Boehme Hartmann IV

JACOB BOEHME — Citações de sua obra, organizadas por Franz Hartmann

Retiradas da tradução oferecida pela SCA

IV – CRIAÇÃO
Deus criou os santos anjos, não através de alguma substância estranha a seu próprio ser; Ele os criou de seu próprio ser, de Seu poder e sabedoria eterna. (Aurora, IV. 26).

É dito que Deus é tudo, que Ele está no céu e na terra, e também no mundo externo; tal afirmação é verdadeira, de certa forma; porque tudo se origina em Deus e de Deus. Mas de que serve essa doutrina, que não é uma religião? Tal doutrina foi aceita pelo demônio, que queria se manifestar e ser poderoso em todas as coisas. (Tilken… I.140).

O mundo externo não é Deus, e não será Deus em toda eternidade. O mundo é meramente um estado de existência onde Deus está manifestando a Si próprio. (Stief, II. 316). 46

Sempre haverá que se fazer uma distinção entre a Divindade e a humanidade, entre a vontade humana e a vontade de Deus. (Stief, II. 95).

Se um homem diz a si mesmo: ‘Eu, o verbo vivo de Deus, realizo isso e aquilo, nessa santa carne e osso’, ele desonra o sagrado nome de Deus; Isso também vai contra a doutrina da Bíblia; pois, sempre que o intelecto de um homem foi escolhido para a profecia, o profeta não dizia: ‘Eu, Fulano de Tal, digo isso ou aquilo, mas ‘Assim fala o Senhor!’. Isso significa que o Senhor fala nesse homem e através desse homem, que é Seu intermediário e Seu instrumento. (Stief., I.84).

Não imagine Deus como sendo um poder cego, existindo ou movimentando-se no céu ou além e acima do céu, desprovido de razão ou conhecimento, comparável ao sol, que gira em torno de sua órbita, emitindo luz e calor, sem se importar se isso beneficia ou não a terra e suas criaturas. Não! O Pai não é isso; mas Ele é onipotente, sábio, o Deus que tudo sabe; Nele mesmo, Ele é bom, generoso e misericordioso, alegre e regozija-se em si mesmo. (Aurora, III. II).

Se o leitor considerar a profundeza do céu, as estrelas, os elementos e a terra, não irá, com certeza, ver com seus próprios olhos, a Divindade pura e cristalina, embora Deus esteja ali, dentro de tudo isso; mas se você elevar seus pensamentos e direcionar sua mente a Deus, que em Sua santidade governa com o Todo, estará então penetrando o céu e alcançando o próprio coração sagrado de Deus. (Aurora, XXIII. II).

Antes da criação do céu, das estrelas, dos elementos e também antes da criação dos anjos, não havia nada senão a Divindade, reproduzindo a si mesma, doce e amorosamente, concebendo de sua própria imagem. (Aurora, XXIII. 15). 47

Não podemos dizer, verdadeiramente, que este mundo foi feito a partir de algo. (Assinatura…, XIV. 7).

Não podemos supor racionalmente qualquer formação ou diferenciação existente no eterno UM da qual, ou de acordo com a qual (formação) algo poderia ser feito; pois se tal forma ou predisposição de fazer uma forma existisse, haveria de ter outra causa, além de Deus, de onde a forma resultaria, então haveria algo mais (outro deus) e não o Um e eterno Deus. (Baptism, I.I).

A criação nada mais é do que a revelação do Deus insondável e essencial, e tudo o que existe em sua própria evolução eterna, que não tem princípio, também está nessa criação. Mas a criação está para Deus, assim como uma maçã está para a árvore. A maçã não é a árvore, mas cresce pelo poder da árvore. Do mesmo modo tudo tem sua origem no desejo divino; o desejo é o que o faz entrar num ser. No princípio não havia nada para produzir o todo, exceto o mistério da geração eterna (evolução). (Assinatura…, XVI.I).

Imagine uma mãe (um ventre) contendo uma semente em si. Enquanto ela contém a semente como tal, esta pertence a ela, mas quando a semente torna-se uma criança então a semente não pertence à ela, mas é propriedade da criança. O mesmo ocorre com os anjos. Todos foram configurados a partir da semente divina; mas depois que isso foi feito, cada um possui seu próprio ser corpóreo. (Aurora, IV. 34).

Como é que Deus movimentou-se para produzir a criação, sendo Ele imutável, não se sabe, e qualquer tentativa de descobrir, só produziria confusão na mente. (Encarnação de Cristo…, I.2,5).

Não podemos dizer como é que aquilo que estava eternamente na essencialidade de Deus entrou em movimento, pois não havia nada que pudesse ter feito Deus se movimentar, e a vontade de Deus é eterna e imutável. Só podemos dizer que o Três estava desejoso de ter filhos de sua própria espécie. (Quarenta Questões… I. 273).

Nenhuma criatura pode emanar do puro estado divino de ser, já que esse estado não tem causa, nem princípio e tampouco pode ser trazido a um princípio. (Grace, VIII. 45).

Com a luz e o coração de Deus, como tais, nada pode ser criado; porque, a luz é o fim da natureza e não possui qualidade. Portanto, ela não pode mudar ou tornar-se algo, mas permanece sempre a mesma na eternidade. (Três Princípios…, X 41).

O Deus Trino e eterno criou todas as coisas através do Verbo, de Seu próprio Ser, ou seja, de Seus dois aspectos ou qualidades: a natureza eterna, a fúria ou cólera, e de Seu amor, através do qual, a cólera ou ‘natureza’ era pacificada. Assim, Ele tudo criou, fazendo com que tudo adquirisse uma existência. (Stief. II. 33).

O Pai, sendo a vontade primordial, pronuncia todas as coisas através do Verbo, do centro da liberdade; mas a emissão do Pai através do Verbo é o espírito do poder, e esse espírito dá forma àquilo que foi falado, a fim de que apareça como um espírito. (A Vida Tríplice… II. 63).

A sabedoria é uma imaginação divina, onde as ideias dos anjos e almas foram vistas na eternidade; não como criaturas reais e substanciais, mas não essencial como as imagens num espelho. (Clavis, X.5).

A semelhança de Deus, tendo sido vista na sabedoria de Deus desde toda eternidade, e na qual Deus criou o Homem, era sem vida e sem substancialidade antes do princípio dos tempos deste mundo. Era um mero reflexo da imagem onde Deus viu como Ele seria numa imagem. (Stief, II. 123).

O Homem não existe desde a eternidade; mas apenas como uma sombra de uma imagem, onde Deus em Sua sabedoria soube de todas as coisas desde a eternidade, no espelho de Sua própria sabedoria. (Stief, II 143).

As espécies e criaturas são tão variadas quanto os pensamentos eternos na sabedoria de Deus. (Três Princípios… IX.37).

Como os poderes divinos são múltiplos, inumeráveis, há uma diferenciação de ideias e uma diferença entre os anjos; em consequência disso alguns aparecem como reis ou governantes e outros como servos. (Theosophic Questions V. 9-12).

Como não há nada perfeito exceto a Árvore divina, consequentemente todas as coisas diferem uma das outras; do mesmo modo, os anjos possuem diferentes qualidades. (A Vida Tríplice… V.90).

Nenhum espírito criado pode existir sem o mundo-ígneo. Até mesmo o amor de Deus não existiria, se a cólera de Deus, ou o mundo do fogo, não existisse Nele; pois a cólera ou o fogo de Deus é a causa da luz, força, poder e onipotência. (Stief. II. 4).

A cólera (o fogo) é a raiz de todas as coisas e a origem de toda vida; nela está a causa de toda força e poder, e dela emanam todas as maravilhas (manifestação de poder). Sem aquele fogo não haveria consciência, mas tudo seria um mero nada. (Três Princípios… XXI. 14).

Nenhum ser pode nascer a menos que tenha em si o triângulo ígneo, ou seja, as três primeiras formas naturais. (Grace, II. 38).

Tudo existe desde toda eternidade, mas apenas como ideias, não como coisas existentes corporalmente. Somente espíritos incorpóreos existiam (como ideias) na eternidade, como num mundo de magia, onde uma coisa contém a outra na potencialidade. (Quarenta Questões… XIX.7).

A criação dos anjos tem um princípio, mas não aquele dos poderes, de onde foram criados. Esses poderes são co-eternos com o princípio eterno. (Mysterium, VIII. I).

Na eternidade, na Vontade eterna, havia uma natureza, mas ela existia ali apenas como um espírito, e sua essencialidade não estava manifesta exceto no espelho daquela Vontade, ou seja, na sabedoria eterna. (Assinatura…, XIV. 8).

O mysterium magnum é o Caos de onde se origina o bem e a mal, luz e trevas, vida e morte. É o fundamento ou ventre de onde emanam almas, anjos e todos os tipos os outros tipos de seres, e onde estão contidos como numa causa comum, comparável à uma imagem que está contida num pedaço de madeira antes que o artista a corte. (Clavis, VI 23).

O mundo criado existia antes do mysterium magnum, pois todas as coisas encontravam-se numa condição espiritual na sabedoria, como numa contínua atividade ou luta de amor. A Vontade única concebeu essa forma espiritual no Verbo, e permitiu a inteligência (a consciência separada, ou seja, a qualidade azeda e adstringente), agir sem restrição, a fim de que cada poder pudesse entrar ou se construir numa forma de acordo a essa própria qualidade específica. (Grace, IV. 12).

A Mente eterna está sempre desejosa de poder, e o poder é a adstringência, e a adstringência é a contração, atração, ou o Fiat eterno, que cria e torna corporal aquilo que a Vontade eterna deseja em sua própria benevolência. A Vontade deseja através do Fiat agudo, trazer para a substancialidade (tornar objetivo) aquilo que mantém na Sabedoria eterna. (Três Princípios… XIV.74).

O universo com todos os seus seres foi criado da natureza eterna, dos sete espíritos da natureza eterna. (A Vida Tríplice… III.40).

Sempre que algo nasce da Essência divina, é trazido para a forma, não meramente por um espírito, mas por todos os setes. (Aurora, X.4).

Quando a Divindade movimentou-se, com o propósito de criar um mundo, movimentou suavemente a qualidade adstringente, contraindo-a no divino sal-nitre. (Aurora, XIII. 94).

Originalmente o espírito é um fluxo mágico ou uma explosão de fogo, que deseja a substancialidade, ou seja, a forma. Essa é então causada pelo desejo, e continua a corporalizar o espírito, e o espírito passa a ser chamado de ser criado. (Tilken… I 186).

O centro de cada coisa é espírito, coexistindo com o Verbo. A separação (diferenciação) de algo (através da qual esse algo se distingue do resto) está na qualidade de sua vontade, através da qual assume uma forma ou estado de ser de acordo com seu próprio desejo essencial (predominante). (Cartas, XLVII. 5).

Ainda hoje, o ato de criação continua, e não terá fim até a chegada do Julgamento de Deus. Então, aquilo que cresceu na santa árvore da vida irá separar-se das ervas e espinhos. (Três Princípios… XXIII.25).

Se Deus irá ou não criar algo mais de Sua vontade, após o fim desses tempos, não é perceptível pelo meu espírito, pois ele não vai além do próprio centro onde habita, e ali é o paraíso e o reino do céu. (Principles, IX. 41).

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