Bazan Gálatas

Francisco García Bazán — Gnosis
Epístola aos Gálatas
Combate certa mentalidade judaico-cristã; a começar por aqueles que abandonaram o Evangelho de Cristo. São eles “os intrusos”, “os falsos irmãos que se infiltraram solapadamente para espiar a liberdade que temos em Cristo Jesus … a quem cedemos … a fim de salvaguardar para vós a verdade do Evangelho”, confissão que se move em um claro contexto polêmico, o do Concílio de Jerusalém segundo se desenvolve em 2, 1-10. E porque a orientação combatida é a de certas tendências estreitas judeu-cristãs esclarece São Paulo que foi chamado “para que o (= o Evangelho) anunciasse entre os gentios”; se faz presente, que inclusive sendo ele firmemente judeu de nascimento, a Lei não justifica, senão Cristo Jesus, que a Lei nem toca à promessa que vai desde Abraão a Cristo, quando passando por sobre ela e que por isso o que foi puro meio de instrução cumpriu sua função ao chegar seu Fim e que nele que é Cristo, se resolvem todas antinomias. Mas ao igual que no caso anterior encontramos nesta Epístola notas claramente proto-gnósticas.

Fala na entrada da epístola de “Este mundo perverso…” : Gal 1:4 o qual se deu a si mesmo por nossos pecados, para nos livrar do presente século mau, segundo a vontade de nosso Deus e Pai,
*Apócrifo de João: “Ele (Ialdabaoth criou para si um eão, que flameja com fogo brilhante, no qual agora reside” (ver Barbelognósticos e Basilides); jaz debaixo o conceito gnóstico de demiurgo e de mundo mau, com sentido ontológico, não meramente físico, já que o primeiro inclui também o moral.

Participação intensa e destacada na revelação: Gal 1:15 Mas, quando aprouve a Deus, que desde o ventre de minha mãe me separou, e me chamou pela sua graça,

Paralelo gnóstico: Pois eu pela lei morri para a lei, a fim de viver para Deus. Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé no filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim. (Gal 2:19-20)
*Em outras palavras e contexto os mostra admiravelmente o Clemente Excertos Teodoto: “Por isto o Senhor desceu para aportar a paz, da do céu, aos que estão sobre a terra … Por isto um astro estranho e novo se levantou, destruindo a antiga ordem dos astros … e trazendo novos caminhos de salvação, como o realizou o Senhor mesmo, guia dos homens, o que desceu à terra para transferir da fatalidade a sua Providência ao que creram em Cristo”.
*Ptolomeu, Carta a Flora: “A legislação pura … A Lei no sentido próprio da palavra, que o Salvador não veio abolir, senão cumprir”.

À contraposição de mundos implícita em 1,4, se agrega a oposição entre espírito e carne:
*Gal 3:3 Sois vós tão insensatos? tendo começado pelo Espírito, é pela carne que agora acabareis?
*Gal 5:16 Digo, porém: Andai pelo Espírito, e não haveis de cumprir a cobiça da carne.

Não só a promessa desde Abraão passa a Cristo, que é seu continuador direto e a lei se mostra como um interregno para as transgressões, senão que esta subentendida oposição entre o AT e o NT: se robustece ao se dizer com uma tradição judia e apocalíptica que a lei foi promulgada pelos anjos e que Moisés foi seu mediador (3,15ss).
*Esta doutrina da mediação dos anjos na transmissão do AT era notável na época intertestamentária. No NT Clemente de Alexandria e Hilário de Poitiers serão ecos desta noção. Mestres gnósticos da primeira hora segundo Irineu de Lião, Menando e Saturnino ensinavam além do mais que o próprio mundo era obra dos anjos ( último afirmava que também o homem)).
Os cristãos formam uma unidade com Cristo, este os faz partícipes da promessa e assim superam as antinomias que estão sob Ele e são livres.
*Gal 3:23 Mas, antes que viesse a fé, estávamos guardados debaixo da lei, encerrados para aquela fé que se havia de revelar.
*Gal 5:1 Para a liberdade Cristo nos libertou; permanecei, pois, firmes e não vos dobreis novamente a um jogo de escravidão.

Submissão aos “elementos do mundo” (stoicheia tou kosmou), aqui a simples vista, primeiro, a lei, mas depois, deuses (= elementos sem força e sem valor) que se vinculam ao culto segundo um calendário de dias, meses, estações e anos (v. Tempo).
*Assim também nós, quando éramos meninos, estávamos reduzidos à servidão debaixo dos rudimentos do mundo; mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido debaixo de lei, para resgatar os que estavam debaixo de lei, a fim de recebermos a adoção de filhos. (Gal 4:3-5)

Conhecimento de Deus procede da graça divina
*Outrora, quando não conhecíeis a Deus, servíeis aos que por natureza não são deuses; agora, porém, que já conheceis a Deus, ou, melhor, sendo conhecidos por Deus, como tornais outra vez a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir? (Gal 4:8-9)

Se nomeia aos espirituais (hoi pneumatikoi), que podem ser tentados, mas são superiores aos que faltam. E no epílogo diz Paulo que o mundo está crucificado para ele e ele para o mundo.
*Gal 6:1 Irmãos, se um homem chegar a ser surpreendido em algum delito, vós que sois espirituais corrigi o tal com espírito de mansidão; e olha por ti mesmo, para que também tu não sejas tentado.
*Gal 6:14 Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo.

Resumo:
Nesta epístola García Bazán percebe um claro aumento do clima gnóstico, é provável que como resposta a tendências judaizantes no teológico e institucional mais superficiais. A ressurreição de Cristo, pedra de toque dos outros escritos, é meramente mencionada.