Apoftegmas — Abade Poimém
Tradução do grego de D. Estevão Bettencourt O.S.B.
141. Disse de novo o Abade Poimém ao Abade Isaque: «Torna leve uma parte da tua justiça, e encontrarás paz nos poucos dias de tua vida».
142. Um irmão foi visitar o Abade Poimém, e, estando alguns sentados juntos, pôs-se a louvar outro irmão, porque este odiava o mal. Então o Abade Poimém perguntou-lhe: «E que é odiar o mal?» O irmão ficou perturbado e não encontrou resposta; levantou-se, pois, e prostrou-se diante do ancião, pedindo: «Dize-me o que é odiar o mal». Respondeu Poimém: «Odiar o mal consiste em que alguém odeie os próprios pecados e considere justo o seu próximo».
143. Um irmão foi ter com o Abade Poimém e perguntou-lhe: «Que devo fazer?» Este respondeu: «Vai e associa-te a quem diz: ‘Que é que eu quero?’ E encontrarás sossego».
144. O Abade José referiu a seguinte narrativa do Abade Isaque: «Certa vez estava sentado com o Abade Poimém e vi-o entrar em êxtase; já que eu tinha grande familiaridade com ele, prostrei-me depois diante dele e perguntei-lhe: ‘Dize-me onde estavas’. Constrangido, respondeu: ‘Minha mente estava no lugar em que Santa Maria, a Mãe de Deus, esteve, e chorava junto à cruz do Salvador; eu quisera chorar sempre desse modo’».
145. Um irmão perguntou ao Abade Poimém: «Que farei contra esta carga que me comprime?»
Respondeu: «As naves, pequenas e grandes, levam cinturões; no caso de faltar vento favorável, os marinheiros colocam esses cinturões sobre o peito, munem-se de cordas, e assim aos poucos vão puxando a nave, até que Deus mande o vento; quando, porém, observam que aproximam as trevas, apressam-se em voltar à nave e lançam a âncora, para que a embarcação não fique errante».
146. Um irmão interrogou o Abade Poimém a respeito dos assaltos dos maus pensamentos.
Respondeu-lhe o ancião: «Isso se assemelha a um homem que tem fogo à esquerda e um reservatório de água à direita; uma vez aceso o fogo, tome água do reservatório e apague-o. O fogo é a semente do inimigo, enquanto a água significa prostrar-se em presença de Deus».
147. Um irmão perguntou ao Abade Poimém: «Que é melhor: falar ou calar-se?» Respondeu o ancião: «Aquele que fala por causa de Deus, faz bem; e aquele que se cala por causa de Deus, faz bem».
148. Um irmão perguntou ao Abade Poimém: «Como pode o homem evitar dizer palavras duras ao próximo?» Respondeu o ancião: «Nós e os nossos irmãos somos duas imagens: todas as vezes que o homem considera a si mesmo e se acusa, o irmão lhe parece digno de honra: quando, porém, o homem se julga bom, acha o irmão mau em comparação a ele».
149. Um irmão interrogou o Abade Poimém a respeito da acedia 1. Respondeu-lhe o ancião: «A acedia se encontra em todo início, e não há paixão pior do que ela. Se, porém, o homem a descobre e reconhece que é ela, encontra paz».
A acedia é o desânimo na vida espiritual. ↩