« MAÎTRE ECKHART OU LA JOIE ERRANTE » [RSME]
Comentários sobre o Sermão 2 §4
Agora examine cuidadosamente e olhe diligentemente. Se o homem permanecesse sempre virgem, nenhum fruto viria dele. Se ele quiser se tornar fértil, ele deve ser uma mulher. “Mulher”: esta é a palavra mais nobre que se pode dirigir à alma, e é muito mais nobre que “virgem”. É bom que o homem receba Deus dentro de si, e através desta recepção ele é virgem. Mas para que Deus se torne fecundo nele, isso é melhor; pois a fecundidade de um dom é a única gratidão pelo dom, e o espírito é mulher, na gratidão que em troca dá à luz, onde em troca dá à luz Jesus no coração paterno de Deus. [
O desapego foi descrito como uma atitude passiva: o intelecto receptivo e a virgindade, figuras de pensamento um filosófico, outro bíblico, dizem um e o outro a ausência de determinação. Presentemente Eckhart expõe a vertente ativa do desapego. Segundo a primeira figura, tomada de Aristóteles, tratará do intelecto agente, segundo a segunda, de origem bíblica, o complemento ativo de «virgem» será «mulher». Mas atrás destes esquemas de discurso acontece o mesmo apelo a reintegrar a liberdade primitiva de antes da dispersão de si entre as imagens.
A atividade para a qual conduz a via do desapego, Mestre Eckhart a estima superior à recepção passiva de Jesus na alma: «“Mulher”: eis a palavra a mais nobre que se pode dirigir à alma, e é bem mais nobre que “virgem”».
A recepção em nós de Deus — Eckhart não diz mais aqui «de Jesus» — é um dom que deve portar furto. O desapego se cumpre em fecundidade. Deus, em um espírito despojado de todas imagens e de todas obras, se torna fecundo, e «o espírito é mulher, na gratitude que dá à luz de volta, aí onde dá à luz Jesus de volta no coração paternal de Deus». O homem destacado presta presta concurso ao dar à luz do Filho nele, e pelo mesmo ato em Deus. Na suprema vacuidade do desapego, o homem e Deus se unem em fecundidade: uma só determinação os reúne: dar nascimento. Unido a Deus no engendramento, o homem lhe rende, supremo conhecimento, tudo o que possui: rende a Deus o que recebeu de Deus, a saber o Filho. A determinação comum que se assemelha Deus e o homem é operacional: o homem que tudo deixou para acolher o Filho, o dá nascimento em retorno no coração paternal de Deus. Eis a atividade mais alta na qual se expande a serenidade. Aquele que se liberou de toda propriedade engendra ao Pai o Filho que o Pai fez nascer nele.