O “Livro Bahir” (bahir quer dizer “luminoso”) foi traduzido por Scholem para o alemão; outro serviço por ele prestado, já que é um livro incoerente e cuja mistura de hebraico erudito e aramaico vernáculo torna-o difícil mesmo para especialistas. Ainda que fragmentário, o Bahir é um livro de algum valor literário e verdadeiramente inaugura o estilo cabalístico marcado pela parábola e pelo uso da linguagem figurada. Sua mais importante representação é certamente a das Sefirót, os atributos de Deus que emanam de um centro infinito em direção a todas as circunferências finitas possíveis. Se no Séfer Yetziráh as Sefirót eram apenas os dez números primordiais, uma noção neopitagórica, no Bahir elas são princípios e poderes divinos, e também luzes celestes, que participam na obra da criação. Mas isto ainda não era mais do que um passo em direção à verdadeira emergência da Cabala, que ocorreu no século XIII, no sul da França e seguiu em frente, atravessando fronteiras, até se estabelecer entre os judeus da Espanha, processo este que culminou com a obra-prima ou “Bíblia da Cabala”, o Séfer ha-Zohar. (Harold Bloom, Cabala e Crítica)