Philokalia — Abade Philemon ou Filemão
Segundo a apresentação deste autor na tradução francesa da Philokalia, o Abade Filemão foi um destes grandes anacoretas que povoaram os desertos do Egito, dos séculos IV ao VII, até a conquista árabe em 640. Ele mesmo deve ter vivido no século VI.
Todas as aquisições da experiência eremita, depois de Evagrio e Diadoco de Photiki, aí estão reunidas: a hesychia, a nepsis, a purificação da inteligência, e sobretudo a oração do coração, que Filemão denomina “meditação secreta”, e que ele formula: “Senhor, tende piedade” ou “Senhor Jesus, tende piedade”, mas da qual dá também, um dos primeiros a fazê-lo, a formulação tradicional: “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tende piedade de mim”: a herança mesma que receberam, guardaram e cultivaram os sinaítas.
Resta o que dificilmente se poderia transmitir: o extremo rigor, a extrema delicadeza, a extrema liberdade da vida dos Padres do Deserto. E Filemão é aqui exemplar: profundamente despojado, solitário e silencioso, capaz de mergulhar dia e noite nas orações canônicas de sua “liturgia” cotidiana como na Oração do Coração, renunciando, pela humildade, a celebrar ele mesmo a eucaristia, embora fosse padre; mas capaz também de exortar o monge que desejasse segui-lo, de responder a todas as questões daqueles que vinham vê-lo, de trabalhar com suas mãos e de oferecer, no mercado, o fruto de seu trabalho. Em tudo isto Filemão afirma: “Só aporto uma única coisa, a oração contínua”.
Segundo a introdução de seus extratos pelos compiladores da Philokalia:
Nosso bem-aventurado Padre Filemão, que, entre os Padres teóforos, levou ao mais alto ponto a nepsis e a penthos, viveu em um tempo que sua história nada nos conta. O que foi mais que qualquer outro, inteiramente votado à piedade, à experiência, à hesychia, à imitação fiel do grande Arsênio, o presente relato o dá a ver àqueles que o querem.
Por suas orações e suas súplicas, noite e dia, perseverando na sua cabana de asceta como em uma câmara elevada da existência, e se lavando a si mesmo na fonte das lágrimas e dos gemidos, superando pelo amor de Deus não somente aquilo que de toda maneira está submetido ao mal, mas também aquilo que vem da melhor parte, , todo sensível como todo inteligível, se apresentou deiante de Deus surdo e mudo, como está escrito, e alcançou à mais bela iluminação da graça pela qual, no extremo da hesychia e do silêncio e como sob o efeito da radiação solar, recebeu em abundância o dom de examinar e de discernir, de ver e de prever. Testemunha do que acaba de ser dito, o presente relato, no qual o ensinamento eminente da santa nepsis é dada na perfeição, como uma vestimento bordado tecido por Deus. Tanto ele se voltou para ação, quanto permaneceu na contemplação, pela longa experiência que, através das obras, conduziu a bom termo a fé ela mesma. Logo, se agrada a alguém se despojar da sujeira e da feiura do vestimento das paixões, ou seja se despojar do homem velho, e de se cobrir da túnica luminosa da impassibilidade (apatheia) e da graça (kharis), que é o homem novo segundo Cristo Jesus, pensando continuamente nEle, pondo tudo em obra para alcançar à meta de suas meditações, ele assim realizará seu louvável desejo.
Escritos na Internet
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ABBA PHILEMON
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