CONVENTOS FEMININOS — BEGUINAS
Excertos da Tese de Doutorado de Sílvia Schwartz, “A BÉGUINE E AL-SHAYKH: Um estudo comparativo da aniquilação mística em Marguerite Porete e Ibn’ArabÄ«”
O movimento das béguines nunca representou uma forma de vida religiosa planejada.
Foi principalmente um fenômeno de uma sociedade urbana em expansão, resultado do
movimento religioso das mulheres à medida que elas não encontravam aceitação nas ordens religiosas existentes. Esse movimento constituiu uma forma transicional entre as ordens eclesiásticas da época, pois, embora não pertencessem à comunidade monástica dos religiosos, já que não eram uma ordem aprovada, também não pertenciam ao mundo laico. Elas se organizavam de forma semi-secular e semi-religiosa e não seguiam nenhuma regra comum, embora seguissem uma vida apostólica.
Num primeiro momento, o movimento se constituiu de mulheres que viviam vagando pelas cidades, levando uma vida estritamente religiosa, mas permanecendo no mundo secular. Era um movimento espontâneo, sem fundador ou legislador, e essas mulheres eram conhecidas simplesmente como mulheres santas (mulieres sanctae).1 Como elas não seguiam nenhuma regra autorizada, os detalhes de suas vidas variavam consideravelmente de acordo com o lugar onde viviam, algumas com suas famílias, outras em grupos pequenos ou mais amplos. Somente no início do século XIII muitas dessas mulheres santas começaram a se organizar em congregações centradas na disciplina individual e em tarefas comuns, os béguinages, geralmente ligados às ordens mendicantes. Lá elas se organizavam sob a direção de uma mestra, levando uma vida de austeridade, caridade e de atividades dentro e fora dos muros da casa comunal, cuidando de doentes e se sustentando por meio de todo tipo de trabalhos manuais. Contudo, os béguinages não só variaram ao longo do tempo, mas eram diferentes em diferentes lugares. O fato de haver uma regra para um béguinage em Estrasburgo, por exemplo, não dá informações sobre o modo como as béguines viviam na Antuérpia ou em Magdeburg.
O movimento se originou em grupos de mulheres dos Países Baixos e da Alemanha, se
espalhando de Flandres à Alemanha, ao vale do Reno e ao nordeste da França. A maioria das béguines eram mulheres de origem nobre ou de classe média que haviam renunciado aos bens e prazeres do mundo, ao casamento e à família para levar uma vida de humildade, pobreza e castidade, ainda que não fossem recebidas como freiras em alguma ordem, mas gradualmente os béguinages se tornaram um lugar de refúgio para as mulheres pobres. De qualquer forma, enquanto muitas se organizavam dessa maneira, outro grupo permanecia vagando de um lugar a outro, mendigando e pedindo o seu pão em Nome de Deus (Brot für Gott).2 Estas angariaram má reputação e suscitaram reclamações, pois vagavam sem nenhuma restrição, preferindo esmolas ao trabalho.
Gradualmente, os béguinages se tornaram mais estabelecidos, e, embora uma béguine fosse livre para deixar a comunidade a qualquer momento, não poderia levar consigo as propriedades que havia trazido. Em geral, os béguinages se estabeleciam próximos a igrejas ou casas religiosas. As béguines eram particularmente ligadas aos cistercienses e, pouco depois, às ordens mendicantes dos franciscanos e dominicanos. Os membros dessas três ordens, principalmente os dominicanos, assumiram as obrigações pastorais e a orientação espiritual das béguines, ouvindo confissões, pregando para elas, conversando e trocando cartas com elas e angariando doações que lhes repassavam, o que acabou por gerar atritos com os clérigos paroquiais.
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