Ambrosio Sacramentos I 13-24

1 — Os Sacramentos

Tradução de D. Paulo Evaristo Arns
OS SACRAMENTOS E OS MISTÉRIOS
LIVRO I (13-24)

13 Neman era, como sabes, leproso. Uma escrava qualquer diz à mulher dele: — Se meu senhor quiser ficar bom, vá à terra de Israel e aí encontrará quem lhe tire a lepra. A escrava o diz à sua senhora; a esposa ao marido; Neman ao rei da Síria! Este, então, por causa da altíssima consideração, o enviou ao rei de Israel. Ouviu o rei de Israel, que lhe fora enviado um leproso para que o curasse e rasgou a veste. Eliseu, o Profeta, entra em cena para mandar-lhe dizer: Por que é que rasgaste a veste? Como se não houvesse um Deus capaz de purificar o leproso! Passe-o para mim. O rei lhe passou o homem. Logo ao chegar, ouviu o Profeta que lhe dizia: Vai, desce ao Jordão, toma banho e estarás curado.

14 Pôs-se o leproso a refletir e a dizer: É tudo? Vim da Síria até à Terra dos judeus e para me dizerem: vai ao Jordão, toma banho e estarás curado? Como se os rios, na minha Pátria, não fossem melhores. Acorreram então os funcionários e ponderaram: Senhor, por que não aceitar a palavra do Profeta? Tenta de qualquer jeito e embarca na ordem. Dirigiu-se, então, ele ao Jordão, banhou-se, e saiu curado.

15 Qual é, pois, o significado de toda essa história? Tu viste a água. Ora, nem toda a água cura. Tem poder de curar a que possuir a graça de Cristo. Uma coisa é o elemento; outra, a santificação. Uma coisa é o ato; outra, a eficácia. O ato é da água. A eficácia, do2. A água não cura, a não ser que o3 tenha descido e santificado aquela água. Foi assim que leste: quando Nosso Senhor4 instituiu o rito do Batismo, dirigiu-se a João e este lhe disse: Sou eu que devo ser batizado, e és tu que vens a mim. Respondeu-lhe Cristo: Deixa, por ora. Pois convém que cumpramos toda a justiça. Vê, pois, como toda a justiça repousa sobre o Batismo.

16 Por que desceu Cristo, senão para que esta carne fosse purificada? Carne que aliás assumiu de nossa condição. Cristo não necessitava de purificação de pecados, porque não fez pecado. Mas nós necessitamos dela, porque continuamos sujeitos ao pecado. Aí está a conclusão: se o Batismo existe para nós, seu rito foi constituído em nosso favor, seu rito foi proposto à nossa .

17 Desceu o Cristo até o rio. João lá estava batizando. E eis que o5 baixou como pomba. Não foi uma pomba que desceu, mas como pomba desceu Ele. Recorda o que eu disse: Cristo assumiu carne. Desta vez não como se fosse carne, e sim sendo carne na realidade. Cristo, de fato, a assumiu. O6 desceu do céu em forma de pomba não na realidade de uma pomba, mas sob a aparência dela. João, pois, viu e acreditou.

18 Desceu o Cristo, desceu também o7. Por que desceu primeiro o Cristo, depois o8, se o rito habitual do Batismo comporta que primeiro a fonte seja santificada e depois desça a ela quem deve ser batizado? O Bispo, ao entrar, faz o exorcismo sobre a criatura que é a água. Seguem a invocação e a prece, para que se santifique a fonte e aí se manifeste a presença da9 Eterna. Cristo porém desceu primeiro e o Espírito O seguiu. Por que razão? Para que não se fixasse a impressão de que o próprio Senhor Jesus necessitasse do mistério da santificação, mas se desse a entender que Ele próprio santifica e que também o Espírito santifica.

19 Portanto, desceu Cristo para a água e o10 baixou como pomba. Também o Pai, por sua vez, falou do céu. Estás, aí, em presença da Trindade.

20 o que se deu no Mar Vermelho, figura deste Batismo, no-lo diz o Apóstolo nestes termos: Nossos pais foram1 todos batizados na nuvem e no Mar e acrescenta: tudo isto, porém, se realizou em favor deles, por figura. a Para eles, em figura, mas, para nós, de verdade. Naquela hora, Moisés segurava o bastão, e o povo judeu se via cercado. De um lado, o egípcio pressionando com o exército, e, de outro lado, os hebreus cercados pelo Mar. Não tinham como atravessar o Mar, nem tampouco como investir contra o inimigo. Acabaram então pondo-se a murmurar.

21 Vê que não te deixes seduzir, por terem sido eles atendidos. Embora os atendesse o Senhor, não estavam isentos de culpa por terem murmurado. Quando te sentires angustiado, acredita que há saída, sem murmúrio. É hora de ires invocando e rezando, sem te enterrares em queixas.

22 Moisés tinha em mãos o bastão e guiava o povo hebreu. Durante a noite, por uma coluna de luz, e, durante o dia, por uma coluna de nuvem. Luz, o que é, senão a verdade, que difunde luz visível e clara? Coluna de luz, quem é, senão o Cristo Senhor, que baniu as trevas da infidelidade e infundiu a luz da verdade e da graça espiritual no coração dos homens? Mas a coluna da nuvem é o11. O povo estava no Mar e precedia-lhe a coluna da luz. Atrás vinha a coluna da nuvem como sombra do12. Vês que pelo13 e pela água nos foi prefigurado o Batismo.

23 Também no dilúvio já se encontra a figura do Batismo. Aliás, naquele tempo, certamente ainda não existiam os mistérios dos judeus. Se é fato que o rito do nosso Batismo veio antes do dilúvio, já percebes que os mistérios cristãos são mais antigos do que os dos judeus.

24 Mas, por ora, em vista da debilidade de minha voz e do curto espaço de tempo de que dispomos, bastará por hoje termos saboreado os mistérios que dizem respeito à fonte sagrada. Amanhã, se o Senhor me der força e eloquência, espero aprofundar mais o ensinamento. Importa que vós, como santos, tenhais os ouvidos atentos e o coração bem disposto, a fim de poderdes guardar o que conseguimos recolher das passagens das Escrituras que seguirem, depositando-o em vosso íntimo, para terdes a graça do Pai, do Filho e do14, essa15 a Quem pertence o Reino eterno, desde sempre, agora e para sempre e pelos séculos dos séculos. Amém.


  1. Ambrósio de Milão 

  2. Espírito Santo 

  3. Espírito Santo 

  4. Jesus Cristo 

  5. Espírito Santo 

  6. Espírito Santo 

  7. Espírito Santo 

  8. Espírito Santo 

  9. Trindade 

  10. Espírito Santo 

  11. Espírito Santo 

  12. Espírito Santo 

  13. Espírito Santo 

  14. Espírito Santo 

  15. Trindade