E que pretendo dizer-te, Senhor, senão que ignoro de onde vim para aqui, para esta não sei se posso chamar vida mortal ou MORTE vital? Não o sei. Mas receberam-me os consolos de tuas misericórdias, conforme o que ouvi de meus pais carnais, de quem e em quem me formaste no tempo, pois eu de mim nada recordo. Receberam-me os consolos do leite humano, do qual nem minha mãe, nem minhas amas enchiam os seios; mas eras tu que, por meio delas, me davas aquele alimento da infância, de acordo com o seu desígnio, e segundo os tesouros dispostos por ti até no mais íntimo das coisas. Confissões I, VI
Tu viste, Senhor, que numa ocasião, ainda menino, atacou-me repentinamente um dor de estômago que me abrasava, e que me aproximou da MORTE. Tu viste também, meu Deus, pois já me tinhas sob tua guarda, com que fervor de espírito e com que fé pedi à piedade de minha mãe, e da mãe de todos nós, tua Igreja, o batismo de teu Cristo, meu Deus e Senhor. Perturbou-se minha mãe carnal, pois que me criava com mais amor em seu casto coração em tua fé para a vida eterna e, solícita, já havia cuidado de que me iniciasse e purificasse com os sacramentos da salvação, confessando-te, ó meu Senhor Jesus, em remissão de meus pecados, quando, de repente, comecei a melhorar. Em vista disso, diferiu-se minha purificação, considerando que seria impossível, se eu vivesse, que não me tornasse a manchar; pois a culpa dos pecados cometidos depois do batismo é muito maior e mais perigosa. Confissões I, XI
Aquelas primeiras letras, pelas quais podia, como ainda faço, chegar e ler tudo o que há escrito e a escrever tudo o que quero, eram melhores e mais úteis que aquelas outras nas quais me obrigavam a decorar os erros de um tal Eneias, esquecido dos meus, e a chorar a MORTE de Dido, que se suicidou por amor, enquanto isso, eu, miserabilíssimo, suportava a minha própria MORTE com olhos enxutos, morrendo para ti, ó meu Deus, minha vida! Na verdade, que pode haver de mais miserável do que um infeliz que não se compadece de si mesmo e que, chorando a MORTE de Dido por amor de Eneias, não chora sua própria MORTE por falta de amor a ti, ó Deus, luz de meu coração, pão interior de minha alma, virtude fecundante de meu pensamento? Não te amava; prevaricava longe de ti, e ouvia de todas as partes: “Muito bem! Muito bem!” — porque a amizade deste mundo é adultério contra ti; e se aclamam a alguém dizendo: “Muito bem! Muito bem!” — é para que este não se envergonhe de ser assim. Eu não chorava estas faltas, chorava a MORTE de Dido “que se suicidou com a espada”, eu procurava as últimas de tuas criaturas, abandonando-te a ti, como terra que eu era, atraída pela terra. Se então me proibissem a leitura de tais coisas, me afligiriam por não ler aquilo que me comovia até a dor. Confissões I, XIII
Aí está meu coração, Senhor, meu coração que olhaste com misericórdia quando se encontrava na profundeza do abismo. Que este meu coração te diga agora que era o que ali buscava, para fazer o mal gratuitamente, não tendo minha maldade outra razão que a própria maldade. Era hedionda, e eu a amei; amei minha MORTE, amei meu pecado; não o objeto que me fazia cair, mas minha própria queda. Ó torpe minha alma, que saltando para fora do santo apoio, te lançavas na MORTE, não buscando na ignomínia senão a própria ignomínia? Confissões II, IV
Eis aqui o servo que, fugindo do seu senhor, seguiu uma sombra. Ó podridão! Ó monstro da vida e abismo da MORTE! Como pôde agradar-me o ilícito, e não por outro motivo, senão porque era ilícito? Confissões II, VI
Entretanto, tua misericórdia, fiel, de longe pairava sobre mim. Em quantas iniquidades não me corrompi, meu Deus, levado por sacrílega curiosidade que, separando-me de ti, conduzia-me aos mais baixos, desleais e enganosos serviços aos demônios, a quem sacrificava minhas más ações, sendo em todas flagelado com duro açoite por ti! Também ousei apetecer ardentemente e procurar meios para conseguir os frutos da MORTE na celebração de teus mistérios, dentro dos muros de tua igreja. Por isso me açoitaste com duras penas, que nada eram comparadas com minhas culpas, ó Deus, misericórdia infinita, e meu refúgio contra os terríveis malfeitores, com os quais vaguei de cabeça erguida, afastando-me cada vez mais de ti, preferindo meus caminhos aos teus, amando a liberdade fugitiva! Os estudos a que era entregue, que se denominavam honestos ou nobres, tinham por objetivo as contendas do foro, nas quais deveria me distinguir com tanto maior louvor quanto mais hábeis fossem as mentiras. Tal é a cegueira dos homens, que até de sua própria cegueira se gloriam! Eu já conseguira, naquele tempo, ser o primeiro da escola de retórica, e por isso me vangloriava soberbamente, e me inflava de orgulho. Contudo, tu sabes, Senhor, que eu era muito mais sossegado que os demais, e totalmente alheio às turbulências dos eversores — ou demolidores — nome sinistro e diabólico que eles consideravam distintivo de urbanidade, entre os quais vivia com imprudente pudor por não pertencer a seu grupo. É verdade que andava com eles, e que me deleitava, às vezes, com sua amizade, porém, sempre aborreci o que faziam, como as troças e a insolência com que surpreendiam e ridicularizavam a timidez dos novatos, sem outra finalidade senão rir de suas trapalhadas, fazendo disso alimento para suas malévolas alegrias. Nada há mais parecido a estas ações que as dos demônios, pelo que nenhum nome lhes cai melhor que o de eversores ou demolidores, por serem eles transformados e pervertidos totalmente pelos espíritos malignos, que assim os burlam e enganam, sem que o saibam, justamente no que eles gostam de ludibriar ou enganar os demais. Confissões III, III
Não conhecia eu outra realidade — a verdadeira — e me sentia como que movido por um aguilhão a aceitar a opinião daqueles insensatos impostores quando me perguntavam de onde procedia o mal, se Deus estava limitado por forma corpórea, se tinha cabelos e unhas, e se deviam ser considerados justos os que tinham várias mulheres simultaneamente, e os que causavam a MORTE de outros ou sacrificavam animais. Confissões III, VII
Desconhecendo eu essas verdades, ria-me de teus santos e profetas. Mas, que fazia eu quando me ria deles, senão dar motivo para que te risses de mim? deixei-me cair insensivelmente, aos poucos, em tais extravagâncias, a ponto de acreditar que o figo, quando colhido, chora lágrimas de leite junto com a mãe figueira, e que se um “santo” da seita comesse o tal figo, colhido não por seu delito, mas de outrem, misturando-o em suas entranhas, gemendo e arrotando enquanto rezava, exalaria anjos e até mesmo partículas de Deus, partículas essas do verdadeiro Deus que ficariam cativas para sempre naquele fruto se não fossem libertadas pelos dentes e pelo estômago do “santo eleito”! Também acreditei, pobre de mim, que se devia ter mais misericórdia com os frutos da terra que com os homens para os quais foram criados. Pois, se algum faminto, que não fosse maniqueísta me pedisse de comer, parecia-me que atendê-lo era como merecer, por aquele bocado, a pena de MORTE. Confissões III, X
Mas estendeste tua mão do alto, e arrancaste minha alma deste abismo de trevas, enquanto minha mãe, tua fiel serva, chorava-me diante de ti muito mais do que as outras mães costumam chorar sobre o cadáver dos filhos, pois via a MORTE de minha alma com a fé e o espírito que havia recebido de ti. E tu a escutaste, Senhor, tu a ouviste e não desprezaste suas lágrimas que, brotando copiosas, regavam o solo debaixo de seus olhos por onde fazia sua oração; sim, tu a escutaste, Senhor. Com efeito, donde podia vir aquele sonho, com que a consolaste, ao ponto de me admitir em sua companhia e mesa, fato que havia me negado porque aborrecia e detestava as blasfêmias do meu erro? Confissões III, XI
Quem poderá enumerar teus louvores, mesmo limitando-se ao que experimentou em si mesmo? Que fizeste então, meu Deus! E quão impenetrável é o abismo de teus juízos! Lutando meu amigo contra a febre, ficou por muito tempo sem sentidos, banhado no suor da MORTE; e, como temessem por sua vida, batizaram-no sem que ele o soubesse, com o que não me importei, convencido que estava de que seu espírito reteria melhor aquilo que eu lhe havia inculcado do que o sinal que recebera sobre o corpo inconsciente. Confissões IV, IV
Que dor fez anoitecer o meu coração! Tudo o que via era MORTE para mim. a pátria me era um suplício, e a casa paterna tormento insuportável, e tudo o que o lembrava transformava-se para mim em crudelíssimo martírio. Buscavam-no por toda parte meus olhos, e o mundo não mo devolvia. Cheguei a odiar todas as coisas, porque nada o continha, e ninguém mais me podia dizer como antes, quando chegava depois de alguma ausência: “Ali vem ele”. Transformara-me mesmo num grande problema. Perguntava à minha alma porque andava triste, e se perturbava tanto, e ela não sabia o que responder-me. E se eu lhe dizia: “Espera em Deus” — minha alma não me obedecia, e com razão, porque para mim, era mais real e melhor o amigo querido que perdera, que o fantasma em que mandava tivesse esperança. Só o pranto me era doce. Ocupava o lugar de meu amigo nas delicias de meu coração. Confissões IV, IV
Mas para que falar dessas coisas, se agora não é tempo de investigar, mas de me confessar a ti? Eu era miserável, como o é toda alma prisioneira do amor pelas coisas temporais; se sente despedaçar quando as perde, sentindo então sua miséria, que a torna miserável antes mesmo de as perder. Assim é como eu era então e, chorando muito amargamente, descansava na amargura. E como era miserável! Contudo, mais que o amigo caríssimo, eu amava minha vida miserável, porque embora desejasse mudá-la, não queria perdê-la como ao amigo, não sei se gostaria de perdê-la por ele, como se conta de Orestes e Pílades — se não é ficção — que queriam morrer um pelo outro, porque para eles viver separados era pior que a MORTE. Mas não sei que novo sentimento nascera em mim, muito contrário a este: sentia pesado tédio de viver, e ao mesmo tempo tinha medo de morrer. Creio que quanto mais amava o amigo tanto mais odiava e temia a MORTE, como inimigo feroz que mo havia arrebatado; pensava que ela acabaria de repente com todos os homens, como o fizera com ele. Este era meu estado de espírito, pelo que me lembro. Confissões IV, VI
. É isto o que se ama nos amigos; e de tal modo se ama, que a consciência humana se julga culpada se não ama ao que a ama, ou se não retribui amor com amor procurando na pessoa do amigo apenas o sinal exterior de sua benevolência. Daqui o pranto do luto quando morre um amigo, as trevas de dores, e as lágrimas que inundam o coração quando a doçura se transforma em angústia, e a MORTE dos que morrem na MORTE dos que vivem. Confissões IV, IX
Ele, nossa vida real veio até nós; sofreu nossa MORTE, e a suplantou com a abundância de sua vida; com voz de trovão clamou para que voltássemos a ele, para o lugar escondido de onde veio até nós, passando primeiro pelo seio de uma virgem, onde se desposou com ele a natureza humana, carne mortal, para não ficar sempre mortal. Confissões IV, XII
Dali, como o esposo que sai do tálamo, deu saltos como um gigante, para correr seu caminho. E não se deteve; correu clamando com suas palavras, com suas obras, com sua própria MORTE, com sua vida, com sua descida aos ínferos e com sua ascensão, clamando para que voltássemos a ele. Se ele se afastou de nossa vista, foi para que entremos em nosso coração, e ali o encontremos; se partiu, ainda está conosco. Não quis ficar por muito tempo entre nós, mas não nos abandonou. Retirou-se de onde nunca se afastou, pois o mundo foi criado por ele, e no mundo estava, e ao mundo veio para salvar os pecadores. E a ele se confessa minha alma, a ele que a cura e contra quem pecou. Confissões IV, XII
Eu me esforçava para me aproximar de ti, mas tu me repelias para que experimentasse a MORTE, pois resistes aos soberbos. E que maior soberba haveria que afirmar, com inaudita loucura, que eu era da mesma natureza que tu? Porque, sendo eu mutável, e reconhecendo-me tal — pois, se queria ser sábio, era para fazer-me de menos para mais perfeito — preferia, contudo, julgar mutável a ti do que não ser o que tu és. Eis aqui por que era repelido, e por que resistias à minha soberba cheia de vento. Confissões IV, XV
Admiram-se disto os ignorantes, e pasmam. Os sábios gloriam-se disso, e se desvanecem, e com ímpia soberba afastam-se e se eclipsam de tua luz. E, prevendo com exatidão o eclipse vindouro do sol, não veem o seu, que já está presente. Não procuram religiosamente saber de onde lhes vem o talento com que investigam essas coisas e, achando que tu as criaste, não se entregam a ti, para que conserves o que lhes deste, nem se te oferecem em sacrifício, como se tivessem feito a si mesmos; nem dão MORTE às suas soberbas, que alçam voo como aves do céu; nem às suas insaciáveis curiosidades que, como peixes do mar, passeiam pelas secretas sendas do abismo; nem às suas luxúrias, que os igualam aos animais do campo, a fim de que tu, ó Deus, fogo devorador, destruas estas suas preocupações de MORTE, e os torne a criar para uma vida imortal. Confissões V, III
De fato, não achando na ocasião caminho melhor que aquele por onde cegamente me lançara, resolvi continuar provisoriamente na mesma, até que tivesse a fortuna de encontrar algo melhor e preferível. Foi assim que aquele Fausto, que havia sido para muitos laço de MORTE, começava involuntária e inconscientemente a desfazer o laço que me enredara. É que tuas mãos, meu Deus, no segredo de tua providência, não abandonavam minha alma; e minha mãe, dia e noite, não deixava de te oferecer em sacrifício por mim o sangue de seu coração, na forma de suas lágrimas. Confissões V, VII
Em Roma fui colhido pelo flagelo de uma doença corporal, que esteve a ponto de me mandar para a sepultura, carregado de todos os pecados cometidos contra ti, contra mim e contra o próximo; pecados numerosos e pecados, que se somavam à cadeia do pecado original, pelo qual todos morremos em Adão. Ainda não me tinhas perdoado nenhum deles em Cristo, nem ele havia apagado com sua cruz as inimizades que contraíra contigo com meus pecados. E como poderia ele desfazê-los por uma cruz de onde eu não via pender mais que um fantasma? Porque tão falsa me parecia a MORTE de sua carne como verdadeira a MORTE de minha alma, e tão verdadeira a MORTE de sua carne como falsa a vida de minha alma, que disto se não persuadia. Confissões V, IX
Por isso, não vejo como poderia sarar se minha MORTE em tal estado tivesse ferido as entranhas de seu amor. E onde estariam tantas orações, continuamente repetidas? Estariam em ti, somente em ti. Seria possível que tu, Deus de misericórdia, desprezasses o coração contrito e humilhado de uma viúva casta e sóbria, que frequentemente dava esmolas e servia obsequiosa a teus santos? Que em nenhum dia deixava de levar sua oferenda a teu altar? Que ia duas vezes por dia — de manhã e à tarde — à tua igreja, sem faltar jamais, e não para entreter-se em vãs conversas e cochichos de velhas, mas para te ouvir as palavras e para que a ouvisses em suas orações? Poderias desprezar as lágrimas de uma mãe que não te pedia nem ouro, nem prata, nem bem algum terreno e frágil, mas a salvação da alma de seu filho? Poderias, ó Deus, a quem ela devia tudo o que era, poderias desprezá-la e negar-lhe teu auxílio? De nenhum modo, Senhor; pelo contrário, tu a assistias, e a escutavas, mas pelo caminho determinado por tua providência. Confissões V, IX
Parece-me, de bom início, que seus ensinamentos podiam ser defendidos e que as afirmações de fé católica — que eu julgava impotente contra os ataques dos maniqueus — não eram absolutamente temerárias, principalmente depois de me serem explicados uma, duas ou mais vezes, as passagens obscuras do Velho Testamento que, interpretadas no sentido literal, me davam a MORTE. Assim, interpretados no sentido espiritual muitos dos textos daqueles livros, comecei a repreender aquele meu desespero, que me levava a crer na impossibilidade de resistir aos que aborreciam e zombavam da lei e dos profetas. Confissões V, XIV
Eu aspirava às honras, às riquezas e ao matrimonio, e tu te rias de mim. E nesses desejos sofria grandes amarguras; e tu me eras tanto mais propício quanto menos consentias que me fosse doçura o que não eras tu. Vê, Senhor, meu coração, tu que quiseste que recordasse estes fatos e os confessasse. Esta alma, a quem livraste do visco tenaz da MORTE, une-se agora a ti. Confissões VI, VI
“Perca-se tudo! Deixemos essas coisas vãs e fúteis. Entreguemo-nos por completo à busca da verdade. A vida é miserável, e a hora da MORTE, incerta. Se esta me surpreender de repente, em que estado sairei do mundo? E onde aprenderei o que deixei de aprender aqui? Não serei antes castigado por essa negligência? Mas, e se a própria MORTE cortar e for o fim a todo cuidado e sentimento? Também seria conveniente investigar este ponto. Mas afastemos tais pensamentos! Não é por acaso nem é em vão que se difunde por todo o mundo a fé cristã, com grande prestígio. Deus jamais teria criado tantas e tais coisas por nós, se com a MORTE do corpo terminasse também a vida da alma. Por que hesitar, pois, em abandonar as esperanças do mundo para me consagrar à busca de Deus e da bem-aventurança?” Confissões VI, XI
Ele admirava-se de que eu, a quem tanto estimava, estivesse tão preso ao visco do prazer a ponto de afirmar, sempre que tratávamos desse assunto, que me era impossível levar vida casta. Para esgrimir contra sua admiração, dizia-lhe que havia grande diferença entre sua rápida e furtiva experiência do prazer, de que mal se lembrava e que, por isso, podia desprezar facilmente, e as delícias de uma ligação verdadeira, à qual, se juntasse o honesto nome de matrimonio, já não causaria admiração se eu não pudesse desprezar aquela vida. Com isso, Alípio também começou a desejar o matrimonio, não certamente vencido pelo apetite do prazer, mas pela curiosidade. Desejava saber, dizia ele, o que era aquele bem sem o qual minha vida — que ele tanto apreciava — não me parecia vida, mas tormento. De fato, livre dessa prisão, sua alma pasmava de tal servidão, e do espanto passava ao desejo de experimentá-la. Depois talvez caísse naquela mesma servidão que o espantava, pois queria fazer um pacto com a MORTE, e o que ama o perigo, nele cairá. Confissões VI, XII
Louvor e glória a ti, ó fonte das misericórdias! Eu me tornava cada vez mais miserável, e tu te aproximavas cada vez mais de mim. já estava junto de mim tua destra, para me arrancar do lodo dos meus vícios, e em purificar, e eu não o sabia. Mas nada havia que me fizesse sair do profundo abismo dos prazeres carnais, a não ser o medo da MORTE e de teu juízo futuro, que jamais saiu do meu peito, através das várias doutrinas que segui. Confissões VI, XVI
Tais eram os pensamentos de meu pobre coração, oprimido pelos pungentes temores da MORTE, e sem ter encontrado a verdade. Contudo, arraigava sempre mais em meu coração a fé de teu Cristo, nosso Senhor e Salvador, professada pela Igreja Católica; fé ainda incerta, certamente, em muitos pontos, e como que flutuando fora das normas da doutrina. Minha alma porém não a abandonava, e cada dia mais se abraçava a ela. Confissões VII, V
Ainda por isso, meu Deus, quero confessar-te tuas misericórdias desde o mais íntimo de minha alma! Foste tu, e só tu — pois, quem pode afastar-nos da MORTE do erro, senão a Vida que desconhece a MORTE, a Sabedoria que ilumina as pobres inteligências sem precisar de outra luz, e que governa o mundo até as folhas que tremulam nas árvores? Foste tu que medicaste a obstinação com que me opunha ao sábio velho Vindiciano e ao magnânimo jovem Nebrídio, que diziam — o primeiro, com veemência, o segundo com alguma hesitação, mas frequentemente — não existir a tal arte de predizer as coisas futuras, e que as conjecturas dos homens muitas vezes têm concurso do acaso e que, de tanto repetir, acertavam em predizer algumas coisas, sem que os mesmos que as diziam o soubessem. Confissões VII, VI
Deste modo, ó meu auxílio, já me havias libertado daqueles grilhões. Contudo eu buscava ainda a origem do mal, e não encontrava solução. Mas não permitias que as vagas de meu pensamento me apartassem da fé. Fé na tua existência, na tua substância imutável, na tua providência para os homens, e na tua justiça que os julgará. Já acreditava que traçaste o caminho da salvação dos homens, rumo à vida que sobrevém depois da MORTE, em Cristo, teu Filho e Senhor nosso, e nas Sagradas Escrituras, recomendadas pela autoridade de tua Igreja Católica. Confissões VII, VII
Igualmente achei nesses livros, dito de diversos e múltiplos modos, que o Filho, consubstancial ao Pai, não considerou usurpação ser igual a Deus, porque o é por natureza. Não dizem porém que se aniquilou a si mesmo, tomando a forma de escravo, que se fez semelhante aos homens, sendo julgado homem por seu exterior; e que se humilhou, fazendo-se obediente até a MORTE, e MORTE de cruz, pelo que Deus o ressuscitou entre os mortos, e lhe deu um nome acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobrem todos os joelhos no céu, na terra e no inferno, e toda língua confesse que o Senhor Jesus está na glória de Deus Pai. Confissões VII, IX
Porque, embora o homem se deleite com a lei de Deus, segundo o homem interior, que fará dessa outra lei que luta em seus membros contra a lei de seu espírito, e que o prende sob a lei do pecado, impressa em seus membros? Porque tu és justo, Senhor; nós, porém, pecamos, cometemos iniquidades; procedemos como ímpios, e tua mão se fez pesada sobre nós, e é com justiça que fomos entregues ao pecador antigo, ao príncipe da MORTE, porque ele persuadiu nossa vontade a se conformar à sua, que não quis persistir com tua verdade. Confissões VII, XXI
Que fará esse homem infeliz? Quem o livrará deste corpo de MORTE, senão tua graça, por Jesus Cristo, nosso Senhor, a quem tu geraste co-eterno e criaste no princípio de teus caminhos, ele, em quem o príncipe deste mundo não achou nada que merecesse a MORTE, e a quem, contudo, matou? Com o que foi anulada a sentença que havia contra nós? Confissões VII, XXI
A tempestade cai sobre os navegantes com ameaça de naufrágio. Todos empalidecem diante da MORTE iminente. O céu e o mar se acalmam, é grande sua alegria, e nasce do muito que temeram. Confissões VIII, III
Assim, na medida em que o coração de Vitorino era tido como fortaleza inexpugnável antes ocupada pelo demônio, e sua língua como dardo poderoso e agudo, que tantas vezes havia dado a MORTE às almas, tanto mais copiosamente deviam exultar teus filhos, ao verem que nosso Rei agrilhoara o forte, e que seus vasos roubados, eram agora purificados e destinados à tua honra, convertendo-se em instrumentos úteis ao Senhor para toda obra boa. Confissões VIII, IV
Em vão me deleitava em tua lei, segundo o homem interior, porque em meus membros outra lei combatia a lei de meu espírito, mantendo-me cativo sob a lei do pecado que estavas em meus membros. Com efeito, a lei do pecado é a violência do hábito, pelo qual a alma é arrastada e presa, mesmo contra sua vontade, merecidamente porém, pois se deixa arrastar por vontade própria. Pobre de mim! Quem poderia libertar-me deste corpo de MORTE senão tua graça, por Cristo, nosso Senhor? Confissões VIII, V
Assim me roia interiormente, devorado por enorme e terrível vergonha, enquanto Ponticiano contava aquilo tudo. Finda a conversa, e resolvida a questão a que viera, Ponticiano voltou para sua casa, e eu para dentro de mim. Que coisas não disse contra mim? Com que açoite de palavras não flagelei minha alma, para obrigá-la a me seguir em meus esforços para te alcançar! Ela resistia, recusava-se, sem se desculpar. Todos os argumentos já estavam esgotados e refutados. Nada lhe restava, senão uma angústia muda: tinha medo, como da MORTE, de ser tolhida à corrente do vício, onde se corrompia mortalmente. Confissões VIII, VII
E dizia comigo mesmo: “Vamos! Mãos à obra, sem demoras!” E quase passava da palavra à ação. Estava a ponto de agir, mas não agia. Eu já não recaía nas antigas paixões, mas delas estava bem próximo, e tomava ainda alento de seu ar. Quase a alcançava, faltava pouco, cada vez menos, e já quase chegava ao termo e a segurava; mas não a alcançava, nem a tocava; hesitava entre morrer para a MORTE e viver para a vida. O mal arraigado dominava-me mais do que o bem, cujo hábito eu não possuía; na medida que ia se aproximando o momento em que me transformaria em outro homem, maior era o horror que me incutia, sem contudo me fazer voltar para trás ou mudar de caminho. Simplesmente mantinha-me indeciso. Confissões VIII, XI
Quem sou eu, e como era? Que males não tive em minhas obras, ou, se não em minhas obras, em minhas palavras, ou, se não em minhas palavras, em minha vontade! Mas tu, Senhor, bom e misericordioso, puseste os olhos na profundeza de minha MORTE, e purificaste com tua destra o abismo de corrupção de minha alma. Tratava-se agora apenas de não querer o que eu queria, e de querer o que tu querias. Confissões IX, I
Tinhas alvejado nosso coração com as setas do teu amor, e levávamos tuas palavras cravadas em nossas entranhas; os exemplos de teus servos, que das trevas trouxeram para a luz, e da MORTE para a vida, ardiam no fundo de nosso espírito em uma espécie de fogueira, que inflamava e consumia nosso torpor, para que não mais nos inclinássemos para as baixezas. Confissões IX, II
Ah! As queixas fortes e profundas que me inspiravam a dor da recordação! Oxalá as tivessem ouvido os que ainda amam a vaidade e buscam a mentira! Talvez também se perturbassem e vomitassem seu erro. E tu os terias ouvidos quando clamassem por ti, porque morreu por nós de verdadeira MORTE corporal aquele que intercede por nós diante de ti. Confissões IX, IV
E subia, no versículo seguinte, um profundo clamor de meu coração: Oh! Em paz! Oh! Em seu próprio Ser! Mas, que disse? Dormirei e descansarei! Com efeito, quem nos há de resistir quando se cumprir a palavra que está escrita: A MORTE foi devorada pela vitória? Confissões IX, IV
Com efeito, depois de descobertos e desenterrados, ao serem transladados com as honras convenientes para a basílica ambrosiana, alguns possessos, atormentados pelos espíritos imundos, foram curados, conforme confissão dos próprios demônios. Também um cidadão, cego havia muitos anos, e muito conhecido na cidade, perguntou a razão daquele alvoroço e alegria populares; informado, pediu a seu guia que o levasse até ás relíquias. Lá chegando, obteve permissão para tocar com um lenço o ataúde de teus santos, cuja MORTE havia sido preciosa a teus olhos. Feito isto, aplicou o lenço aos olhos, que imediatamente se abriram. Confissões IX, VII
Soube também depois que em Óstia, estando eu ausente, falou certo dia com alguns amigos meus, com maternal confiança, sobre o desprezo desta vida e o benefício da MORTE. Eles, maravilhados da coragem dessa mulher — dádiva tua — perguntaram-lhe se não temia deixar o corpo tão longe da pátria. “Nada está longe para Deus — disse ela — nem preciso temer que ele ignore, no fim dos tempos, o lugar onde me ressuscitará”. Confissões IX, XI
Deste modo sua voz juvenil, voz do coração, calou em mim essa espécie de emoção pueril que me provocava o pranto. De fato, não julgávamos correto celebrar aquele funeral com lágrimas e choro, pois tais demonstrações deploram geralmente o triste destino dos que morrem, ou sua total extinção. A MORTE de minha mãe não era uma desgraça, e ela não morria para sempre, e disto estávamos certos pelo testemunho de seus costumes, por sua fé sincera e outras razões inequívocas. Confissões IX, XII
Reprimido o pranto do Adeodato, Evódio tomou o saltério e começou a cantar um salmo, ao que todos respondíamos “Misericórdia e justiça te cantarei Senhor”. Conhecia a notícia de sua MORTE, acorreram muitos irmãos e mulheres piedosas e, enquanto os encarregados dos funerais faziam seu ofício conforme o hábito, retirei-me para um lugar conveniente, junto com os amigos que julgavam oportuno não me deixar só. Falava sobre assuntos próprios das circunstâncias, e com o lenitivo da verdade mitigava meu sofrimento, só conhecido por ti. Eles o ignoravam e me ouviam atentamente, julgando que não sofria nenhuma dor. Confissões IX, XII
Creio que já fizeste o que te suplico, mas desejo, Senhor, que acolhas os desejos de minha boca. Estando iminente o dia de sua MORTE, ela não desejou sepultar o corpo com grande pompa, ou que fosse embalsamado com preciosos aromas, nem desejou um rico monumento, nem se preocupou em tê-lo na pátria. Nada disto nos pediu, mas desejou apenas que nos lembrássemos dela ante do teu altar, onde servira todos os dias de sua vida, sabendo que nele se oferece a vítima santa, com cujo sangue se destrói o libelo de nossa condenação, e pelo qual vencemos o inimigo que conta nossas faltas e procura com que nos acusar, nada achando naquele que é nossa vitória. Confissões IX, XIII
Espero que aperfeiçoes em mim tuas misericórdias, até que atinja a plenitude da paz de que gozarão em ti meu espírito e meu corpo, quando a MORTE for absorvida pela vitória. Confissões X, XXX
E aquele falso mediador que é o demônio, a quem teus ocultos juízos permitem que iluda a soberba, tem de comum com os homens apenas uma coisa, isto é, o pecado. Finge contudo, ter algum traço em comum com Deus, e como não está revestido de carne mortal, pretende ser imortal. Mas, como a MORTE é o salário do pecado, ele tem isso em comum com os homens: como eles, ele é condenado à MORTE. Confissões X, XLII
O verdadeiro mediador que tua insondável misericórdia enviou e revelou aos homens, para que aprendessem a humildade pelo seu exemplo, é esse mediador entre Deus e os homens, o homem Jesus Cristo. Apareceu como intermediário entre os pecadores mortais e o Justo imortal, mortal como os homens e justo como Deus. E, como a vida e a paz são a recompensa da justiça, pela justiça que o une a Deus ele suprimiu a MORTE entre os ímpios justificados, e quis compartilhá-la com eles. Foi revelado aos santos dos antigos tempos, para que eles se salvassem pela fé em sua paixão futura, como nós nos salvamos pela fé em sua paixão passada. De fato, só é mediador enquanto homem; enquanto Verbo não é intermediário, por ser igual a Deus: Deus em Deus e, ao mesmo tempo, Deus único. Confissões X, XLIII
Como nos amaste, Pai bondoso! Não poupando teu Filho único, o entregaste por nós pecadores! Oh! Como nos amaste! Foi por amor a nós que teu Filho, que não considerava rapina o ser igual a ti, submeteu-se até a MORTE de cruz. Ele era o único livre entre os mortos, tendo o poder de dar sua vida e de novamente retomá-la. Por nós se fez diante de ti vencedor e vítima; por nós, diante de ti, se fez sacerdote e sacrifício, e sacerdote porque ele era o sacrifício; de escravos, fez de nós teus filhos; nascidos de ti, se fez nosso escravo. Com razão ponho nele a firme esperança que curarás todas as minhas enfermidades por intermédio dele, que está sentado à tua direita e intercede por nós junto de ti. De outro modo desesperaria, pois são muitos e grandes meus males; porém mais poderoso é o poder do teu remédio. Poderíamos pensar que teu Verbo estava muito longe para se unir ao homem, e desesperar de nós, se ele não se tivesse feito carne, habitando entre nós. Confissões X, XLIII
Ó Verdade, luz de meu coração, faze com que se calem as minhas trevas. Deixei-me cair nelas e fiquei às escuras; mas, mesmo do fundo desse abismo, eu te amei ardentemente. Andei, errante, mas lembrei de ti. Ouvi tua voz atrás de mim, que me exortava a que voltasse; mas dificilmente podia escutá-la, por causa do tumulto de minha alma. e agora, eis que, ardente e anelante, volto à tua fonte. Que ninguém mo impeça; beberei de sua água, e assim viverei. Que não seja eu minha própria vida! Vivi mal por minha culpa, e fui a causa de minha MORTE. Em ti eu revivo! Fala-me, ensina-me. Creio em teus livros, e tuas palavras encerram profundos mistérios. Confissões XII, X
Mas o Pai e o Filho, não pairavam também sobre as águas? Se os imaginamos como um corpo pairando no espaço, isso não se pode aplicar nem mesmo ao Espírito Santo. Se porém entendermos por isso a excelência imutável da divindade acima de tudo o que é transitório, então o Pai, o Filho e o Espírito Santo pairavam igualmente sobre as águas. E por que só se menciona o Espírito Santo? Por que se menciona apenas a seu respeito um lugar onde estava, ele que, no entanto, não ocupa espaço? Também apenas dele se disse que era um dom de Deus, e é em teu dom que repousamos; é nele que gozamos de ti. Nosso repouso é nosso lugar. É para lá que o amor nos arrebata, e teu Espírito levanta nossa humildade para longe das portas da MORTE. A paz, para nós, reside na tua boa vontade. Os corpos tendem, por seu peso, para o lugar que lhes é próprio; mas um peso não tende só para baixo; tende para o lugar que lhe é próprio. O fogo sobe, a pedra cai. Cada um é movido por seu peso, e tende para seu justo lugar. O óleo, lançado à água, flutua; a água, lançada ao óleo, afunda. Ambos são impelidos por seu peso a procurarem o lugar que lhes é próprio. As coisas que não estão em seu lugar se agitam; mas quando o encontram, repousam. Confissões XIII, IX
E quem, senão tu, nosso Deus, estendeu sobre nós um firmamento de autoridade, da tua divina Escritura? O céu se dobrará como um livro, e agora ele se estende sobre nós como um pergaminho. Mais sublime é a autoridade de que goza tua divina Escritura depois que morreram aqueles que cujo intermédio no-las comunicaste. E sabes, Senhor, sabes como cobriste de peles os homens, quando o pecado os tornou mortais. Por isso estendeste como um pergaminho o firmamento de teu Livro, e tuas palavras em tudo concordes, que dispuseste sobre nós pelo ministério de homens mortais. Por sua MORTE, a autoridade de tuas palavras, por eles divulgadas, desdobra sua força sobre tudo o que existe em baixo; ela não se erguia tão alto enquanto eles viviam. É que ainda não tinhas desenrolado o céu como um pergaminho, nem tinhas ainda difundido a glória de sua MORTE por toda parte. Confissões XIII, XV
Que teus ministros trabalhem na terra, não como nas águas da incredulidade, quando pregavam e falavam utilizando-se de milagres, de sinais misteriosos, de termos místicos, para capturar atenção da ignorância, mãe da admiração, pelo medo desses sinais secretos. Por esta porta, de fato, os filhos de Adão têm acesso à fé, esquecidos de ti enquanto se escondem de tua fade e se tornam abismos. Que teus ministros trabalhem como em terra seca, separada das fauces do abismo; e que sejam modelo para os fiéis, vivendo sob teus olhares e incitando-os à imitação. E assim ouve não só para ouvir, mas também para praticar. “Procurai a Deus, e vossa alma viverá, e a terra dará nascimento a uma alma viva. Não vos conformeis com este mundo em que vivemos, abstendo-vos dele. A alma vive evitando as coisas cujo desejo causa-lhe a MORTE. Confissões XIII, XXI
Assim, Senhor, nosso Deus e nosso Criador, quando nossos afetos mundanos, que nos causam a MORTE porque nos faziam viver mal, se afastarem do amor do mundo, quando nossa alma, vivendo bem, se tornar alma viva, e quando se cumprir a palavra que proferiste pela boca de teu Apostolo: “Não vos conformeis com o mundo em que vivemos” — então seguir-se-á aquilo que acrescentaste imediatamente ao dizer: “Mas reformai-vos na novidade de vossa mente”. — E já não será “segundo vossa espécie” — como se fosse imitar nossos predecessores ou viver seguindo os exemplos de alguém melhor que nós. Não disseste: “Que o homem seja feito de acordo com sua espécie” — mas “façamos o homem à nossa imagem e semelhança” — para que pudéssemos reconhecer tua vontade. Para tanto, o divulgador de teu pensamento, que gerou filhos pelo Evangelho, não querendo que continuassem como crianças os que alimentara com leite e agasalhara em teu seio como uma ama, dizia: “Reformai-vos renovando vosso coração, para discernir a vontade de Deus, que é bom, agradável e perfeito”. — Também não dizes: “Faça-se o homem” — mas “à nossa imagem e semelhança”. Aquele que é renovado no espírito, que compreende e conhece tua verdade, não mais carece que um outro lhe ensine a imitar sua espécie. Graças às tuas lições, ele reconhece por si qual é tua vontade, o que é bom, agradável e perfeito. Tu lhe ensinas, pois agora é capaz deste ensinamento, a ver a Trindade da Unidade e a Unidade da Trindade. Eis por que, depois de falar no plural: “Façamos o homem” se diz no singular: “E Deus criou o homem”. Depois deste plural: “À nossa imagem” — este singular: “À imagem de Deus”. Assim o homem “se renova pelo conhecimento de Deus, à imagem de seu criador” — e “tornando-se espiritual, julga todas as coisas”, que certamente hão de ser julgadas, “mas ele não é julgado por ninguém”. Confissões XIII, XXII
Que tuas obras te louvem para que te amemos! Que nós te amemos, para que tuas obras te louvem! Elas têm seu princípio e fim no tempo, seu nascimento e MORTE, seu progresso e decadência, sua beleza e sua imperfeição. Elas têm, portanto, sucessivamente sua manhã e sua noite, umas oculta; outras, manifestamente. Confissões XIII, XXXIII