Do latim templum, espaço quadrado delimitado pela augura no céu e sobre a terra, no interior do qual ele recolhe e interpreta os presságios. Edifício consagrado ao culto. Mais particularmente aquele onde se celebra o culto protestante. Não se diz templo para sinagoga, igreja ou mesquita. Os templos primitivos se reduziam frequentemente a um complexo megalítico. Moradas dos deuses, lugares de oferendas, de sacrifícios e de oração, os templos se cobriam, segundo as religiões, de uma decoração suntuosa. Edificado por Salomão, o primeiro Templo de Jerusalém foi destruído em 586 aC por Nabucodonosor. O segundo, construído sob a direção de Ezra e de Neemias a partir de 536, foi restaurado por Herodes em 374 aC e destruído por Tito (aprox. 70 dC). O templo abrigava a Arca da Aliança e compreendia, além de um conjunto de construções, grande alas que aí davam acesso. No centro, estava o santuário compreendendo o lugar santo, onde não entravam senão os sacerdotes, e o lugar santíssimo, onde não era admitido senão grande-sacerdote, uma vez por ano. [NP]
Evangelho de Jesus: Destruição do Templo
Eckhart
No Sermão I, há uma identificação entre o templo de Deus e a alma do ser humano. Como lembra um de seus tradutores para o francês, Gwendoline Jarczyk, esta identificação se reproduz em outros sermões. Por exemplo: Sermão IX e Sermão XXIV. (Mestre Eckhart)
Alleau
Segundo Fílon de Alexandria, em «A Explicação da lei» (Spec. Leg., I, 66), o Templo visível é a figura do Templo de Deus no sentido mais elevado e mais verdadeiro, que é o mundo inteiro. Ele tem como santuário a parte mais sagrada da natureza: o céu; como objetos consagrados, os astros; como sacerdotes, os anjos que estão ao serviço das suas potências, almas invisíveis.» (René Alleau: A ciência do símbolo)
Gordon
Para delimitar as regiões da extensão em relação a um onfalos secundário, recorria-se ao traçado essencial, ou sinal da cruz: em outros termos, copiava-se o procedimento fundamental adotado na ilha dos quatro mestres. Para tal, depois de se colocar no ponto desejado, um personagem qualificado cortava o espaço (raiz tem, donde temenos e templum), — no céu, sobre o solo e sob a terra —, por meio de duas linhas perpendiculares: o cardo latino (indo do norte ao sul) e o decumanus (de leste a oeste); o onfalos, situado no lugar da intercessão, era, para os latinos, o decussis. Na Irlanda, em Ushnag, centro, ou decussi, do país, se elevava uma pedra gigantesca, chamada umbigo da terra, e, também, pedra das porções (ail-na-meeran), porque indicava o lugar onde convergiam as linhas de separação entre os quatro reinos. — Notar que meeran provinha da mesma raiz que meros e Meru. — O reino do centro era designado pelo nome de Mide, ou Meath (forma anglicizada; celta medion, idêntico ao latim medius). A quadripartição cruciforme alcançava assim, como foi o caso em muitos países, a uma divisão quintúplice (o foro sagrado do entrecruzamento sendo considerado como uma região divina distinta). (Pierre Gordon: Imagem do mundo na antiguidade)
Gregório do Sinai
7. Um santuário verdadeiro antes mesmo da vida futura, tal é o coração sem pensamentos no qual age o Espírito. Pois tudo que se faz e se diz nele é a obra do Espírito. Aquele que desde agora não adquiriu isso é uma pedra para as outras virtudes. Ele pode servir à edificação do templo de Deus. Mas não é o templo e aquele que celebra os mistérios do Espírito. (Gregório do Sinai: 137 sentenças diversas)
Corbin
Un gran escritor israelí de nuestros días, Elie Wiesel, ha puesto como epígrafe de Le Serment de Kolvillag1, uno de sus libros más conmovedores, esta cita del Talmud: «Si los pueblos y las naciones hubieran sabido el daño que se hacían a sí mismos destruyendo el templo de Jerusalém, habrían llorado más que los hijos de Israel». Estaba todavía meditando las resonancias lejanas de estas líneas cuando en una obra reciente2 encontraba este otro epígrafe, debido al historiador Ignaz von Döllinger: «Si se me preguntase por los dies nefastus de la historia del mundo, me vendría a la mente el 13 de octubre de 1307» (día de la detención masiva de Templarios franceses por orden de Felipe el Hermoso). Y algunas páginas más adelante, en la misma obra, se recuerda «una leyenda que tiene por marco el circo de Gavarnie, en los Pirineos, donde reposan en una capilla seis caballeros del Temple. Todos los años, en el aniversario del último gran maestre de la Orden, el 18 de marzo, se ve aparecer a un caballero del Temple llevando, en lugar de su mortaja, la célebre capa blanca con la cruz roja paté. Está en actitud de combate y con la lanza dispuesta. Se dirige a paso lento hacia el centro de la capilla y lanza una llamada desgarradora, cuyo eco resuena en el circo de las montañas: “¿Quién defenderá el santo Templo?3). ¿Quién liberará la tumba de Cristo?”. Al oír esta llamada, los seis Templarios enterrados cobran vida de nuevo y se levantan para responder por tres veces: “¡Nadie! ¡Nadie! ¡Nadie! El templo está destruido”»4.
El lamento de los sabios talmudistas y el clamor fúnebre que vibra en un circo de los Pirineos se hacen eco mutuamente, pues sitúan en el corazón de la historia del mundo la misma catástrofe: la destrucción del templo, del mismo templo. Sin embargo, se observa también en el curso de los siglos, oponiéndose a esta desesperanza, la tenacidad de un desafío permanente, la recurrencia de la imagen triunfal de la reconstrucción del templo, el advenimiento del nuevo templo que se amplifica hasta las dimensiones de una restauración cósmica. Las dos imágenes, destrucción y reconstrucción del templo, son inseparables una de otra. Se alimentan en la misma fuente para configurar una visión del mundo que en las dos dimensiones, horizontal y vertical, está dominada por la imagen del templo, Imago Templi, y que hace indisociables el destino de la ciudad-templo y el destino de la comunidad-templo en la persona de los caballeros Templarios. (Henry Corbin – Corbin Imago Templi)
Arola
Ao estudarmos a etimologia da palavra templo, vemos as inúmeras indicações que nos conduzem ao núcleo do sentido que desejamos descobrir. A palavra latina templum (em grego temenos, do radical grego tem), que significa “cortar”, de maneira que templum nada mais significa senão o cortado, o demarcado. Na terminologia posterior dos carpinteiros, dois travessões ou vigas que se entrecruzam, ainda constituem um templum. Em catalão, a palavra templàs e templán em castelhano, designam uma régua de madeira que, no tear, impede a redução de amplitude da peça sendo tecida. Vejamos o que isto tem a ver com o templo.
Na Roma antiga, o sacerdote, o áugure, delimitava um templum no céu, a fim de conhecer o presságio segundo o voo das aves dentro daquele limite. A delimitação criava uma divisão básica que se reproduzia em todos os níveis terrenos, na cidade, acampamentos, rituais, etc. No sentido etimológico, o primeiro templo é, portanto, uma divisão em setores: primeiro a linha leste-oeste, traçada e fixada pelo curso do sol, depois cortada por outra linha perpendicular a ela, que seguia a direção norte- sul. A estas linhas, davam o nome de decamanus e cardo.
Em uma reflexão sobre a vida contemplativa, L.Schaya amplia o sentido do templo, dando-lhe o sentido real: “A palavra contemplatio é composta de cum e templum. Este último termo indica um lugar consagrado e, na antiguidade, significava particularmente o quadrado traçado imaginariamente no céu pelo áugure (…) Pois bem, a contemplação do céu não se limitou à de um áugure investigando nele um presságio: homens de todos os povos e todos os tempos, ergueram os olhos para a abóboda celeste e ficavam maravilhados, fascinados pelas miríades que nela se revelavam. Em toda parte houve homens que, desta contemplação natural do céu, foram transportados à contemplação espiritual do Criador, o que recorda as palavras de Isaías: “Levantai ao alto os vossos olhos, e vede quem criou estas coisas.” (40, 26). Entretanto a Contemplatio Dei não nasce somente da contemplação dos fenômenos celestes. Cícero, por exemplo, amplia a noção de templum (Rep. 6, 15) e, portanto, a de contemplado da Divindade onipresente a “Deus, que tem por âmbito (templum) tudo quanto vês”. Posto que a criação, todas as criaturas, constituem o templo de Deus, o crente termina contemplando o Onipresente em todas as coisas. Aliás, as Escrituras sagradas o convidam a isso, como faz o Corão, ao revelar: “Para qualquer lado que vos virais, lá está a Face de Alá” (11, 109)7.
É semelhante a explicação de H. Corbin sobre a sacramentação do espaço delimitado pelo sacerdote, porquanto denota a presença de Deus: “Assim sacramentada, a palavra templum designou finalmente o santuário, o edifício sagrado conhecido pelo nome de templo, lugar de uma presença divina e de sua contemplação. A palavra latina templum se tornou, portanto, apta a traduzir as expressões árabes e hebraica que recordamos no princípio (tornaremos a vê-las mais adiante), as quais conotam a ideia de uma morada divina, enquanto que, por sua etimologia distante, a palavra conota a idéia de um lugar de visão. O templo é o lugar, o órgão da contemplação. (…) O próprio Deus é o templo dos crentes e, reciprocamente, os crentes são o templo de Deus”.
O que nos indicam tais relações? Que existe uma Criação, que existe uma divisão, uma separação entre o Criador e o criado, que de, alguma forma, toda a criação e todas as criaturas são o templo de Deus, pois são sua própria separação, seu desdobramento. O sentido etimológico do templo revela que não se refere apenas a um edifício, mas que seu conteúdo é muito mais amplo. Diz um poema de Kabir: “Se Alá está dentro da mesquita, então, a quem pertence este mundo? Se Rama está dentro das imagens que encontras em tua peregrinação, então, existe quem saiba o que ocorre no exterior?”
Vejamos agora algumas notas sobre o sentido etimológico hebraico, citado por H. Corbin, e que nos permitirá compreender melhor a ideia que tentamos elaborar. H. Corbin usa o termo Beit-ha-migdash, no sentido de Casa Santa, assim como Beit-El, no sentido de Casa do Mundo, ou Beit-Israel, a Casa de Israel. Aqui, interessa-nos não tanto a especificação, como a denotação do termo Beit, Casa, que também designa a segunda letra do alfabeto hebreu e corresponde ao número dois. Explica o Sefer ha-Bahir: “Por que a letra Beth está fechada por todos os lados e aberta na parte da frente? É para mostrar-te que é a Casa do Mundo. Isto significa que o Santo, Bendito Seja, é o lugar do mundo, mas que o mundo não é seu lugar. Assim, não deve ser lido Beth, mas Bait, casa, tal como está escrito: ‘É pela Sabedoria que a casa se edifica e é por sua inteligência que se consolida (Prov. 24-3)”.
Por esta letra, a segunda do alfabeto, começa a Torá, e com ela toda a obra da criação, pois indica a divisão entre o Criador e as criaturas. Diz o Sefer ha-Zohar: “E, efetivamente, Eu (o Santo, Bendito Seja) me servirei de ti (a letra Beth) para realizar a criação do mundo e, portanto, serás a base da obra da criação”. Em outra passagem, diz: “A letra Beth designa os dois reinos, o de cima e o de baixo, que estão em comunicação, como o Norte e o Sul. O reino de cima funde o gelo de baixo, e o reino de baixo rende graças ao de cima. Estes dois reinos representam ‘o macho’ e ‘a fêmea’, que se complementam um ao outro. O céu representa o macho, e a terra, que pede as águas do macho, representa a fêmea. Quando o céu concede suas águas à terra, esta se torna fecunda”.
Nestes breves comentários cabalísticos sobre o sentido de Beit, podemos ver os três princípios que conceitualizam a palavra latina templum: 1 – indica uma separação, um corte; 2 – é um lugar que está habitado por Deus; 3 – é o lugar da contemplação, pois é o lugar da reunião com Deus. (Arola)
Elie Wiesel, Le Serment de Kolvillag, Seuil, Paris, 1973, p. 6 ↩
P. Mariel, Guide… des Templiers, La Table Ronde, Paris, 1973, p. 7. ↩
Téngase en cuenta que en francés una misma palabra (temple) designa los términos castellanos «templo» y «Temple», superponiéndose en ocasiones, ambos significados. (N. de los T. ↩
lbid.,PP. 131-132. ↩