Excertos de Juvenal Savian Filho, “Metafísica do ser em Boécio”
Mário Vitorino, autor bem conhecido de Boécio, explica, em termos neoplatônicos, no que consistia a anima petulans: trata-se da alma que, por causa de seu ardor, torna-se potência vivificadora quando olha as coisas inferiores, isto é, as coisas sensíveis, para fazer viver o mundo e aquilo que é no mundo, inclusive as pedras, segundo o modo das pedras. Isso, entretanto, não seria mau em si, porque a alma se volta para aquilo que ela deve animar; seu apetite por esses objetos torna-se irresistível, de maneira que, ao mesmo tempo, ela se torna prisioneira dos elementos do mundo, e, finalmente, dos laços da carne. Esses entraves não designam, em primeiro plano, a qualidade da vida moral, mas o apego aos bens sensíveis por oposição à atração dos inteligíveis, que constituem a outra possibilidade oferecida à alma.