Boehme: Verbo

“A verdadeira compreensão deve vir da fonte interior e penetrar a mente do VERBO vivo de Deus, dentro da alma. A menos que isso ocorra, todo ensinamento sobre as coisas divinas é inútil e desprezível”. (Cartas, XXXV. 7).

“A Essência eterna, desejando revelar-se a si mesma (para obter auto consciência), teve que conceber em si uma vontade; mas como em si mesma não havia objeto para sua vontade ou desejo, exceto o VERBO poderoso, que na eternidade tranquila não existia, os sete estados da natureza eterna tiveram que nascer ali. Daí procede então, de eternidade em eternidade, o VERBO poderoso, o poder, o coração e a vida da eternidade tranquila e de sua sabedoria eterna”. (A Vida Tríplice…, III 21).

“Os sete candelabros na Revelação de São João referem-se aos sete espíritos na Divindade, também as sete estrelas. Os sete espíritos estão no centro do pai, o seja, no poder do VERBO. O VERBO transforma a cólera em doce satisfação e lhe confere a forma de um oceano cristalino; ali os sete espíritos aparecem numa forma que queima, como sete tochas luminosas”. (A Vida Tríplice…, III 46).

“A Quinta Qualidade é o verdadeiro fogo-amor, que na Luz separa-se do fogo doloroso, e onde o amor divino aparece como um ser substancial. Ele tem consigo todos os poderes da sabedoria divina; é o tronco ou o centro da árvore da vida eterna, onde Deus, o Pai, revela-se em Seu Filho através do VERBO pronunciado”. (Grace, III. 26).

“Quando o Pai pronuncia Seu VERBO — ou seja, quando Ele gera Seu Filho — o que é feito contínua e eternamente, esse VERBO tem sua origem, em primeiro lugar, na primeira qualidade adstringente, onde se torna concebido. Na segunda qualidade ou qualidade doce recebe sua atividade; na terceira, se movimenta; no calor ele surge e acende o doce fluxo do poder e do fogo. Todas as qualidades são feitas para queimar pelo fogo aceso, e o fogo é por elas alimentado; mas esse fogo é só um, não muitos. Esse fogo é o verdadeiro Filho de Deus, que continua nascendo de eternidade em eternidade”. (Aurora, VIII. 8 I).

“Se um homem diz a si mesmo: ‘Eu, o VERBO vivo de Deus, realizo isso e aquilo, nessa santa carne e osso’, ele desonra o sagrado nome de Deus; Isso também vai contra a doutrina da Bíblia; pois, sempre que o intelecto de um homem foi escolhido para a profecia, o profeta não dizia: ‘Eu, Fulano de Tal, digo isso ou aquilo, mas ‘Assim fala o Senhor!’. Isso significa que o Senhor fala nesse homem e através desse homem, que é Seu intermediário e Seu instrumento”. (Stief., I.84).

“O Deus Trino e eterno criou todas as coisas através do VERBO, de Seu próprio Ser, ou seja, de Seus dois aspectos ou qualidades: a natureza eterna, a fúria ou cólera, e de Seu amor, através do qual, a cólera ou ‘natureza’ era pacificada. Assim, Ele tudo criou, fazendo com que tudo adquirisse uma existência”. (Stief. II. 33).

“O Pai, sendo a vontade primordial, pronuncia todas as coisas através do VERBO, do centro da liberdade; mas a emissão do Pai através do VERBO é o espírito do poder, e esse espírito dá forma àquilo que foi falado, a fim de que apareça como um espírito”. (A Vida Tríplice… II. 63).

“O mundo criado existia antes do mysterium magnum, pois todas as coisas encontravam-se numa condição espiritual na sabedoria, como numa contínua atividade ou luta de amor. A Vontade única concebeu essa forma espiritual no VERBO, e permitiu a inteligência (a consciência separada, ou seja, a qualidade azeda e adstringente), agir sem restrição, a fim de que cada poder pudesse entrar ou se construir numa forma de acordo a essa própria qualidade específica”. (Grace, IV. 12).

“O centro de cada coisa é espírito, coexistindo com o VERBO. A separação (diferenciação) de algo (através da qual esse algo se distingue do resto) está na qualidade de sua vontade, através da qual assume uma forma ou estado de ser de acordo com seu próprio desejo essencial (predominante)”. (Cartas, XLVII. 5).

“Quando o VERBO eterno se movimentou, por causa da malícia de Lúcifer, e a fim de expulsar esses parasitas demoníacos de sua residência, rumo as trevas eternas, a essência se compactou (coagulou). Deus não queria mais deixar os poderes manifestados sob o comando de Lúcifer, no lugar em que reinava como um príncipe, e fez com que penetrassem um estado de coagulação, guspindo-os em seguida para fora de ali”. (Mysterium, X.13).

“Quando a luz apareceu novamente no exterior, não concebível, o VERBO fez surgir a vida da morte, e o salitre corrupto produziu frutos novamente; mas isso tinha que ocorrer em certa relação com o estado depravado existente na cólera, e como a produção dos frutos veio da terra, tinham que ser bons e maus”. (Aurora, XXI 19).

“Pelo poder de Seu VERBO, o Fiat, Deus fez com que todos os seres surgissem da matriz da natureza no quinto dia, cada um segundo suas qualidades; os peixes na água, os pássaros no ar, e outros animais sobre a terra. Eles receberam sua corporalidade da fixidez (rigidez) da terra, e seu espírito do Spiritus Mundi”. (Grace, V 20).

“Se Moisés diz que Deus criou o homem de um monte de barro, e que soprou nele o sopro da vida, não se deve compreender com isso que Deus tenha atuado de maneira pessoal — como se fosse um homem tomando um punhado de barro para fazer um corpo; mas o Fiat, ou seja, o desejo do VERBO, estava contido no modelo do homem percebido eternamente, que permaneceu no espelho da sabedoria, e que extraiu os Ens (o princípio) de todas as qualidades da terra (matéria) num corpo, e essa era a quinta-essência feita dos quatro elementos”. (Grace, V. 27).

“Adão foi concebido no amor de Deus e nasceu neste mundo. Tinha posse de uma substancialidade divina e sua alma era de vontade, o primeiro princípio, a qualidade do Pai. Essa vontade deveria ser dirigida, juntamente com sua imaginação, no coração do Pai, ou seja, no VERBO e no Espírito do amor e da pureza. A alma humana reteria então, a substância de Deus no VERBO da Vida”. (Encarnação de Cristo…, I 10 2).

“O santo VERBO de Deus, após a Trindade da Divindade insondável, concedeu à inteligência ígnea da alma o mandamento: ‘Não comerás da árvore do conhecimento do bem e do mal; se assim o fizerem irão morrer na imagem de Deus, no mesmo dia’. Quer dizer, ‘a alma ígnea irá perder sua luz; a mortalidade, qualidade do mundo de trevas, do centro dos três primeiros princípios, irá se aproximar e se manifestar na árvore, engolindo o Reino de Deus’” (Grace, VI 17).

Deus também produz o segundo princípio em Seu amor, de onde gera, de eternidade em eternidade Seu coração e VERBO eterno, e o espírito inflama o elo da natureza, e a torna luminosa no amor e na vida de Seu coração, pelo poder da luz. Da mesma forma, a alma do homem deseja penetrar o segundo princípio e manter sua ânsia no poder de Deus”. (A Vida Tríplice…, I II-13).

“Mesmo que uma criança tenha bons pais, pode mais tarde entrar na Turba. Do mesmo modo, uma criança nascida de maus pais pode se converter através de sua imaginação, e penetrar o VERBO do Senhor. Isso raramente ocorre, mas é possível. Deus não se desfaz de nenhuma alma, a menos que a própria alma se perca. Cada alma julga a si mesma”. (Quarenta Questões…, X 6-8).

“Desde toda eternidade estava o nome de Jesus em amor imóvel no homem como a imagem de Deus. Mas quando a alma perdeu a luz, então o VERBO pronunciou o nome de Jesus naquilo que era móvel; nas enfraquecidas insígnias da substância do mundo celeste”. (Grace, VII 34).

“Antes da queda, Adão recebeu a luz divina de Iahweh , ou seja, do Deus único, onde se encontrava oculto o nome de Jesus. Mas durante o tempo do sofrimento, quando a alma caiu, Deus manifestou o tesouro de Sua glória e santidade, e por meio da viva voz do VERBO, Ele incorporou-Se com o fogo divino na imagem eterna, representando o estandarte da alma, o qual ela seguiria como a um guia. Mas se ela não fosse capaz de penetrar ali, sendo como morta com relação a Deus, o sopro divino a penetraria, advertindo-a a interromper sua atividade maligna, a fim de que sua voz voltasse a ser ativa na alma”. (Grace, VII 32).

“A alma (astral) de Adão e Eva e de todos os seres humanos encontrava-se ainda muito bruta, não maleável e impregnada pelo primeiro princípio. Portanto o VERBO e a esmagadora da cabeça da serpente não tomaram forma dentro de suas almas; mas ficou na mente daqueles dispostos a se renderem a tal trabalho, opor-se aos demônios e ao reino do inferno”. (Três Princípios…, XVIII 26).

“Dos descendentes de Caim resultaram as artes como uma maravilha da sabedoria divina atuando na natureza e através da natureza, mas em Sete o VERBO entrou em contemplação espiritual”. (Mysterium, XXX 2).

“A configuração de Sem desceu sobre Abraão e Isaac, pois o VERBO do pacto foi manifestado e continha em si o som; mas a configuração de Jafé passou pela sabedoria da natureza no reino da natureza, e daí originou-se os gentis (povo intelectual, mas não espiritual) que deram atenção (proeminentemente) à luz da natureza (coisas naturais). Assim, Jafé, ou seja, a alma destrutiva, aprisionada, pertencente à natureza eterna, vivia entre as “cabanas” de Sem, quer dizer, dentro do pacto, pois a luz da natureza vive na luz da graça, constituindo uma forma ou um estado concebido da luz informada de Deus. A linha descendente de Ram encobriu o homem animal, formado do Limus da terra, onde está a maldição, de onde surgiu a raça sodomita semi-animal, que não presta atenção nem na luz da natureza nem na luz da graça, no pacto”. (Mysterium, XXXIV 14).

Noé disse: ‘Louvado seja o Deus de Sem, e Jafé deve viver nas cabanas de Sem’. Pela expressão ‘Deus de Sem’, compreende-se o VERBO santo no pacto, e como se manifestaria, de modo que os Jafitas ou gentis, aqueles que viviam apenas pela luz da natureza, chegariam à luz da graça, manifestada em Sem, penetrando assim a ‘morada de Sem’ e passariam a viver ali. Mas Ham, o espírito da luxúria carnal, deveria tornar-se um servo dos filhos da luz, segundo sua qualidade, porque os filhos de Deus o forçariam a se tornar submisso à Ele, afastando sua desprezível vontade própria”151 (Mysterium, XXXIV. 31).

“O VERBO, ou a segunda pessoa na Divindade, tem estado no Pai por toda eternidade, e ao encarnar na humanidade, não mudou sua natureza, tornando-se uma outra coisa, mas permaneceu no Pai, em seu centro e lugar, como tem sido por toda eternidade. A outra (segunda) formação, ocorreu de forma natural, na ocasião da anunciação pelo anjo Gabriel, quando a virgem disse ao anjo: ‘Que seja feita a tua vontade’. A plenitude deste VERBO foi efetuada no elemento celestial, como foi a criação do primeiro Adão antes da queda. A terceira formação ocorreu simultaneamente a segunda, de uma só vez, assim como uma semente terrestre é semeada enquanto uma criança cresce”. (Três Princípios…, XVIII 45).

“O santo Espírito de Deus formou a substancialidade Angélica, celestial em um só elemento, através da virgem; mas os planetas e elementos deste mundo formaram o homem externo, conferindo-lhe um corpo natural e uma alma exatamente igual a dos outros seres humanos, ambos em uma só pessoa. De modo que, cada forma possuía seu próprio estado particular de percepção e sensação, e o estado divino não se misturou a tal fórmula (com a forma terrestre) a fim de que a primeira diminuísse e permanecesse o que era (antes que a encarnação ocorresse), e se transformasse no que não era (através da encarnação), mas sem qualquer separação, diferenciação ou divisão do ser divino. Desta forma, o VERBO permanece no pai, o ser criado do santo elemento permaneceu diante do pai, e o estado natural humano ocorreu neste mundo, no ventre da virgem Maria”. (Três Princípios…, XX 86).

“Não é verdade, como dizem alguns, que o Cristo tenha tomado uma alma para Si do VERBO na eterna virgem Maria, de modo que Cristo viria de Deus e a alma em Sua natureza humana tivesse um princípio”. (Mysterium, LVI 19).

“O VERBO da promessa, que era para os judeus uma espécie de antítipo, ou como uma imagem no espelho, onde o pai colérico imaginou e onde extinguiu Sua cólera, começou a se movimentar essencialmente, como se não tivesse se movimentado desde a eternidade; pois, quando o anjo Gabriel trouxe a Maria a mensagem de que teria um filho, e quando ela expressou seu desejo dizendo: ‘Que seja feita a tua vontade’, o centro da Santíssima Trindade movimentou-se; isso quer dizer que, a virgindade eterna perdida por Adão, se abriu nela, no VERBO da vida. O fogo do amor divino no ser de Maria, na essência virginal corrompida em Adão, fora novamente restaurado”. (Encarnação de Cristo…, I 8, 3. 4).

“O VERBO, que permaneceu na virgem da sabedoria circundado pelas maravilhas eternas, saiu do grande amor e penetrou novamente a nossa imagem, destruída em Adão, tornando-se humano em Maria em consequência da benção” (Quarenta Questões…, XXXVI 10).

“O VERBO vivo que habitava a virgem eterna atraiu para si a carne de Maria, ou seja, as essências corporais de Maria, e assim cresceu ali, em nove meses, um ser humano completo, com alma, espírito e carne”. (A Vida Tríplice…, VI 79).

“A alma e o VERBO não são um ou um ser. A alma nasce do centro da natureza, das essências, e pertence ao corpo, pois surge das essências do corpo, e atrai o corpo para si; mas o VERBO pertence ao centro da majestade, e atrai a majestade para si”. (A Vida Tríplice…, VI 83).

“A alma e o VERBO não estão lado a lado, como duas pessoas, mas o VERBO penetra a alma e do VERBO brilha a vida-luz; a alma, contudo, permanece livre. Um ferro quente e vermelho encontra-se nela preto e obscuro, mas o fogo a penetra, para que se torne luminoso. Não há transformação no ferro propriamente dito; o ferro continua sendo ferro e o calor continua sendo calor; um é livre com relação ao outro, e um não é o outro; Assim a alma tem sido mergulhada no fogo da divindade, a fim de que a divindade possa penetrar e iluminar a alma, e ali habitá-la e concebê-la, embora a alma não possa conceber a divindade; no entanto, ela não é transformada. A divindade concebe a alma e a dota do poder da majestade”. (A Vida Tríplice…, VI 83).

“A Razão diz: ‘O corpo de Cristo está em um lugar; como poderia estar em todo lugar? Trata-se de uma criatura, e uma criatura não pode estar em todo lugar ao mesmo tempo’. Ouça, cara Razão: ‘Quando o VERBO de Deus tornou-se um ser humano, no corpo de Maria, não estava ele, ao mesmo tempo, acima das estrelas? Enquanto estava em Nazaré, não estava também em Jerusalém e em todo lugar? Ou pensas que Deus, enquanto Se fez homem, tenha ficado confinado à sua forma humana?’ Isso constitui uma impossibilidade e assim, enquanto Deus se tornou homem, Sua humanidade encontrava-se em todo lugar em que Sua divindade existisse”. (Três Princípios…, XXIII 8).

“O Cristo não se tornou homem apenas no corpo (terrestre) da virgem Maria, como se Sua divindade ou essencialidade divina tivesse sido capturada, aprisionada ou permanecida ali. Assim como um pouco de Deus, que é a plenitude de todas as coisas, reside em apenas um lugar, pequeno foi o movimento de Deus, em uma pequena porção (a do VERBO); pois Ele não é diferenciado, mas em todo lugar é um e o todo, e onde quer que se torne manifesto ali é Ele manifestado como um todo. Nem Deus é mensurável, nem há lugar em que habite, a menos que Ele estabeleça para Si mesmo tal morada em uma de Suas criaturas; mas, mesmo assim Ele permanece um todo à parte e além de todo ser criado”. (Encarnação de Cristo…. I 8).

“Quando o VERBO penetra o elemento puro, a matriz virginal, Ele não se separa do Pai, mas permanece eternamente, e está em todo lugar, presente no céu do elemento em que penetrou, e onde se tornou uma nova criatura, chamadadeus’. Essa nova criatura naturalmente não nasceu da carne e do sangue da virgem (física), mas de Deus, de Seu elemento (a virgem celeste, e no poder da Santíssima trindade, que permanece ali eternamente em sua plenitude). Mas a corporeidade do elemento daquele ser criado é inferior com relação à Divindade, pois Ela é espírito, e o elemento santo é nascido do VERBO da eternidade. Desta forma, o VERBO penetrou a serva, o que fez com que todos os anjos do céu fossem tomados de surpresa. Trata-se do maior milagre já ocorrido desde toda eternidade, porque isso vai contra a natureza (humana), e só poderia ter acontecido por conta do amor divino”. (Três Princípios…, XVIII 42).

“Como consequência do pecado, não havia salvação para o homem; a menos que o VERBO eterno, coração de Deus, se tornasse humano e penetrasse o terceiro princípio, a carne e o sangue humano e tomasse para si (o estado de) uma alma humana, penetrando a morte de uma alma destituída, através da qual pudesse afastar da morte o seu poder e do inferno a sua picada terrível, conduzindo assim a alma para fora da morte e redimindo-a do inferno”. (A Vida Tríplice…, VII 39).

“Como nos afastamos da liberdade do mundo angélico e adentramos a tortura escura, o poder e o VERBO da luz tornou-se homem, e nos conduziu para fora das trevas, através da morte no fogo para a liberdade da vida divina, na essencialidade divina. O Cristo tinha que morrer e penetrar a essencialidade divina através do inferno e através da cólera da natureza eterna, para abrir um caminho para a nossa alma através da morte e através da cólera, onde devemos entrar com Ele pela morte, na vida divina”. (Encarnação de Cristo…, I 3, 7).

“O VERBO tomou nossa própria carne e sangue na essencialidade divina, e quebrou o poder que nos mantinha aprisionado na cólera da morte e fúria. Ele quebrou aquele poder na Cruz, ou seja, no centro da natureza (a quarta forma natural, cujo símbolo é a Cruz), e inflamou novamente em nossa alma (que havia se tornado trevas) um fogo-luz branco e ardente”. (Encarnação de Cristo…, II 6 9 ).

“Quando o VERBO pronunciado de Deus na qualidade humana aprisionou-se no Redentor, a essencialidade que havia morrido em Adão, mas que se tornou novamente viva em Cristo, clamou juntamente com a alma: ‘Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonastes?’ Isso significa que a cólera de Deus havia penetrado, através da qualidade da alma, a imagem da essencialidade divina, e que havia absorvido a imagem de Deus, porque era essa a imagem da serpente na alma ígnea, a cabeça da cólera de Deus, para transformar seu poder ígneo na vida-sol eterna. Como uma vela se extingue ao queimar-se, e assim como desta morte surge a luz e o poder, da mortificação e da morte de Cristo havia que surgir o sol divino e eterno na qualidade humana. Assim, havia que morrer, neste caso, não só o egoísmo da qualidade humana, ou seja, a vontade-própria da alma com relação à (seu desejo pela) vida no poder do fogo, e se perder na imagem do amor; mas, essa mesma imagem do amor havia que penetrar a cólera da morte, a fim de que tudo mergulhasse na morte e através da morte e da humildade perfeita, e na vontade e misericórdia de Deus, surgisse novamente na substancialidade paradisíaca, a fim de que o espírito de Deus pudesse ser tudo em tudo”. (Assinatura…, XI 87).

“A morte estava lutando com o homem externo (com a vida do), pensando que agora, a alma deveria permanecer na Turba; mas havia um forte poder na alma, ou seja, o VERBO de Deus. Esse VERBO capturou a morte e a destruiu, extinguindo a cólera. Trava-se de um grande veneno para o inferno quando a luz o penetrou, e o Espírito de Cristo aprisionou o demônio, conduzindo-o da alma-fogo para as trevas, trancando-o ali, na dureza colérica e no amargor”. (Quarenta Questões…, XXXVII 13 — 15).

“Os santos, que colocaram sua fé no Messias, receberam então o elemento puro para um novo corpo, de acordo com a promessa. Pois, como o herói prometido penetrou a morte através da vida, suas almas se revestiram do corpo de Cristo, como num novo corpo, e viveram Nele através de Seu poder. Eram eles os santos patriarcas e profetas, que neste mundo foram ungidos no poder do VERBO de Deus, esmagando a cabeça da serpente e quem, pelo poder do VERBO havia profetizado e realizado milagres. Eles tornaram-se vivos no poder de Cristo”. (Três Princípios…, XXIV 52).

“Os patriarcas judeus não conheceram o Cristo na carne, mas apenas em seu protótipo, e se revestiram unicamente do poder que possuíam, procedente do primeiro pacto incorporado e VERBO; mas agora se revestiram em Sua substância, pois todos aqueles que colocaram sua fé Nele e se revestiram do pacto no espírito, nestes o pacto fora preenchido com substância celestial. Portanto, muitos se elevaram com Ele após a sua ressurreição, e se fizeram visto em Jerusalém, para testemunharem de que foram elevados em Cristo”. (Grace, X 45)

“A pobre alma está tão cega que nem mesmo reconhece as pesadas correntes às quais está atada. Todo o mundo está cheio de armadilhas arrumadas pelo demônio, com o propósito de capturá-la. Se o homem exterior tivesse seus olhos (espirituais) abertos, ficaria aterrorizado. Tudo o que o homem vê ou toca, ali há uma armadilha do demônio, e se o VERBO do Senhor, tendo se tornado humano, não estivesse ocupando o meio, o demônio capturaria e devoraria todas as almas”. (Encarnação de Cristo…, XI 6).

“Não é a alma mortal, mas a alma interior (espiritual) do eterno VERBO de Deus a que se casa com Sophia. A alma exterior está casada com a constelação (funções mentais) e elementos. Essa alma externa raramente lança um só olhar para a Sophia, pois contém em si a morte e a mortalidade. Passado este tempo ela deve ser novamente transformada na primeira imagem que Deus criou em Adão”. (Mysterium, Lii 13).

“Enquanto uma pessoa permanece numa vontade estranha a sua verdadeira natureza, e não quer ser curada, penetrando o VERBO santo, esse ser estranho vai tomando substância e mantendo a essência celestial na sujeição; essa permanece aprisionada após a morte e não pode alcançar o reino de Deus, e disso resulta a morte eterna”. (Mysterium, XXIV 13).

“O mesmo VERBO eternamente gerado e pronunciado manifesta-se no céu — ou seja, no poder da luz — como uma sabedoria santa (deleite), como no inferno, nas trevas, onde se manifesta como chamas de tormento”. (Mysterium, LXI 31).

“A Natureza não é Deus, não mais do que o corpo de um homem é o homem. A Natureza é o eco e a imagem da natureza eterna, manifesta pelos poderes do VERBO”. (Tabulae Principioe, li).

“Todo o poder do Pai se expressa nas qualidades do VERBO, ou seja, o Filho de Deus. O mesmo VERBO, ou o mesmo som, expressado pelo Pai expressa do Salniter, ou os poderes do Pai, e do Mercurius ou som do Pai. Assim, o Pai expressa o VERBO de si mesmo, e o mesmo som é a glória de todos os seus poderes; depois que ele é expresso, não mais está contido nos poderes do Pai, mas soa e toca na totalidade do pai em todos os poderes. Esse poder expressado pelo pai tem tal força que o som do VERBO imediatamente e rapidamente penetra por toda profundeza do Pai, e sua força é o Espírito Santo, pois, o VERBO pronunciado permanece como uma glória ou um mandamento majestoso diante do rei; mas o som, emanando através do VERBO, executa o mandamento do Pai pronunciado por Ele através do VERBO, e aqui ocorre o nascimento da Santíssima Trindade. O mesmo ocorre no homem ou no anjo. O poder na totalidade de seu corpo possui todas as qualidades como em Deus o Pai”. (Aurora VI 2).

“No espírito do VERBO é que se deve compreender a divindade como um todo, com todos seus poderes e efeitos, e com toda sua essência; é sua admiração, penetração e transformação; toda a ação e toda a geração”. (Aurora XIX 72).

“Assim, cada criatura possui seu próprio centro para sua própria expressão ou o som do VERBO formado em si mesmo, tanto nos seres temporais como eternos; tanto no homem racional como no irracional; pois o primeiro Ens foi pronunciado do som de Deus, pela sabedoria, de seu centro no fogo e luz e foi formado no Fiat, e entrou em “compactação”. O Ens emana do eterno, mas a compactação emana do temporal; portanto, em todas as coisas há algo eterno oculto no tempo”. (Mysterium Magnum, XXII 2).