Philippe Faure: Excertos de Les Anges [PFA]
A literatura apocalíptica, cujo livro de Daniel é o exemplo mais famoso, repousa sobre o princípio de revelação da Glória divina. Por esta razão, ela concede aos anjos um lugar maior, chegando a forjar nomes próprios. Um só nome era até então mencionado, o de Rafael, curador e protetor de Tobias, “um dos sete anjos que se mantêm diante da Glória do Senhor” (também 12,15). Duas novas personalidades se afirmam particularmente, Gabriel, o anjo intérprete das visões (Dn 8,16; 9, 21-23) e Miguel, que tem o papel de anjo de YHWH e sustenta um duplo combate, histórico e escatológico, contra o demônio.
Miguel aparece como o príncipe dos anjos, que vem em ajuda de Israel. Sua figura permite precisar a correspondência entre a côrte terrestre e a côrte celeste: cada nação tem seu príncipe-protetor espiritual que a representa e a defende diante da côrte divina.
Um apócrifo célebre, o livro de Enoque, fixa o nome e a função dos quatro arcanjos superiores encarregados de garantir a justiça: Uriel (fogo de Deus), Rafael (Deus cura), Gabriel (Força de Deus) e Miguel (que é como Deus). Outros nomes são forjados segundo o mesmo procedimento, que consiste em juntar o sufixo “El” (a divindade) a uma raiz designando a função ou a qualidade angélicas. Enumera-se assim setenta nações e correspondentes anjos guardiões. Os anjos tomaram o lugar dos deuses particulares dos povos. em parte talvez sob a influência babilônica. É por eles que Deus se revela e dita sua Lei às nações. Eles dispõem de uma certa autonomia, mas são sempre responsáveis diante de YHWH.