Alma Subsistente

Tomás de Aquino — Summa theologica I, q. LXXV, art. 2
A ALMA HUMANA É SUBSISTENTE
Necessariamente há que afirmar que aquilo que é princípio da operação intelectual e que chamamos alma humana é um princípio incorpóreo e subsistente.

Com efeito: é manifesto para todos que o homem, por meio do entendimento, pode conhecer a natureza de todos os corpos. E é preciso que aquilo que pode conhecer algumas coisas não tenha nenhuma destas em sua natureza; porque aquilo que houvesse nela naturalmente, impediria o conhecimento dos demais; assim, por exemplo, vemos que a língua de um enfermo, impregnada de bílis e humor amargo, não pode perceber algo doce, tudo lhe parecendo amargo. Se, pois, o princípio intelectual tivesse em si a natureza de algum corpo, não poderia conhecer todos os corpos. Ora, todo corpo tem alguma natureza determinada; logo é impossível que o princípio intelectual seja corpo. E também é impossível que entenda por meio de um órgão corpóreo, porque também a natureza determinada daquele órgão corpóreo impediria o conhecimento de todos os corpos; assim, por exemplo, se há uma determinada cor, não na pupila mas num copo de vidro, o líquido nele contido parece da mesma cor.

Portanto, o princípio mesmo intelectual, que se chama mente ou entendimento, tem por si sua operação, na qual não toma parte o corpo; mas nada pode operar por si a não ser o que por si subsiste, já que o operar só convém ao ser em ato; pelo qual cada coisa opera como é, e por isso não dizemos que o calor esquenta mas sim o sujeito que o tem. Tem-se como resultado, pois, que a alma humana, a qual chamamos também entendimento, mente, é algo incorpóreo e subsistente.