Bem-aventurados os mansos

Sermão da MontanhaBem-aventuranças

Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra. (Mt 5,5)


!
Jerônimo: Obras de San Jerónimo, II, Comentario a Mateo y otros escritos, Biblioteca de Autores Cristianos (BAC), Madrid, 2002, 769 p., edición bilingüe promovida por la Orden de San Jerónimo, introducciones, traducción y notas de Virgílio Bejarano. Contribuição e tradução de Antonio Carneiro

Beati mites quoniam ipsi possidebunt terram. (Mt 5, 4)

Contribuição e tradução de Antonio Carneiro de “Comentário à Mateus”, Livro I (1,1 — 10,42) — página 45

Capítulo 5

Bem-aventurados os mansos porque eles possuirão a terra (5, 4). Não a terra de Judeia nem a terra deste mundo; não a terra maldita que produz espinheiro e estrepe que se dirigem para si, a que mais possui ambos mais do que crudelíssimo e belicoso, mas sim a terra que o salmista deseja: “creio ver os bens de Deus na terra dos viventes” (Sal 23, 13). O possuidor de tal natureza, e triunfador após a vitória é descrito no quadragésimo quarto salmo: “E prepara e avança próspero e reina ao lado da verdade e da mansidão e da justiça” (Sal 44, 5). Pois esta terra daqui ninguém a possui mediante a mansidão, mas sim por meio da soberba.

Agostinho de Hipona: SERMÃO DA MONTANHA
II. 4. Bienaventurados los mansos, porque ellos serán herederos de la tierra. Esta tierra opino que es aquella de que habla el Salmo, donde dice: Tú eres mi esperanza, mi porción en la tierra de los vivientes. Danos esto a entender que se trata de la firme estabilidad de la herencia eterna, donde el alma, como en su propio lugar, descansará con santo amor, lo mismo que el cuerpo descansará en la tierra, y donde ella encuentra su alimento, como el cuerpo en la tierra; esa herencia es el descanso y la vida de los santos. Los hombres mansos son aquellos que ceden ante los atropellos de que son víctimas y no hacen resistencia a la ofensa, sino que vencen el mal con el bien. Riñan, pues, los carnales e iracundos y peleen por los bienes terrenos y temporales, mas bienaventurados tos mansos, porque ellos poseerán la tierra, de la que no podrán ser desposeídos.


Roberto Pla: Evangelho de ToméLogion 54
A quem convoca a segunda terceira bem-aventurança de Mateus não é aos ricos senão aos filhos de adão que depois de submergir-se nas águas psíquicas do batismo de conversão descobrem em sua consciência limpa, purificada, a presença (parousia) do morador de acima. Quando isto ocorre, o filho de adão (a alma), já não se distingue por ser rico, pois enamorado da luz que contempla, e que para ele tem a significação de um segundo nascimento, vem em ser manso, humilde, desvalido, pronto à voz do espírito que o chama à bodas messiânicas, e que significam para ele a bem-aventurança em seu sentido profundo de ser partícipe da salvação comum no Reino dos Céus.

O sentido geral da humildade (ou mansidão) testamentária é o de quem a partir da terra, pois nela e em sua vida mortal está sua origem, se alça, por usa submissão completa a um poder superior de vida eterna. Estes são os humildes messiânicos acerca dos quais há abundantes exemplos nas Escrituras: “Buscai a YHWH vós todos, humildes da terra” (Sofonias 2,3) — estes humildes (hb. anavim) são os submissos à vontade divina.

Este sentido que ora estudamos nas bem-aventuranças, a do pobre celestial (Pobres de Espírito) e a do manso que se ergue sobre a terra, o vemos no texto do hino que inicia o Hal-lel (Salmo 113, com o que se inicia o Hel-lel) e do qual se supõe que em cumprimento da tradição cantaram Jesus e seus discípulos depois da ceia pascal. Ali se diz, não sem certa metáfora poética, que o desvalido (o manso, o humilde), levantado do (alçado do do solo do Éden tomado para sua plasmação), e o pobre ao qual faz surgir do estrume (do mundo no qual jaz cativo), são um só e o mesmo: o eleito, o qual devido às bodas messiânicas que unificam é chamado a sentar-se com os príncipes, isto é, à direita de Deus em seu trono.

Isso mesmo o vem a dizer o profeta Sofonias com uma linguagem distinta: “Eu deixarei em meio de ti (em ti mesmo, em teu Eu), um povo humilde e pobre (o eleito, humilde e pobre ao mesmo tempo); em nome de YHWH se cobiçará o Resto de israel (So 3,12-13). O “Resto”, já se disse, são todos aqueles conteúdos da alma salvos no eleito, porquanto foram julgados dignos, depois da prova de outro, de “pastar nos pastos do Senhor”.
*Isaías 14, 30, onde se diz: “Os débeis pastarão em seus pastos e o pobres em segurança se acomodarão”.