AMBROSIASTER — Comentarios a Romanos
Nem a vida, nem anjo, nem milagre,…
Introducción al Estudio de los Padres Latinos, de Nicea a Caledonia, siglos IV y V, Enrique Contreras, OSB y Roberto Peña, OCSO., Editorial Monasterio Trapense de Azul, Azul (Argentina), 1994, 767 p., ISBN: 950-99640-1-8
Contribuição e tradução das páginas 245 e 246, por Antonio Carneiro
“Nem a vida, nem anjo, nem milagre, nem altura, nem profundidade, nem coisa presente, nem coisa futura, nem outra criatura nos poderá separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus Senhor Nosso (Rm 8, 39).”
Estas são todas as coisas suscitadas pelo diabo para enganar-nos. E o Apóstolo as recorda para colocar-nos em atitude de defesa, a fim de que, se vierem, seguros da esperança e dos auxílios do Cristo, armados de fé, combatamos contra elas. O que então? Se vier a morte, não seria acaso um grandíssimo proveito encontrar a ocasião de chegar mais breve ao Reino prometido? Nem ainda que nos seja assegurada uma vida presente cheia de honra, isto deverá afastar-nos da esperança e dos auxílios de Cristo, porque sabemos que Ele não só nos beneficiará no futuro como também no presente. Certamente, tampouco se um anjo se apresenta à nós para seduzir-nos, subornado pela simulação do diabo seu pai, poderá permanecer contra nós, porque sabemos que nada pode antepor-se à Cristo como Anjo do Bom Conselho (Is 9,6). Nem sequer diminuir nossa fé um milagre feito por alguém, como se diz que fez Simão o Mago, que voou pelos ares para escandalizar ao povo de Cristo (vide Atos de Pedro com Simão 4 e Arnobio, Adv. Nat. II,12), porque sabemos que o Salvador, acolhido por uma nuvem que estava a seu serviço, ascendeu sobre todos os céus. Nem tampouco se o diabo se mostra-nos em altura, aquela altura da qual o mesmo Apóstolo disse: “acaso ignoram as alturas de Satanás” ? (Ap. 2, 24; 2Cor 2,11), poderá distanciar-nos do amor do Senhor Jesus, que sabemos desceu do céu para unir as coisas terrenas e espirituais.
Nem tampouco se por meio da imaginação, mediante a qual se propõe seduzir-nos, se mostra-nos uma profundidade para horrorizar-nos, a fim de que sucumbamos aterrorizados por ela, nem sequer é justo que rompamos nossa fidelidade com Cristo, que sabemos desceu por nossa causa à profundidade da terra e vencida a morte liberou o gênero humano. Nem tampouco se o diabo nos promete coisas futuras como prometeu à Eva (Gn 3, 4-5) cederemos diante ele, depois de ter sido separados por Cristo em quem cremos e a quem conhecemos como Deus por poder e por natureza. E a coisa não muda se com sua hábil e sutil astúcia forma por um instante alguma outra criatura, como fizeram Jannes e Jambres na presença do Faraó (2Tm 3,8; Ex 7, 11-12), a fim de separar-nos mediante estas coisas do verdadeiro Deus criador que, como sabemos, criou por meio do Cristo seu Filho uma criação que permanece eternamente.
Por certo, a alguns lhes parece que o Apóstolo disse “outra criatura” referindo-se aos ídolos; mas não é verdade, porque deve significar a criatura que Satanás formou para seduzir por meio da admiração. Mas, quem entre os fiéis irá ser seduzido por estes ídolos dos que se afastou quando ficou manifestado seu erro? Mas Satanás trama e forma aquilo que lhe pode servir também para seduzir os eleitos. Então, não tem nada que possa separar-nos do amor de Deus que está em Cristo Jesus. Deus, com efeito, nos mostrou seu amor em Cristo, entregando-o por nós.