Agostinho: alegria

E que me deleitava, senão amar e ser amada? Mas eu não era moderado, indo de alma para alma de acordo com os sinais luminosos da amizade, pois, da lodosa concupiscência de minha carne e do fervilhar da puberdade levantava-se como que uma névoa que obscurecia e ofuscava meu coração, a ponto de não discernir a serena amizade da tenebrosa libido. Uma e outra, confusamente, me abrasavam; arrastavam minha fraca idade pelo declive íngreme de meus apetites, afogando-me em um mar de torpezas. Tua ira se acumulava sobre mim, e eu não o sabia. Ensurdeci com o ruído da cadeia de minha mortalidade, e cada vez mais me afastava de ti, e tu o consentias; e me agitava, e me dissipava, e me derramava e fervia em minha devassidão, e tu te calavas — ó ALEGRIA que tão tarde encontrei! — tu te calavas então, e eu ia cada vez mais para longe de ti, sempre atrás de estéreis sementes de dores, com vil soberba e inquieto cansaço. Confissões II, II

Mas eu, miserável, tornei-me em torrente, seguindo o ímpeto de minha paixão, te abandonei e transgredi a todos os teus preceitos, sem porém, escapar de teus castigos. E quem o poderia dentre os mortais? Sempre estavas ao meu lado, irritando-se misericordiosamente comigo, e aspergindo com amaríssimos desgostos todos os meus gozos ilícitos, para que eu buscasse a ALEGRIA sem te ofender e, quando a achasse, de modo algum fosse fora de ti, Senhor. Confissões II, II

Pelo contrário, meu pai, certo dia, percebendo ao banho sinais de minha puberdade e vendo-me revestido de inquieta adolescência, como se já se alegrasse pensando nos netos, foi contá-lo alegre à minha mãe. ALEGRIA esta gerada pela embriaguez com que este mundo esquece de ti, seu criador, e em teu lugar ama tua criatura; embriaguez que nasce do vinho sutil de sua perversa e mal inclinada vontade para as coisas baixas. Confissões II, III

Confesso, Senhor, e muitas vezes disse que, pelo que me recordo, me abalou mais esta tua resposta pela solicitude de minha mãe, imperturbável diante de explicação falsa e ardilosa, e por ter visto o que se devia ver — e que eu certamente não veria sem que ela o dissesse — que o mesmo sonho com o qual anunciaste a esta piedosa mulher com tanta antecedência, a fim de consolá-la em sua aflição presente, uma ALEGRIA que só havia de se realizar muito tempo depois. Confissões III, XI

Eu não esperava ressuscitar meu amigo com minhas lágrimas, mas limitava-me a me condoer e a chorar minha miséria, pois eu havia perdido minha ALEGRIA. Confissões IV, V

Teria eu vinte e seis ou vinte e sete anos quando escrevi essas coisas, revolvendo dentro de mim apenas imagens corporais, cujo ruído aturdia os ouvidos do meu coração. Buscava eu aplicá-los — ó doce verdade — à tua melodia interior, quando meditava sobre o belo e o conveniente. Meu desejo era estar diante de ti, e ouvir tua voz, e alegrar-me intensamente com a voz do esposo, mas não o podia, porque o alarido do meu erro me arrebatava para fora e, sob o peso de minha soberba, caía no abismo. Pois ainda não davas gozo e ALEGRIA a meus ouvidos, nem exultavam meus ossos, porque ainda não haviam sido humilhados. Confissões IV, XV

Chegado a Milão, visitei o bispo Ambrosio, famoso na terra por suas qualidades, piedoso servo teu, cuja eloquência distribuía zelosamente entre teu povo a flor de teu trigo, a ALEGRIA do azeite e a sóbria embriaguez de teu vinho. A ele era eu conduzido por ti sem o saber, a fim de que ele me conduzisse a ti conscientemente. Confissões V, XIII

Encontrou-me em grave perigo, já sem esperança de buscar a verdade. Contudo, quando lhe disse que já não era maniqueísta, sem ser ainda católico, não pulou de ALEGRIA, como quem ouve algo inesperado, pois já estava segura sobre aquele ponto de minha miséria, que a fazia chorar por mim como por um morto que haveria de ressuscitar. Oferecia-me continuamente a ti em pensamento, como sobre um esquife, para que dissesses ao filho da viúva: Jovem, eu te digo: levanta-te, e seu filho revivesse, e voltasse a falar, e o entregasses à sua mãe. Confissões VI, I

Nem se abalou seu coração com ALEGRIA exagerada ao ouvir quanto já se havia cumprido daquilo que com tantas lágrimas te suplicava todos os dias. Viu-me, senão na posse da verdade, já afastado do erro. E como estava certa de que me concederias o que faltava — pois lhe havias prometido a graça total — respondeu-me, com muita calma e com o coração cheio de confiança, que esperava em Cristo que, antes de sair desta vida, me havia de ver católico fiel. Confissões VI, I

Que miserável era eu então! E como agiste para que eu sentisse minha desgraça? Era o dia em que me preparava para declamar os louvores do imperador; neles ia mentir muito e, mentindo granjearia a aprovação dos que sabiam das mentiras. Preocupado, meu coração se consumia com a febre de pensamentos impuros quando, ao passar por uma rua de Milão, vi um mendigo já bêbado, creio eu, mas bem humorado e divertido. Suspirei então, e falei aos amigos que me acompanhavam sobre as muitas dores que nos provocavam nossas loucuras. Com todos os esforços, quais eram os que então me afligiam, apenas arrastava a carga de minha infelicidade cada vez mais pesada, aguilhoado por meus apetites, para conseguir somente uma ALEGRIA tranquila, na qual já nos havia precedido aquele mendigo; ALEGRIA que nunca talvez alcançássemos. O que ele havia conseguido com umas poucas moedas de esmola, era exatamente o que eu aspirava com tão árduos caminhos e rodeios: a ALEGRIA de uma felicidade temporal. Confissões VI, VI

A ALEGRIA do mendigo não era certamente verdadeira, mas a que eu buscava com minhas ambições era ainda mais falsa. Ele, pelo menos, estava alegre, e eu, angustiado; ele seguro, e eu inquieto. Se alguém me perguntasse se preferia estar alegre ou triste eu responderia: alegre; mas se me perguntassem novamente se queria ser como aquele mendigo ou ser como eu era, sem dúvida escolheria a mim mesmo, embora cheio de cuidados e de temores. Mas isto eu faria por maldade ou com razão? Eu não devia preferir-me ao mendigo por ser mais culto, pois a ciência para mim não era fonte de felicidade, mas apenas um meio de agradar aos homens, e não instruí-los. Confissões VI, VI

Longe de minha alma os que dizem: “Importa levar em conta a causa da ALEGRIA; o mendigo se alegrava com a embriaguez, e tu com a glória”. Que glória, Senhor? Com a que não está em ti. Porque como aquela não era verdadeira ALEGRIA, assim aquela glória não era a verdadeira, antes perturbava mais ainda meu coração. O ébrio, naquela mesma noite, curaria sua embriaguez, enquanto eu já dormia com a minha, e me levantara com ela, e tornaria a dormir e a levantar com ela, e tu sabes quantos dias! Importa, é certo, conhecer os motivos da ALEGRIA de cada um, eu o sei, e a ALEGRIA da esperança fiel dista infinitamente daquela vaidade. Mas então, havia entre nós outra diferença, pois certamente ele era o mais feliz, não só porque transbordava de ALEGRIA, enquanto eu me consumia de cuidados, mas também porque ele comprara o vinho desejando a felicidade dos benfeitores, enquanto eu procurava com mentiras uma vã ostentação. Confissões VI, VI

Tu só sabes o que eu padecia, mas homem algum o sabia. De fato, quão pouco era o que minha palavra transmitia aos meus amigos mais íntimos! Chegava, porventura, a eles o tumulto de minha alma, que nem o tempo, nem as palavras bastavam para declarar? Contudo, chegavam a teus ouvidos as queixas que em meu coração rugiam, e meu desejo estava diante de ti, mas a luz de meus olhos não estava contigo, porque ela estava dentro, e eu olhava para fora. Ela não ocupava espaço algum, e eu só pensava nas coisas que ocupam lugar, e não achava nelas lugar de descanso, nem me acolhiam de modo que pudesse dizer: “Basta, Aqui estou bem!” — Nem me permitiam que eu fosse para onde me sentisse satisfeito. Eu era superior a estas coisas, mas sempre inferior a ti. Serias minha verdadeira ALEGRIA se eu te fosse submisso, pois sujeitasse a mim tudo o que criaste inferior a mim. Tal seria o justo equilíbrio e a região central de minha salvação: permanecer como imagem tua, e servindo-te, ser o senhor de meu corpo. Mas, como me levantei soberbamente contra ti, investindo contra meu Senhor coberto com o escudo de minha dura cerviz, até mesmo as criaturas inferiores se fizeram superiores a mim, e me oprimiam, e não me davam um momento de alívio e de descanso. Confissões VII, VII

Mas depois que hauriu forças nas leituras e orações, temeu ser renegado por Cristo diante de seus anjos, se tivesse medo de o confessar diante dos homens. Sentiu-se réu de um grande crime por se envergonhar dos mistérios de humildade de teu Verbo, não se envergonhando do culto sacrílego de demônios soberbos, que ele próprio aceitara como soberbo imitador; envergonhou-se da vaidade, e enrubesceu diante da verdade. De repente, disse a Simpliciano, segundo este mesmo contava: “Vamos à Igreja; quero me tornar cristão”. Simpliciano, não cabendo em si de ALEGRIA, foi com ele. Recebidos os primeiros sacramentos da religião, não muito depois, deu seu nome para receber o batismo que renegara, causando admiração em Roma e ALEGRIA na Igreja. Viram-no os soberbos, e se iraram; rangiam os dentes e se consumiam de raiva. Confissões VIII, II

Os presbíteros, dizia-me Simpliciano, propuseram a Vitorino que recitasse a profissão de fé em segredo, como era costume fazer com os que poderiam se perturbar pela timidez. Mas ele preferiu confessar sua salvação na presença da plebe santa, uma vez que nenhuma salvação havia na retórica que ensinara publicamente. Quanto menos, pois, devia temer diante de tua mansa grei pronunciar tua palavra, ele que não havia temido as turbas insanas em seus discursos! Assim, logo que subiu à tribuna para dar testemunho da sua , em uníssono, conforme o iam conhecendo, todos repetiram seu nome como num aplauso — e quem ali não o conhecia? — e um grito reprimido, saiu da boca de todos os que se alegravam: “Vitorino! Vitorino!” Ao verem-no, se puseram a gritar de júbilo, mas logo emudeceram pelo desejo de ouvi-lo. Vitorino pronunciou sua profissão de verdadeira com grande firmeza, e todos queriam raptá-lo para dentro de seus corações. E realmente o fizeram: seu amor e ALEGRIA eram as mãos que o arrebatavam. Confissões VIII, II

Bom Deus, que se passa no homem para que se alegre mais com a salvação de uma alma desesperada, quando salva de grande perigo, do que se ela sempre tivesse tido esperança, ou se o perigo tivesse sido menor? Também tu, Pai misericordioso, sentes mais ALEGRIA por um pecador arrependido do que por noventa e nove justos que não têm necessidade de penitência. Grande é o nosso prazer ao falar da ALEGRIA do pastor trazendo de volta sobre os ombros a ovelha desgarrada, e da mulher que repõe em teus tesouros, para satisfação geral dos vizinhos, a dracma perdida. E nos arranca lágrimas a ALEGRIA das festas de tua casa quando lemos que teu filho menor estava morto e reviveu; estava perdido e foi encontrado. Confissões VIII, III

A tempestade cai sobre os navegantes com ameaça de naufrágio. Todos empalidecem diante da morte iminente. O céu e o mar se acalmam, é grande sua ALEGRIA, e nasce do muito que temeram. Confissões VIII, III

Adoece uma pessoa amiga: seu pulso revela um desfecho fatal. Todos os que desejam sua cura sofrem com ela, por simpatia. Havendo melhora, embora ainda não recuperado o vigor de outrora, já reina tal ALEGRIA como não existia antes, quando andava sadia e forte. Confissões VIII, III

Assim ocorre tanto na ALEGRIA torpe e vil, como na ALEGRIA lícita e permitida, na mais sincera e honesta amizade, como na aventura daquele que estava morto e tornou a viver, que se havia perdido e foi encontrado; em todos os casos uma ALEGRIA maior é precedida de uma dor também maior. Confissões VIII, III

Por que isto, Senhor, meu Deus, quando tu mesmo és tua própria ALEGRIA eterna, e as criaturas à tua volta em ti se alegram? Por que esta parte do universo sofre as alternâncias de progressos e quedas, de uniões e separações? Será este o modo de ser que lhe concedeste quando, do mais alto dos céus até às profundezas da terra, desde o princípio dos tempos até o fim dos séculos, desde o anjo até o pequenino verme, e desde o primeiro movimento até o último, dispuseste todos os gêneros de bens e todas as tuas obras justas, cada uma em seu lugar e tempo? Confissões VIII, III

Mas se estes são menos conhecidos pelo mundo dos homens, mesmo os que os conhecem se alegram menos; mas quando a ALEGRIA é partilhada por muitos, ainda é maior em cada um, porque se aquece e inflama de uns para os outros. Confissões VIII, IV

Ademais, os que são conhecidos de muitos, arrastam à salvação muitos outros, e caminham adiante seguidos dos que os imitam. Por isso, grande é a ALEGRIA dos que os precederam, por que não se regozijam só consigo. Confissões VIII, IV

O inimigo dominava meu querer, e dele forjava uma corrente com a qual me mantinha cativo. Da vontade perversa nasce a paixão, e desta satisfeita procede o hábito, e do hábito não contrariado provém a necessidade, e com estes anéis enlaçados entre si — por isso lhes chamei corrente — me mantinha preso em dura servidão. A nova vontade, que despontava em mim, de te servir sem interesse, de me alegrar em ti, ó meu Deus, única ALEGRIA verdadeira, ainda não era capaz de vencer a vontade antiga e inveterada. Deste modo minhas duas vontades, a velha e a nova, a carnal e a espiritual, lutavam entre si e, nessa luta, dilaceravam-me a alma. Confissões VIII, V

De tal forma me converteste a ti, que já não procurava esposa, nem abrigava esperança alguma deste mundo, mas estava já naquela “regra de ” em que há tantos anos me havias mostrado à minha mãe. E assim converteste seu pranto em ALEGRIA, muito mais fecunda do que havia desejado, e muito mais preciosa e pura do que a que podia esperar dos netos nascidos de minha carne. Confissões VIII, XII

Verecundo, como disse, angustiava-se, mas Nebrídio partilhava a nossa ALEGRIA, porque, embora não sendo ainda cristão e houvesse caído no erro tão pernicioso de julgar que a carne verdadeira do teu Filho fosse mera aparência, já começava a se desvencilhar e, sem ter ainda recebido os sacramentos da tua Igreja, buscava ardentemente a verdade. Confissões IX, III

Oh! Se eles vissem essa luz interior e eterna que eu havia visto! E como a havia saboreado, irritava-me por não poder mostrá-la. Se, pelo seus olhares dirigidos para fora, visse seu coração afastado de ti, me dissessem: “Quem nos mostrará o bem? Pois ali, onde me irritara contra mim mesmo, ali, no recôndito de meu coração onde, arrependido, eu havia sacrificado e imolado em mim o velho homem; onde, pondo em ti minha esperança, começara a meditar a renovação de mim mesmo, ali fizeste com que eu sentisse tua doçura, dando ALEGRIA a meu coração. E exclamava ao ler, fora de mim, essas palavras cuja verdade ecoava em mim; e não queria desdobrar-me pelos bens terrenos, devorando o tempo e sendo por ele devorado, porque possuía na eterna simplicidade outro trigo, outro vinho e outro azeite. Confissões IX, IV

Com efeito, depois de descobertos e desenterrados, ao serem transladados com as honras convenientes para a basílica ambrosiana, alguns possessos, atormentados pelos espíritos imundos, foram curados, conforme confissão dos próprios demônios. Também um cidadão, cego havia muitos anos, e muito conhecido na cidade, perguntou a razão daquele alvoroço e ALEGRIA populares; informado, pediu a seu guia que o levasse até ás relíquias. Lá chegando, obteve permissão para tocar com um lenço o ataúde de teus santos, cuja morte havia sido preciosa a teus olhos. Feito isto, aplicou o lenço aos olhos, que imediatamente se abriram. Confissões IX, VII

Agora, com a ferida do meu coração já sanada, na qual se podia censurar um afeto muito carnal, derramo diante de ti, meu Deus, por tua serva, outra espécie de lágrimas, bem diferentes, aquelas que brotam do espírito comovido à vista dos perigos que corre toda alma que morre em Adão. É verdade que minha mãe, vivificada em Cristo, antes mesmo de ser livre dos laços da carne, viveu de tal modo, que teu nome era louvado em sua e em seus costumes. Contudo, não me atrevo a dizer que desde que a regeneraste no batismo não saiu de sua boca nenhuma palavra contrária à tua lei. Porque a Verdade, que é teu Filho, disse: “Quem chamar a seu irmão de louco será réu do fogo da geena”. Ai da vida dos homens, por mais louvável que seja, se tu a julgares sem a tua misericórdia! Mas porque não examinas nossos pecados com rigor, confiadamente esperamos tomar lugar a teu lado. Quem enumera diante de ti seus próprios méritos, que mais expõe senão teus dons? Oh! Se os homens se reconhecessem como homens! Se quem se glorifica se glorificasse no Senhor! Por isso, Deus de meu coração, minha vida e minha gloria, esquecendo por um momento as boas ações de minha mãe, pelas quais te dou graças com ALEGRIA, peço-te agora perdão por seus pecados. Ouve-me pelos méritos daquele que é o médico de nossas feridas, que foi suspenso do madeiro da cruz e que, sentado agora à tua direita, intercede por nós junto a ti. Eu sei que ela sempre agiu com misericórdia, e que perdoou de coração todas as faltas contra ela cometidas; perdoa-lhe também suas dívidas, se algumas contraiu em tantos anos que se seguiram ao batismo. Perdoa-lhe, Senhor, perdoa-lhe, te suplico, e não entres em juízo com ela. Confissões IX, XIII

Esta é a esperança com que falo, e nesta esperança me alegro, quando gozo de sã ALEGRIA. Tudo o mais desta vida, tanto menos se há de chorar quanto mais o choramos, e tanto mais teríamos que chorar quanto menos o choramos. Confissões X, I

Este poderá ser fruto de minhas confissões, não do que fui, mas do que sou. Farei minha confissão não apenas a ti, com íntima ALEGRIA mesclada de temor, e com secreta tristeza mesclada de esperança, mas também para os homens, que compartilham minha ALEGRIA e de minha mortalidade, meus concidadãos e peregrinos como eu, quer os que me precederam, como os que me seguem ou me acompanham no caminho da vida. Estes são teus servos, meus irmãos, que tu quiseste fossem filhos teus e meus senhores, e a quem me mandaste servir se quisesse viver contigo e de ti. Confissões X, IV

Lembro-me de ter estado alegre, ainda que não o esteja agora; recordo minha tristeza passada, sem estar triste; lembro-me de ter sentido medo, sem senti-lo de novo; lembro-me de antigo desejo, sem que o mesmo sinta agora. Outras vezes, pelo contrário, lembro-me com ALEGRIA a tristeza passada, e com tristeza uma ALEGRIA passada. Isto nada tem para admirar quando se trata de emoções corporais, porque uma coisa é a alma e outra o corpo; e assim não é maravilha que me lembre com ALEGRIA de um sofrimento físico já passado. Confissões X, XIV

Porém, aqui o espírito é a própria memória. Quando confiamos uma tarefa a alguém, dizemos: “Não o guardei no espírito”, “fugiu-me do espírito”. É, portanto, a memória que chamamos de espírito. Sendo assim, por que ao evocar com ALEGRIA uma tristeza passada, meu espírito sente ALEGRIA e minha memória, tristeza? Se meu espírito se alegra com a ALEGRIA que tem em si, por que a memória não se entristece com a tristeza, que também tem em si? Seria a memória estranha ao espírito? Quem ousará afirmá-lo? Sem dúvida a memória é como o estômago da alma, e a ALEGRIA e a tristeza são como alimentos, doce ou amargo; quando tais emoções são confiadas à memória, depois de passarem, digamos, por esse estômago, podem ali serem guardadas, mas já perderam o sabor. Seria ridículo comparar emoções e alimento como semelhantes. Contudo, elas não são totalmente diferentes. Confissões X, XIV

É ainda da memória que tiro a distinção entre as quatro emoções da alma: o desejo, a ALEGRIA, o medo e a tristeza. Assim, todo raciocínio que eu teça, dividindo cada uma delas nas espécies de seus gêneros, definindo-as, é na memória que encontro o que tenho a dizer, e de lá tiro tudo o que digo. Contudo, ao recordar essas emoções, não me perturbo com nenhuma delas. Confissões X, XIV

E antes mesmo que eu as recordasse para discuti-las, elas ali estavam, e por isso puderam ser tiradas da memória mediante a lembrança. Talvez a lembrança tire da memória essas emoções como o ato de ruminar tira do estômago os alimentos. Mas então, por que aquele que rumina sobre tais paixões não sente na boca do pensamento a doçura da ALEGRIA ou a amargura da tristeza? Estará justamente nisto a diferença entre tais fatos? De fato, quem gostaria de falar dessas emoções se, todas as vezes que falássemos do medo ou da tristeza, nos víssemos tristes ou temerosos? Confissões X, XIV

Essa lembrança, será porventura comparável à da ALEGRIA? Talvez, pois quando estou triste me lembro da ALEGRIA passada, e quando infeliz, lembro-me da felicidade. Ora, esta ALEGRIA, eu jamais a vi, ou ouvi, ou senti, ou saboreei, ou toquei; apenas a experimentei em minha alma quando me alegrei. E esta ideia se fixou em minha memória para que eu pudesse recordá-la, às vezes com desgosto, outras com saudades, conforme as circunstâncias que a geraram. Confissões X, XXI

De fato me senti invadido de ALEGRIA causada por ações torpes, cuja lembrança agora aborreço e abomino; outras vezes alegrei-me por ações boas e honestas, das quais me lembro com saudade; mas já pertencem ao passado, e evoco com tristeza minha antiga ALEGRIA. Confissões X, XXI

Que significa isto? Se perguntarmos a dois homens se querem alistar-se no exército, talvez um responda que sim o outro que não. Mas, perguntemos se desejam ser felizes, e ambos responderão que sim, sem nenhuma hesitação. E desejando um engajar-se, e o outro não, têm ambos a mesma finalidade: ser felizes. Um gosta disto, outro daquilo, mas ambos concordam em ser felizes, como seria unânime a resposta afirmativa a quem lhes perguntasse se querem estar alegres. Essa ALEGRIA é o que eles chamam de felicidade. E ainda que um siga por um caminho e outro por outro, a finalidade de todos é um só: a ALEGRIA. Como a ALEGRIA é um sentimento do qual todos temos experiência, a encontramos em nossa memória, e a reconhecemos ao ouvir pronunciar a palavra felicidade. Confissões X, XXI

Longe de mim, longe do coração de teu servo, Senhor, que a ti se confessa, a ideia de encontrar a felicidade não importa em que ALEGRIA! A felicidade é uma ALEGRIA que não é concedida aos ímpios, mas àqueles que te servem por puro amor: tu és essa ALEGRIA! Alegrar-se de ti, em ti e por ti: isso é felicidade. E não há outra. Os que imaginam outra felicidade, apegam-se a uma ALEGRIA que não é a verdadeira. Contudo, sempre há uma imagem da ALEGRIA da qual sua vontade não se afasta. Confissões X, XXII

Poderemos então concluir que nem todos desejam ser felizes, pois há aqueles que não querem buscar em ti sua ALEGRIA, tu que és a única felicidade? Ou talvez todos a queiram, mas, como a carne combate contra o espírito, e o espírito contra a carne, e com isso se contentam. Confissões X, XXIII

Pergunto a todos se preferem encontrar a ALEGRIA na verdade ou no erro; ninguém hesita em declarar que preferem a verdade, como em dizer que querem ser felizes. É que a felicidade é a ALEGRIA que provém da verdade. E essa ALEGRIA é a que nasce de ti, que és a própria Verdade, ó meu Deus, minha luz, saúde de meu rosto! Todos querem essa vida, a única feliz, essa ALEGRIA que se origina na verdade. Confissões X, XXIII

Onde, então, conheceram a felicidade, senão onde conheceram a verdade? Visto que não querem ser enganados, também amam a verdade, e desde que amam a felicidade, que nada mais é que a ALEGRIA proveniente da verdade, certamente também amam a verdade; e não a amariam se não retivessem dela, na sua memória, alguma noção. Por que, então, não se alegram com ela? Por que não são felizes? Porque se empolgam demais com outras coisas, que os tornam mais infelizes do que a verdade, de que se recordam fracamente, e que os faria felizes. Confissões X, XXIII

Mas por que a verdade gera o ódio? Por que os homens olham como inimigo aquele que a prega em teu nome, uma vez que amam a felicidade, que mais não é que a ALEGRIA nascida da verdade? Talvez por amarem a verdade de tal modo que tudo de diferente que amam, querem que seja verdade; e, não admitindo ser enganados, também não querem ser convencidos de seu erro. Desse modo, detestam a verdade por amarem aquilo que tomam pela verdade. Amam-na quando ela brilha, mas odeiam-na quando os repreende; e, como não querem ser enganados, mas enganar, eles a amam quando ela se manifesta, mas a odeiam quando ela os denuncia. Confissões X, XXIII

Quando me recordei de ti, ultrapassei aquela região da memória que também os animais possuem, pois não te encontrei entre as imagens dos objetos corpóreos. E cheguei àquela parte onde depositei os afetos de minha alma, mas também aí não te encontrei. Cheguei à morada que meu próprio espírito possui na memória — porque também o espírito lembra de si mesmo — mas nem ali estavas. Isso porque não és imagem corpórea, nem afeto de ser vivo, como a ALEGRIA, a tristeza, o desejo, o temor, a lembrança, o esquecimento e outros semelhantes, e nem és meu próprio espírito, porque és o Senhor e Deus do espírito, e tudo isso é mutável, enquanto permaneces imutável e subsistes acima de todas as coisas, e te dignaste habitar em minha memória desde que te conheço. Confissões X, XXV

Ai das prosperidades do século, onde se receia a adversidade e a ALEGRIA é corrompida! Ai das adversidades do século, uma, duas, três vezes ai! Pelo desejo da prosperidade, por ser dura a adversidade, e pelo temor que vença a nossa paciência! A vida do homem sobre a terra não é pois uma contínua tentação? Confissões X, XXVIII

Mas, Senhor, tu és o único que sabe mandar sem orgulho, porque és o único Senhor verdadeiro, que não tem senhor! Diga-me, terá cessado em mim, se isso pode acontecer nesta vida, esta terceira espécie de tentação, que consiste em querer ser temido e amado pelos homens, com o único fim de obter uma ALEGRIA que não é ALEGRIA? Que vida miserável, que arrogância indigna! Aí está o principal motivo porque não te amamos e tememos piamente. Por isso resistes aos soberbos, enquanto dás tua graça aos humildes. Trovejas contra as ambições do mundo, e faz abalar as montanhas até suas raízes. Confissões X, XXXVI

Ora, como é necessário, para se adequar à sociedade, fazer-se amar e temer pelos homens, o inimigo de nossa verdadeira felicidade nos alicia, e por toda parte semeia seus laços gritando: “Bravo! Muito bem!” — para que, ávidos, recolhamos as lisonjas e nos deixemos incautamente enredar. Seu intento é que deixemos de encontrar nossa ALEGRIA na verdade, para buscá-la na mentira dos homens; estimula em nós o prazer em nos fazer temer e amar, não pelo teu amor, mas em teu lugar. Com isso nos tornamos semelhantes a ele, não unidos na caridade, mas partilhando de suas penas. Ele quis fixar sua morada no aquilão (vento gelado do norte), para que nós, nas trevas e no frio, servíssemos o perverso e sinuoso imitador de teu poder. Confissões X, XXXVI

Então, Senhor, que devo confessar-te quanto a tais tentações? Que tenho em grande apreço o louvor? Mas agrada-me mais a verdade. Pois, se tivesse que escolher entre duas situações: ser louvado pela minha loucura ou por meus erros ou ser escarnecido por todos pela minha firme certeza da verdade, bem sei o que escolheria. Contudo, não gostaria que a aprovação alheia aumentasse para mim a ALEGRIA que sinto pelo pouco bem que faço. Mas tenho de te confessar que não só o louvor a aumenta, mas também que o vitupério a diminui. Confissões X, XXXVII

Quando deixaste de me acompanhar, ó Verdade, para me ensinar o que eu devia evitar ou procurar, sempre te consultei, a ti submetendo, dentro da minha limitação, meus medíocres pontos de vista? Percorri com os sentidos, como pude, o mundo exterior. Observei a vida de meu corpo e os meus próprios sentidos. Depois adentrei nas profundezas da memória em seus múltiplos domínios, tão maravilhosamente repletos de inúmeras riquezas; observei tudo isso, estupefato. Sem teu auxílio nada poderia distinguir, mas reconheci que nada disto eras tu. Nem era eu o descobridor de todas essas coisas; me esforcei para distingui-las e avaliá-las em seu devido valor, recebendo-a através dos sentidos e interrogando-as. Senti outras coisas unidas a mim, e as examinei, assim como aos sentidos que mas traziam; revolvi as vastas reservas da memória, analisando certas lembranças, guardando umas e trazendo outras à luz. Porque tu és a luz permanente que eu consultava sobre a existência, o valor e a qualidade de todas as coisas, e eu ouvia teus ensinamentos e tuas ordens. Costumo fazê-lo muitas vezes, pois essa é a minha ALEGRIA, e sempre que meus trabalhos me permitem algum descanso, refugio-me nesse prazer. Confissões X, XL

Teu é o dia e tua é a noite; a um aceno do teu querer, os minutos voam. Concede-me o tempo para meditar nos mistérios de tua lei, e não a feche para os que lhe batem à porta; não foi em vão que quiseste fossem escritas tantas páginas de obscuros segredos. Porventura, estes bosques não terão seus cervos, que ali se abrigam, se alimentam, que aí passeiam, descansam e ruminam? Ó Senhor, aperfeiçoa-me e revela-me o sentido desses mistérios. Tua palavra é minha ALEGRIA, tua voz está acima de todos os prazeres. Concede-me o que amo, porque ando enamorado, e amar é um dom que me concedeste. Não abandone teus dons, nem deixe de regar tua erva sedenta. Te exaltarei por tudo o que descobrir em teus livros; que eu ouça a voz de teus louvores. Faz que eu me inebrie de ti, e que eu contemple as maravilhas de tua lei, desde o começo dos tempos, quando fizeste o céu, a terra, até que partilharemos do reino do perpétuo de tua cidade santa. Confissões XI, II

Mas porque tua misericórdia é superior a todas as vidas, e eis que minha vida não é mais que distensão, e tua destra me acolheu em meu Senhor, o Filho do homem, mediador entre ti, que és uno, e nós, que somos muitos e vivemos divididos por diversas paixões. Assim. Por ele me unirei àquele, que por ele se uniu a nós, e liberto dos antigos dias, recolherei meu ser seguindo tua Unidade. Esquecido do passado, sem me preocupar com as coisas futuras e transitórias, atento apenas àquilo que é eterno, não com dispersão mas com todas as minhas forças buscarei a palma da vocação celeste, onde ouvirei a voz de teu louvor, e onde contemplarei tua ALEGRIA, que não conhece futuro nem passado. Confissões XI, XXIX

Quero discutir diante de ti apenas com os que reconhecem por verdadeiras as afirmações que tua verdade revelou à minha inteligência. Os que o negam, que ladrem quanto quiserem, até ficar roucos. Tentarei persuadi-los a que se acalmem, e deem acesso em seus corações à tua palavra. Se não o quiserem e me repelirem, peço-te, meu Deus, que não te cales, não te afastes de mim. fala com verdade em meu coração, porque só tu podes falar assim. E eu os deixarei fora, soprando o e levantando terra contra os próprios olhos. Retirar-me-ei em mim mesmo, levantando a ti cânticos de amor, soluçando altos gemidos durante meu exílio, lembrando-me de Jerusalém, voltando para ela meu coração — Jerusalém, minha pátria e minha mãe — e para ti, que reinas sobre ela, seu pai, sua luz, seu tutor, seu esposo, suas castas e grandes delícias, sua firme ALEGRIA, enfim, todos seus bens inefáveis, porque és o único, soberano e verdadeiro Bem. Não me apartarei de ti até que reúnas todas as partes dispersas e deformadas do meu ser na paz dessa mãe muito amada, onde estão as primícias de meu espírito, e de onde me vêm todas as certezas, e nela me reformes e confirmes por toda a eternidade, ó meu Deus, minha misericórdia. Confissões XII, XVI

E ainda: “Ó gálatas insensatos, quem vos fascinou?” — Mas não é mais sua voz que fala assim, e sim a tua voz, porque mandaste teu Espírito do alto do céu por intermédio de Jesus, que subiu ao céu e abriu as cataratas de seus dons, para que a torrente de ALEGRIA alegrasse tua cidade. É por essa cidade que suspira o amigo do esposo, ele que já possui as primícias do Espírito, mas que ainda geme, porque está à espera da adoção e do resgate do seu corpo. É por ela que suspira, porque ele é membro da Esposa de Cristo; por ela se abrasa em zelo, porque é o amigo do esposo. Zela por ela, não por si mesmo, pois é pela voz de tuas cataratas, e não com sua própria voz, que ele chama pelo outro abismo, objeto de seu zelo e de seus temores. Assim como a serpente enganou Eva com sua astúcia, ele receia que as inteligências débeis se corrompam e se afastem da pureza que está em teu Esposo, teu Filho único. Quão resplandecente será essa luz, quando o virmos tal como ele é, e quando tiverem passado essas lágrimas que se tornaram o pão de meus dias e de minhas noites, enquanto a cada dia me perguntam: Onde está o teu Deus? Confissões XIII, XIII

Senhor, assim como crias e concedes ALEGRIA e força, assim te peço que nasça da terra a vontade, e que a justiça lance os olhos sobre nós do alto dos céus, e que no firmamento brilhem os astros! Dividamos nosso pão com quem tem fome, acolhamos em nossa casa o pobre sem teto, vistamos quem está nu, e não desprezemos nossos semelhantes! Quando tais frutos nascem de nossa terra, olha, Senhor, e diz: Isso é bom; faze que tua luz brilho no momento oportuno. Por esta humilde messe de boas obras, faze que nos possamos elevar a uma contemplação deliciosa do Verbo da Vida, e que brilhemos no mundo como astros, fixados no firmamento de tua Escritura. Confissões XIII, XVIII

Nutrem-se com esses alimentos os que neles se alegram; não encontram neles ALEGRIA os homens cujo deus é seu ventre. E até entre os que ofertam esses frutos, o fruto não é o que eles dão, mas o espírito com que o oferecem. Por isso, naquele que servia a seu Deus e não a seu ventre percebo claramente a fonte de sua ALEGRIA; e participo fortemente de seu regozijo. Paulo recebera os presentes que os filipenses lhes tinham mandado por intermédio de Epafrodito. Vejo bem a razão de sua ALEGRIA. E é dela que se nutria, porque ele diz com verdade: “Alegrei-me muito no Senhor, vendo enfim reflorescer para mim vossa estima, da qual já andáveis desgostados”. Confissões XIII, XXVI

Qual então o motivo de tua ALEGRIA, ó grande Paulo? De onde vem tal júbilo, de que te alimentas, ó homem renovado para o conhecimento de Deus, conforme a imagem de teu Criador, alma viva que possui tal domínio de si, língua alada que exprime os mistérios? É certamente a tais almas que se deve este alimento. O que foi para ti esse alimento substancioso? A ALEGRIA. Confissões XIII, XXVI

Ouçamos o que segue: “Contudo, fizestes bem ao partilhar de minhas tribulações” — Esta é a fonte da ALEGRIA, isto é o que o nutre, as boas obras, e não o conforto que aliviou sua miséria. Ele diz: “Na tribulação dilatastes meu coração” — pois ele aprendeu a viver na abundância e sofrer as privações, em ti, que o confortas. — “Bem sabeis, filipenses — diz ele — que nos primórdios de minha pregação do Evangelho, quando deixei a Macedônia, nenhuma Igreja me assistiu com seus bens quanto ao dar e receber, com exceção de vós, que, várias vezes me enviaste, para Tessalônica, com que suprir às minhas necessidades”. — Alegra-se agora por voltarem à prática de boas ações, felicitando-se por terem eles reflorido como campo fértil e verdejante. Confissões XIII, XXVI

Referia-se por acaso às próprias necessidades quando dizia: “Socorrestes às minhas necessidades”? — Será este o motivos de sua ALEGRIA? Certamente que não. E como o sabemos? Confissões XIII, XXVI

Por isso, Senhor, direi diante de ti a verdade. Por vezes, ignorantes e infiéis que, para serem iniciados e conquistados para a , precisam desses rituais de iniciação e de milagres mirabolantes, simbolizados, a meu ver, pelos peixes e pelos cetáceos, acolhem teus servos e os socorrem, ou os auxiliam nas necessidades da vida presente, sem saber por que o fazem nem em vista de que devem agir. Desse modo, nem aqueles os alimentam, nem estes são alimentados por eles, pois os primeiros não são movidos por vontade santa e reta, e os segundos não se alegram com os dons recebidos, não descobrindo neles fruto algum. Ora, a alma só se alimenta com o que lhe traz ALEGRIA. É esta a razão pela qual os peixes e os cetáceos se nutrem de alimentos que a terra só pode produzir depois de separados e purificados de amargura das águas do mar. Confissões XIII, XXVII