anabaino


Disse-lhe Jesus: Deixa de me tocar, porque ainda não subi ao Pai; mas vai a meus irmãos e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus. (Jo 20:17)


A locução “subir ao Pai”, serve para expressar com uma imagem um tanto mítica mas corretamente descrita, o fato de que a consciência regenerada no Espírito, uma vez transbordadas as barreiras ou limites psíquicos que podiam impedi-la, “se faz um”, quer dizer, se espraia até o infinito e alcança a unidade perfeita com o Pai. Como no vaso de perfume que se quebra e com seu odor em liberdade inunda a casa inteira, assim é a alma que por negação de si mesma, por dissipação própria, descarta seu centro e abre suas portas ao Espírito. Como é “vento”, sopra onde quer no espaço sem fim.

A “subida ao Pai” foi consumada por Jesus Cristo como primícia, mas está aberta para todos os que formamos esta longa geração. Tal realidade venturosa é a que entendeu Paulo Apostolo e por isso falou da “glória que se há de manifestar em nós”. E posto que a manifestação da glória é a revelação do espírito do homem enquanto filho de Deus, explicou isto como “a ansiosa espera da criação que deseja vivamente a revelação dos filhos de Deus”.
-* A exegese manifesta interpreta aqui a liberdade futura da matéria. Mas o que se revela com a Glória é o Filho de Deus (só espírito); e se a criação — a alma revestida — espera ansiosa é porque quer ser aventada para alcançar a unidade na desnudez do espírito. Quanto à matéria, não é “má”, senão somente corruptível, pois tal é sua natureza, e não é para o Pai senão para ser desgastada pelo tempo.

Como a subida ao Pai se fecha sobre si mesmo, em círculo, o ciclo de revelação designado a todos e cada um dos homens, e que consiste “em fazer-se” filho de Deus “em espírito”, e alcançar assim a unidade perfeita com e no Pai.

Esta revelação será em si mesma o sinal de que é chegada a hora de que os céus e a terra terminem; os céus, por dissipação, pois fumaça são, e a terra por desgaste, pois vestimenta é. Para a exegese oculta, que vê a não-dualidade estrita no Reino de Deus uma vez que a criação (os céus e a terra) tenham passado, ficam poucas coisas que explicar, ainda que algumas, e não de pouca importância, como se verá.

Mas não é o mesmo caso para a exegese manifesta. De acordo com sua doutrina de que a palha da parábola de Mateus apontada por João Batista, não é para ser dispersa pelo vento, senão indivíduos desta geração humana que incorrerão na “ira iminente” do Senhor, a exegese manifesta prevê para depois da dissolução do mundo criado, quer dizer, no não-mundo pós-escatológico, um lugar ou lugares ou estados a propósito para infligir o fogo de purificação (Purgatório) ou o fogo eterno de condenação, segundo o caso, aos defuntos, depois do Juízo.
-* Desde os tempos veterotestamentários, a “ira de Deus” é a chegada de seu fogo santo, para preparar com sua unção a revelação do Cristo preexistente em cada homem. Isto, em geral, é denominado a era messiânica, mas é individual e só messiânica para o que revela a Cristo em si mesmo.

Em consequência desta doutrina, a exegese manifesta postula um dualismo estrito para a eternidade, um dualismo que perpetua a existência separada do bem e do mal, uma existência dual eterna, que sobreviverá mais além dos céus e da terra quando estes tenham passado. [Roberto Pla]