Abade Poimem 6

Apoftegmas — Abade Poimém

Tradução do grego de D. Estevão Bettencourt O.S.B.

61. O Abade José contava o seguinte: «Estando nós sentados com o Abade Poimém, este nomeou o Abade Agatão. Dissemos-lhe, então: «É jovem; porque o chamas Abade?» Respondeu o Poimém: «Porque a boca dele fez que seja chamado Abade» (As suas palavras exprimiam profunda sabedoria).

62. Certa vez um irmão foi ter com o Abade Poimém e disse-lhe: «Que hei de fazer, Pai, pois sou perseguido pela fornicação? Eis que fui procurar o Abade Ibistião, o qual me disse: ‘Não deves permitir que ela persista em te atacar’. Respondeu o Abade Poimém: «O Abade Ibistião, os seus atos estão no alto com os anjos, e fica-lhe oculto que eu e tu estamos em meio à fornicação. Se o monge domina o ventre e a língua e vive na qualidade de estrangeiro (Sentindo-se peregrino, tendendo sempre à pátria celeste), tem confiança, ele não morrerá».

63. Disse o Abade Poimém: «Ensina a tua boca a proferir o que se acha em teu coração».

64. Um irmão perguntou ao Abade Poimém: «Se eu vir uma falta de meu irmão, será bom que eu a encubra?» O ancião respondeu: «No momento em que encobrimos a falta de nosso irmão, Deus encobre a nossa, e, no momento em que a manifestamos, também Deus manifesta a nossa».

65. O Abade Poimém contou o seguinte: «Em dada ocasião alguém perguntou ao Abade Paísio: ‘Que farei à minha alma, pois é insensível e não teme a Deus?’ Este respondeu: ‘Vai-te, e adere a um homem que teme a Deus, e, à medida que o fores frequentando, ensinar-te-á também a temer a Deus’».

66. Disse mais: «Se o monge vencer duas coisas, poder-se-á libertar do mundo». O irmão perguntou: «Quais são elas?» Respondeu: «O repouso da carne e a vangloria».

67. Abraão, o discípulo do Abade Agatão, perguntou ao Abade Poimém: «Como é possivel que os demônios me impugnem?» Disse o Abade Poimém: «Impugnam-te os demônios? Eles não impugnam, enquanto seguimos os nossos próprios desejos. Com efeito, os nossos desejos se tornaram demônios, e são eles que nos atormentam, para que os realizemos. Se queres saber com que é que os demônios lutaram, recorda-te de Moisés e dos que foram semelhantes a ele» (Sofrer tentação e impugnações dos demônios é, pois sinal de que eles não nos dominam, de que não fazemos as suas vontades).

68. Disse o Abade Poimém: «Foi este o gênero de vida que Deus ensinou a Israel: abster-se daquilo que é contrário à natureza, ou seja, da ira, da concupiscência, da inveja, do ódio, da maledicência contra o próximo, e do mais que pertence ao velho homem».

69. Um irmão pediu ao Abade Poimém: «Dize-me uma palavra». Respondeu este: «Os Padres estabeleceram como princípio da obra a dor devida ao pecado» (o que quer dizer: a alma motriz de todas as nossas peões deve ser a compunção ou contrição pelo pecado). O irmão pediu de novo: «Dize-me outra palavra». O ancião respondeu: «Quanto podes, faze trabalho manual, para que com os seus frutos pratiques a misericórdia; pois está escrito que a esmola e a fé purificam dos pecados» (Cf. Pr 15,27). O irmão perguntou ainda: «Que é a fé?» O ancião explicou: «A fé é viver em humildade, e praticar a misericórdia».

70. Um irmão referiu ao Abade Poimém: «Se vejo um irmão do qual ouvi contar uma falta, não o quero introduzir em minha cela. Se, porém, veio um bom irmão, alegro-me com ele». O ancião respondeu: «Se fazes ao bom irmão um pouco de bem, faze o duplo àquele outro, pois é aquele o enfermo. Havia num cenóbio um anacoreta chamado Timóteo. Ora o Superior, tendo ouvido um rumor a respeito de certo irmão tentado, interrogou Timóteo sobre tal irmão; o anacoreta lhe aconselhou que o expulsasse. Depois que fora expulso, a tentação do irmão recaiu sobre Timóteo (Timóteo começou a sofrer da mesma tentação), de modo que este correu perigo. Timóteo, então, pôs-se a chorar diante de Deus, dizendo: «Pequei, perdoa-me». E desceu a ele uma voz que dizia: «Timóteo, não julgues que te fiz isto por outro motivo senão porque desprezaste teu irmão no tempo da tentação».