Gênesis – Dia 2 (Gn 1,6-8)

Bíblia das Origens – Dia 2: Gen 1,6; Gen 1,7; Gen 1,8

Emmanuel

71. Nas águas se inserem a extensão, no segundo dia. A divisão das águas, como aquela da luz e das trevas, é uma configuração da criação que evolui. Evolução supõe alternância.

74. O texto sobre o segundo dia, o único dos seis, não tem: Deus viu que isto era bom. É explicado que a obra das águas não estava terminada posto que ela devi se prosseguir no dia seguinte pelo recuo das águas e aparição da terra firme. Uma obra inacabada não poderia ser boa.
Mas ao terceiro dia a fórmula é pronunciada duas vezes: uma vez para o fim da obra das águas, uma outra vez para a obra das plantas.

76. O segundo dia é aquele da extensão: é o sentido da separação das águas das águas pela introdução da extensão que se tornará céu no universo líquido acima do qual o espírito de Deus se movia antes da criação da duração no primeiro dia.

78. Deus traça a separação entre a luz e a obscuridade no primeiro dia, entre a água e a água no segundo. Mas no terceiro não faz nenhuma separação; simplesmente ordena que as águas se reúnam em um único lugar para que o seco possa aparecer. [Pour commenter la genèse]


Leo Schaya

O “segundo dia”, embora caracterizado por uma separação, é dominado pelo WAYOMER ELOHIM (“E Deus disse”), quer dizer, pelas mesmas palavras que se repetem 9 vezes no primeiro capítulo do Gênesis, e afirmam o Verbo do Uno. Sob a aparente descontinuidade de uma separação, sempre se afirma a Continuidade subjacente, imanente, onipresente, que torna impossível qualquer descontinuidade absoluta, qualquer “nada”. Esta “separação” (hawdalah, nada mais é que uma distinção ou determinação puramente cognitiva, no sei da Determinação própria e universal do Uno; eis porque, inversamente o Uno se encontra oculto no seio — ou “no meio” (betokh) — de toda descontinuidade e de toda coisa determinada. No segundo dia, isto se dá como em modo arquetípico ao primeiro; dizemos arquetípico por que no primeiro dia a “distinção” ente “luz e trevas” está completamente eclipsada pela Continuidade luminosa do Uno, enquanto que no segundo dia esta distinção se atualiza plenamente pela separação efetiva das “águas inferiores” ou criadas das “águas superiores” ou incriadas: aí, a Unidade não eclipsa mas a dualidade, mas se oculta “no meio” dela.

O que é o “firmamento” (raqyia)? Derivado do verbo raqa que significa estender e aplainar, trata-se de uma “extensão aplainada”, situada “no meio das águas” ou possibilidades universais; e sua atualização significa sua criação implicando aquela de todas as possibilidades cósmicas. Diferentemente do primeiro dia, aqui Deus “fez” o firmamento, enquanto naquele Deus sendo luz, “a luz foi”; ela já foi eternamente no estado incriado, e no primeiro dia em modo arquetípico imanente. acima “extensão aplainada” sendo criada, se distingue da Luz divina do primeiro dia e da multiplicidade essencialmente una dos arquétipos imanentes que ela implica e que pertencem às “águas superiores”. É esta distinção que as “separa” das “águas inferiores”, embora estas permaneçam intrinsecamente não separadas, pois as primeiras sua suas essências mesas, aspectos da Imanência do único Real, da Continuidade do Uno no seio de toda descontinuidade e de toda coisa distinta. Assim a Escritura não diz que pelo firmamento as águas superiores estavam separadas das águas inferiores, mas inversamente: “e separou as águas que são abaixo do firmamento das águas que são acima do firmamento”. Ele não as separou, senão de maneira extrínseca pois intrinsecamente, essencialmente, as duas não fazem senão um. [SchayaCD:328-329]