Arola Templo

RAIMÓN AROLA — TEMPLO

O Templo Interior
“É a igreja do interior, imortal e pura pela união dos santos em Deus, que devemos honrar em nossos corações, não a igreja do exterior, temporal e maculada pelos homens, que devemos idolatrar no mundo.” (Louis Cattiaux)

Ao especificarmos o aspecto do templo sobre o qual nos propomos escrever — o Templo Interior — desvendamos a maioria de sentidos que este ensaio contém. Em muitos casos, o templo interior é o mesmo que o interior do templo, isto é, seu mais essencial, mais central conteúdo, a medula dos ossos, a fonte originária de todos os seus significados, aquilo que, afinal, deve ser buscado para chegar-se a conhecer realmente qualquer templo, já que estes nada mais seriam além do envoltório, da casca do fruto interior.

O templo interior também nos indica um templo sutil e, a partir dele, toda uma geografia do mundo sutil. Isto quer dizer que o templo interior é algo coexistindo com os templos formados, exteriores, mas sem pertencer à mesma realidade. O templo interior ou sutil situa-se na esfera de Outra-Realidade, a qual é velada a nossos olhos; neste sentido, o templo interior é como um tesouro escondido, que temos de procurar e pedir para poder vê-lo e saboreá-lo. Aqui, surge um terceiro sentido introdutório do templo interior: o templo que está dentro de nosso corpo, posto que somente através da experiência encarnada de cada um de nós, poderemos desvendar e descobrir este templo construído na esfera da realidade sutil, este tesouro escondido.

O templo interior é muito misterioso e secreto, esplendoroso e brilhante, construído diretamente pela mão de Deus. Feliz daquele que consegue descobri-lo e infeliz daquele que não faz todo o possível para alcançá-lo. Nós suplicamos para vê-lo e habitar suas cálidas, maravilhosas moradas.

O templo interior constitui um dos mais completos simbolismos da união do céu e da terra, isto indicando que o templo interior surge, manifesta-se, quando o Acima e o Abaixo se juntam indissoluvelmente. Deste templo da União nos falam as Sagradas Escrituras, única fonte a que podemos dirigir-nos para buscar os significados das formas e diferentes partes de nosso templo. Em outras palavras, o templo interior é aquele de que falam os textos sagrados, explicando as visões dos profetas que as desvendaram.

Quando tentamos, nesses textos, aprender o real significado do templo interior, percebemos ser inútil e supérfluo querer saber o significado estrito do templo. Então, nos damos conta de que o significado do templo se estende, até unir-se com outros inúmeros significantes que descrevem um só significado. O templo é o envoltório, a forma de uma essência que não é exclusiva dele; se quisermos encontrar algo que dele seja particular, estaremos, sem dúvida, referindo-nos ao envoltório, ao superficial. Antes de procurarmos o significado do templo interior em nossas fontes tradicionais, talvez seja necessário verificar apenas o que dizem as escrituras tradicionais pois, a partir delas, saberemos também qual o real sentido do templo interior.


Há, portanto, três aspectos do templo: o templo primeiro e arquetípico, o templo destruído e o templo reconstruído. Como diz o Midrash ha Gadol, referindo-se ao sonho de Jacó, em que ele vê a porta do céu: ” ‘Quão terrível é este lugar!’ (Gênesis, 28-17), para indicar que o Santo Bendito Seja o fez ver o templo construído, devastado e reconstruído.” Esta dialética em que o templo está mergulhado, é o nosso ponto de partida para refletir a respeito de seu conteúdo simbólico: o templo interior.

Ao ler profundamente a Torah, encontramos uma multidão, uma infinidade destes mesmos exemplos. Tais relações nos levam a entrever fugazmente o autêntico conteúdo simbólico do templo, este sendo o próprio simbolismo do homem, ou do Jardim, ou das Escrituras, etc. O templo interior reúne os diferentes símbolos, a fim de apresentar-nos o mesmo e autêntico arquétipo, que é a unidade de todos os diversos e está nessa unidade.

O templo interior eleva-se no alto da escada que une o Céu e a Terra, como o edifício da Sabedoria, representado em uma ilustração de R. Llull. Podemos ver sete degraus reunindo, em um “continuum”, as pedras, as chamas, os vegetais, os animais, os homens, o céu e os anjos, até o oitavo degrau, onde está Deus, e que, pelo umbral iluminado por um raio de sol, introduz-nos ao templo da Sabedoria do Senhor. À esquerda da escada, com um pé no primeiro degrau, um homem reproduz os diferentes níveis em sua figura.

Esse homem, e todos nós, por extensão, é um buscador que com frequência ignora-se como tal — do templo interior ou do templo do futuro, já que vivemos no exílio. Este templo é, sem dúvida, o Reino de Deus. Diz o Evangelho segundo Tomé: “Jesus disse: Se aqueles que vos guiam disserem: Vede, o Reino está no Céu, então os pássaros do céu vos superarão; se vos disserem que está no mar, então os peixes vos superarão. Contudo, o Reino está em vosso interior e fora de vós. Quando o conhecerdes, então sereis conhecidos e sabereis que sois os filhos do Pai que está vivo.”

Equivale a dizer que nós próprios somos o templo construído, o templo devastado e o templo reconstruído, que o verdadeiro problema do simbolismo do templo consiste em conhecermos a nós mesmos, em descobrirmos nossa parte divina ou, em outras palavras, em retornarmos ao princípio antes da queda, esta sendo a sombra, a pele que oculta nossa real identidade e, logicamente, nosso templo interior.

Escreve Karl von Eckartshausen: “Antes da queda, o homem era o templo vivo da divindade. A partir do momento em que esse templo foi devastado, a sabedoria de Deus projetou o plano para reconstruí-lo e, nessa época, começam os santos mistérios de todas as religiões que, segundo mil motivos diferentes, segundo o tempo, as circunstâncias e maneira de conceber das nações, em si mesmos são apenas as imagens repetidas e modificadas de uma verdade única, esta verdade sendo a regeneração, a reunião do homem com Deus.”

O templo interior é o verdadeiro e real conhecimento da Ciência de Deus, do plano de reconstrução, refletidos nas formas de todos os templos construídos sobre a terra. A Ciência de Deus, que Ele dá a quem deseja, e que não se pode entender de outra maneira, é uma experiência pessoal, algo muito ligado à experiência de viver; o templo autêntico da divindade não pode consistir de um conhecimento impessoal, precisa consistir de uma realidade encarnada, como a realidade do homem que está vivendo.

O templo interior é a experiência da Vida.


Templo de Salomão
Sonho de Jacó