O que é próprio da Vida enquanto autorrevelação é, portanto, o fato de ela própria se revelar a si mesma. Essa aparente tautologia implica duas significações que vale dissociar aqui uma primeira vez. Autorrevelação, quando se trata da essência da Vida, quer dizer, por um lado, que é a Vida que cumpre a revelação, que revela. Mas também, por outro lado, que o que ela revela é ela mesma. E é aqui que a maneira de revelação própria da Vida difere essencialmente da do mundo. Pois também o mundo revela, torna manifesto, mas no “lá fora”, lançando, como vimos, cada coisa para fora de si, de modo que ela jamais se mostra como outra, diferente, exterior, nesse meio de exterioridade radical que é o “fora de si” do mundo. Duplamente exterior, portanto. Exterior ao poder que a torna manifesta – e é aqui que intervém a oposição entre a VERDADE e o que ela torna verdadeiro. Exterior a si mesma, por outro lado – ela, que só se mostra em sua própria exterioridade a si, esvaziada de sua própria substância, irreal, dessa irrealidade que lhe vem de seu próprio modo de aparecimento, da verdade do mundo. Se pois a Vida se autorrevela não só no sentido de que ela cumpre a revelação, mas porque é a si [47] mesma que ela revela em tal revelação, então ela só é possível porque o modo de revelação que é o seu ignora o mundo e seu “lá fora”. Viver não é possível no mundo. Viver só é possível fora do mundo, ali onde reina outra VERDADE, outro modo de revelar. Este modo de revelar é o da Vida. A Vida não lança para fora o que ela revela: ela o tem em si e o retém num estreitamento tão estreito, que o que ela retém e revela é ela mesma. Ora, é tão somente por ter o que ela revela neste estreitamento que nada poderia romper que ela é e pode ser a vida. A Vida se estreita, se experiencia sem distância, sem diferença. Apenas com essa condição ela pode experienciar-se a si mesma, ser ela mesma o que ela experiencia – ser ela mesma, por conseguinte, o que experiencia e o que é experienciado. MHSV: II
Autorrevelação da Vida [MHSV]
- “O olho que Deus me vê é o olho que O vejo” [MEHT:126-127]
- « N’éteignez pas l’esprit »
- «Apathie» et connaissance
- A base do platonismo
- A Caridade Profanada [JBCP]
- A confusão do psíquico e do espiritual [JBCP]
- A Consciência de Existir [PNHI]
- A Criação em Deus [LSCD]
- A cura do filho lunático (Mt 17,14-21)
- A esperança cristã da imortalidade na eternidade [VPRJ]