Ave Maria [ASIEC]

A oração Ave Maria contém como duas joias incrustadas os nomes de Jesus e de Maria. A este respeito, note-se que estes dois nomes não figuravam na saudação do Anjo a Maria e que foram adicionados pela Igreja.

A utilização da Ave Maria enquanto “oração espiritual” aparece como o meio suscetível de criar na alma esta “receptividade” à Graça que é a aplicação ao microcosmo humano do Fiat Luz cosmogônico do Gênesis vindo “organizar o caos”, ou do mistério da Encarnação, do Verbo, Luz do Mundo, descendo no seio virginal de Maria para aí engendrar Cristo. Segundo a primeira perspectiva, a alma humana, em seu estado de queda ou de “separatividade”, é um “caos” caracterizado pelo endurecimento, torpor, distração, preguiça, etc. tudo isso sendo contrário às “virtudes espirituais” de pureza, de bondade, de humildade da Substância primordial.

Segundo a segunda perspectiva, a alma humana deve se identificar ao “seio virginal” de Maria para se tornar o “lugar” da geração do Verbo. Segundo Mestre Eckhart — e segundo a concepção trinitária da Divindade — a Vontade do Pai é de engendrar eternamente o Filho, e não tem outra vontade. Este “nascimento eterno” do Filhos se produz então fora do tempo e do espaço neste “lugar” que é a Virgem: é a mesma geração do Filho que se produz em Maria pela operação do Espírito Santo no mistério da Encarnação que é ao mesmo tempo temporal e intemporal. É ainda a mesma geração do Filhos que deve se produzir na Igreja — e em cada alma — e aí também no tempo e fora do tempo. É consequentemente na medida em que a alma se identifica à Virgem que se realiza nela o mistério da Encarnação; é preciso portanto que a alma se torne intemporal.

A recitação das palavras da Ave Maria produz e realiza na alma as “qualidades” da Substância primordial e o “conteúdo” do mistério da Encarnação:

AVE MARIA — saudando Maria, a alma reconhece a misteriosa Beleza da Substância primordial e de suas diversas “qualidades”, quer dizer que ela se identifica misteriosamente àquilo que jamais cessou de ser eternamente em Deus, se não é pela “ilusão separativa” da “queda”.

GRATIA PLENA — A Substância primordial só deve suas “qualidades” a esta “graça” que faz dela a Imaculada Concepção.

DOMINUS TECUM — O Verbo está constantemente em comunicação com a Substância que, sem ele, não teria qualquer realidade.

BENEDICTA TU IN MURIELIBUS — Entre todas as substâncias “microcósmicas”, a Substância universal é dita boa, bela, etc.

ET BENEDICTUS FRUCTUS VENTRIS TUI, JESUS — Jesus que é a Bendição e que, segundo as aparências, nasce da Virgem, é dito “ser bendito”; na realidade, no entanto, não é o Verbo Eterno que nasce da Substância, mas é esta e com ela todas as substâncias “separadas” que morrem no Verbo e que ressuscitam nele: é o mistério da Assunção de Maria.