Paul Nothomb — O SEGUNDO RELATO
VIDE: RIOS DO PARAÍSO
Gen 2,10 Um rio sai de Éden para irrigar o jardim, e em saindo se dividirá e se tornará quatro «cabeças».
Gen 2,11 O nome do número um: Pishon, é ele que circula todo o país de Havila, onde se encontra o ouro.
Gen 2,12 O ouro deste país é belo; aí o bedélio e a pedra de ônix.
Gen 2,13 O nome do segundo rio: Guihon, é ele que cerca todo o país de Kush.
Gen 2,14 O nome do terceiro rio: Hidekel, é ele que corre a oriente de Assur, e o quarto rio (é) o Eufrates.
Depois das «árvores» eis o rio considerado irrigá-las e apenas elas, posto que não é feita menção de qualquer outra vegetação no jardim. Mas qual rio! Um primeiramente, em seguida múltiplo. Não se aumentando por afluentes mas se dividindo em quatro ramos, literalmente em quatro «cabeças», e não em fim de curso mas no início, fonte comum de dois rios «históricos» e de dois outros, que parecem bem fictícios e em todo caso muito afastados, quando se tenta identificá-los, do Crescente fértil dos primeiros (o Tigres e o Eufrates). Mas atenção! Não se tornará tal senão deixando o jardim, quer dizer o Exílio. À diferença de todos os verbos desta passagem que estão no «particípio»com valor de presente intemporal, os verbos que enunciam a metamorfose do rio, «se dividir» e «se tornar», estão no «inacabado» com valor de futuro. Como se os redatores do relato, correntes certamente do que aconteceu, queriam lhe fazer dizer de antemão, de maneira «profética». E situar assim o jardim, o Éden, em nos advertindo que nossa «realidade» histórica ou fictícia, proliferação e degradação da Realidade da origem, não nos permite aí retomar em imaginação, nos representá-la. Assim como não a mortalidade de nossa «sub-vida» não nos dá uma ideia da imortalidade, que simboliza a «Árvore de Vida».
E de onde sai este rio? Notemos que este aparente parêntese, que mobiliza quatro versículos sobre os quarenta cinco que conta o conjunto do relato, em geral muito condensado, retorna à construção não-narrativa do prólogo, e que em hebreu a palavra 'R(TS) (pronunciada «erets») aqui no sentido de país, aí figura três vezes depois de ter figurado três vezes com o sentido de «terra» no prólogo, enquanto ausente por toda parte que seja do relato. É dito que o rio sai de Éden, e se pensa que se trata de um país onde está situado o jardim, assim como é dito anteriormente que «Deus plantou um jardim em Éden». Mas em hebreu a preposição, traduzida por «em» a preposição B-, pode exprimir a situação nos espaço e no tempo, mas também o instrumento. E a preposição M-, indicando a proveniência (do rio saindo de Éden), não privilegia nenhuma direção. E se é questão do país de Kush e do país de Havila, a palavra 'R(TS) não qualifica em nenhuma parte Éden na «Bíblia das Origens». Concluo que o rio não sai de um país, que Éden preferencialmente a um país, designa o que substitui o solo (adama) no jardim, e que aí substitui mesmo a terra (erets). O rio sai do interior do jardim não do exterior, onde muda de «realidade».
LEO SCHAYA — CRIAÇÃO EM DEUS
Gen 2,10E um rio (de vida e luz divinas) saia (do Centro) do Éden, para irrigar (ou atualizar as possibilidades primordiais das manifestações ocultas em) o jardim (ou estado central da Manifestação universal de Deus. Mas este «rio» saia a princípio do Centro ou Ponto de partida mesmo do «Mundo da Emanação» transcendente de Deus); e daí, se dividia em quatro braços (quer dizer que a partir da Fonte suprema, o «fluxo» luminoso do Uno se multiplica em quatro irradiações que atualizam os «quatro mundos» da Toda-Realidade. E este processo universal se repete a partir do Centro divino de cada mundo; assim do Centro do Éden terrestre sai então o único «rio» do Uno, a saber seu Espírito uno, veiculado pela manifestação una do «Éter»: este único «rio» se subdivide em seguida em todos os quaternários fundamentais do paraíso terrestre, a começar pelos «quatro ventos» ou «espíritos», que são eles mesmos as essências espirituais dos quatro elementos etéreos, dos quatro pontos cardeais, assim como dos «quatro metais» fundamentais: o ouro, a prata, o cobre e o ferro.
Gen 2,11-14 O nome do primeiro (braço, — o «nome do primeiro», shem ha-ehad, podendo ser traduzido também por «o nome do Uno») é Pishon; é ele que cerca todo o país de Havilah (símbolo do Mundo do Uno ou de sua «Emanação» transcendente) onde se encontra o ouro (a Luz divina). E o ouro deste país é bom (é o «ouro» ou a Luz de Kether elyon, da «Coroa suprema» ou do Bem supremo); a;i (também) se encontram o bedélio e a pedra de ônix (símbolos das manifestações de Hokhmah e de Binah). E o nome do segundo rio é Guihon; é aquele que cerca toda a terra de Coush (símbolo do «Mundo da Criação» prototípico no seio da Imanência divina). E o nome do terceiro rio é Hiddeqel; é aquele que flui a oriente de Ashur (símbolo do «Mundo da Formação» celeste). E o quarto rio, é o Eufrates (que, simbolicamente falando, alimenta o «Mundo do Fato» terrestre, a partir de seu Centro espiritual, o Éden de baixo)».