Ysabel de Andia — Místicos do Oriente e do Ocidente
Mystiques d’Orient et d’occident
Só no retiro do “deserto interior” que Santo Antão conhece o amor.
Tal é o fruto do deserto: o amor.
Tal é também a afirmação dos Apoftegmas: “Abba Antão disse: «Doravante, não temo mais Deus, mas o amo; pois o amor rechaça o temor».”
A passagem do temor de Deus ao amor é a passagem do combate ascético da primeira parte da vida de Santo Antão, combate do qual é feito menção: “Estava aí cada dia, mártir pela consciência e atleta das lutas da fé”, à oração e aos exercícios espirituais divinizadoras na montanha interior: “Ele habitou então só na montanha interior, vagueando na oração e na ascese”.
A passagem do temor ao amor é também a passagem do exterior ao interior e da dominação do corpo àquela do espírito.
A primeira soleira da vida espiritual é a passagem do temor dos demônios (é sua impotência: «Nada podendo, eles (os dem6onios) são como um tirano que, mesmo decadente, não fica tranquilo, mas vangloria em palavras… Nada podendo fazer, nada fazem senão ameaçar. Reflitamos bem nisso para não os temer; se tivessem poder, eles não viriam em multidão, não fariam prodígios ou não procederiam por metamorfoses”. (c. 28). Deus somente é a temer pois ele somente é poderoso: “É portanto Deus somente que se deve temer: eles, deve-se menosprezar e não temê-los em nada. Mais fazem coisas, mais devemos praticar nossa ascese contra eles” (c. 30). Donde as regras do discernimento aos capítulos 35-36: “É possível distinguir a presença dos bons e dos maus espíritos, se Deus dá esta graça”, e o signo dado no c. 37: « que isto ainda vos sirva de signo. Quando a alma continua a ter medo, é a presença dos inimigos». E Atanásio adiciona: «É assim que eles enganaram os helenos. Assim foram admitidos neles os falsos deuses. Mas nós, o Senhor não nos deixou enganar pelo diabo. Quando ele fez tais prodígios para tentá-lo, Jesus lhe disse: “Retira-te, Satã. Está escrito: Tu adorarás o Senhor Deus e tu o servirás, ele só”».
Assim enquanto há “temor” dos demônios, há uma “presença” destes. De onde a importância de “não temê-los” para poder rechaçá-los.