Barsanufio e João — Seleção de Jean Gouillard
Pergunta: Meu pai, poderíeis dizer-me como se adquire a humildade ou a oração perfeita? Como proceder para não ter nenhuma distração? É útil ler?
Resposta: A oração perfeita consiste em falar a Deus sem distração, recolhendo simultaneamente todos os pensamentos e todos os sentidos. Consegue-se isso, morrendo para todos os homens, para o mundo e para tudo o que ele contém. Na oração, nada mais tendes que dizer a Deus, além disto: “Salvai-me do maligno! Que vossa vontade se cumpra em mim!” Mantende vosso espírito presente em Deus, falando com ele. A oração se reconhece nisto: o homem libertado de toda distração e o espírito pleno de alegria, sob a iluminação do Senhor. O sinal de que o espírito alcançou esse estado, é que ele não se perturba mais, mesmo que o mundo inteiro nos venha atacar. Ora com perfeição aquele que está morto para o mundo e para suas comodidades. Fazer cuidadosamente sua obra para Deus não é distração; é zelo em conformidade com Deus. É proveitoso ler a Vida dos Padres: é um meio de iluminar o espírito no Senhor ( n. 79 ).
Pergunta: Contra os pensamentos, é preciso usar a contradição, as palavras imprecatórias, a ira?
Resposta: As paixões são sofrimentos e Deus não quis bani-los, mas disse: “invoca-me no dia da tribulação”… Não há, pois, outro meio de vencer qualquer paixão, a não ser invocar o nome de Deus. A contradição só serve para os perfeitos, os poderosos conforme Deus; nós, os imperfeitos, só temos um recurso: refugiarmo-nos na oração, no nome de Jesus. Pois as paixões são demônios que saem em seu nome ‘.
Pergunta: O que é melhor: entregar-me ao “Senhor Jesus Cristo, tende piedade de mim” eu recitar passagens das Santas Escrituras e salmodiar?
Resposta: As duas coisas são necessárias: um pouco de uma, um pouco de outra, pois está escrito: “Importava praticar estas coisas, mas sem omitir aquelas” ( Mt 23,23 ) ( n? 125 ).
Pergunta: Quando os pensamentos me pesam, tanto na salmodia quanto fora dela, chamo em meu socorre o nome de Deus; o Adversário sugere-me que estou sendo orgulhoso em pensar que faço bem, mencionando Deus continuamente. Que devo pensar?
Resposta: É fato conhecido terem os doentes necessidade absoluta de médico… Aprendamos, pois, que se deve, na provação, invocar sem interrupção o Deus de misericórdia. Mas, invocando o nome de Deus, não nos deixemos levar pelos pensamentos de orgulho. A menos que o culpado seja insensato, não vai sentir orgulho. Temos necessidade de Deus: chamamos seu nome para que nos socorra contra nossos inimigos. Se temos necessidade, nós o chamamos para que nos ajude; se sofremos uma provação, corremos para que nos abrigue. Aprendamos ainda que chamar Deus incessantemente, é um remédio que não apenas aniquila toda paixão, mas também o próprio ato. Vede o médico: ele aplica um remédio ou um cataplasma sobre a ferida do paciente; produz-se o efeito, sem que o doente tome consciência de como isso ocorreu. De modo semelhante, o nome de Deus, pronunciado, anula todas as nossas paixões, sem mesmo percebermos como ( n. 421 ).
Pergunta: Quando a minha razão parece estar em repouso e livre de qualquer preocupação, não é bem, mesmo assim, entregar-me à invocação do nome de Cristo, Nosso Senhor? Minha razão sugere-me que, desde que estejamos em paz, isso não é necessário.
Resposta: Não podemos conhecer tal paz, enquanto nes considerarmos pecadores. O Senhor disse: “Não há paz para os pecadores”. Se não há paz para os pecadores, o que é, pois, essa paz? Acatemos o que está escrito: “Quando as pessoas disserem: paz e segurança, então lhes sobrevirá repentina destruição, como as dores sobre a mulher grávida; e não poderão escapar” ( 1Ts 5,3 ). Acontece que nossos inimigos, por astúcia, preparam uma breve tranqüilidade em nosso coração, para impedi-lo de invocar o nome de Deus. Eles bem sabem que essa invocação os paralisa. Estamos avisados: chamemos, sem cessar, o Nome de Deus em nosso socorro. Isso é a oração. E está escrito: “Orai sem cessar” ( 1Ts 5,17 ) ( n? 322 ).