Boehme Homem IV

JACOB BOEHME — Franz Hartmann — Cristianismo Pessoal
Retiradas do estudo de Franz Hartmann sobre Boehme, traduzido e oferecido pela SCA.

“Uma pessoa razoável perceberá facilmente que não haveria sono em Adão enquanto ele permanecesse na imagem de Deus, pois naquele tempo ele era uma imagem como nós seremos na ressurreição dos mortos. Não necessitaremos então dos elementos, nem do sol, nem da lua, nem de sono algum; nossos olhos estarão abertos para ver a glória de Deus, sempre e eternamente”. (Três Princípios… XII 17).

“A imagem de Deus não dorme. Nela não há tempo. Com o sono, o tempo se manifesta no homem. Ele adormeceu no mundo angélico, e despertou relativamente para o mundo externo”. (Mysteerium, XIX 4).

“Após Adão ter sido dominado, a tintura, onde a bela virgem havia habitado previamente, tornou-se terrestre, fraca e frágil. A fonte poderosa da tintura, de onde a Virgem tinha seu poder, sem ser subjugada ao sono, deixou Adão e foi para seu próprio princípio”. (Três Princípios…, III 8).

“Assim Adão tornou-se vítima da magia, e sua magnificência se foi. Sono significa morte e entrega. O reino terrestre o conquistou e o dominou”. (Encarnação de Cristo…, I 5).

“Depois que o brilho do espírito deste mundo conquistou Adão, ele caiu no sono. Então seu corpo celeste tornou-se carne e sangue, e seu forte poder tornou-se rígidos ossos. A Virgem Celeste partiu para o éter celeste, para o princípio do poder”. (Três Princípios…, XIII 2).

“Quando Adão deixou Deus e penetrou o egoísmo, Deus permitiu que um grande sono caísse sobre Adão. Se não fosse por estas circunstâncias, ele poderia, em todo seu egoísmo, ter até mesmo se tornado um demônio, pelo poder do fogo”. (Cons. Stiefel… II 363).

“Quando o demônio viu que a luxúria residia em Adão, ele agiu ainda mais poderosamente sobre o Salitre em Adão, e o infectou mais fortemente. Era tempo de Deus construir-lhe uma esposa, quem mais tarde faria com que o pecado fosse cometido, aquela que comeu do fruto do pecado. Ao contrário, se Adão houvesse comido da árvore antes da mulher ter sido feita dele, teria sido bem pior”. (Aurora, XVII 21)

Eva foi extraída de Adão, não como um mero espírito, mas inteiramente substancial. Poderia se dizer que Adão recebeu uma fenda, e que a mulher está carregando o espírito, a carne e o osso de Adão”. (Três Princípios…, XIII 14).

“A razão diz: ‘Se Eva foi feita da costela de Adão, ela deve ser bem inferior ao homem’. Isso não é verdadeiro; o Fiat em seu aspecto de atração aguda (a primeira qualidade), tomou-a de todas as essências e qualidades de cada poder de Adão”. (Três Princípios… XIII 18).

“Não havia má formação em Eva, sua forma era amorosa; no entanto, ela também carregava os sinais (da corrupção), e não podia ser mais nada além de esposa de Adão. Ambos ainda estavam no Paraíso, e se não tivessem provado do fruto, mas tivessem se voltado para Deus, mudando a imaginação, eles teriam permanecido no paraíso”. (Três Princípios… XIII 36).

Adão e Eva ainda tinham uma consciência paradisíaca, mas ela encontrava-se misturada com o desejo terrestre. Eles estavam nus, e tinham órgãos animais para procriação; mas eles não sabiam disso, nem tampouco se envergonhavam, pois o espírito do grande mundo ainda não tinha obtido o governo sobre eles antes de terem provado do fruto terrestre”. (Encarnação de Cristo… I 6 15).

“Ninguém pode afirmar que Eva, antes de ter contato com Adão, tinha sido uma virgem pura e casta, porque, tão logo Adão acordou de seu sono, ele a viu ao seu lado. Ele prontamente imaginou nela (apaixonou-se por ela). Ele a tomou para si e disse: ‘Esta é carne de minha carne e osso de meu osso. Ela se chamará mulher, pois foi extraída do homem. Do mesmo modo, Eva começou a colocar sua imaginação em Adão, e cada um acendeu o desejo do outro. Onde está então a pura castidade e virgindade? Isso não é animal? A imagem externa não se tornou animal?” (Quarenta Questões…, XXXVI 6).

“O santo Verbo de Deus, após a Trindade da Divindade insondável, concedeu à inteligência ígnea da alma o mandamento: ‘Não comerás da árvore do conhecimento do bem e do mal; se assim o fizerem irão morrer na imagem de Deus, no mesmo dia’. Quer dizer, ‘a alma ígnea irá perder sua luz; a mortalidade, qualidade do mundo de trevas, do centro dos três primeiros princípios, irá se aproximar e se manifestar na árvore, engolindo o Reino de Deus‘” (Grace, VI 17).

“Quando Adão e Eva encontravam-se no Paraíso como homem e mulher, ainda em posse de uma essência celeste, ainda que misturada (com materialidade), o demônio não podia suportar, pois sua inveja era grande. Então, depois que Adão foi trazido à queda e privado de sua forma Angélica e viu que Eva era sua esposa, o demônio pensou que eles pudessem gerar filhos no Paraíso e lá permanecerem. Ele se convenceu de seduzi-los a comer do fruto proibido, a fim de que com isso se tornassem terrestres”. (Encarnação de Cristo…, I 7).

“O demônio introduziu sua imaginação venenosa na qualidade humana. Daí resultou no homem o ardente desejo de provar do bem e do mal e de viver na vontade-própria; quer dizer, sua vontade deixou a harmonia da unidade e foi para a multiplicidade das qualidades. O demônio, através da serpente, representou à ele que seria como Deus, e que seus olhos se abririam; isso realmente ocorreu na queda, de modo que agora ele reconhece, prova, vê e sente o bem e o mal”69 (Mysterium XVII 37).

“O demônio misturou mentiras e verdades, e disse aos primeiros seres humanos que seriam como Deus. Ele deixou isso claro, segundo o primeiro princípio da cólera; mas sobre o paraíso ele nada falou”. (Três Princípios… XVII 96).

“A substância da serpente, seu aspecto celestial, era um grande poder, assim como havia um grande poder no demônio, pois ele era um príncipe de Deus. Desta forma, ele introduziu sua esperteza e mentiras num forte estado de vontade, a fim de que a humanidade se iludisse e o visse como se fosse seu próprio Deus”. (Mysterium XX 16).

“A imaginação do demônio envenenou a substância da serpente, a fim de que essa, em consequência da divisão de seus poderes, estava em unidade paradisíaca, adquirisse a formação de uma serpente. A serpente passou a ser usada como seu instrumento”. (Cartas, XXXIX 21).

“A serpente era um símbolo vivo da árvore da tentação. A árvore da tentação encontrava-se num poder mudo e a serpente num poder vivo e a serpente uniu-se à árvore, sendo de sua própria natureza”. (Mysterium, XX 20).

“A luxúria originou-se em Adão, mas esse desejo pervertido encontrou existência na mulher”. (Cons. Stiefel…, II 375).

“O demônio disse-lhe que o fruto não iria prejudicá-la, mas que os olhos de sua compreensão se abririam, e ela seria como Deus. Ela pensou que seria bom ser uma deusa e consentiu. Ao consentir, caiu da harmonia, da paz e da fé divina, penetrando com seu desejo na serpente e na astúcia, o desejo e a vaidade do demônio”. (Mysterium, XX 25).

“O demônio penetrou o fundamento ígneo com a sua imaginação, mas Adão penetrou a qualidade aquosa”. (Assinatura…, VII 4).

“Ao contrário de Lúcifer, Adão não desejou realmente despertar o primeiro princípio; seu desejo era mais o de provar do bem e do mal, ou seja, a vaidade da terra”. (Mysterium, XVIII 31).