“Todos aqueles que desejam falar ou ensinar os mistérios divinos devem possuir o Espírito de Deus. O homem deve reconhecer em si a luz divina da verdade, e nessa luz as coisas que ele deseja apresentar como sendo verdade. Ele nunca deve estar sem esse auto conhecimento divino, e nem fazer com que a força de seus argumentos dependa meramente do raciocínio externo ou de interpretações literais da Bíblia”. (Encarnação de Cristo…, I. I, 3).
“Por que não podemos ver a Deus? Este mundo e o demônio (bem pervertido) na cólera de Deus nos impedem de ver com os olhos de Deus. Não há outro impedimento. Se alguém diz: ‘Não posso ver nada divino’, precisa compreender que a carne e o sangue e as artimanhas do demônio (desejos pervertidos) consistem um obstáculo e impedimento para ele. Se ele pretende penetrar a nova vida, caminhar sob a cruz de Cristo, é preciso ter certeza de ver o Pai, seu redentor, o Cristo e também o Espírito Santo”. (Encarnação de Cristo…, II,7).
“Não há centelha de vida divina naquele que está sem Deus. Não se deve culpar à Deus por isso, mas a própria pessoa. Tais pessoas tem a si mesmas, e por vontade própria, entraram em tal estado, abafando a consciência elevada, enquanto que a jóia preciosa, embora desconhecida deles, continua oculta no centro. Deixe, portanto, que eles saiam novamente da ignorância intencional ou malignidade, por vontade própria, e entrem novamente na vontade de Deus”. (Encarnação de Cristo…, 3, 5).
“O Cristo diz: O Filho do Homem não faz nada além do que vê o Pai fazendo. Se o Filho do Homem tornou-se o nosso corpo e Seu espírito o nosso próprio espírito, seria possível não conhecermos à Deus? Se vivemos no Cristo, o Espírito de Cristo verá através de nós e em nós aquilo que deseja, e aquilo que o Cristo deseja veremos e conheceremos Nele. O mundo dos anjos é mais simples e mais claramente compreensível para o homem regenerado do que o mundo terrestre. Ele também vê no céu, e observa a Deus e a eternidade”. (Encarnação de Cristo…, II. 7,3).
“A nossa visão e o nosso conhecimento estão em Deus. Ele revela a todos neste mundo, segundo a Sua vontade, e na medida em que sabe ser útil para ele. Não estamos em possessão de nosso próprio ser. Nada sabemos sobre Deus. O Deus Propriamente dito é o nosso conhecimento e visão. Não somos nada, a fim de que Ele possa ser Tudo em nós. Devemos ser cegos, surdos e mudos, e não saber nada, não tomar conhecimento de vida que seja propriedade nossa, a fim de que Ele possa ser a nossa vida e a nossa alma, e a fim de que nossa obra possa ser a Sua”. (Encarnação de Cristo…, II. 7,9).
“Dentro do não fundamento (que alguns escritores denominam de ‘Não-Ser’ — um termo sem nenhum significado) não há nada senão tranquilidade eterna, um eterno repouso sem começo e sem fim. É verdade que mesmo ali Deus tenha uma vontade, mas essa vontade não pode ser objeto de nossa investigação, já que qualquer tentativa de investigá-la produziria pura confusão em nossa mente. Concebemos essa vontade como constituindo o fundamento da Divindade. Ela não tem origem, mas concebe a si mesma em si mesma”. (Encarnação de Cristo…, XXI. 1).
“A sabedoria coloca-se diante de Deus como um espelho ou reflexo, onde a Divindade vê seu próprio ser e todas as grandes maravilhas da eternidade, que não tem começo, nem fim, no tempo, cujo princípio e o fim são eternos. A sabedoria é uma revelação da Santíssima Trindade; isso não deve ser compreendido como se ela revelasse a si mesma à Deus, através de seu próprio poder ou escolha, mas o centro divino, o coração e essência de Deus, torna-se revelado nela. Ela é como um espelho da Divindade, e como qualquer outro espelho, simplesmente permanece quieta; ela não produz imagem alguma, mas simplesmente a concebe”. (Encarnação de Cristo…, I, 1, 12).
“Sobre a eternidade não podemos falar de outra forma senão como de um espírito, pois tudo era espírito no princípio; mas esse espírito também tem se envolvido num ser, desde toda a eternidade”. (Encarnação de Cristo… I 2).
“No princípio, a vontade é fraca como um nada; depois, ela deseja e aspira a ser algo e a manifestar-se. Esse nada faz com que a vontade entre num estado de desejo; esse desejo é uma imaginação. A vontade observando-se no espelho da sabedoria faz com que sua própria imagem apareça no não fundamento, criando o fundamento em sua própria imaginação”. (Encarnação de Cristo…, II 1).
“Deus é desde a eternidade Poder e Luz, e é chamado Deus por causa disso, mas não de acordo com o espírito-ígneo. Quanto a esse, não falamos dele como Deus, mas como ‘a cólera de Deus’ e a parte de Seu poder que consome. A luz de Deus também possui a qualidade do fogo, mas em nela a cólera é transformada em amor; ódio e amargor doem numa humilde beneficência e doce desejo ou satisfação”. (Encarnação de Cristo…, I 5-16).
“Quanto mais o primeiro princípio acumular sua aspereza, a fim de capturar o segundo princípio, maior a ação desse princípio, e mais forte é a fúria e a ruptura. O amargor recusa-se a ser subjugado, mas a vontade (de onde se origina) o aprisiona fortemente, impedindo-o de seguir seu impulso. Ele luta para subir, a vontade para descer, pois a adstringência puxa para dentro, e se torna pesada. Assim, um luta para surgir, no alto, o outro para mergulhar, em baixo, sendo que nenhum dos dois atinge seu objetivo; com isso a natureza eterna torna-se como uma roda giratória”. (Encarnação de Cristo…, II. 4).
“Observe como toda vida, no mundo externo, atrai para si o seu alimento. Irás reconhecer como a vida origina-se da morte. Não pode haver vida sem que aquilo de onde a vida se expressa, surja em suas formas. Todas as coisas tem que entrar num estado de angústia para reter o raio de luz, e sem isso não haverá ignição”. (Encarnação de Cristo…, II. 5).
“Como é que Deus movimentou-se para produzir a criação, sendo Ele imutável, não se sabe, e qualquer tentativa de descobrir, só produziria confusão na mente”. (Encarnação de Cristo…, I.2,5).
“Quando Deus criou os anjos, o príncipe do fogo e da luz se manifestou. Seu espírito ou vida-angústia (consciência) tem sua origem no fogo. Ele foi então passado pela luz, tornando-se ali a angústia do amor, através da qual a cólera foi extinta”. (Encarnação de Cristo…, I 3-10).
“Os espíritos expulsos ainda se encontravam na qualidade do pai, e, portanto acenderam a qualidade da natureza através da imaginação, de modo que a substância transformou-se em terra e pedras, e o doce espírito da água num céu incandescente. Depois disso ocorreu a criação deste mundo”. (Encarnação de Cristo…, I. 2-8).
“No tempo da criação de uma nova luz, o sol foi despertado nesse mundo tornado corrupto por Lúcifer, o que afastou o esplendor do demônio. Ele foi enclausurado nas trevas como um prisioneiro, entre o reino de Deus e o reino deste mundo; ele não tem mais o que governar nesse mundo, exceto na Turba, onde a cólera e a fúria de Deus estão despertadas”. (Encarnação de Cristo…, I. 2).
“Adão deveria ser um perfeito símbolo de Deus, criado da Magia eterna, a substância de Deus; ele era para ser algo feito do nada, do espírito — o ideal — para um corpo”. (Encarnação de Cristo… I.5).
“O corpo de Adão (o corpo etéreo do homem aborígine) foi criado dos quatro elementos da natureza externa, e das estrelas (da essência das estrelas), por meio do Fiat eterno. Desta forma, ele estava em posse da essencialidade terrestre e divina; mas a terrestre estava na divina como que consumida ou impotente (latente). A substância ou a matéria da qual o corpo foi feito ou criado também continha o primeiro princípio em si, mas não estava em movimento”. (Encarnação de Cristo…, I 3, 15).
“Simultaneamente à introdução de Sua divina imagem, Adão recebeu também a palavra viva de Deus (inteligência espiritual) para fornecer alimento à sua alma”. (Encarnação de Cristo…, I 3 24).
“Sendo Deus um Senhor de todas as coisas, o homem no poder de Deus deveria ser o senhor deste mundo”. (Encarnação de Cristo…, I 4, 7).
“Nenhum calor, frio, doença, acidente ou medo algum podia tocá-lo ou terrificá-lo. Seu corpo podia passar pela terra e pedras sem que nada fosse quebrado; pois um homem que fosse subjugado pela natureza terrestre, ou que pudesse ser quebrado em pedaços, não seria eterno”. (Encarnação de Cristo…, I 2 13).
“Adão foi concebido no amor de Deus e nasceu neste mundo. Tinha posse de uma substancialidade divina e sua alma era de vontade, o primeiro princípio, a qualidade do Pai. Essa vontade deveria ser dirigida, juntamente com sua imaginação, no coração do Pai, ou seja, no Verbo e no Espírito do amor e da pureza. A alma humana reteria então, a substância de Deus no Verbo da Vida”. (Encarnação de Cristo…, I 10 2).
“Adão também foi criado na qualidade externa, para manifestar em formas e executar em obras aquilo que havia sido percebido na sabedoria eterna”. (Encarnação de Cristo…, I 4).
“O Homem foi criado no Paraíso, que brotou sobre a terra, e da terra do paraíso foi criado o corpo de Adão, pois ele era um senhor da terra; ele estava destinado a revelar as maravilhas da terra. Se esse não fosse seu propósito, Deus o teria dotado de um corpo angélico; mas nesse caso o ser substancializado com suas qualidades maravilhosas não seria revelado”. (Encarnação de Cristo…, II 12).
“Assim Adão tornou-se vítima da magia, e sua magnificência se foi. Sono significa morte e entrega. O reino terrestre o conquistou e o dominou”. (Encarnação de Cristo…, I 5).
“Adão e Eva ainda tinham uma consciência paradisíaca, mas ela encontrava-se misturada com o desejo terrestre. Eles estavam nus, e tinham órgãos animais para procriação; mas eles não sabiam disso, nem tampouco se envergonhavam, pois o espírito do grande mundo ainda não tinha obtido o governo sobre eles antes de terem provado do fruto terrestre”. (Encarnação de Cristo… I 6 15).
“Quando Adão e Eva encontravam-se no Paraíso como homem e mulher, ainda em posse de uma essência celeste, ainda que misturada (com materialidade), o demônio não podia suportar, pois sua inveja era grande. Então, depois que Adão foi trazido à queda e privado de sua forma Angélica e viu que Eva era sua esposa, o demônio pensou que eles pudessem gerar filhos no Paraíso e lá permanecerem. Ele se convenceu de seduzi-los a comer do fruto proibido, a fim de que com isso se tornassem terrestres”. (Encarnação de Cristo…, I 7).
“O terceiro princípio, espírito e tormento deste mundo, estava oculto desde a eternidade na natureza eterna; ele foi revelado pelo espírito de luz-flamejante na sabedoria de Deus e na tintura divina. Então a divindade movimentou-se de acordo com a natureza da mãe produtiva, surgiu então, o grande Mysterium, contendo tudo que está no poder da natureza eterna. Isso, contudo, era apenas um Mysterium e não tinha semelhança a nenhum ser criado. Ali tudo estava junto (misturado), como uma nuvem de poeira”. (Encarnação de Cristo… I I 10).
“O demônio reside neste mundo, infectando continuamente a natureza externa; mas ele tem seu poder somente na cólera, no desejo amargo”. (Encarnação de Cristo…, I 2, 4).
“A consciência terrestre corrompeu a celeste, e a primeira tornou-se a Turba da última. Da mesma forma, o Fiat fez a terra e as pedras a partir da essencialidade eterna”. (Encarnação de Cristo… I 9).
“A alma é per se um fogo-tortura, e contém em si o primeiro princípio, a acidez áspera, que tem por seu objeto o fogo. Se deste nascimento (evolução) for extraída da alma a humildade e o amor de Deus, ou se ela tornar-se fortemente contaminada pela matéria (desejo material grosseiro) ela permanecerá sendo uma dureza severa, consumindo-se e, no entanto, gerando continuamente nova ânsia em sua vontade própria”. (Encarnação de Cristo…, I 2).
“É desnecessário saber se caso o homem tivesse permanecido em seu estado original, todos os (futuros) indivíduos seriam produtos de um indivíduo, ou se seriam produzidos uns dos outros; mas buscando na profundeza, no centro, penso que um surgiria do outro. No curso do tempo teriam diferido em qualidades; alguns cresceriam e chegariam a ser maiores que outros, como é o caso agora, em que os homens não são iguais, mas uns tem mais gênio e inteligência que outros”. (Encarnação de Cristo…, I 5,4).
“Não havia outra salvação para a imagem divina no homem a menos que a divindade se movimentasse de acordo com o segundo princípio, ou seja, de acordo com a luz da vida eterna, e pelo poder do amor reascendendo a substancialidade (da alma) que estava aprisionada na morte”. (Encarnação de Cristo…, I II 22).
“O nome de Jesus incorporou-se na tintura da alma no Paraíso, quando Adão caiu, e mesmo antes de Adão ser criado; como Pedro menciona em sua primeira carta (I.20), dizendo que nós havíamos sido beneficiados em Cristo, mesmo antes da fundação do mundo” (Encarnação de Cristo…. I 8 I).
“Antes da encarnação de Cristo a humanidade redimia-se através da palavra incorporada em nome de Jesus. Aqueles que direcionavam sua vontade em Deus e para Deus receberam a palavra da promessa, porque a alma foi aceita. Assim, toda a lei relacionada ao sacrifício nada mais é do que um antítipo da humanidade de Cristo. Aquilo que o Cristo fez como homem, quando através de seu amor reconciliou a cólera divina, foi feito (simbolicamente) através do sangue dos animais. A palavra da promessa estava no pacto, e no meio tempo Deus concebeu uma figura (símbolo), e pelo poder do pacto fez com que fosse reconciliado simbolicamente, pois o nome de Jesus estava no pacto, e através da imaginação reconciliou a fúria e a cólera da natureza do Pai”. (Encarnação de Cristo…, I 7 12).
“O santo Espírito de Deus formou a substancialidade Angélica, celestial em um só elemento, através da virgem; mas os planetas e elementos deste mundo formaram o homem externo, conferindo-lhe um corpo natural e uma alma exatamente igual a dos outros seres humanos, ambos em uma só pessoa. De modo que, cada forma possuía seu próprio estado particular de percepção e sensação, e o estado divino não se misturou a tal fórmula (com a forma terrestre) a fim de que a primeira diminuísse e permanecesse o que era (antes que a encarnação ocorresse), e se transformasse no que não era (através da encarnação), mas sem qualquer separação, diferenciação ou divisão do ser divino. Desta forma, o Verbo permanece no pai, o ser criado do santo elemento permaneceu diante do pai, e o estado natural humano ocorreu neste mundo, no ventre da virgem Maria”. (Três Princípios…, XX 86).
“Alguns afirmaram que a virgem Maria não era um ser terrestre, nem filha de Joaquim e Ana, porque o Cristo é denominado a semente da mulher, portanto, teria que ter nascido de uma completa virgem celeste. Se assim o fosse, de nada serviria para nós pobres filhos de Eva, já que somos terrestres e carregamos nossas almas em tabernáculos terrestres”. (Encarnação de Cristo…, I.8 I).
“O Cristo disse aos Judeus: ‘Eu sou de cima, mas vocês são de baixo; Eu não pertenço a este mundo, mas vocês pertencem a este mundo’. Se Ele houvesse se humano num tabernáculo terrestre, e não numa virgem casta, celestial e pura, tal como Maria se tornou em consequência de ter sido abençoada, Ele seria deste mundo”. (Encarnação de Cristo…. I 9, 20).
“Maria, em quem o Cristo tornou-se homem, foi verdadeiramente a filha de Joaquim e Ana, segundo a carne externa, gerada a partir de suas semente; mas quanto a vontade, era a filha do pacto da promessa, o objeto do pacto, onde o mesmo se realizou”. (Encarnação de Cristo…, I 8 2).
“O Verbo da promessa, que era para os judeus uma espécie de antítipo, ou como uma imagem no espelho, onde o pai colérico imaginou e onde extinguiu Sua cólera, começou a se movimentar essencialmente, como se não tivesse se movimentado desde a eternidade; pois, quando o anjo Gabriel trouxe a Maria a mensagem de que teria um filho, e quando ela expressou seu desejo dizendo: ‘Que seja feita a tua vontade’, o centro da Santíssima Trindade movimentou-se; isso quer dizer que, a virgindade eterna perdida por Adão, se abriu nela, no Verbo da vida. O fogo do amor divino no ser de Maria, na essência virginal corrompida em Adão, fora novamente restaurado”. (Encarnação de Cristo…, I 8, 3. 4).
“A virgem eterna, não tendo substância, penetrou também a encarnação e assim a verdadeira alma fora recebida das essências de Maria. Desta forma, a virgem eterna veio à substancialidade, pois recebeu a alma humana em si”. (A Vida Tríplice…, VI 75).
“O verdadeiro ser da humanidade, que havia morrido e desaparecido (tornou-se latente) em Adão, despertou-se novamente para a vida em Maria; ela tornou-se altamente exaltada, como o homem antes da queda. Nada disso ocorreu por seu próprio poder, mas pelo poder de Deus. Se o centro de Deus não houvesse se movimentado dentro dela, ela não teria sido diferente de todas as outras filhas de Eva”. (Encarnação de Cristo…, I 8. 5).
“A primeira coisa que uma criança (no ventre) recebe é a tintura de sua mãe. O mesmo aconteceu com o Cristo. Quando o anjo anunciou à Maria a futura encarnação de Cristo, foi a vontade da mãe, e a tintura que receberam o Limbus de Deus que a impregnou e passou a lhe pertencer. Se, então, a alma da criança está na Santíssima Trindade, não pensam vocês que sua luz gloriosa ilumina maravilhosamente a mãe, e que esta mãe coloca, corretamente, seus pés sobre a Lua, ao ser exaltada acima de tudo o que é de natureza terrestre? Ela deu à luz o Redentor do mundo sem nenhum contato carnal, e dela originou-se o corpo que atraiu todos os membros, ou seja, os filhos de Deus em Cristo, os filhos da Luz”. (Três Princípios…, XVIII 93-98).
“A vida de Cristo não começou a se movimentar imediatamente, no momento da concepção, nem de qualquer forma sobrenatural, isso ocorreu no momento natural apropriado, da mesma forma que os filhos de Adão. Em nove meses cresceu para ser um ser humano completo, e nasceu como todos os outros filhos de Adão. Ele poderia ter nascido magicamente, mas se isso tivesse ocorrido ele não estaria neste mundo de forma natural”. (Encarnação de Cristo…, I 10).
“O Cristo não se tornou homem apenas no corpo (terrestre) da virgem Maria, como se Sua divindade ou essencialidade divina tivesse sido capturada, aprisionada ou permanecida ali. Assim como um pouco de Deus, que é a plenitude de todas as coisas, reside em apenas um lugar, pequeno foi o movimento de Deus, em uma pequena porção (a do Verbo); pois Ele não é diferenciado, mas em todo lugar é um e o todo, e onde quer que se torne manifesto ali é Ele manifestado como um todo. Nem Deus é mensurável, nem há lugar em que habite, a menos que Ele estabeleça para Si mesmo tal morada em uma de Suas criaturas; mas, mesmo assim Ele permanece um todo à parte e além de todo ser criado”. (Encarnação de Cristo…. I 8).
“Os piedosos se revestiram em Cristo antes de Sua encarnação, no pacto da promessa, não em substância, mas meramente em poder; não na carne, mas meramente no espírito”. (Cons. Stiefel…, II 442).
“Como nos afastamos da liberdade do mundo angélico e adentramos a tortura escura, o poder e o verbo da luz tornou-se homem, e nos conduziu para fora das trevas, através da morte no fogo para a liberdade da vida divina, na essencialidade divina. O Cristo tinha que morrer e penetrar a essencialidade divina através do inferno e através da cólera da natureza eterna, para abrir um caminho para a nossa alma através da morte e através da cólera, onde devemos entrar com Ele pela morte, na vida divina”. (Encarnação de Cristo…, I 3, 7).
“Quando os dois reinos, a cólera de Deus e o amor de Deus estavam lutando um contra o outro, o Cristo surgiu como herói. Desejando render-Se à cólera (ao sofrimento causado pelos princípios baixos despertados para a consciência em consequência do pecado), Ele a extinguiu com Seu amor. Ele veio de Deus para este mundo e tomou nossa alma para Si, a fim de poder nos tirar do estado terrestre para Si próprio e nos conduzir à Deus. Ele nos regenerou em Si próprio, para que fossemos capazes de viver novamente em Deus, e para que pudéssemos colocar nossa vontade Nele. Com Ele fomos conduzidos ao Pai, à nossa primeira morada, ou seja, ao Paraíso, o qual Adão havia deixado”. (Encarnação de Cristo…, I II 6).
“O Verbo tomou nossa própria carne e sangue na essencialidade divina, e quebrou o poder que nos mantinha aprisionado na cólera da morte e fúria. Ele quebrou aquele poder na Cruz, ou seja, no centro da natureza (a quarta forma natural, cujo símbolo é a Cruz), e inflamou novamente em nossa alma (que havia se tornado trevas) um fogo-luz branco e ardente”. (Encarnação de Cristo…, II 6 9 ).
“De fato, o Cristo assumiu a substância terrestre, mas em Sua morte, ou seja, como Ele superou a morte, o ser divino fez com que o estado terrestre desaparecesse tirando dele a sua supremacia. Não que o Cristo tenha colocado algo de lado (o que Ele não fez), mas aquele ser externo fora conquistado, e por assim dizer, consumido”. (Encarnação de Cristo… I 8 II).
“A verdadeira essencialidade em Cristo não afastou a consciência terrestre, mas a penetrou como senhor e conquistador. A verdadeira vida deveria ser a primeira a ser conduzida à morte e à cólera de Deus. Isso ocorreu na Cruz, ocasião em que a morte foi destruída e a cólera aprisionada e extinta pelo amor, consequentemente conquistada”. (Encarnação de Cristo…, IX 16).
“Quando a terra recebeu o sangue de Cristo, tremeu e chacoalhou, pois a cólera de Deus fora conquistada, e nela penetrou o sangue vivo, procedente do céu e da substancialidade de Deus”. (Encarnação de Cristo…, I 10).
“A pobre alma aprisionada, encerrada nas trevas da morte, é um fogo mágico faminto, que atrai da encarnação de Cristo, a substancialidade reaberta de Deus, e deste engolir ou nutrição, produz um corpo similar ao da Divindade. Assim, a pobre alma será revestida com um corpo de luz, comparável ao fogo de um pavio”. (Cartas, XI 21).
“Se uma pessoa está na ansiedade do inimigo, e a picada da morte e da raiva move-se dentro dele, tornando-o avarento, invejoso, raivoso e irritável, não se deve permanecer na essência maligna; é preciso parar, considerar e atrair (da fonte eterna) uma outra vontade, ou seja, a vontade de sair da malícia e penetrar na liberdade de Deus, onde há perpétuo repouso e paz. Se sua angústia provar da liberdade, então a tortura da angústia ficará terrificada, e neste terror de morte, será destruída; pois esse terror serve de grande satisfação e consiste num assassinar a vida de Deus. Por esse intermédio, o ramo de pérolas aparece, e o homem permanece numa alegria trêmula, mas também em grande perigo, pois a morte e a tortura da angústia são sua raiz; do mesmo modo, a angústia na natureza externa possui a qualidade que sai do demônio, ou seja, da angústia nasce grande vida. Da natureza, por exemplo, um belo ramo verde cresce, tendo, é claro, uma constituição, um odor e um estado diferente (de vida) daquele que o produziu” (Encarnação de Cristo…, XI 8).
“A pobre alma está tão cega que nem mesmo reconhece as pesadas correntes às quais está atada. Todo o mundo está cheio de armadilhas arrumadas pelo demônio, com o propósito de capturá-la. Se o homem exterior tivesse seus olhos (espirituais) abertos, ficaria aterrorizado. Tudo o que o homem vê ou toca, ali há uma armadilha do demônio, e se o Verbo do Senhor, tendo se tornado humano, não estivesse ocupando o meio, o demônio capturaria e devoraria todas as almas”. (Encarnação de Cristo…, XI 6).
“Enquanto o homem terrestre viver a alma estará em contínuo perigo, pois o demônio tem uma inimizade com ela, lançando seus raios com uma falsa imaginação no espírito das estrelas e dos elementos; ele alcança, assim o fogo-alma, e deseja envenená-la com um desejo terrestre e demoníaco. A nobre imagem deve, neste caso, (na consciência interna do homem) levantar-se em defesa; muita luta pela coroa dos anjos se faz necessária, e sempre surge ali, dentro do velho Adão, dúvidas e descrenças”. (Encarnação de Cristo…, XI. 6).
“Que ninguém pense que a árvore da fé Cristã possa ser vista ou conhecida no reino deste mundo. O homem externo não a reconhece, e mesmo que o Espírito Santo se manifestasse no espelho exterior, a vida externa tornar-se-ia satisfeita e tremeria de prazer, e pensaria ter recebido o convidado esperado; ela então acreditaria, ainda que não ocorra ali uma duração perfeita; o Espírito de Deus não permanece constantemente na mente terrestre. Ele quer ter um vaso limpo, e sempre que retorna a seu princípio — sendo este a verdadeira imagem — o ser externo torna-se duvidoso e cheio de medos”. (Encarnação de Cristo…, CXI 8).
“Há dois tipos de vontade a serem distinguidas na constituição do homem. Uma surge com o lírio e cresce no reino de Deus; a outra afunda nas trevas da morte e desejos pela terra, sendo ela sua mãe. Essa irá lutar contra o lírio, constantemente, e o lírio voa para longe de sua aspereza. Um broto cresce da terra, e assim a substância da qual é formada voa da terra e é atraída para a luz do sol até se tornar uma planta ou uma árvore. Então o Sol divino atrai o lírio humano, ou seja, o novo homem em seu poder, fora da substância do demônio, até que ele finalmente se torne uma árvore no reino de Deus. Ele deixa a árvore má ou a casca cair na terra, sua mãe que tanto busca, para deixar crescer a nova árvore”. (Encarnação de Cristo…, XI 8).
“Somos de natureza terrestre, mas também possuímos uma existência celeste dentro da terrestre. Durante nossa vida temporal, uma se mistura à outra, mas não atuam uma na outra; cada uma é meramente a habitação da outra, assim como no caso do ouro na pedra. A pedra não é o ouro, simplesmente seu veículo. A aspereza da pedra não é o que produz o ouro, o que é feito através da tintura do sol atuando ali”. (Encarnação de Cristo…, I 14).
“Sempre que Deus conduz seus filhos para a turbulência e a angústia, eles ali estão para produzirem um novo ramo na árvore da fé. Sempre que o Espírito de Deus aparece apresenta um novo crescimento, do qual a nobre imagem é extremamente satisfeita”. (Encarnação de Cristo…, CXI 8).
“Observe o que você é. Pó da terra; um corpo. Tua vida está sujeita às estrelas e aos elementos. São eles que te governam segundo suas qualidades, dotando-o de talentos e ciências; mas quando o tempo e constelação sob os quais foi concebido e nascifo chega ao fim, então eles irão te abandonar”. (Encarnação de Cristo…, XI 6).
“Se durante sua vida terrestre, não iluminastes tua alma e o espírito eterno dado a ti pelo bem supremo, na luz de Deus, a fim de que o espírito renasça naquela luz, na substancialidade divina, então a alma no Mysterium irá retornar ao centro da natureza, e penetrar na qualidade da angustia das quatro formas inferiores da natureza eterna. Ali ela estará na companhia de todos os demônios, e será obrigada a devorar aquilo que movimentou”. (Encarnação de Cristo…, XI 6).
“Aquele que ajuda o degradado abençoa a si próprio, pois ele deseja tudo de bom, e ora à Deus para abençoá-lo em corpo e alma. Assim seu desejo e benção retornam a quem doou no Mysterium, ele é por elas rodeado e seguido, como uma boa obra nascida em Deus. Esse é o tesouro que o homem leva com ele; seus tesouros terrestres ele terá que deixar para trás”. (Encarnação de Cristo…, CXI 4).