Boehme Hartmann XIII

JACOB BOEHME — Citações de sua obra, organizadas por Franz Hartmann

Retiradas da tradução oferecida pela SCA

XIII – REGENERAÇÃO
Tu és um mestre de Israel, e nada sabe sobre estas coisas? (João, III, 10) Todo aquele que me segue, negue-se a si mesmo, tome sua cruz diariamente, e siga-Me.

É evidente, e não necessita de mais provas o fato de que somos todos feitos de carne e sangue, e que somos mortais. No entanto, nos é ensinado que somos templos do Espírito Santo, que habita em nós. Também nos é ensinado que o Cristo deve tomar forma em nós, e que Ele nos dará a Sua carne como alimento e o Seu sangue como bebida. Ele diz que aquele que não come da carne do Filho do Homem não terá a vida eterna. Portanto, devemos refletir seriamente que tipo de homem há dentro de nós mesmo, similar a Deus e capaz de tornar-se divino. (Regeneração, I).

Pois, aquilo que é feito de carne mortal irá retornar a terra. Nela reside a vaidade deste mundo. A carne deseja o que não é de Deus, e não pode ser considerado um Templo do Espírito Santo. Muito menos pode ocorrer ali uma regeneração espiritual da carne terrestre, porque ela morre e se dissolve, e é morada dos pecados. Mas o verdadeiro Cristão nasce de Cristo, e aquele que é regenerado é um templo do Espírito Santo que habita em nós. (Regeneração, I).

Para se produzir um verdadeiro Cristão, não basta satisfazer-se com uma crença meramente histórica e científica, no Filho de Deus, que um dia viveu sobre a terra. Não seremos recompensado por uma espécie de Deus externo, que nos atribuirá retidão, por conta de nossa confissão em tal crença; mas, o reconhecimento da verdade divina deve nascer e ser recebida dentro de nós de forma pueril. A carne está condenada à morte, e temos que nos tornar como uma criança que nada sabe, mas que se apega (instintivamente) a mãe que lhe deu à luz. Da mesma forma, a vontade do Cristão deve morrer para a sua vontade própria e auto afirmação, tornar-se como uma criança em Cristo. Então, se a vontade e o desejo da alma é dirigido unicamente à sua fonte, irá surgir do espírito de Cristo uma nova vontade e obediência na justiça divina, a partir da morte da vontade-própria; não mais será uma vontade pecadora. (Regeneração, I).

Observamos o mundo eterno com suas estrelas e os quatro elementos onde vivem os homens e todas as criaturas. Isso não é Deus, e não é chamado de ‘Deus’. Deus habita ali, mas a essência do mundo externo não O compreende. Da mesma forma, a luz brilha nas trevas, e as trevas não a compreende.

Deus habita no mundo e preenche todas as coisas; no entanto, Ele nada possui. A luz habita nas trevas, mas não a possui; o dia habita na noite e a noite habita no dia, o tempo na eternidade e a eternidade no tempo; o mesmo ocorre com o homem. Ele próprio é o tempo, e vive com ele segundo seu aspecto externo; é desta mesma forma que o mundo externo existe no tempo; mas o homem interior é eternidade, mundo e tempo espiritual, tal como é criado na luz, de acordo com o amor de Deus, e nas trevas de acordo com Sua cólera. Seu espírito vive naquele princípio que nele está manifestado, seja nas trevas, seja na luz. Cada um deles habita em si mesmo; nenhum deles possui o outro; mas, se um penetra o outro e deseja possuí-lo, este o outro irá perder sua supremacia e poder. Se a luz se manifesta nas trevas, então as trevas deixam de ser trevas; e se as trevas surgem na luz, então a luz e seu poder serão extintos. As trevas eternas da alma constituem o reino do inferno; a luz eterna na alma é seu céu. O homem, portanto, é criado e vive nos três mundos. Um é o mundo das trevas eternas que surge do centro da natureza — natureza eterna — onde nasce o fogo como o tormento eterno; o outro mundo, é o da luz eterna, onde reside a alegria e o Espírito de Deus. É neste mundo de luz que o espírito de Cristo assume substancialidade humana. O terceiro mundo onde vive o homem, e do qual foi gerado, é o mundo visível externo, com seus quatro elementos, e as estrelas visíveis. (Regeneração, I).

A regeneração espiritual, não depende de aprendizado ou conhecimento científico; é preciso haver uma intensa e poderosa sinceridade, uma grande fome e sede pelo Espírito de Cristo. A ciência pura não é fé; a fé é uma intensa fome e sede por aquilo que desejo, de modo que se forma numa imagem dentro de mim, e pela avidez de minha imaginação torna-se minha propriedade. Essa fome e desejo moldam a substância de Cristo, sendo ele a substância celestial, na imagem enfraquecida, onde a palavra do poder de Deus é a vida ativa.

Se, então, a alma participa deste alimento celestial, ela é acesa pelo grande amor que habita no nome Jesus. Sua angústia se converte em grande alegria e um sol real surge dentro dela, enquanto se torna regenerada em uma outra vontade. Ocorre então o casamento do Cordeiro, do qual os cristãos da boca para fora, falam sem nada compreenderem. (Regeneration, IV).

No nome de Jesus, Deus abriu para nós a porta de Seu ouvido; podemos ouvir a Deus realmente falando em nós; em Sua misericórdia Ele fala através deste portal aberto do pensamento. A alma, também fala com Deus através desta porta e durante esta conversa interior ela é nutrida, restaurada, iluminada e renovada pelo pronunciamento de Deus. (Prayer, XXXI).

Para que a alma receba um real benefício e proveito da oração, então sua vontade deve se afastar de todas as criaturas e coisas terrestres e permanecer pura diante de Deus. Que a carne com seus desejos não co-opere (na oração) a fim de que os desejos terrestres não sejam introduzidos no efeito divino na alma. (Prayer, XXXIV).

Cada oração que não encontra e toma o que pede é fria e insípida, obstruída por coisas temporais terrestres; ou seja, a alma não se aproxima de Deus em pureza. Ela não deseja sacrificar a si mesma inteiramente à Deus, mas busca os amores terrestres que a mantém aprisionada, não podendo alcançar o reino de Deus. (Prayer, XVIII).

A vontade necessária para realizar a oração é fraca na medida em que estiver em nosso poder o fato de orarmos ou não, mas se ela atua pelo poder divino ela se torna desperta, ígnea, e cheia de desejo. Dentro deste desejo o próprio Deus está atuando. Assim, o homem fala com Deus em verdade, e Deus fala em verdade com a alma do homem. (Prayer, XXIX).

Aquele que verdadeiramente ora co-opera com Deus internamente, enquanto que externamente produz bons frutos. (Prayer, XXIV).

A mera repetição de palavras, sem a exaltação do pensamento e do desejo divino é unicamente algo externo. Nada agrada a Deus exceto aquilo que Ele próprio faz. (Prayer, I 2).

Enquanto o Cristo se alimenta da fé e da oração de nossa alma, a fé humana, juntamente com a oração e o louvor a Deus, torna-se corporal na palavra do poder; esse novo ser passa a ser um com a substância da corporeidade celestial de Cristo, o corpo eterno de Cristo. (Mysterium, LXX).

A pobre alma aprisionada, encerrada nas trevas da morte, é um fogo mágico faminto, que atrai da encarnação de Cristo, a substancialidade reaberta de Deus, e deste engolir ou nutrição, produz um corpo similar ao da Divindade. Assim, a pobre alma será revestida com um corpo de luz, comparável ao fogo de um pavio. (Cartas, XI 21).

Através da introdução da vontade divina o homem reúne-se a Deus e renasce em sua natureza emocional. Ele começa a morrer com relação ao egoísmo do falso desejo (dentro dele) e a se regenerar em novo poder. Ainda há a qualidade carnal atraída a ele, mas no espírito ele caminha com Deus; desta forma, nasce no homem de carne terrestre um novo homem espiritual com percepções divinas e com uma vontade divina, matando dia após dia, a luxúria da carne, e pelo poder divino, começa a render o mundo, ou seja, a vida externa; Ele começa a fazer com que o céu, ou o mundo espiritual interior, se torne visível no mundo externo; Deus torna-se homem e o homem Deus, até que a árvore, finalmente, atinja a sua perfeição, quando a casca externa irá cair, e ela aparecerá como árvore espiritual da vida no jardim de Deus. (Mysterium, Supplement, VIII).

Ninguém deve se imaginar seguro após ter obtido a coroa de pérolas, pois pode perdê-la novamente. A alma, durante sua vida terrestre, está acorrentada por três temerosas correntes. Primeiro pela severa cólera de Deus, o abismo e as trevas do mundo, que é o centro da vida criada da alma, cuja raiz mais íntima é o desejo. A segunda corrente é a ânsia ígnea do demônio pela alma, que tenta a alma e busca, incessantemente, tirá-la do repouso da verdade divina para cair na vaidade, no orgulho, na avareza, na inveja e na raiva; através destas propensões malignas, ele procura ventilar o fogo na alma, a fim de que se afaste de Deus e penetre o egoísmo. Mas a terceira e mais perigosa corrente é a do corpo e do sangue, corruptíveis, fúteis, terrestre e mortal, cheios de desejos e inclinações malignas, juntamente com a região astral (plano astral), onde, como num grande oceano, a alma está flutuando, o que a faz ser, diariamente, inflamada e infectada pelo pecado. (Three Principles, XXV 7).

Se uma pessoa está na ansiedade do inimigo, e a picada da morte e da raiva move-se dentro dele, tornando-o avarento, invejoso, raivoso e irritável, não se deve permanecer na essência maligna; é preciso parar, considerar e atrair (da fonte eterna) uma outra vontade, ou seja, a vontade de sair da malícia e penetrar na liberdade de Deus, onde há perpétuo repouso e paz. Se sua angústia provar da liberdade, então a tortura da angústia ficará terrificada, e neste terror de morte, será destruída; pois esse terror serve de grande satisfação e consiste num assassinar a vida de Deus. Por esse intermédio, o ramo de pérolas aparece, e o homem permanece numa alegria trêmula, mas também em grande perigo, pois a morte e a tortura da angústia são sua raiz; do mesmo modo, a angústia na natureza externa possui a qualidade que sai do demônio, ou seja, da angústia nasce grande vida. Da natureza, por exemplo, um belo ramo verde cresce, tendo, é claro, uma constituição, um odor e um estado diferente (de vida) daquele que o produziu (Menschwerdung, XI 8).

A pobre alma está tão cega que nem mesmo reconhece as pesadas correntes às quais está atada. Todo o mundo está cheio de armadilhas arrumadas pelo demônio, com o propósito de capturá-la. Se o homem exterior tivesse seus olhos (espirituais) abertos, ficaria aterrorizado. Tudo o que o homem vê ou toca, ali há uma armadilha do demônio, e se o Verbo do Senhor, tendo se tornado humano, não estivesse ocupando o meio, o demônio capturaria e devoraria todas as almas. (Menschwerdung, XI 6).

Enquanto o homem terrestre viver a alma estará em contínuo perigo, pois o demônio tem uma inimizade com ela, lançando seus raios com uma falsa imaginação no espírito das estrelas e dos elementos; ele alcança, assim o fogo-alma, e deseja envenená-la com um desejo terrestre e demoníaco. A nobre imagem deve, neste caso, (na consciência interna do homem) levantar-se em defesa; muita luta pela coroa dos anjos se faz necessária, e sempre surge ali, dentro do velho Adão, dúvidas e descrenças. (Menschwerdung, XI. 6).

Mesmo depois que a jóia preciosa é semeada, ela não se torna imediatamente uma árvore. O demônio, frequentemente, sopra sobre ela, desejando exterminar a semente de mostarda. A alma tem que enfrentar muitas tormentas. Normalmente ela se engana com o pecado, e tudo parece estar contra ela. É preciso lutar continuamente contra o demônio. Então a árvore de pérola irá crescer como a relva na tempestade e na chuva; mas quando ela cresce e dá flores, se pode ter a certeza de obter os frutos. (Three Principles, XXIV 37).

Não é a alma mortal, mas a alma interior (espiritual) do eterno Verbo de Deus a que se casa com Sophia. A alma exterior está casada com a constelação (funções mentais) e elementos. Essa alma externa raramente lança um só olhar para a Sophia, pois contém em si a morte e a mortalidade. Passado este tempo ela deve ser novamente transformada na primeira imagem que Deus criou em Adão. (Mysterium, Lii 13).

Enquanto a casa mortal existe, nossa alma não habita na fonte de Deus, de modo a apreender essa fonte em si mesma. O sol brilha através de um vidro, provendo-o de luminosidade; no entanto, o vidro não se torna o sol. Ele simplesmente permanece (por um tempo) na luz e poder do sol, que brilha em sua substância e através de sua substância. O mesmo ocorre com a alma em seu estado terrestre. (Mysterium, L II 3).

Que ninguém pense que a árvore da fé Cristã possa ser vista ou conhecida no reino deste mundo. O homem externo não a reconhece, e mesmo que o Espírito Santo se manifestasse no espelho exterior, a vida externa tornar-se-ia satisfeita e tremeria de prazer, e pensaria ter recebido o convidado esperado; ela então acreditaria, ainda que não ocorra ali uma duração perfeita; o Espírito de Deus não permanece constantemente na mente terrestre. Ele quer ter um vaso limpo, e sempre que retorna a seu princípio — sendo este a verdadeira imagem — o ser externo torna-se duvidoso e cheio de medos. (Menschwerdung, CXI 8).

A alma coloca sua grinalda, mas ela é novamente retirada e colocada de lado. O mesmo ocorre com a coroa de um rei, que posteriormente é mantida num tesouro. Isso ocorre com a alma porque ela ainda está rodeada pela casa do peado, de modo que, se ela cair novamente, sua coroa não se solidifica. (Repentance, I 27).

As crianças iluminadas de Deus são amedrontadas por grandes perigos; muitas das que desfrutaram da grande visão da santidade de Deus, nas quais o triunfo da vida é alcançado, a razão carnal se espelha ali e busca introduzir seu egoísmo no centro interior, de onde a luz brilha. Disso resulta o orgulho miserável e o auto conceito; a razão egoísta — sendo, mais que nada, um reflexo da luz eterna — fantasia ser mais do que isso. Ela pensa agora poder fazer o que quer, e que, o que quer que faça, é a vontade de Deus fazendo por ela, acredita ser um profeta. No entanto, ela não penetra lugar algum, senão com seu próprio ser, e se movimenta com seu próprio desejo, através do qual o centrum naturae logo começa a aparecer. Surge então, o demônio da bajulação e o homem se torna embriagado pelo auto conceito, persuadindo a si mesmo que é Deus quem o compele a agir de tal forma. É assim que ele arruína o bom princípio, durante o qual a luz de Deus começa a brilhar na Natureza, e a luz de Deus o abandona. Nada fica, senão a luz da natureza exterior na criatura, mas o convencimento se manifesta e fantasia ser ela a luz original recebida de Deus. (Calmness, I 8).

A causa do antagonismo entre a carne e o espírito pode facilmente ser encontrada; o espírito interior tem o corpo de Deus, nascido da doce essencialidade, e o espírito externo tem o corpo do espírito ígneo da cólera, que busca, continuamente, a cólera despertada; ou seja, as grandes maravilhas que estão no Arcanum, na inflexibilidade da alma. O amor-espírito interior protesta e não irá deixar o espírito externo surgir e incendiar a alma; pois isso seria perder sua própria felicidade e forma, que seriam destruídas pela cólera. (Forty Questions, XVII 14).

Há dois tipos de vontade a serem distinguidas na constituição do homem. Uma surge com o lírio e cresce no reino de Deus; a outra afunda nas trevas da morte e desejos pela terra, sendo ela sua mãe. Essa irá lutar contra o lírio, constantemente, e o lírio voa para longe de sua aspereza. Um broto cresce da terra, e assim a substância da qual é formada voa da terra e é atraída para a luz do sol até se tornar uma planta ou uma árvore. Então o Sol divino atrai o lírio humano, ou seja, o novo homem em seu poder, fora da substância do demônio, até que ele finalmente se torne uma árvore no reino de Deus. Ele deixa a árvore má ou a casca cair na terra, sua mãe que tanto busca, para deixar crescer a nova árvore. (Menschwerdung, XI 8).

Na pedra bruta pode-se encontrar o ouro precioso em crescimento, e a aspereza da pedra auxilia o seu crescimento, embora a aspereza não seja como o ouro. Do mesmo modo, o corpo terrestre deve auxiliar na geração do Cristo em si, mesmo que aquele corpo não seja o Cristo, e nunca será o Cristo na eternidade. (Grace, VIII 94).

Somos de natureza terrestre, mas também possuímos uma existência celeste dentro da terrestre. Durante nossa vida temporal, uma se mistura à outra, mas não atuam uma na outra; cada uma é meramente a habitação da outra, assim como no caso do ouro na pedra. A pedra não é o ouro, simplesmente seu veículo. A aspereza da pedra não é o que produz o ouro, o que é feito através da tintura do sol atuando ali. (Menschwerdung, I 14).

Estamos sempre expostos às tentações, mas podemos ser vitoriosos em Cristo, o conquistador, pois Sua alma é nossa alma e Sua carne é nossa carne, provando que nele confiamos e a Ele nos entregamos inteiramente, assim como o Cristo rendeu-Se totalmente a Seu Pai. (Forty Questions, I 10).

O desejo é a introdução (da vontade) em algo, e do desejo resulta a formação de um ser corpóreo (no plano astral). Ali está oculta a fonte do pecado. É muito mais fácil afastar o desejo do que destruir o corpo (formado pela ação). Isso é muito difícil. Portanto, é aconselhável que se volte os olhos para longe dos maus desejos, para que a tintura (o princípio da vida) não penetre a essência e a mente não seja preenchida por eles, pois é através da mente que o desejo se torna substancial, o que exigirá uma ruptura (forçada). (Three Principles, XX 28).

Muito mais fácil é destruir o desejo do que destruir depois a substância com grandes dores. Se a vontade livre, já no começo (de um desejo) destrói o desejo, a fim de que ele não se torne substancial, então o médico (para a cura da doença) já nasceu, não haverá a necessidade de grande empenho, como é preciso para aquele que quer sair da companhia de monstros que ele mesmo criou, a fim de destruir o ser que ele trouxe à forma dentro de sua própria alma. (Mysterium, XXIV 25).

É uma grande tolice para o homem anelar o que não é seu (mas sim um mero atrativo para o ser com o qual está ligado durante sua carreira terrestre), e introduzir em seu desejo aquilo que o infecta de doenças, e que por último lhe conduz para longe de Deus, excluindo-o em corpo e alma de seu estado celestial. (Mysterium, XXIV 16).

O comer demais e a intoxicação causam o pecado, porque a vontade pura que emana do fogo-vida fica aprisionada e afogada no desejo, o que torna o homem impotente na batalha. (Six Theosophical Points, CXI 29).

Devemos morrer continuamente em Cristo e continuamente matar o homem do pecado dentro de nós, a fim de que o novo homem possa viver; mas não podemos destruir completamente o primeiro; podemos meramente mantê-lo aprisionado, derramando sobre sua essência ígnea água da humildade de Deus. (Stiefel, I 63).

A vontade, quando reta, é fé, e como tal pode dar ao corpo uma nova forma, de acordo com o espírito externo; pois o homem interior é o senhor do exterior; este tem que obedecer o primeiro, e o interior pode colocá-lo sob nova forma, mas não permanentemente. (Forty Questions, VI 10).

Se o homem penetra a regeneração ele pode ser bem sucedido na subjugação do homem externo, de modo que esse faça o que não deseja, porque o primeiro tira a força do segundo, e o penetra; mas como o ouro numa pedra bruta, e a aspereza da pedra não se torna ouro, o homem terrestre não se torna Deus. (Stiefel, I 59).

O homem interior mata continuamente o exterior através do amor e doçura de Deus, a fim de que o externo não possa introduzir na alma-fogo seu desejo terrestre venenoso, que está infectado pelo demônio; mas o homem exterior não pode ser inteiramente destruído, pois se isso ocorresse o reino deste mundo o deixaria inteiramente. (Stiefel, I 51).

Mesmo que o Cristo nasça em nós, não podemos dizer: ‘Eu sou o Cristo’, pois o homem externo não é o Cristo. Honestamente só podemos dizer: ‘Estou em Cristo, e Cristo tornou-Se humano em mim’. (Stiefel, I 54).

Algumas vezes, uma pessoa é tão mal constituída externamente, pelas influências das estrelas, que estão fadadas a passarem por muitos problemas. Parar e refletir faz com que o indivíduo penetre em si mesmo e se abstenha do pecado. No entanto, não se sabe como se livra do malicioso homem exterior. (Three Principles, XX 83).

Muitos santos dirigidos pelo Espírito de Deus saíram deste estado de submissão, de volta para o egoísmo; ou seja, para seu próprio raciocínio e vontade própria. (Calmness, I 34).

A vida do homem, durante a presente existência, é como uma roda viva; de repente ela vira para cima o que estava para baixo. A vida se inflama em cada substância e com isso se corrompe; mas, se purificada na água da humildade, onde se movimenta o coração de Deus e sai de onde está, sua vida-fogo pode envolver a substância celestial. (Six Mysterious Points, II 13).

Nossa vida deve ser um arrependimento constante, pois é também uma contínua corrente de pecado. Na verdade, o nobre ramo de lírios, recém nascido em Cristo, não peca; no entanto, o homem terrestre peca em corpo e alma, e busca destruir a nobre flor. (Stiefel, XI 537).

Um verdadeiro Cristão abomina a vontade da carne e a rejeita. Ele é, constantemente, seu próprio acusador, e considera-se indigno, e de todo coração desejará penetrar a misericórdia de Deus. Nunca irá dizer coisas do tipo, ‘Sou um Cristão’; lutará para penetrar a misericórdia de Deus e desejar Sua graça, a fim de se transformar num verdadeiro Cristão. Toda sua vida é um arrependimento contínuo, sempre desejando alcançar a graça divina, na medida em que essa graça o alcança. (Communion, IV 27).

Ninguém deve querer conhecer seu estado de santidade enquanto viver neste mundo, mas continuar extraindo a seiva de Cristo de sua própria árvore, permitindo que ela dê os ramos ou brotos que escolher. (Stiefel, CXI 345).

Um Cristão sincero, nada quer saber sobre sua própria santidade; ele só vê suas imperfeições, nas quais o demônio batalha contra ele. Suas imperfeições estão sempre diante de si, mas sua santidade ele não conhece enquanto viver nesta terra. Essa santidade encontra-se oculta pelo Cristo, aos pés de Sua Cruz, a fim de que o demônio não a perceba. (Threefold Life, XV).

Um Cristão real ama a verdade e a justiça e odeia a hipocrisia. (Communion, IV 228).

Para o piedoso, a luz surge das trevas e o dia da noite. Para eles a fortuna resulta do infortúnio, e da maldição e da malícia deste mundo cresce para eles o paraíso. São Paulo diz: ‘Para aqueles que amam à Deus, tudo acontece para o melhor’. (Mysterium , LXVI).

Sempre que Deus conduz seus filhos para a turbulência e a angústia, eles ali estão para produzirem um novo ramo na árvore da fé. Sempre que o Espírito de Deus aparece apresenta um novo crescimento, do qual a nobre imagem é extremamente satisfeita. (Menschwerdung, CXI 8).

O reino celeste nos santos é ativo e consciente em sua fé, por onde sua vontade se integra a Deus; mas a vida natural é cercada pela carne e pelo sangue e está relacionada, ao contrário, à cólera de Deus. Assim, a alma está sempre na angústia quando o inferno precipita-se sobre ela, desejando nela se manifestar; mas ela mergulha na esperança da graça divina, e permanece como uma bela rosa entre os espinhos, até que na morte do corpo o reino deste mundo dela se afasta. Só então, quando não há mais nada que a obstrua, ela será plenamente manifestada no reino de Deus. (Supersensual Life, XXXIX).

Não me alegro por viver em meu próprio senso do eu, mas porque no meu eu estou na morte de Cristo e estou morrendo perpetuamente, e desejo morrer inteiramente com relação ao meu egoísmo, e viver inteiramente em Deus, a fim de nada ser, senão um instrumento de Deus, e não querer saber mais nada sobre meu eu (separado). (Stiefel, XI 527).

Onde quer que o eu não habite, ali habita o amor. Na tranquilidade do fundo da alma, onde ela morre para si mesma, e onde ela nada deseja senão o que Deus deseja (nela), ali reside o amor. Na medida em que a vontade própria morre, a mesma medida é ocupada pelo amor. No lugar onde antes se encontrava a vontade própria, agora não há nada, e toda vez em que não houver nada, só ali estará ativo o amor de Deus. (Supernatural Life, XXVIII).

Um verdadeiro Cristão sabe ser um servo de Deus, cujo dever é atender às Suas obras, apropriadamente. Ele não é propriedade seu, e o corpo terrestre que habita, não é seu verdadeiro lar. Ele pode buscar, plantar, cultivar, lutar e agir como quiser, mas está sempre consciente de que faz aquilo para Deus, e que terá que prestar contas sobre isso. Ele deve lembrar-se sempre que entre essas obras é um estranho, uma visita, um servo. (Signature, XV 44).

Aquele que espera realizar algo bom e perfeito, onde possa regozijar-se eternamente e disso desfrutar, que saia de seu egoísmo e vontade-própria e penetre a submissão na vontade de Deus. Mesmo que o desejo terrestre pelo egoísmo o perseguir em sua carne e sangue, se sua vontade-alma não é infectada por aquele desejo do eu, tal eu não será capaz de produzir nada; pois a vontade interna da alma, repousando na submissão de Deus, destrói continuamente a essência da auto afirmação, e desta forma a cólera de Deus não pode alcançá-la. Se a cólera atingisse a essência, então a vontade submetida surgiria ali com seu poder, e permaneceria ali, firme, diante de Deus, como um produto da vitória que irá herdar a infância. (Calmness, XI I).

Cara alma, se desejas a luz de Deus, e também a luz deste mundo, se desejas alimentar seu corpo (e mente), e (ao mesmo tempo) busca os mistérios de Deus, faça aquilo que o próprio Deus faz. Um olho de sua alma olha a eternidade, o outro a natureza. Esse busca continuamente no desejo e cria um espelho atrás do outro. Que assim seja. Assim deve ser, pois Deus assim o quer. Mas o olho voltado para a eternidade não pode se voltar para o desejo (longe de Deus); é através dele que se busca virar o outro para si mesmo, e não deixá-lo se desviar de ti; ou seja, não deixe ele se afastar do olho que mira a liberdade. Coloque sua vontade naquilo que está fazendo, lembrando de que é um servo da vinha de Deus; quer dizer, do Eterno; mergulhe sua vontade a cada instante na humildade diante de Deus; então sua imagem irá caminhar na humildade com sua vontade na majestade de Deus, e será iluminada perpetuamente pela triunfante luz de Deus. (Forty Questions, XII 28).

No fim, todas as coisas devem ser uma e a mesma coisa para o homem. Ele deve ser um com a fortuna e com o infortúnio, com a pobreza e com a riqueza, com a alegria e com o pesar, com a luz e com as trevas, com a vida e com a morte. O homem passa então a ser um nada para si mesmo, pois está morto com relação a tudo em sua vontade. Deus está em tudo e através de tudo, e, no entanto, Ele é um nada, e nada pode compreendê-Lo. Tudo se torna manifestado através Dele, e Ele próprio é tudo. No entanto ele nada tem (objetivamente), porque aquilo que está diante Dele, nada é em sua compreensão, pois não O compreende. Este será o estado de uma pessoa segundo sua vontade submetida, caso ela se renda totalmente à Deus. Então sua vontade irá recuar para a vontade insondável de Deus, de onde surgiu no princípio, adquirindo a forma da vontade insondável, onde Deus reside e realiza Sua vontade. (Mysterium, LXVI).

A vontade, entregue a Deus diz: ‘Senhor, se é Vosso desejo que eu esteja na prisão ou na miséria, assim desejarei estar. Se me levas ao inferno, convosco irei, pois Vós estais no Céu. Se eu tiver unicamente a Vós, porque me preocuparia com o céu ou com o inferno? Mesmo que meu corpo e minha alma pereçam, em Vós devo permanecer e Vós em mim. Ao Vos possuir, tenho tudo o que quero. Usa-me segundo a Vossa vontade. (Mysterium, LXVI).

Se teu domínio sobre todas as criaturas é apenas exterior (através de meios externos), sua vontade encontra-se numa qualidade animal, e teu governo é do tipo exterior, lidando apenas com formas. Seu desejo será então levado para uma essência animal, que irá te infectar e capturar, e irás receber qualidades animais. Mas se deixares aquilo que está relacionado unicamente com a forma, serás superior a ela, e capaz de governar sobre todas as criaturas, no fundamento, onde foram criadas. (Supersensual Life, VIII).

Se não permitires que nada penetre teu desejo, serás livre de todas as coisas e terás poder sobre todas elas. Não terás nada em tua receptividade, e serás como um nada para todas as coisas, e todas as coisas serão como um nada para você, no mesmo sentido que Deus governa sobre todas as coisas e tudo vê; mas, não há nada que o compreenda. (Supersensual Life, IX).

Por teu próprio poder não há como manter a tranquilidade, que nenhuma criatura pode alcançar. Deves te entregar completamente à vida de nosso Senhor Jesus Cristo, oferecendo a Ele toda tua vontade própria e desejo, a fim de que não desejes nada fora Dele. Estarás então neste mundo e em suas qualidades, no que concerne ao teu corpo. Com tua vontade estarás nos pés da Cruz de Cristo, e com tua vontade irás caminhar no céu, no ponto de onde surgem todas as criaturas, e para onde todas retornarão. (Supersensual Life, IX).

A alma propriamente dita não é nada corporal; mas o corpo na tintura cresce tanto celestial como infernal. Não é um corpo tangível, num aspecto externo, mas um corpo de poder; o corpo de Deus; o corpo celeste de Cristo. (Forty Questions, VII 18).

Após esta vida não há regeneração, pois os quarto elementos com seus princípios já partiram. (Threefold Life, I 1).

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