Boehme Hartmann III

JACOB BOEHME — Citações de sua obra, organizadas por Franz Hartmann

Retiradas da tradução oferecida pela SCA

III – SETE QUALIDADES
A Essência eterna, desejando revelar-se a si mesma (para obter auto consciência), teve que conceber em si uma vontade; mas como em si mesma não havia objeto para sua vontade ou desejo, exceto o Verbo poderoso, que na eternidade tranquila não existia, os sete estados da natureza eterna tiveram que nascer ali. Daí procede então, de eternidade em eternidade, o Verbo poderoso, o poder, o coração e a vida da eternidade tranquila e de sua sabedoria eterna. (A Vida Tríplice…, III 21).

A primeira e a sétima qualidade devem ser consideradas como uma, assim como a segunda e a sexta, e também a terceira e a quinta; mas a quarta é objeto de divisão. A primeira refere-se ao Pai, a segunda ao Filho e a terceira ao Espírito Santo. (Clavis, IX 75).

Não imaginem esses sete espíritos como as estrelas, vistas uma ao lado da outra no céu; todos são como que um espírito. Da mesma forma, o corpo do homem possui vários órgãos, mas cada órgão participa do poder dos outros. (Aurora, X.40).

Assim como os órgãos do corpo do homem amam uns aos outros, o mesmo ocorre com os espíritos no poder divino. Não há nada senão ânsia, desejo e plenitude e cada um triunfa e regozija-se no outro. (Aurora, IX.37).

Sabe-se que um único espírito não pode gerar outro, mas o nascimento de um espírito resulta da cooperação de todos os sete. Seis deles sempre geram o sétimo, e se algum deles estivesse ausente os outros não poderiam estar presente. (Aurora, X.21).

Todos os sete espíritos de Deus nascem um nos outros. Um dá origem ao outro; não há primeiro ou último. O último gera o primeiro, assim como o primeiro gera o segundo, o terceiro gera o quarto, até o último. Todos os sete são igualmente eternos. (Aurora, X.2).

Se às vezes descrevo somente dois ou três como ativos na geração de outro espírito, é devido à minha fraqueza, pois em minha mente degenerada não posso reter a impressão da ação de todos os sete em sua perfeição. Vejo os sete, mas quando começo a analisar o que vejo, não posso alcançar os sete, mas um de cada vez. (Aurora, X 22).

Cada um desses princípios é fortemente definido com relação à sua natureza; mo entanto, não há antipatia entre eles. Todos se regozijam em Deus, como um só espírito. Cada um ama o outro, e não há nada entre eles senão alegria e felicidade. A evolução desses princípios é um eterno um, e não qualquer outro. (Aurora, X. 51).

Quanto mais alto forem exaltados, e quanto mais inflamados, maior será a alegria deles no reino da luz. (Mysterium, V.6).

Cada qualidade do espírito deseja a outra, e quando ela adquire esse objeto, torna-se como se tivesse sido transformada na outra; mas sua própria qualidade não se perde, simplesmente se adapta à outra, e manifesta um outro tipo de angústia (consciência), mas ambas mantém suas próprias qualidades especiais. (A Vida Tríplice…, IV. 8).

Cada uma dessas formas divinas de vida deseja governar; cada uma possui sua vontade própria. Ao contrário não haveria nem sensibilidade, nem perceptividade, apenas uma eterna tranquilidade. Nenhuma delas faz pressão, a fim de manifestar-se mais do que as outras, todas estão em perfeita harmonia. (Cons. Stiefel…, II. 348). 38

Quando o quarto princípio penetra o primeiro, todos os espíritos misturam sua luz, triunfo e regozijo. Eles surgem uns nos outros, e envolvem cada um como num movimento circular; a luz no meio deles começa a brilhar, oferecendo-lhes a luminosidade. A qualidade áspera permanece oculta, como uma semente na fruta. Assim como uma maçã amarga ou azeda transforma-se, ao amadurecer sob o sol, adquirindo um sabor adocicado, ainda que mantenha as características que a constitui uma maçã, a Divindade retém suas próprias qualidades essenciais, mas elas se tornam manifestas de forma doce e agradável. (Aurora, XIII 80).

Todos os sete princípios são espirituais dentro da natureza eterna, e aparecem ali numa substancialidade transluzida, cristalina e clara. (Grace, III 40).

Os sete candelabros na Revelação de São João referem-se aos sete espíritos na Divindade, também as sete estrelas. Os sete espíritos estão no centro do pai, o seja, no poder do Verbo. O Verbo transforma a cólera em doce satisfação e lhe confere a forma de um oceano cristalino; ali os sete espíritos aparecem numa forma que queima, como sete tochas luminosas. (A Vida Tríplice…, III 46).

A primeira qualidade é o desejo. Ela pode ser comparada com a atração magnética, é a compreensibilidade da vontade. A vontade se concebe como algo. Por esse ato de impressão ou contração ela encobre a si mesma e se torna treva. (Clavis, VIII. 38).

Nesse estado não há vida ativa ou inteligência; trata-se meramente do primeiro princípio da substancialidade, ou o primeiro começo do transformar-se. (Três Princípios…, VII . II).

O desejo é uma qualidade (contrativa) atraente, adstringente e ácida. É um poder ativo, e sem ele nada haveria senão tranquilidade. Ele se contrai e se preenche de si mesmo; mas aquilo que é atraído constitui nada mais do que trevas, um estado que é mais compacto que a vontade original, sendo essa tênue como um nada, depois se torna plena e substancial. (A Vida Tríplice…, II. 12).

O movimento divide e atrai o desejo, causando a diferenciação, o que acaba despertando a verdadeira vida. (Clavis, VIII.30).

Disso resulta a sensibilidade na natureza, e aqui está a causa da diferenciação. A dureza (solidez) e o movimento da vida são opostos. O movimento rompe a solidez (expande) e através da atração, também causa dureza (contrai). (Tabulae Princip., I.34).

O Desejo, sendo uma forte atração, causa a liberdade etérea , que é comparável a um nada, para contrair e entrar num estado de trevas. A vontade primitiva deseja ser livre das trevas, pois deseja a luz. A vontade não pode reter essa luz, e quanto mais ela deseja a liberdade maior será a atração causada pelo desejo. (Seis Pontos Teosóficos…, I 38).

Deve haver uma oposição, pois a vontade não deseja ser trevas, e este mesmo desejo causa as trevas. A vontade ama o excitamento causado pelo desejo, mas não ama a contração e o obscurecimento. A vontade propriamente dita não se torna obscura, apenas o desejo que nela existe. O desejo está nas trevas, e, portanto uma grande angústia resulta dentro da vontade, na medida em que o desejo pela liberdade se fortalece, mas por esse desejo torna-se mais áspera e obscura. (Quarenta Questões…).

A terceira qualidade, a angústia, é desenvolvida da seguinte maneira: a adstringência é fixa, o movimento é volátil; uma qualidade é centrípeta, outra centrifuga; mas como são um, e não podem se separar uma da outra (nem do seu centro) tornam-se como uma roda giratória, onde uma força para cima e a outra força para baixo. A solidez fornece substancialidade e peso, enquanto o amargor (desejo em movimento) fornece espírito (vontade de liberdade) e vida volátil. Tudo isso causa uma circulação dentro e para fora, sem no entanto, ter um destino. Aquilo que a atração do desejo faz com que se torne fixo, torna-se novamente volátil através da aspiração por liberdade. Ocorre então a grande inquietude, comparável a uma loucura furiosa, de onde surge uma terrível angústia. (Mysterium, III. 15).

Quanto mais o primeiro princípio acumular sua aspereza, a fim de capturar o segundo princípio, maior a ação desse princípio, e mais forte é a fúria e a ruptura. O amargor recusa-se a ser subjugado, mas a vontade (de onde se origina) o aprisiona fortemente, impedindo-o de seguir seu impulso. Ele luta para subir, a vontade para descer, pois a adstringência puxa para dentro, e se torna pesada. Assim, um luta para surgir, no alto, o outro para mergulhar, em baixo, sendo que nenhum dos dois atinge seu objetivo; com isso a natureza eterna torna-se como uma roda giratória. (Encarnação de Cristo…, II. 4).

Os três primeiros princípios não são Deus propriamente dito, apenas a Sua revelação. O primeiro destes três estados, sendo um princípio de toda força e poder, origina-se da qualidade do Pai; o segundo, sendo a fonte de toda atividade e diferenciação, surge da qualidade do Filho; e o terceiro, sendo a raiz de toda vida, origina-se na qualidade do Espírito Santo. (Grace, VI. 9).

Os antigos diziam que no sal, súlfur e mercúrio todas as coisas estão contidas. Isso não se refere tanto às coisas materiais, mas ao aspecto espiritual de todas as coisas, ou seja, ao espírito das qualidades de onde surgem as coisas materiais. Pelo termo sal, compreendiam o desejo metálico e agudo na natureza; mercúrio simbolizava o movimento e diferenciação do primeiro, através do qual cada coisa torna-se objetiva e entra em formação. Súlfur, a terceira qualidade, significava a angústia da natureza. (Clavis, 46).

O fogo é originalmente, trevas, aspereza, frio eterno e secura, e não há nada nele, senão uma fome eterna. Como então se transforma em fogo? O Espírito de Deus, em seu aspecto de luz eterna, vem em auxílio da fome-ígnea. A fome origina-se da luz, porque quando o poder divino espelha-se nas trevas, essas se tornam cheias de desejo da luz, e esse desejo é a vontade (da natureza eterna). Mas a vontade ou o desejo na secura, não podem atingir a luz, consistindo então de angústia e súplica pela luz. Essa angústia e essa súplica persistem até que o Espírito de Deus entre como que um raio de luz. (Três Princípios…, XI.45).

A liberdade por meio da vontade eterna alcança as trevas, essa alcança a luz da liberdade, mas não pode retê-la. A vontade aprisiona-se pelo próprio desejo que há em si, tornando-se trevas. Dessas duas coisas, ou seja, da impressão de trevas e do desejo da luz ou liberdade, que é direcionado para as trevas, resulta o raio de luz nas trevas, a condição primitiva do fogo. Mas como a liberdade é um nada, e portanto inapreensível, não pode reter a impressão. Assim, a impressão entrega-se à liberdade; essa, por sua vez, devora a natureza obscura da impressão. Assim, a liberdade governa nas trevas, e não é compreendida por ela. (Assinatura…, XIV. 22).

A unidade eterna ou liberdade, per se, é de infinito amor e brandura, mas as três qualidades são ásperas, dolorosas e até mesmo terríveis. A vontade das três qualidades anseia pela unidade branda, e a unidade anseia pelo fundamento ígneo e pela sensibilidade. Assim, um penetra o outro, e quando isso ocorre o raio de luz aparece, comparável à chispa produzida pela fricção entre a pedra e o aço. É desta forma que a unidade retém a sensibilidade, e a vontade da natureza recebe a unidade suave. Assim a unidade torna-se uma fonte de fogo, e o fogo penetrado pelo desejo, uma fonte de amor. (Clavis, IX. 49).

Quando o fogo e a luz espirituais são acesos nas trevas (tendo, contudo, queimado desde a eternidade), o grande mistério do poder e do conhecimento divino revela-se eternamente ali, porque no fogo todas as qualidades da natureza aparecem exaltadas na espiritualidade. A natureza permanece o que é, mas a sua expressão, ou seja, aquilo que ela produz, torna-se espiritualizado. A vontade obscura é consumida no fogo, expressando com isso o puro espírito-fogo, penetrado pelo espírito-luz. (Clavis, IX. 64).

Observe como toda vida, no mundo externo, atrai para si o seu alimento. Irás reconhecer como a vida origina-se da morte. Não pode haver vida sem que aquilo de onde a vida se expressa, surja em suas formas. Todas as coisas tem que entrar num estado de angústia para reter o raio de luz, e sem isso não haverá ignição. (Encarnação de Cristo…, II. 5).

Se algo se torna àquilo que não era antes, isso não se constitui um princípio; um princípio está onde uma forma de vida e movimento começa, o qual não existia anteriormente. Desta forma, o fogo é um princípio, assim como a luz que nasce do fogo, mas que, contudo, não é uma qualidade do fogo, mas tem uma vida própria. (Seis Pontos Teosóficos…, II. I).

Como o sol no plano terrestre transforma a amargura em harmonia, do mesmo modo age a luz de Deus nas formas da natureza eterna. Essa luz brilha dentro delas e fora delas; a luz incendeia as formas, a fim de que obtenham sua vontade e se rendam à ela completamente. As formas então, abandonam sua própria vontade e tornam-se como se não tivessem poder algum, desejando unicamente o poder da luz. (Seis Pontos Teosóficos…, V. 3). Pela união do fogo e da luz o terceiro princípio conquista a substancialidade.

Se a Divindade de acordo com o primeiro e segundo princípio é considerada apenas como um espírito, sem qualquer essencialidade concebível, há nela, contudo, o desejo de envolver um terceiro princípio, onde repousa o espírito dos dois primeiros princípios, onde se tornará manifestada como uma imagem. (Seis Pontos Teosóficos…, I. 25).

O fogo recebendo em si a essência do desejo como seu alimento, a fim de poder queimar, fornece um espírito alegre e abre o poder da humilde essencialidade na luz. (Seis Pontos Teosóficos…, I.57).

O fogo, atraindo para si a humilde essencialidade da luz, emana, através da cólera da morte, o humilde espírito que ali estava, o qual contém em si as qualidades da natureza. (Tilken…, I. 171).

Os primeiros três princípios são meramente qualidades condutoras da vida; o Quarto é vida propriamente dita, mas o quinto é o verdadeiro Espírito. Toda vez que esse poder se envolve do fogo, vive em todos os outros e transformando-os em sua própria natureza doce, de modo que a dor e a inimizade não podem ser encontradas ali, de forma alguma. (Tabulae Principice, I. 46).

A Quinta Qualidade é o verdadeiro fogo-amor, que na Luz separa-se do fogo doloroso, e onde o amor divino aparece como um ser substancial. Ele tem consigo todos os poderes da sabedoria divina; é o tronco ou o centro da árvore da vida eterna, onde Deus, o Pai, revela-se em Seu Filho através do Verbo pronunciado. (Grace, III. 26).

A Sexta forma da natureza eterna é a vida inteligente ou som. As qualidades estando num estado de equilíbrio na luz (a Quinta), agora se regozijam e tornam-se audíveis. Com isso, o desejo da unidade entra num estado de (consciência) querendo e atuando, percebendo e sentindo. (Tabulae Principice, I. 48).

Para constituir a vida audível, ou o som dos poderes, é necessário solidez e brandura, o compacidade, delgadeza e movimento. Para constituir o sexto princípio, portanto, se faz necessária a presença de todas as outras qualidades da natureza. A primeira forma fornece a aspereza, a segunda o movimento, através do qual a terceira divisão ocorre. O fogo transforma a aspereza da essência concebida ao consumi-la num ser espiritual, representando delicadeza e suavidade, e esta se forma num som, de acordo com as qualidades que contém. (Mysterium, V. II).

Na luz de Deus, no reino dos céus (a consciência do espírito), o som é muito sutil, doce e amoroso, de forma que se comparado com o barulho terrestre, é como uma perfeita quietude. No entanto, no reino da glória é, de fato, um som compreensível, e há uma linguagem ouvida pelos anjos — uma linguagem que só faz parte da natureza do mundo angélico. (Mysterium, V. 19).

O Sétimo Princípio é a compreensão corpórea das outras qualidades. É chamado de Sabedoria Essencial ou O Corpo de Deus. O terceiro princípio aparece nas sete formas da natureza desde que eles tenham sido trazidos para a compreensibilidade no sétimo. Esse princípio ou estado de ser é santo, puro e bom, É chamado de eterno céu incriado ou de reino de Deus, e emerge do primeiro princípio, do obscuro mundo-fogo e do santo mundo-amor de luz flamejante. (Grace, IV. 10).

A Sétima forma é o estado de ser onde todas as outras manifestam sua atividade, como a alma no corpo. É chamada de Natureza, e também de eterna e essencial sabedoria de Deus. (Tabulae Principice, I.49).

O sétimo espírito de Deus é o corpo, que nasce dos outros seis espíritos, e nele todas as figuras celestiais tomam forma. Dele surge toda beleza, toda satisfação. Se esse espírito não existisse Deus seria imperceptível. (Aurora, XI. I).

A Sabedoria é a substancialidade do espírito. O espírito dela se reveste, como um ornamento, e assim se revela. Sem a sabedoria a forma do espírito não seria conhecida; ela é a corporalidade do espírito. Não se trata de um corpo de substância tangível, como os corpos dos homens, mas contém qualidades visíveis e substanciais que o espírito per se não possui. (A Vida Tríplice…, V. 50).

A linguagem terrestre é inteiramente insuficiente para descrever o que há de satisfação, felicidade e de amor contidos nas maravilhas internas de Deus. Mesmo se a Virgem Eterna as mostrassem em nossas mentes, a constituição do homem é muito fria e escura para ser capaz de expressar mesmo uma centelha sobre elas em sua linguagem. (Três Princípios…, XIX. 90).

Assim como a terra continua a produzir plantas, flores, árvores, metais e seres de várias espécies, um mais glorioso, forte e belo que o outro; e como no nosso plano terrestre uma forma aparece enquanto outras perecem, havendo um contínuo trabalho e envolvimento das formas, do mesmo modo a geração eterna com o santo mistério, continua ocorrendo com grande poder; em consequência dessa contorção de poderes espirituais, os frutos divinos aparecem um ao lado do outro, todos e cada um deles, numa radiação de belas cores. Tudo aquilo pelo qual estamos rodeados no mundo terrestre, não passa de um símbolo terrestre, que existe no reino celestial numa bela perfeição, num estado espiritual. Não existem ali meramente como um espírito, uma vontade ou um pensamento, mas numa substancialidade corporal, em essência e poder, e aparece inconcebível se comparado com o mundo material externo (Assinatura…, XVI. 18).

Não é a sabedoria, mas o Espírito de Deus, o centro ou o revelador. Como a alma está manifestando-se num corpo através da carne, e como a carne não teria poder algum se não fosse habitada por um espírito vivo, da mesma forma a sabedoria de Deus é a corporalidade do Espírito Santo, através da qual ele adquire substancialidade, a fim de manifestar-Se. A sabedoria dá à luz, mas isso não seria possível se o Espírito não atuasse nela. Ela revela sem o poder da vida-fogo, ela não possui desejo ardente, mas sua satisfação encontra sua perfeição na manifestação da Divindade, e, portanto é chamada de virgem em castidade e pureza diante de Deus. (Tilken…, II 64).

A luz e o poder do sol revelam os mistérios do mundo externo através da produção e crescimento de vários seres. Da mesma forma Deus, representando o Sol eterno ou o único e eterno Bem, não se revelaria sem a presença de sua natureza espiritual eterna, único lugar em que pode manifestar seu poder. Somente quando o poder de Deus se torna diferenciado e relativamente consciente, de modo que haja poderes individuais combatendo entre si durante seu jogo de amor, se abrirá Nele o grande, imensurável fogo de amor, através da aproximação da Santíssima Trindade. (Grace, II.28).

A vontade eterna, o Pai, conduz Seu coração, Seu Filho eterno, pelo fogo, ao grande triunfo, ao Seu reino de glória. (Grace, II. 21).

Quando o Pai pronuncia Seu Verbo — ou seja, quando Ele gera Seu Filho — o que é feito contínua e eternamente, esse Verbo tem sua origem, em primeiro lugar, na primeira qualidade adstringente, onde se torna concebido. Na segunda qualidade ou qualidade doce recebe sua atividade; na terceira, se movimenta; no calor ele surge e acende o doce fluxo do poder e do fogo. Todas as qualidades são feitas para queimar pelo fogo aceso, e o fogo é por elas alimentado; mas esse fogo é só um, não muitos. Esse fogo é o verdadeiro Filho de Deus, que continua nascendo de eternidade em eternidade. (Aurora, VIII. 8 I).

O Pai é o primeiro de todos os seres concebíeis, mas se o segundo princípio não se tornasse manifesto no nascimento do Filho, Ele não seria revelado. Assim, o Filho, sendo o coração, a luz, o amor e a bela e doce beneficência do Pai, mas sendo distinto Dele em Seu aspecto individual, entrega-se ao Pai reconciliado, amoroso e misericordioso. Seu nascimento ocorre no fogo, mas Ele obtém sua personalidade e nome pela ignição da luz clara, branca e suave, que Ele próprio é. (Três Princípios…, IV. 58).

O Filho nasce perpetuamente, de eternidade em eternidade, e brilha continuamente nos poderes do Pai, enquanto que esses poderes são continuamente gerados no Filho. (Aurora, VII. 33).

O Pai Eterno manifesta-se no fogo; o Filho manifesta-se na luz do fogo; o Espírito Santo manifesta-se no poder da vida e no movimento que emana do fogo e da luz. (Assinatura…, XIV 34).

O Espírito Santo revela a divindade na natureza. Ele estende o esplendor da majestade, a fim de que ele possa ser reconhecido nas maravilhas da natureza. Ele não é o esplendor propriamente dito, mas seu poder; ele introduz esse esplendor da majestade na substancialidade, onde a Divindade é revelada. (A Vida Tríplice…, IV. 82; V. 39).

Nós, Cristãos, dizemos que Deus é ternário, mas um em essência; isso é mal interpretado pelo ignorante ou pelo mal informado, pois Deus não é uma pessoa, exceto em Cristo. Deus é um poder gerado eternamente e o reino com todos os seres. (Myst. Magn., VII. 5).

Ele gera a si mesmo num aspecto ternário, e nessa geração eterna deve-se compreender uma única essência e geração; nem o Pai, nem o Filho; mas unicamente a Vida eterna, ou Deus. (Myst. Magn., VII . II).

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