de vista interior de sua produção, é preciso considerar ao contrário estes diferentes mundos a partir da realidade espiritual da qual eles são limitações que aí estão implicitamente contidas e que em «saindo» por determinação analítica, assim como todos os planos possíveis estão contidos no volume e todas as retas no plano. Daí resulta, posto que a consequência está sempre contida em seu princípio, que o corporal enquanto não visualizado em sua determinação limitativa, mas em seu princípio imediatamente superior, aí possui uma modalidade psíquica (o corpo psíquico ou sutil), e visualizado em seu princípio inteligível causal, aí existe a título de modalidade espiritual (o corpo espiritual do qual fala São Paulo). Mas isso significa igualmente que o corpo espiritual está presente nos corpos sutil e grosseiro que dele constituem como revestimentos limitativos, em função das condições próprias a cada grau de criação. E assim como poderia ser de outro modo, posto que o corpo espiritual constitui a realidade fundamental e verdadeira do corpo material e psíquico.
Seres/Mundos | Essências | Almas | Corpos |
Semânticos | essências | almas espirituais | corpos espirituais |
anímicos | almas | corpos psíquicos | |
corporal | corpos grosseiros |