Boehme Hartmann VIII

JACOB BOEHME — Citações de sua obra, organizadas por Franz Hartmann

Retiradas da tradução oferecida pela SCA

VIII – NATUREZA

O ímpio busca Deus fora de seu próprio ser; os sectários buscam um Cristo pessoal na história; o homem de Deus e o verdadeiro Cristão conhecem Deus e o Cristo dentro de sua própria alma.

Certamente acreditamos num Cristo pessoal e histórico; mas somente depois que Cristo se tornar pessoal dentro do homem é que ele irá perceber a verdadeira natureza e vocação de Jesus, o filho de Iahweh . Johannes.

O terceiro princípio, espírito e tormento deste mundo, estava oculto desde a eternidade na natureza eterna; ele foi revelado pelo espírito de luz-flamejante na sabedoria de Deus e na tintura divina. Então a divindade movimentou-se de acordo com a natureza da mãe produtiva, surgiu então, o grande Mysterium, contendo tudo que está no poder da natureza eterna. Isso, contudo, era apenas um Mysterium e não tinha semelhança a nenhum ser criado. Ali tudo estava junto (misturado), como uma nuvem de poeira. (Menschwerdung I I 10).

Se considerarmos corretamente a criação deste mundo e o espírito do terceiro princípio, ou o espírito do grande mundo com suas estrelas e elementos, encontramos ali as qualidades do mundo eterno como que num estado de mistura; onde Deus quis manifestar as maravilhas eternas até então ocultas, trazendo-as para uma existência objetiva. (Six Theosophical Points II 6).

Tendo nascido (vindo à objetividade), o mundo externo faz para si um novo principium ou começo. A geratriz temporal é uma reprodução da geratriz eterna; o tempo origina-se na eternidade e mesmo aqui a eternidade, com suas produções maravilhosas, aparece em seus poderes e capacidades, numa espécie de forma e molde temporal. (Mysterium VI 10).

O terceiro princípio, ou o mundo elemental visível é uma espécie de produto do primeiro e segundo princípios, produzidos pelo movimento e respiração do poder divino e da vontade divina. Nisso está figurado o mundo espiritual segundo a luz e as trevas, e trazido a uma condição criada (objetiva).(Tabuloe Principoe, 5).

O mundo externo foi soprado do mundo santo e do mundo de trevas. Ele é, portanto, bom e mal, amor e cólera; mas, comparado com o mundo espiritual, não passa de uma fumaça ou neblina. (Mysterium III 10).

A palavra movimentou o Fiat em todas as formas da natureza eterna, na harmonia com o mundo de luz e o mundo das trevas; assim, o desejo da qualidade dos dois mundos passaram a existir. Isso fez com que o bem e o mal tivessem sua origem na essencialidade, e através disso foi criado o mundo visível externo, com as estrelas e elementos como uma vida particular. (Stiefel, I 31). Esse mundo terrestre está baseado no mundo das trevas, e se o bem não estivesse também corporificado ali, não haveria outro feito senão o do mundo das trevas; mas isso é evitado pelo poder divino e pela luz do sol. (Six Theosophical Points, IX 17).

Dentro de toda natureza há uma contínua luta, batalha e consumação, de modo que este mundo pode ser verdadeiramente chamado de ‘vale de dor’, cheio de problemas, perseguições, sofrimentos e trabalho; pois, quando o espírito da criação foi para o meio, teve que formar o mundo do meio do reino do inferno (Aurora, XVIII 112).

A natureza, até o dia do julgamento, tem duas qualidades inerentes; uma é amorosa, celestial e santa; a outra, colérica e demoníaca. A qualidade boa trabalha com grande diligência a fim de produzir bons frutos sob a influência do Espírito Santo; do mesmo modo, a qualidade demoníaca trabalha com o propósito de produzir frutos demoníacos, recebendo poder e incitamento do demônio. (Aurora, Preface X 10).

O demônio reside neste mundo, infectando continuamente a natureza externa; mas ele tem seu poder somente na cólera, no desejo amargo. (Menschwerdung, I 2, 4).

O mundo interno, o mundo de luz, habita no mundo externo, o qual recebe poder do primeiro. A luz floresce no poder externo, mas esse poder nada sabe sobre ele. (Six Theosophical Points VI 2).

Os poderes da eternidade trabalham através dos poderes do tempo, como o sol que brilha através da água, enquanto que a água não apreende o sol, mas somente recebe o calor; ou, como o fogo, que brilha no ferro, mas o ferro continua sendo ferro. (Mysterium XII 20).

O mundo espiritual está oculto no mundo elementar visível, e atua através dele; através do separador, ou da alma do mundo exterior, ele se amolda em todas as coisas, de acordo com o caráter e qualidade de cada coisa; mas o ser visível recebe o invisível não em seu próprio poder, nem o que é externo se transforma em algo interno; o poder interno simplesmente toma forma ali, como podemos observar no crescimento das plantas, árvores e nos metais. (Contemplations III 19).

A Divindade, a luz divina, é o centro de toda vida, e como na manifestação de Deus o sol é o centro da vida. (Signature, IV 17).

Deus o Pai gera amor através de Seu coração, e o sol simboliza o coração eterno de Deus, que dá toda sua força a todos os seres e existência. (Signature, IV 39).

Deus deu ao mundo externo a luz, soprando Seu poder através dos raios de Sua luz, e com o sol e a lua governa com as coisas deste mundo. As estrelas tomam a luz do sol e da lua, da radiação se derrama de Sua luz, e por meio dessa mesma luz Deus ornamenta a terra com belas plantas e flores e torna belo tudo que vive e cresce. (Prayer, XLVII).

Este mundo possui um Deus natural que lhe é próprio, o sol; mas ele toma sua existência do fogo de Deus, e este da luz de Deus. Assim, o sol oferece seu poder aos elementos, e os elementos dão sua força as criaturas e eras da terra. (Six Theosophical Points, V. 13).

O abismo do inferno está neste mundo, e o sol é a causa única da existência da água, e do fato da profundeza acima da terra ser amorosa, prazerosa, branda e deleitosa. (Threefold Life VI 36).

Tudo o que é poderoso na essência do mundo santo está oculto na cólera e na maldição de Deus na qualidade do mundo de trevas; mas floresce através do poder do sol e da luz da natureza externa através da maldição e da cólera. (Mysterium, XXI 8).

O sol não é tão diferente da água; a água possuía a qualidade e a essência do sol. Sem isso a água não receberia sua luz. Embora o sol seja um corpo que possui uma forma, sua essência também está na água, mas não manifestada. De fato, reconhecemos que o mundo como um todo é um sol, e que seu lugar seria em todos os lugares se Deus quisesse inflamá-lo e torná-lo manifesto, pois toda existência começa na luz do sol84 (Seis Pontos Teosóficos), VI 10).

O sol é o centro da constelação (sistema solar) e a terra é o centro dos elementos. Ambos, se comparados, são como espírito e corpo, homem e mulher. Mas a constelação possui uma outra mulher, onde lança sua substância, ou seja, a lua, esposa de todos os planetas, mas especialmente do sol. (Mysterium XI 31).

Como as estrelas, cheias de desejo, atraem para si o poder do sol, do mesmo modo o sol também penetra poderosamente as estrelas, de modo que recebem sua luz do poder do sol. As estrelas enviam novamente seu poder inflamado, como produto próprio, aos elementos. (Grace, II 26).

Com a criação da constelação o bem e o mal se manifestaram, pois neles está manifestado o poder ígneo e colérico da natureza eterna, assim como o poder do santo mundo espiritual, como uma essência soprada. Assim, há muitas estrelas escuras que não podemos ver, e há muitas estrelas brilhantes que podemos ver87 (Mysterium, X 36).

O bem e o mal em todas as coisas vem das estrelas; e como as criaturas sobre a terra estão mergulhadas em suas qualidades, o mesmo ocorre com as estrelas. (Aurora II 2).

Tudo o que vive e existe é despertado e trazido à vida pelas estrelas, pois elas não são apenas fogo e água, mas também possuem dureza e maciez, amargura e doçura, todos os poderes da natureza e tudo o que está contido na terra. (Threefold Life VII 46).

A constelação é a causa das artes e da ciência, assim como de toda ordem e harmonia neste mundo, pois desperta as árvores e metais, permitindo que cresçam. Na terra estão todas as coisas contidas nas estrelas; a constelação inflama a terra, e tudo isso junto é senão um espírito88 (Threefold Life, VII 48).

As estrelas são a quinta-essência, na quinta forma dos elementos, e por assim dizer, a vida dos quatro. (Threefold Life, VII 45).

O céu estrelado governa em todas as criaturas como se estivesse em sua própria propriedade. Esse céu é o homem, e a ‘matéria’ ou a forma aquosa, é sua mulher, que dá á luz ao que o céu cria. (Three Principles VII 33).

O superior deseja o inferior e vice-versa. A fome daquilo que está acima é direcionado poderosamente para a terra, e a fome da terra busca aquilo que está acima. Assim, se compararmos um ao outro, são como corpo e alma, ou como homem e mulher, gerando filhos. (Grace V 19).

Se você observar a terra e as pedras irá reconhecer que há uma vida ali; pois, se assim não fosse, não haveria nem ouro, nem prata, nem ervas, nem grama. (Aurora, XIX 57).

Cada existência deseja a outra. A que está acima, deseja a que está abaixo; a que está abaixo deseja a que está no alto. Desta forma, a terra anseia as estrelas e o espiritus mundi, de modo que não tem paz. (Clavis, 110).

A terra está girando porque possui dois fogos, o fogo frio e o quente, e aquilo que está embaixo sempre deseja elevar-se em direção ao sol, porque a terra recebe espírito e poder unicamente do sol. Portanto, ela está girando. O fogo, seu desejo de luz, a faz girar, pois ela deseja ser inflamada e ter vida própria. Tendo, contudo que permanecer na morte, até que deseje e atraia a vida que está acima, abrindo seu centro para sempre receber a tintura e fogo do sol. (Threefold Life XI 5).

Aquilo que chamamos de quatro elementos, de fato não são elementos, mas meras qualidades do elemento único e verdadeiro. (Three Principles, XIV 54).

A quinta-essência é uma substância paradisíaca no mundo celestial, mas encerrada no mundo externo; ou seja, não aprisionada ali, mas apenas invisível. (Clavis Specialis).

Do fogo origina-se o ar e do ar a água e da água a terra; ou seja, uma substância que é de natureza terrestre; os elementos são meramente uma manifestação externa do elemento eterno interior e um fumaça inflamada do último. (Mysterium, VII 19).

Os quatro elementos são apenas qualidades de um elemento indiferenciado. Portanto há uma grande ansiedade e desejo entre eles. Eles constituem interiormente um só princípio, e, portanto desejam instintivamente uns aos outros, sendo que cada um busca o princípio interior no outro. (Clavis 106).

Os quatro elementos surgiram do elemento único, que possui uma única vontade; eles existem agora num único corpo, havendo entre eles muita luta e disputa. O calor está contra o frio, o fogo contra a água; o ar está contra a terra e cada um causa a morte e o rompimento do outro. (Signature XV 4).

Pode parecer estranho para a mente racional, se observarmos a terra com suas pedras sólidas e sua aparência áspera e dura, que grandes pedras tenham sido criadas, sendo em parte inúteis e muitas vezes um obstáculo para as criaturas deste mundo. (Mysterium X I).

A consciência terrestre corrompeu a celeste, e a primeira tornou-se a Turba da última. Da mesma forma, o Fiat fez a terra e as pedras a partir da essencialidade eterna. (Menschwerdung I 9).

Mas na terra encontramos ainda uma outra tintura oculta que é como a celeste, especialmente nos metais preciosos. (Six Theosophical Points, VI 2).

O ouro está intimamente ligado á substancialidade divina ou corporeidade celestial. Isso seria visto se pudéssemos dissolver o corpo morto do ouro e o tornássemos volátil, espírito ativo, mas isso só é possível através do poder de Deus. (Signature III 39).

Antes da queda, o paraíso florescia por todas as árvores e frutos que Deus criou para o homem. Mas quando a terra foi amaldiçoada, essa maldição penetrou todos os frutos, tornando todas as coisas boas e más. Houve morte e podridão em tudo o que anteriormente encontrava-se na única árvore, chamada de árvore do conhecimento do bem e do mal. (Threefold Life IX 15).

Os frutos da terra não estão inteiramente na cólera de Deus, pois a palavra incorporada, sendo imortal e imperecível, estava florescendo novamente no corpo da morte, produzindo frutos do corpo mortificado da terra. (Aurora, XXI 24).

Alguns animais, especialmente os mansos, estão intimamente relacionados ao elemento único; outros, principalmente os ferozes, estão mais relacionados com os quatro elementos. (Three Principles, XVIII 10).

Há animais peçonhentos e vermes crescendo da qualidade colérica, formados depois do centro do mundo de trevas. Eles amam habitar unicamente nas trevas, e se escondem da luz. Além do mais, há muitas criaturas formadas pelo spiritus mundi a partir do reino da fantasia, tais como macacos, certos animais e pássaros, que adoram pregar peças, atormentar e perturbar outras criaturas, de modo que um é inimigo do outro, e estão sempre brigando. Por outro lado, há também criaturas boas e delicadas, feitas segundo modelos do mundo angélico, tais como os animais mansos e os pássaros: entre eles, contudo, encontra-se também os de má qualidade. (Grace, V 20)97.

Em cada coisa externa há duas qualidades, uma que se origina do tempo e outra da eternidade. A primeira qualidade ou temporal está manifestada, a outra, oculta. (Signature, IV 17).

Nos seres deste mundo encontramos em todo lugar dois seres em um — primeiro, um ser eterno, divino e espiritual e depois um que tem um princípio, que é natural, temporal e corruptível. O desejo soprado, ou seja, o amor do poder divino pela natureza, de onde a natureza e a vontade-própria se originaram — busca livrar-se da vontade natural pervertida, e está destinada, no final dos tempos, a ficar livre da ilusão adquirida, e a ser trazida para uma natureza clara e cristalina. (Contemplations, I 30).

Cada coisa é como um fogo. Contudo, a tortura do fogo não é uma vida verdadeira, mas a tintura que se origina do fogo. (Threefold Life VIII 18).

Como o espírito está em uma coisa, assim é a tintura, pois a tintura emana do espírito e é sua luz. (Three Principles, XIII 45).

Onde existe um desejo, existe um fogo, pois o fogo deseja substancialidade, a fim de ter algo para consumir. Ele não pode fazer para si qualquer substancialidade, mas faz uma tintura e essa tintura produz a substancialidade. (Threefold Life VIII 33).

A tintura produz todas as cores, porque introduz a qualidade do fogo e da luz na água. Assim, ela também transforma água em sangue. (Six Mystical Points, I 5).

A qualidade oleosa está nas pedras, metais, ervas, árvores, animais e homens. A qualidade mortal está na terra, na água, no fogo, no ar. Essas quatro qualidades são, de fato, como um corpo morto; mas o óleo ali é como uma luz ou uma vida, de onde resulta o desejo ou o crescimento, o desabrochar desta qualidade mortal. A qualidade oleosa não podia, contudo ser uma vida se não fosse uma ansiedade da morte. A última faz surgir a primeira, tornando-a móvel, porque a qualidade oleosa deseja fugir da ansiedade e dali se manifestar, e assim o crescimento ocorre. A morte deve ser a causa da vida e do movimento”. (Signature, VIII 5).

Todo o mundo visível externo, em todos os seus estados, é um símbolo ou figura do mundo espiritual interno. Aquilo que uma coisa realmente é em seu interior está refletido em seu caráter externo. (Signature, IX I).

Aquele princípio que no espírito de sua ação é superior ao resto grava seu caráter principalmente sobre o ser corpóreo, e as outras qualidades são adições secundarias a ela, como se pode observar em todas as criaturas vivas”. (Signature, IX 4).

A forma interna caracteriza o homem, também em sua face. O mesmo se pode dizer dos animais, ervas e árvores. Tudo é marcado externamente com aquilo que é internamente e essencialmente. Pois o ser interno trabalha continuamente para se manifestar exteriormente. Assim cada um tem sua própria boca a fim de se revelar, e aqui está baseada a linguagem da natureza, através da qual cada coisa fale a partir de sua própria qualidade, e represente aquilo do qual pode ser útil e bom”. (Signature, i II – 17).

‘A semente da mulher esmagará a cabeça da serpente.’ Esta palavra ou poder ainda continua em todos os seres humanos, capacitando-nos, em nossos sinceros esforços da alma, para esmagar a cabeça e a vontade do diabo; e se esse poder não estivesse em nós, estaríamos na morte eterna. (Três Princípios, xv. 44.)

Se o Amor de Deus não estivesse no centro da alma, então o homem seria um demônio vivo; tal como ele realmente se torna se rejeitar a regeneração e morrer de acordo com sua natureza inata do primeiro e do terceiro princípios. (Três Princípios, xvi. 30.)

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