JACOB BOEHME — Citações de sua obra, organizadas por Franz Hartmann
Retiradas da tradução oferecida pela SCA
XV – CRISTO E ANTICRISTO
Um grande esforço por longo tempo tem sido feito, a fim de transformar uma prostituta numa virgem, mas com isso, sua prostituição só tem crescido e evidenciada. Se esta prostituta deve perecer, então todos os sectos terão que seguir o mesmo destino, junto com o animal, onde quer que se esconda, pois nada mais são do que imagens da prostituta. (Mysterium magnum, XXXVI 69).
Extra Ecclesiam nulla salus
Digo aberta e publicamente que toda conclusão extraída da fantasia e opiniões, sem que se tenha auto conhecimento divino, nada mais é do que Babel, não sabedoria; pois a obra tem que ser feita, não pela aparência e fantasia, mas pelo auto conhecimento no Espírito Santo. (Epistoll. XI 39).
Sobre isso lamentamos que os ligados à Babel sejam tão cegos, e possuam tão pouco conhecimento de Deus. Eles lançaram mão da Magia e da filosofia, e aceitaram o Anticristo. Agora, encontram-se desprovidos de compreensão. Possuem uma ciência, mas não o conhecimento real. Eles quebraram o espelho e olham através de óculos. (Forty Questions, XXI 16).
No que então a pobre humanidade deve acreditar? Não há como reconhecer o que é verdadeiro e o que é falso? Deve aceitar as doutrinas das Igrejas Cristãs ou do Budismo esotérico, ou de alguma teologia oriental, ou a dos teosóficos; deve a humanidade rejeitar todas elas, não ler mais nada e não cuidar senão de seu conforto temporal?
O espírito deste mundo não conhece seu próprio ser, a menos que seja aquela outra luz que brilha no espírito — a luz em que a mente pode repousar e conhecer seu próprio ser. (Threefold Life, V 28).
A pedra-de-toque do Cristianismo é seu amor para com Deus e a humanidade. (Threefold Life, XIII 42).
Aprenda a conhecer o guia do mundo interior e também o guia do mundo exterior, é conhecer a escola mágica dos dois mundos. Então nossa mente estará livre da desilusão, pois na desilusão não há perfeição. O espírito deve ser capaz de alcançar o mistério. O Espírito de Deus deve ser o guia no desejo do homem. Sem isso o homem estará simplesmente no mistério exterior, no céu externo da constelação, que frequentemente incita e guia a alma humana; mas ele não possui a escola de magia divina, que só existe numa mente infantil e simples. (Epistl. XI 62).
A vontade de Deus está aberta a todos os homens, seja qual for o nome que o homem é designado… De que vale crenças e opiniões para aqueles que alcançaram o auto conhecimento? Opiniões não constituem o Espírito de Cristo, que dá a vida, mas o Espírito de Cristo dá testemunho ao nosso espírito, de que somos filhos de Deus. Ele está em nós, e não precisamos busca-Lo em opiniões. (Threefold Life, XI 82).
Não é preciso ir a lugar algum para encontrar o Espírito Santo; pois, desde o nascer e do brilho do sol, até o seu pôr, o Cristo brilha em todos os lugares e em todos os países, onde quer que o homem e a mulher evitem o pecado e penetrem a vontade de Deus. (Threefold Life, XI 88).
Cristo significa o Caminho e a Verdade; significa VIDA ETERNA para a humanidade e para cada indivíduo. Ninguém deve jamais pensar em procura a fonte de sua própria vida em outro lugar exceto em sua própria alma interior, pois a vida universal o aguarda somente se estiver ativo em si mesmo.
O Homem-Cristo (aquele que se tornou um Cristo pelo Cristo que se faz homem) é Senhor de todas as coisas, e compreende em Si mesmo a totalidade da existência divina. Não há, portanto outro lugar onde reconhecer a Deus, exceto na substância de Cristo (em nós), porque Nele reside a substancialidade a plenitude da divindade. (Questions, I 153).
A alma origina-se de três princípios; ela vive, portanto numa angústia ternária, e está presa por três laços. O primeiro laço liga a alma à eternidade e alcança o abismo do inferno (a vontade ígnea); o segundo é o reino do céu; o terceiro é a região das estrelas com os elementos. O terceiro reino não é eterno, mas tem um certo período de existência; no entanto, é o reino que faz o homem crescer, dotando-o de hábitos, vontade e desejos relacionados ao bem e ao mal. Ele lhe confere beleza, riqueza e honras, e o torna um rei terrestre. Este reino permanece com ele até o fim de seu tempo, depois o abandona; da mesma forma que o auxilia a obter a vida, o auxilia na morte, libertando-o da alma astral.
Primeiro os quatro elementos se afastam do elemento único, interrompendo a atividade no terceiro princípio; a separação dos quatro elementos é terrível; depois, a tintura com a sombra (do que era homem) entra no outro elemento, e com essa sombra permanece na raiz do elemento, de onde os quatro elementos tiveram sua origem e de onde emanaram. Este rompimento, por si só, é dor e sofrimento; é a destruição da casa sensível da alma.
A alma, em sua vestimenta astral, flutuando nas portas da profundeza, passa por grandes dificuldades, devido ao seu estado terrestre, e pelo poder que pertence à sua constituição astral, ela pode reaparecer em sua forma corpórea prévia, pedindo algo, tal como era seu desejo antes da morte, buscando obter repouso; ela pode também ir a lugares assombrados e tentar manifestar sua presença na luz, de acordo com seu espírito sideral, produzindo ruídos de várias espécies.
Não há luz, nem deste mundo, nem de Deus, apenas a luz da ignição de seu próprio fogo, sendo ele um terrível inimigo, a carne de sua cólera. O tipo de angústia destas almas diferem segundo à qualidade daquilo que a alma se carrega. Para tal alma não há auxílio; ela não pode penetrar a luz de Deus; e mesmo que São Pedro tivesse deixado mil chaves sobre a terra, nenhuma delas abriria a porta, pois ela já rompeu o laço que a conectava com a Divindade. (Veja: Three Principles, XIX).
Está Escrito que é muito difícil um homem rico entrar no reino dos céus. Isso não se refere à posse de bens, mas a uma vida vã e avarenta; pois enquanto o homem engorda, Deus é esquecido. Ninguém deve imaginar ser abençoado por ser pobre. Se ele é um incrédulo e descrente, está então no reino do demônio, além de sua pobreza. Nem o homem rico deve jogar fora seu dinheiro, nem dá-lo ao gastador, pensando com isso alcançar a benção eterna. O reino de Deus está na verdade, na justiça, e no amor para com os necessitados. Ele não condena ninguém que use apropriadamente o que tem. Não se deve deixar o cetro e ficar num canto lamentando-se. Isso não passa de hipocrisia. Você pode servir muito melhor a lei da justiça e ao reino de Deus, mantendo seu cetro, protegendo o fraco e oprimido e trabalhando pelo certo e pelo justo; não segundo sua avareza, mas no amor e temor de Deus. (Principles, XXV 74).
Tudo o que fazemos, pensamos e desejamos em nosso ser exterior é obra do espírito deste mundo, atuando em nossa constituição; pois o corpo nada mais é do que o instrumento daquele espírito onde opera, e como todos os outros instrumentos que nascem do espírito deste mundo, irá, por fim, se desfazer e se decompor. Portanto, nenhum homem deve desprezar ou condenar outro homem, caso este não possua as mesmas qualidades que ele; pois o céu natural (a constelação) constrói cada homem segundo a natureza das influências regentes. Ele fornece a cada pessoa seus caminhos, modos e caracteres, além de seus desejos e intintos, e isso não pode ser arrancado do homem externo enquanto o céu externo não romper sua constituição animal. Mas se o homem externo não faz o que o espírito do mundo externo deseja nele, mas é forçado a abandonar o que é falso e ilusório, então tal poder não procede do céu externo, mas do novo homem interior, que precede da eternidade e batalha contra o homem terrestre; normalmente ele alcança uma vitória sobre o segundo. (Three Principles, XXV 6).
Se queres seguir o caminho (da luz), é preciso grande sinceridade. Não pode ser só palavras e pretensão, enquanto o coração encontra-se longe; pois deste modo nada conseguirás. É preciso unificar toda sua mente, com todos os seus sentidos e razão, em uma só vontade, se queres ser restaurado e sair de suas abominações. É preciso colocar seu sentido em Deus, em Sua caridade, com plena confiança e segurança, então irás conseguir. Se o demônio em ti disser: ‘Não pode ser, és um grande pecador’, não se deixe aterrorizar, pois ele é um mentiroso, e o pai da dúvida.
Não há mais do que dois reinos movendo-se no homem. Um é o reino de Deus, onde está o Cristo, desejando-o; o outro é o reino do inferno, onde está o demônio, desejando-o também. A pobre alma terá que batalhar, pois está no meio. Cristo oferece a ela o novo manto, e o demônio as roupas do pecado; sempre que o homem tem um bom pensamento ou desejo por Deus, desejando entrar em verdadeira sintonia (tornar-se um com o Divino), esse pensamento, com certeza, não vem dele, mas do amor de Deus, e a nobre virgem o chama para que venha, e para que não desistas de seus esforços. Mas, se neste caminho, o homem se depara com seus grandes pecados, que tentam dete-lo como montanhas, de modo que não encontra paz em seu coração, isso é, com certeza obra do diabo, que o faz pensar que Deus não quer ouvi-lo. Nestes momentos não deixe que nada te detenha ou te terrifique; pois o demônio é teu inimigo. Está escrito que se os pecados dos homens fossem vermelhos como sangue eles se arrependessem verdadeiramente, os mesmos se tornariam brancos como a neve. (Principles, XXIV 34).
Assim, a jóia preciosa é semeada; mas, lembra-te bem, ela não se transforma imediatamente em árvore. O demônio irá, frequentemente, insinuar-se e tentará destruir a semente de mostarda; a alma terá sempre que suportar pesadas tormentas, e ser coberta com as sombras de seus pecados. Mas, se há uma batalha constantemente contra os poderes do demônio, então a árvore irá crescer e florir, e tu obterás o fruto. (Three Principles, XXIV 37).
O mundo externo ou a vida externa não é um vale de sofrimento para aqueles que o aproveitam, mas apenas para aqueles que conhecem uma vida superior. O animal desfruta da vida animal; o intelectual desfruta do reino intelectual; mas aquele que penetrou a regeneração reconhece sua existência terrestre como um peso e uma prisão. Com esse reconhecimento, toma para si a Cruz de Cristo. (Epistles. Ii 34).
O homem celeste e santo, oculto no homem monstruoso (externo), está tanto no céu quanto Deus, e o céu está nele, e o coração e a luz de Deus é gerada e nasce dentro dele. Assim, Deus está nele e ele está em Deus. Deus está mais perto dele do que seu corpo bestial. 166
O corpo animal não é seu lugar de origem, próprio dele, onde está em casa; o verdadeiro homem, regenerado e recém-nascido em Cristo, não está neste mundo, mas no paraíso de Deus; e embora o corpo animal morra, nada acontece ao novo homem, que surge da vontade contrária e da casa do tormento para o seu lugar de origem. Não há necessidade de remoção para qualquer lugar ou distância, pois Deus encontra-se revelado em nele, por toda parte. (The Epistles, XXV 13).
O nada, onde o demônio reside. A dúvida é a negação daquela fé que é Deus. É o resultado do egoísmo e da cegueira que não permite ao homem reconhecer a possessão do que ele já tem. (Threefold Life, XIV 41).
Deus é a unidade eterna, o imensurável bem único, não tendo nada antes ou depois dele que pudesse dotá-Lo de algo ou movimentá-Lo. Não há Nele qualquer inclinação ou qualidades, não há princípio no tempo, dentro de si apenas a unidade. É a própria pureza, sem nenhum contato; não necessita lugar ou localidade para sua habitação, estando ao mesmo tempo fora e dentro do mundo. Em sua profundidade nenhum pensamento pode penetrar, nem pode sua grandiosidade ser expressa em números, pois é infinito. Tudo o que pode ser contado ou medido é natural ou figurativo, mas a unidade de Deus não pode ser definida. Ele é tudo, e tem sido reconhecido como bom, e é chamado bom, pois é eterna brandura e beneficência com a sensibilidade da natureza e da criatura, o mais doce amor. Pois, a unidade em seu aspecto bom, emana de si mesma, introduzindo-se em vontade e movimento. Ali, a unidade vive e penetra a vontade ou o movimento, os quais experimentam a brandura da unidade. Este é o fundamento do amor na unidade, do qual Moisés diz: ‘O Senhor ou Deus é um Deus santo, e não há outro além dele’ (Theosophical Questions I I).
Deus é o centro do homem, mas ele reside apenas em si mesmo, a menos que o espírito do homem torne-se um espírito com Deus; neste caso, ele se tornará manifesto na natureza humana, na alma, na mente e no desejo, por onde se tornará perceptível aos sentidos interiores do homem. A vontade envia os sentidos para Deus, e Deus grava os sentidos e se torna um ser com eles. Então, os sentidos passam a carregar o poder de Deus para a vontade, e a vontade os recebe com gratidão, mas com tremor; pois reconhece ser indigna e sabe que vem de uma morada instável. Assim, ela recebe aquele poder ao mergulhar-se diante de Deus e de seu triunfo surge a doce humildade. Essa é a verdadeira essência de Deus, e essa essência concebida na vontade é o corpo celestial, e é chamado de fé verdadeira e justa, recebida pela vontade, no poder de Deus. Ela mergulha na mente e reside no fogo da alma. (Menschw. X 8).
Na quinta qualidade a glória e majestade de Deus manifesta-se como luz de amor. Está escrito que Deus reside na luz, na qual ninguém pode penetrar. Isso significa que nenhum ser criado nasceu do fogo central do amor, pois este é o mais sagrado fogo, o próprio Deus em Sua Trindade. Deste fogo santo foi emanado o JAH, um raio da unidade sensível. Este é o precioso nome de Jesus, redimindo a pobre alma do fogo-colérico, e ao tomar a natureza humana, abandona-se ao fogo central de Deus na alma, na cólera de Deus dentro da alma; acendendo-a novamente com o fogo-amor, e unindo-a à Deus. (Theos. Quest. III 25).
O Cristo é aquele que se regenerou da qualidade humana; a mãe da regeneração, o ungido. (Veja, Stief. 19).
A virgem diz: Algo em ti me contraria. Eu te criei e te tirei do meio dos espinhos. Quando eras um animal selvagem, eu te configurei em minha própria imagem. Mas o animal selvagem está entre os espinhos: isso eu não vou tomar em meu peito. Você ainda vive com seu animal selvagem. Quando o mundo tomar esse animal, já que a ele pertence, então eu te tomarei. Assim, cada um irá tomar o que lhe pertence. Por que então amas tanto aquele animal selvagem que não te causa mais nada além de dor? Não podes carregá-lo contigo. Ele não te pertence, mas ao mundo. Que o mundo o use como puder, mas permaneças tu comigo. Será por pouco tempo; logo seu animal irá se quebrar, e tu dele te livrarás, e permanecerás comigo. Como irás regozijar-te, se pensares naquele animal, que te afligia dia e noite, e ver que dele estas livres. Como uma flor cresce da terra, tu te elevarás acima de teu animal selvagem. Tu dizes: ‘Sou teu animal; tu nasceste em mim’. Ouça, meu animal! Sou maior que tu. Quando estavas por vir, eu era tua construtora. Minhas essências saem da raiz da eternidade; mas tu pertences a este mundo. Tu irás te quebrar, mas eu permaneço eternamente em meu poder. Portanto sou muito mais nobre que tu. Tu vives na cólera; mas eu irei colocar minha cólera assustadora na luz, na alegria eterna. Minhas obras estão no poder, enquanto as tuas permanecem como sombras. Quando eu estiver livre de ti, nunca mais irei te aceitar como meu animal; mas, (tomo) meu novo corpo, o qual estou regenerando na mais profunda raiz do elemento santo. (Principles, XXI 69).
Eleve tua mente no espírito, veja que toda a natureza, com todos os seus poderes, com sua profundidade, largura e peso, céu e terra, e tudo que ali se encontra e acima dos céus, é o corpo de Deus, e os poderes das estrelas são as artérias do corpo natural de Deus neste mundo.(Aurora, II 16).
A Natureza não é Deus, não mais do que o corpo de um homem é o homem. A Natureza é o eco e a imagem da natureza eterna, manifesta pelos poderes do Verbo. (Tabuloe Principioe, li).
Nem no céu, nem na terra; nem dentre as estrelas ou elementos, podemos encontrar algum caminho que nos leve ao repouso. Mal entramos na vida, e depois disso é o fim, quando nosso corpo nascerá de volta na terra e todas as nossas obras, trabalhos, ciências e glórias serão herdadas por outros, que também se incomodam por um tempo, com as mesmas coisas, e então nos seguem (para a morte). Isso ocorre desde o princípio do mundo até o seu fim. Durante nossa miséria nunca poderemos saber onde permanece nosso espírito quando o corpo cai e se torna cadáver, a menos que sejamos recém-nascidos, fora deste mundo; de modo que, embora vivamos neste mundo, em nosso corpo, habitamos na nossa alma e espírito em outra vida, nova, perfeita e eterna. Ali, um novo homem será encontrado em nosso espírito e alma, e ali deverá ele viver eternamente. Somente nesta nova forma aprenderemos a conhecer o que somos e onde está nossa verdadeira casa. (Principles, XXII 5).
Se as três primeiras qualidades possuem sua superioridade no princípio das trevas, então as outras qualidades estão adormecidas em seus centros; e todas as sete são más
Se as três primeiras qualidades possuem sua superioridade no princípio da luz e nascem do centro de trevas, então possuirão em si a natureza da luz. Todas as sete serão boas:
Um princípio (início) nada mais é do que um novo nascimento, uma nova vida. Só há um princípio onde se encontra a vida ou a divindade eterna; esta não se manifestaria se Deus não tivesse criado em si criaturas como os homens e anjos, que conhecem o laço indissolúvel, e como o nascimento da luz eterna em Deus ocorre. (Principles, V 6).
Deus não tinha outro material do qual criar algo, senão sua própria essência. Mas Deus é um espírito, intangível, que não possui nem princípio, nem fim. Sua profundeza e grandeza é tudo. Um espírito nada faz senão que surge, incita-se, movimenta-se e dá à luz a si mesmo. Neste nascimento há especialmente três formas — o amargor, a adstringência e o calor; mas nestas três formas não há uma primeira, segunda ou terceira; mas todas as três são uma só, sendo que uma dá nascimento à outra. (Principles, L 3).
O homem é a cabeça; ele possui o regimento superior, com a tintura do fogo, e em sua tintura, possui a alma que deseja Vênus como sua matriz corporal. A alma deseja ter espírito e corpo, e isso está na matriz mulher. Mas o regimento inferior é o feminino, e seu regimento encontra-se na Lua; pois o Sol fornece o calor, Vênus a tintura, não de natureza ígnea, mas aquosa.
A Fêmea deseja o macho, e a Lua busca o Sol; pois ela é de natureza material, e deseja um coração celeste. Assim, a matriz feminina deseja o coração do homem e a alma feminina deseja sua tintura; pois a alma é um bem eterno. Assim, existe o desejo sexual entre todas as criaturas; elas desejam misturar-se uma com as outras. O corpo não compreende isso, nem tampouco o espírito-ar; mas, as duas tinturas, a masculina e a feminina, conhecem muito bem. (Threefold Life, IX 106).
A alma ígnea, pura como o ouro limpo, testada no fogo de Deus, é o esposo da nobre Sophia, pois ela é a tintura da luz. Se a tintura do fogo é perfeitamente pura, então a Sophia se unirá à ela e Adão receberá novamente a noiva mais nobre, que foi dele afastada durante seu sono; ele a tomará em seus braços. Não se trata de homem ou mulher, mas um ramo na árvore de pérolas que encontra-se no paraíso de Deus. Mas como a noiva recebe seu noivo na qualidade-ígnea clara e brilhante dele, e como lhe dá um beijo de amor, isso só será compreendido por aqueles que estiveram no casamento do Cordeiro. A todos os outros isso permanecerá um mistério. (Mysterium Magnum, XXV 14).
Se te dizes um Cristão, por que então não acreditas nas palavras de Cristo, quando diz: ‘Eu estarei contigo até o final do mundo’; diz ainda que Ele nos dará seu corpo por alimento e Seu sangue como bebida. Tu perguntas: ‘O Cristo foi para o céu, como poderia estar neste mundo?’ Talvez concordes com o fato de que Ele esteja presente conosco em Seu espírito Santo. Mas o que seria do homem recém-nascido em ti, se fosse alimentado unicamente pelo espírito, sendo esse unicamente alimento para a alma? Cada vida alimenta-se de sua própria mãe. A alma é espírito, como do alimento espiritual; o homem recém-nascido prova do elemento puro, e o homem externo daquilo que provém dos quatro elementos.
Qual o benefício do corpo (etéreo) se a alma alimenta-se da divindade pura? Pois sabes que a alma e o corpo não são um e a mesma coisa. A alma é espírito, e necessita do alimento espiritual. Ou pensas que podes alimentar o novo homem com o alimento terrestre? Se pensares assim, é porque estais longe do reino de Deus. (Principles, XXIII 6).
A palavra Sul e é a alma de algo; pois na palavra Súlfur ela é o óleo ou a luz, que nasce da sílaba Phur. É a beleza ou a bondade de algo; seu amor ou o amado. Na criatura é a inteligência e o sentido, é o espírito nascido da sílaba Phur. A palavra ou sílaba Phur é a Prima Matéria, penetrando o terceiro princípio em si mesmo, o Macrocosmo de onde nasce a essência ou o reino (terrestre) elemental; mas, no primeiro princípio é a essência da geração mais interna, de onde Deus, o Pai, desde a eternidade dá nascimento a Seu Filho. No homem também é a luz que nasce do espírito sideral em outro centro do Microcosmo, mas no Spiraculum é um espírito-alma no centro interior. É a luz de Deus, que por si só, possui aquela alma que está no amor de Deus, pois ela é iluminada e soprada pelo Espírito Santo. (Three Principles, II 7).
O Sal é a Prima Materia, adstringência. Na adstringência forte surge o amargor; pois, a poderosa atração surge na dificuldade do espírito. Por exemplo, se uma pessoa se torna raivosa, seu espírito atrai aquilo que a faz ficar amargurada e trêmula; e se ela não resiste e se abate, então o fogo da cólera se acende em seu interior, a fim de que queime na malícia. Então, em sua mente e alma isso se torna substancial, um ser. (Three Principles, I 9).
Mercúrio, um fogo-sulfur-água amargo adstringente; o mais terrível de todos os estados; mas não o imagine como sendo uma Matéria ou algo tangível; trata-se de espírito e a fonte do primeiro princípio da natureza. (Three Principles, I 10).
Isso compreende as quatro qualidades, de onde surge a vida; mas, não tem seu princípio no centro, como o Phur, mas de acordo como a carne-ígnea, no terror da qualidade das trevas. (Threefold Life, II 42).
Todo o poder do Pai se expressa nas qualidades do Verbo, ou seja, o Filho de Deus. O mesmo verbo, ou o mesmo som, expressado pelo Pai expressa do Salniter, ou os poderes do Pai, e do Mercurius ou som do Pai. Assim, o Pai expressa o verbo de si mesmo, e o mesmo som é a glória de todos os seus poderes; depois que ele é expresso, não mais está contido nos poderes do Pai, mas soa e toca na totalidade do pai em todos os poderes. Esse poder expressado pelo pai tem tal força que o som do verbo imediatamente e rapidamente penetra por toda profundeza do Pai, e sua força é o Espírito Santo, pois, o verbo pronunciado permanece como uma glória ou um mandamento majestoso diante do rei; mas o som, emanando através do verbo, executa o mandamento do Pai pronunciado por Ele através do Verbo, e aqui ocorre o nascimento da Santíssima Trindade. O mesmo ocorre no homem ou no anjo. O poder na totalidade de seu corpo possui todas as qualidades como em Deus o Pai. (Aurora VI 2).
No espírito do verbo é que se deve compreender a divindade como um todo, com todos seus poderes e efeitos, e com toda sua essência; é sua admiração, penetração e transformação; toda a ação e toda a geração. (Aurora XIX 72).
Assim, cada criatura possui seu próprio centro para sua própria expressão ou o som do verbo formado em si mesmo, tanto nos seres temporais como eternos; tanto no homem racional como no irracional; pois o primeiro Ens foi pronunciado do som de Deus, pela sabedoria, de seu centro no fogo e luz e foi formado no Fiat, e entrou em compactação. O Ens emana do eterno, mas a compactação emana do temporal; portanto, em todas as coisas há algo eterno oculto no tempo. (Mysterium Magnum, XXII 2).
Naquela qualidade em que cada palavra na voz humana no ato do pronunciamento se forma e se manifesta, até no amor de Deus, assim como nos santos Ens, ou na cólera de Deus; na mesma qualidade ele irá ser tomado novamente, após ter sido pronunciado. A palavra falsa torna-se infectada pelo demônio, e selada pelo (futuro) detrimento, e é recebida no Mysterium da cólera, como na qualidade do mundo de trevas. Cada coisa retorna com seu Ens para aquele lugar de onde teve sua origem. (Mysterium Magnum, XXII 6).
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