Boehme Hartmann X

JACOB BOEHME — Citações de sua obra, organizadas por Franz Hartmann

Retiradas da tradução oferecida pela SCA

X – O CRISTO
O elemento interno que sustenta todo o corpo deste mundo tornou-se o eterno corpo de Cristo; pois, a Divindade em sua totalidade, na palavra e coração de Deus, penetrou ali na eternidade; e a mesma Divindade tornou-se um ser criado; mas tal criatura pode estar em todo lugar, como a própria Divindade. (Princ. XXIII 20).

Sem o especial auxílio divino, a humanidade teria caminhado para a perdição eterna, por conta do pecado. (Hamberger).

Adão teria se perdido eternamente se o coração de Deus com a palavra da promessa, não tivesse penetrado sua alma, despertando a esperança espiritual que o manteve. (Forty Questions, VIII 5).

Se o princípio divino do amor ainda não impregnasse toda a natureza neste mundo terrestre, e se nós pobres seres criados não tivéssemos conosco o guerreiro na batalha, com certeza pereceríamos no horror do inferno. (Aurora, XIV 104).

Deus deseja que toda a humanidade seja salva. Ele não deseja a morte do pecador, mas que ele se transforme, e volte-se novamente para Deus, encontrando Nele a vida. (Three Principles, Preface, I 6).

A razão (superficial) representa Deus como um ser sem misericórdia, ensinando que Ele lançou sua cólera sobre o homem, e o amaldiçoou com a morte, pois descobriu no homem a desobediência. Não se deve acreditar nisso. Deus é amor e bondade. Nele não há pensamento de raiva. O homem estaria bem se não tivesse punido a si mesmo. (Three Principles, X 24).

Quando a alma afastou-se da Luz de Deus e penetrou o espírito deste mundo, deu-se início ao tormento do primeiro princípio. Ela viu e sentiu que não estava mais no reino de Deus, até que o coração de Deus veio e se colocou entre ela e o reino divino, possibilitando-o penetrar ali e regenerar-se. (Three Principles, IX 6).

Não havia outra salvação para a imagem divina no homem a menos que a divindade se movimentasse de acordo com o segundo princípio, ou seja, de acordo com a luz da vida eterna, e pelo poder do amor reascendendo a substancialidade (da alma) que estava aprisionada na morte. (Menschwerdung, I II 22).

A alma separou sua vontade da vontade do Pai g penetrou na luxúria desta vida. Não haveria outra forma de redenção, exceto que a vontade pura do Pai penetrasse outra vez em sua substância trazendo-a novamente ao estado que ocupava primeiramente, de modo que sua vontade fosse novamente direcionada para o coração e luz de Deus. (Three Principles, XXII 67).

Para auxiliar a alma, o coração de Deus com sua luz, e não o Pai propriamente dito, tinha que penetrá-la, pois no Pai ela já estava de qualquer modo; mas encontrava-se afastada da entrada para a geração do coração (o início da auto consciência divina) de Deus, e seus desejos estavam direcionados para o mundo externo. (Three Principles, XXII 68).

O nome de Jesus incorporou-se na tintura da alma no Paraíso, quando Adão caiu, e mesmo antes de Adão ser criado; como Pedro menciona em sua primeira carta (I.20), dizendo que nós havíamos sido beneficiados em Cristo, mesmo antes da fundação do mundo (Menschwerdung. I 8 I).

O nome Jesus foi incorporado na imagem da eternidade como um futuro Cristo, a fim de que pudesse se tornar um redentor dos homens, e da morte da cólera pudesse regenera-los em puros seres do poder paradisíaco e divino. (Stiefel, II 74).

A palavra que Deus pronunciou com relação ao poder que esmagaria a cabeça da serpente, era uma centelha de luz do divino coração de Deus, e ali o Pai, desde a eternidade, viu e elegeu a humanidade. Nesta centelha de luzamor divino todo o mundo deveria viver, e Adão já se encontrava ali quando ocorreu sua criação, como foi expresso por Paulo (Ep. I 13), dizendo que o homem foi eleito no Cristo antes que a fundação deste mundo fosse estabelecida. (Three Principles, XVI 107).

Desde toda eternidade estava o nome de Jesus em amor imóvel no homem como a imagem de Deus. Mas quando a alma perdeu a luz, então o Verbo pronunciou o nome de Jesus naquilo que era móvel; nas enfraquecidas insígnias da substância do mundo celeste. (Grace, VII 34).

Antes da queda, Adão recebeu a luz divina de Iahweh , ou seja, do Deus único, onde se encontrava oculto o nome de Jesus. Mas durante o tempo do sofrimento, quando a alma caiu, Deus manifestou o tesouro de Sua glória e santidade, e por meio da viva voz do Verbo, Ele incorporou-Se com o fogo divino na imagem eterna, representando o estandarte da alma, o qual ela seguiria como a um guia. Mas se ela não fosse capaz de penetrar ali, sendo como morta com relação a Deus, o sopro divino a penetraria, advertindo-a a interromper sua atividade maligna, a fim de que sua voz voltasse a ser ativa na alma. (Grace, VII 32).

Assim que Adão manifestou em si o centro da cólera, Deus instituiu oposição ao demônio, e manifestou nele o poder que esmaga a cabeça da serpente, o qual, anteriormente, quando o pecado ainda não havia aparecido, encontrava-se oculto (latente) no poder de Deus, e em Jesus como o amor de Deus, na unidade divina. (Stiefel, II 161).

A expressão interior do demônio, a que lhe deu origem, ocorreu em Adão enquanto ele ainda era homem e mulher, sem ser nem um nem outro, mas uma imagem de Deus. De Adão penetrou em Eva, que começou a pecar. Ocorreu então a expressão interior de Deus, primeiro em Eva, como mãe da humanidade, e através dela se opôs à consciência do pecado que havia começado a se manifestar em Adão. (Grace, VII 47).

Não é na tintura do homem, que representa a essência ígnea, que a palavra da promessa desejou incorporar-se, mas na tintura da luz, no centro virginal, quem Adão, geraria magicamente, na substância celeste da santa geratriz porque na tintura da luz a alma-essência ígnea era mais fraca do que na natureza ígnea do homem. (Mysterirum, XXIII 43).

Não foi através da tintura-fogo de Adão que esse evento ocorreu, mas em e através da tintura-luz de Adão, onde o amor estava queimando, que se separou dele para constituir a mulher, a mãe de toda a humanidade. Foi nela que a voz de Deus prometeu introduzir novamente a viva e santa substância do céu, e gerar de forma nova e no poder divino a enfraquecida imagem de Deus que estava contida ali. (Grace, VII 18).

Quando Deus disse: ‘Eu colocarei inimizade, e a semente da mulher esmagará a cabeça da serpente’, então a santa voz partiu de Iahweh para a enfraquecida substância celestial da mulher com o propósito de introduzir ali um novo estado celestial e vivo, e conquistar a inflamada cólera de Deus através do mais exaltado amor divino, fazendo com que a monstruosidade e seu desejo fosse inteiramente morto e exterminado. (Mysterium, XXIII 29, 37).

A voz de Deus, falando a Eva, penetrou a semente da mulher; mas a verdadeira mulher era a virgem eterna, e essa virgem tornou-se revelada pelo poder da voz falando a ela em nome de Jesus, nome que se desenvolveu de Iahweh, e prometeu que quando o tempo se completasse, a santa e celeste essência-amor, seria novamente introduzida na imagem enfraquecida. (Grace, VII 33).

Deus falou na imagem de Adão, enfraquecida com relação à sua vida divina, Sua palavra santa, ‘A semente da mulher esmagará a cabeça da serpente’. Pela ação desta voz a alma destituída recuperou a vida divina, e essa mesma voz (consciência interna) foi perpetuada de homem a homem como o pacto da misericórdia. (Grace, VII 16).

O Cristo foi perpetuado em todos os homens como uma centelha brilhante da luz divina, de acordo com a qualidade da imagem verdadeira e como uma potencialidade (ou semente do ser imortal), mas, é claro que não na carne externa do mundo terrestre, mas dentro do segundo princípio. (Stiefel, II 318).

A palavra que tinha sido incorporada na semente de Eva perpetuou-se de homem a homem em sua parte celestial como um som (consciência) ou centelha da divina e santa luz ígnea, até o tempo em que Maria foi despertada, quando o tempo do cumprimento do pacto havia chegado e as portas da câmara fechada foram abertas. (Mysterium, XXIII 31).

Cristo permaneceu em Adão e Eva como um mistério divino, e não tomou substância divina em neles. Ele permaneceu sem movimento até chegar o tempo (de Sua manifestação); só então Ele movimentou-se na semente da mulher. (Stiefel, 448).

A alma (astral) de Adão e Eva e de todos os seres humanos encontrava-se ainda muito bruta, não maleável e impregnada pelo primeiro princípio. Portanto o Verbo e a esmagadora da cabeça da serpente não tomaram forma dentro de suas almas; mas ficou na mente daqueles dispostos a se renderem a tal trabalho, opor-se aos demônios e ao reino do inferno. (Three Principles, XVIII 26).

Ouça e veja qual era o desejo de Adão e Eva antes e depois da queda. Eles desejaram o reino terrestre e a mente de Eva estava direcionada para as coisas terrestres. Quando ela deu à luz a Caim, disse: ‘Eu tenho o Homem, o Senhor’. Ela pensou que ele era aquele cujo calcanhar esmagaria a cabeça da serpente, afastaria o demônio. Ela não pensou que deveria morrer quanto a sua vontade carnal, terrestre e falsa e renascer na vontade divina. Tal vontade (egoísta) ela carregaria com sua semente, e Adão, da mesma forma, resultando a vontade na essência-alma. A árvore produziu um galho de sua própria natureza, pois os pensamentos de Caim tiveram a mesma propensão, tornando-se senhor desta terra. Quando Caim viu que Abel era maior do que ele no amor de Deus, sua vontade animal livre surge com o propósito de matar Abel, pois ele preocupava-se apenas com a possessão do mundo externo, e de ser seu senhor, enquanto Abel procurava apenas o amor de Deus. (Mysterium, XXVI 23).

Depois da queda, Iahweh pronunciou o nome de Jesus em Adão numa vida real; ele o manifestou no ser celeste, enfraquecido por conta do pecado. Em consequência desse pronunciamento, houve um despertar da morte espiritual ou do estado de morte, onde Adão havia mergulhado; um desejo divino foi novamente despertado, era o princípio da fé. Esse mesmo desejo separou-se da qualidade do falso desejo, formou uma imagem e Abel veio à existência; mas Caim era o produto da qualidade da alma de Adão, de acordo com sua luxúria terrestre. (Grace, IX 101).

Com relação ao seu estado humano externo, Abel também foi pecador; mas em seu interior o mundo angélico e a imagem do Paraíso, floresciam. Então o homem interior colocou seu calcanhar sobre o monstro-serpente do falso desejo, e por outro lado, o monstro-serpente mordeu o calcanhar de sua vontade Angélica (Mysterium, XXVIII 2).

O assassinato do corpo externo de Abel, por Caim, simboliza que o homem externo tem que ser mortificado na cólera de Deus. A cólera tem que matar e consumir a imagem externa que cresceu na cólera, mas de sua morte surgiu a vida eterna. (Mysterium, XXVIII 14).

Adão, através de sua Eva, produziria ainda um novo ramo da árvore da vida, um filho, cuja imagem poderia ser similar e semelhante à Adão, chamado Set (uma raça); nele um raio da vontade-amor está preservado dentro da vontade ígnea; tal raio ainda se encontrava aprisionado pela essência do mundo externo, a casa corrupta (matéria que mais tarde se tornaria) carne. (Mysterium, XXIX 24).

Com Sete, a linha do pacto foi perpetuada; nela o Cristo viria a se manifestar com relação a árvore da humanidade. (Mysterium, XXIX 26).

Pelo mandamento: ‘Sobre aquele que matar Caim a vingança será setenária’, o terrível vingador, o abismo do inferno, foi afastado de Caim, a fim de que ele não fosse vítima do desespero. Caim afastou-se de Deus, mas, no entanto, o reino dos céus estava diante dele para permitir que voltasse e penetrasse o arrependimento. Deus não quis rejeitar Caim, apenas seu assassinato fraco e sua falsa crença. (Three Principles, XX I).

Dos descendentes de Caim resultaram as artes como uma maravilha da sabedoria divina atuando na natureza e através da natureza, mas em Sete o Verbo entrou em contemplação espiritual. (Mysterium, XXX 2).

Depois que o primeiro mundo terrestre da qualidade humana se afundou no dilúvio, sua forma tornou-se reconstituída em Noé e em seus três filhos. (Mysterium, XXIV 30).

Sem representa o mundo da luz; Jafé, o mundo do fogo, onde a luz é visível. Jafé representa também uma imagem do Pai, Sem a do Filho; mas Ham é uma imagem do mundo externo. (Mysterium, XXXI 10).

A configuração de Sem desceu sobre Abraão e Isaac, pois o Verbo do pacto foi manifestado e continha em si o som; mas a configuração de Jafé passou pela sabedoria da natureza no reino da natureza, e daí originou-se os gentis (povo intelectual, mas não espiritual) que deram atenção (proeminentemente) à luz da natureza (coisas naturais). Assim, Jafé, ou seja, a alma destrutiva, aprisionada, pertencente à natureza eterna, vivia entre as cabanas de Sem, quer dizer, dentro do pacto, pois a luz da natureza vive na luz da graça, constituindo uma forma ou um estado concebido da luz informada de Deus. A linha descendente de Ram encobriu o homem animal, formado do Limus da terra, onde está a maldição, de onde surgiu a raça sodomita semi-animal, que não presta atenção nem na luz da natureza nem na luz da graça, no pacto. (Mysterium, XXXIV 14).

Noé disse: ‘Louvado seja o Deus de Sem, e Jafé deve viver nas cabanas de Sem’. Pela expressão ‘Deus de Sem’, compreende-se o Verbo santo no pacto, e como se manifestaria, de modo que os Jafitas ou gentis, aqueles que viviam apenas pela luz da natureza, chegariam à luz da graça, manifestada em Sem, penetrando assim a ‘morada de Sem’ e passariam a viver ali. Mas Ham, o espírito da luxúria carnal, deveria tornar-se um servo dos filhos da luz, segundo sua qualidade, porque os filhos de Deus o forçariam a se tornar submisso à Ele, afastando sua desprezível vontade própria151 (Mysterium, XXXIV. 31).

Isaac não foi feito inteiramente de essência celeste, mas de ambas, ou seja, da essência Adâmica de Abraão e da palavra concebida da fé, ou a substância do Cristo; mas Ismael tinha apenas a natureza própria de Adão, de acordo com a qualidade corrupta, e não da palavra concebida da fé, que estava atuando com força superior sobre Isaac. (Mysterium, XL 13).

Tanto Esaú como Jacó, além das suas raças descendentes, originaram-se de uma semente. O primeiro, procedendo unicamente da natureza Adâmica, era o maior, comparável ao primeiro homem que Deus criou em sua própria imagem; imagem que se tornou corrupta e morta com relação a Deus. O outro (Jacó) também procedeu da mesma natureza Adâmica; mas nesta natureza encontrava-se o reino da graça na essência da fé, constituindo um conquistador. Mesmo que o último fosse inferior, segundo a natureza Adâmica, no entanto, Deus estava (mais) revelado em Jacó, de modo que o maior deveria servir e se subjugar ao menor. Não é mostrado que Esaú tenha se subjugado a Jacó, mas a história representa-nos um símbolo espiritual, mostrando como o reino da natureza no homem deveria subjugar-se e submeter-se em humildade ao reino da graça; mostra como se tornaria inteiramente submerso na humildade divina, e como desta humildade se tornaria regenerado. (Mysterium, LII 29).

De Esaú segue-se Jacó como a imagem do Cristo, concebido na essência da fé e assegurando-se no calcanhar de Esaú. A imagem Adâmica criada por Deus havia primeiro que nascer e viver eternamente, mas não em seu estado animal e grosseiro de existência. Com a expressão ‘Jacó apegando-se ao calcanhar de Esaú’, está simbolizado que o outro Adão, ou seja, o Cristo, deveria nascer depois do primeiro Adão, e alcança-lo por trás, atraindo-o de volta da direção de sua vontade própria para a primeira matriz, onde a natureza originou-se, a fim de que renascesse. (Mysterium, LII 37).

A idolatria dos gentis consistia no abandono do Deus único e no voltar-se para a geração mágica da natureza, selecionando falsos deuses dos poderes da natureza. (Mysterium, XI 6).

Os gentis adoravam o sistema planetário e os quatro elementos; eles tinham o conhecimento de que esses regiam a vida externa de todas as coisas. Assim, através da palavra concebida intelectualmente penetravam a igualmente a palavra concebida e formada (manifestada). Por outro lado, o espírito da palavra formada da natureza tornou-se parte deles, sendo que um intelecto passava para o outro. O intelecto humano movimentou a inteligência com a alma do mundo externo tão longe o desejo deste permitiu, e através desta inteligência (que reside na luz astral ou mente do mundo externo) o espírito profético para fora do Espírito de Deus indicando a eles, como que nos tempos futuros a palavra formada da naturezxa externa se manifestaria na construção e na destruição dos reinos, etc. Fora desta alma do mundo, os gentis recebiam respostas através de suas imagens e ídolos, porque a fé que introduziram neles tão fortemente, os movimentavam; esta não foi, portanto, uma total obra do demônio, como. supunham aqueles que, nada sabendo sobre os mistérios, tornam o demônio responsável por tudo, enquanto ignoram até mesmo o que Deus e o diabo são. (Mysterium, XXXVII 10-13).

Os gentis ficaram com sua magia própria. Aqueles que deixaram o desejo da corrupção e penetraram a luz da natureza, porque não conheciam à Deus, mas que, no entanto, viviam na pureza, eram filhos da vontade livre, e neles o espírito da liberdade desenvolveu grandes maravilhas, como pode ser visto nas obras da sabedoria que deixaram. (Terrestrial and Celestial Mysterium, VIII.9).

Nos gentis altamente intelectualizados na luz da natureza o santo reino interior estava espelhado; a verdadeira inteligência divina estava fechada e eles captassem apenas um reflexo exterior; no entanto, na restauração de todas as coisas, quando o véu será removido, viverão na cabana de Sem. (Mysterium, XXV 24).

Os gentis não eram daquela semente de Abraão com a qual Deus fez um pacto; mas o primeiro pacto, a palavra pronunciada na misericórdia, era como uma fundação neles. Portanto, diz Paulo (Rom. IX 24), que Deus não havia chamado e eleito meramente os Judeus em seu pacto, mas também os gentis no pacto de Cristo, e que Ele chamou de Meu Povo e Meus Bem-amados aqueles que não O conheciam, e que, não O conhecendo, não eram seu povo num sentido externo. A proposição da graça, que havia se incorporado através do pronunciamento no Paraíso, após a queda, estava contida neles, e por causa disso Deus os chamou de bem amados. Somente os filhos da cólera podem ser exceção, porque neles a incorporação do nome de Jesus não ocorre, somente a incorporação da cólera. Essa, no entanto, nunca estende-se sobre a totalidade das raças, mas meramente sobre aqueles indivíduos entre elas que são como a praga entre o milho. (Grace, X 24).

Antes da encarnação de Cristo a humanidade redimia-se através da palavra incorporada em nome de Jesus. Aqueles que direcionavam sua vontade em Deus e para Deus receberam a palavra da promessa, porque a alma foi aceita. Assim, toda a lei relacionada ao sacrifício nada mais é do que um antítipo da humanidade de Cristo. Aquilo que o Cristo fez como homem, quando através de seu amor reconciliou a cólera divina, foi feito (simbolicamente) através do sangue dos animais. A palavra da promessa estava no pacto, e no meio tempo Deus concebeu uma figura (símbolo), e pelo poder do pacto fez com que fosse reconciliado simbolicamente, pois o nome de Jesus estava no pacto, e através da imaginação reconciliou a fúria e a cólera da natureza do Pai. (Menschwerdung, I 7 12).

Todo sacrifício sem fé e desejo divino é uma abominação diante de Deus, e não alcança o portão da glória divina; mas se o homem penetrar ali com o poder da fé, renderá ao ato sua vontade livre e seu desejo, e através desta instrumentalidade, penetrará a vontade livre e eterna de Deus. (Mysterium, XXVII 13).

Por que os irmãos (Caim e Abel) desejaram fazer sacrifício a Deus, sendo que o pacto só é encontrado no sincero desejo pela misericórdia de Deus, na oração e no convencimento do próprio homem da necessidade de abandonar sua vontade própria e demoníaca, da necessidade de transformar e arrepender-se e de trazer sua fé e esperança para a misericórdia de Deus? A vontade livre da alma é tênue como um nada; ainda que seu corpo (material) esteja envolvido por algo (substancial), sua essência concebida e própria encontra-se num estado de falso desejo, devido ao pecado. Se, então, essa vontade livre, com seu desejo (acompanhada pelo) deve atuar em direção a Deus, terá, em primeiro lugar, que se projetar de seu próprio algo ilusório, e toda vez que de lá se projetar, estará nua e impotente, e novamente dentro do nada original. Se a vontade deseja penetrar em Deus, deve morrer para seu próprio egoísmo e deixar o (eu) ilusório; toda vez que a vontade abandona o eu, fica como que nada e não pode agir, lutar ou realizar nada. Se a vontade deseja mostrar seu poder, deve estar dentro de algo onde possa conceber e formar a si mesma, como é o caso da fé; pois, se há uma fé ativa, então essa fé deve conceber algo (ter algum objeto) onde possa agir. Até mesmo a vontade livre de Deus concebeu a si mesma (tem como objeto) o mundo espiritual interno, através do qual atua. Assim, a vontade livre da alma do homem, tendo sua origem no abismo (a vontade incognoscível e primordial), deve conceber a si mesma em algo, a fim de manifestar-se e movimentar-se diante de Deus. (Mysterium, XXVII. I 4-6).

O espírito do homem foi emanado de Deus, e partiu de Deus (o Eterno) através dos tempos; no temporal, tornou-se impuro. Agora, é preciso deixar essa impureza, e através do sacrifício penetrar novamente em Deus. (Mysterium, XXVII 34).

O corpo de Adão foi criado do Limus da terra, e também do Limus do céu da santidade; mas o Limus do céu, onde a vontade livre poderia conceber-se numa forma celeste e assim mover-se, agir, pensar e orar diante de Deus estava enfraquecido em Adão, e, portanto, os dois irmãos inflamaram (sacrificaram) os frutos da terra. Caim trouxe dos frutos da terra (matéria), mas Abel trouxe do primogênito seus rebanhos (do espírito), e isso foi inflamado através do fogo. (Mysterium, XXVII 7).

Embora madeira e animais haviam sido usados nos sacrifícios, o fogo usado ali não fora produzido por meios externos, mas originado da mais elevada tintura da fundação paradisíaca. Esse fogo santo consumiu as vítimas através da imaginação e inflamação de Deus, e assim, a vontade humana, introduzida ali e que ainda estava inclinada à condição terrestre, foi (e ainda é) purificada no fogo e redimida do pecado. A grosseria dos elementos havia de ser consumida, e desta consumação pelo fogo deveria emanar a imagem espiritual, bela, pura e verdadeira, criada em Adão; a qual, enquanto contida no fogo da cólera divina, não podia aparecer em sua clareza através desse fogo santo. (Batismo, II 2 16).

Nos tempos do Antigo Testamento o acordo pelo sacrifício aconteceu através do fogo santo, que era um símbolo da cólera de Deus. que haveria de consumir o pecado junto com a alma. A qualidade do Pai na cólera estava manifesta nesse fogo, e a qualidade do Filho, no amor e na humildade introduziu-se na cólera. Eles sacrificaram a carne dos animais, mas introduziram a imaginação e oração na graça de Deus. (Baptism, I 2, 23).

Havia uma qualidade animal, a alma animal, originária dos planetas, anexada à mente do homem, em consequência da qual sua vontade e oração não eram puras diante de Deus, portanto o fogo-cólera de Deus consumiu esta vaidade animal dos homens através do sacrifício; mas a concebida imagem da graça seguiu com a oração para o fogo santo. Assim, os filhos de Israel foram reconciliados com Deus e libertados de seus pecados de forma espiritual, e com relação a futuros, porque o Cristo estava por vir, tomar o estado humano e penetrar em Deus como um sacrifício para o Seu fogo-cólera, transformando a cólera em amor. (Baptism, II 25).

A vítima, a madeira, a fumaça, tudo era terrestre, assim como o homem era terrestre, no que se refere ao seu corpo externo; mas depois que o objeto sacrificial fora inflamado (pelo fogo mágico) tornou-se de natureza espiritual, pois da madeira surgiu o fogo, que recebeu e consumiu o objeto. Desta consumação resultou a fumaça do fogo, seguida pela luz, e essa luz foi o símbolo em que a imaginação do homem e a de Deus, produziram uma conjunção.(Mysterium, XXVII 29 — 30).

Deus desejou cheirar (durante o sacrifício) nada além do que a vontade do homem, ou seja, a vida humana, a qual, antes do tempo deste mundo encontrava-se dentro da palavra de Deus — não ainda como um ser criado, mas como um poder, soprado na imagem criada. Isso é o que foi cheirado por Deus através do sacrifício e na essência de Cristo ou a graça, comunicada ao homem e foi o que reajustou a vontade por meio da graça no fogo resultante da combinação do fogo-vida humano e do fogo-amor divino, constituindo assim um verdadeiro sacrifício do pecado e da restituição, porque o pecado foi sacrificado ao fogo da cólera divina, para que ali fosse consumido. (Communion, I 32).

A alma, ou seja, a boca da fé dentro da alma, provou a doce e divina graça na hora do sacrifício, não como uma substância, mas no poder (espiritualidade) e no conhecimento antecipado de realizações futuras, quando aqueles poderes se tornariam manifestos na carne. Assim, o corpo comeu do pão e da carne abençoados, onde encontrava-se o poder da graça, ou seja, a imaginação do pacto. Desta forma, os Judeus comeram da carne de Cristo e beberam Seu sangue, simbolicamente, pois o poder ainda não havia se tornado carne e sangue; mas eles desfrutaram da palavra da graça que mais tarde tornou-se humano. (Communion, I 34).

A carne animal sacrificada ao Senhor e mais tarde comida, fora santificada pelo homem, porque a imaginação de Deus penetrou ali, e, portanto Moisés a chamou de carne santa, e havia também um pão santo. (Communion, I 33).

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