Abade Stephane:
- O Simbolismo do Presépio
- O mistério da Natividade comporta um duplo aspecto: o nascimento do Verbo ao mundo (ponto de vista macrocósmico) e o nascimento do Verbo na alma (ponto de vista microcósmico)
- O Menino-Jesus deve ocupar o lugar central, sendo tão pequeno quanto possível para figurar “o Reino dos Céus semelhante a um grão de mostarda”.
- A Virgem deve ocupar igualmente uma situação central, mas na retaguarda; jamais ocupando uma posição simétrica a de São José, que não é o verdadeiro pai do Menino-Jesus; ela também não deve ter, ao contrário de muitas figurações, uma atitude de oração ou de adoração, como os outros personagens. Deve estar na posição de Virgo genetrix, que supõe sua situação atrás do Cristo, mas na mesma situação axial, que significa que ela é ao mesmo tempo “Mãe de Deus” e “Esposa do Espírito Santo”. Sua atitude deve ser hierárquica, impassível, o que simboliza sua virgindade, sua imaculada concepção, sua perfeita submissão ou “passividade” a respeito do Espírito Santo.
- Tudo o que foi dito vale também do ponto de vista microcósmico, ou seja, com relação ao nascimento do Verbo na alma. A Virgem representa então a alma em estado de graça.
- A alma se identifica, de um ponto de vista passivo com a Virgem realizando as perfeições mariais, para que o Verbo possa se encarnar como no seio virginal de Maria, esposa do Espírito Santo.
- De um ponto de vista ativo, a alma se identifica à Virgem-Mãe. O primeiro aspecto se refere à Comunhão da alma recebendo o Cristo, o segundo à Invocação do Nome de Jesus: a alma profere o Verbo como a Virgem procria o Cristo, sob a ação do Espírito Santo, gerador supremo.
- É aqui que intervém São José, assim como o asno e o boi. São José simboliza a presença invisível do mestre espiritual na invocação, este sendo o Espírito Santo; o boi representa o “guardião do santuário”, quer dizer o espírito de submissão, de fidelidade, de perseverança e o esforço de concentração; o asno, animal “profano’ é a testemunha “satânica” na invocação, onde representa o espírito de não submissão e de dissipação.
- Isto pode ser aplicado na ordem “macrocósmica”, onde o boi e o asno representam respectivamente o mundo celeste e o mundo infernal. Poderia se perguntar porque este é admitido no nascimento do Verbo, no mundo como na alma. A explicação se encontra indicada na Epístola aos Filipenses (II, 10): Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, (Fil 2:10), texto que se refere também ao nascimento do Cristo no mundo assim como à invocação do Nome de Jesus.
- Por todos estes motivos São José deve figurar ao lado direito da Virgem, mas não no eixo indicado anteriormente, e posto que é o símbolo do Mestre Invisível, em uma atitude puramente passiva, de maneira a não fazer obstáculo à ação do Espírito. O boi e o asno devem ficar à direita e à esquerda do Menino-Jesus.
- Resta falar dos Reis Magos e dos pastores. Os três Reis Magos representam o poder sacerdotal e real. O primeiro o poder real que oferece ao Cristo o ouro e o saúda como Rei; o segundo, o poder sacerdotal e lhe oferece incenso, o saudando como Sacerdote; o terceiro, a síntese dos dois poderes em estado indiferenciado lhe oferece a mirra (bálsamo da incorruptibilidade) lhe saudando como “Profeta” ou Mestre espiritual por excelência.
- A função dos Reis Magos tem portanto um caráter aristocrático que os distingue dos pastores que representam o povo. Deve-se pôr os Reis diante de Jesus enquanto os pastores formam um semicírculo ao redor dos Reis.
- O nascimento do Verbo ou o “renascimento espiritual” da alma, deve se realizar na mais alta noite (meia-noite) em uma gruta no solstício de inverno, no dia mais curto e com noite mais longa, data justamente fixada para o Natal.
- A gruta não é uma pobre cabana de palha como em algumas representações, mas a Caverna ou Domo (situado nas igrejas acima do santuário onde se realiza o mistério eucarístico).
- A caverna deve ter uma forma hemisférica (um quarto de esfera); o interior deve ser sombrio, iluminado apenas pela Estrela, símbolo da Luz divina, que deve ficar no topo da caverna.
- A manjedoura onde repousa o Menino-Jesus pode ter uma forma hemisférica, complementar daquela da Caverna, o que simboliza as duas metades do “Ovo do Mundo” (vide O Coração e a Caverna
Jean Laurent
O Presépio
O presépio figura simbolicamente mais que alegoricamente, a natividade do menino Deus.
É na noite, morte espiritual, que Maria que é nossa alma, dá à luz ao Cristo, que é nossa natureza divina.
Esta êxtase generosa é presidida pelo pai espiritual: São José, aquele que, antes de tudo, renunciou a sua recusa de homem, e conduziu a virgem até a cidade de Davi, centro do mundo, centro do coração. É na intimidade deste presépio–coração que se desenrola a cena divina. A gruta tem duas portas: aquela dos homens, por onde entraram os pais, os pastores, os reis, e aquela de Deus, pequeno orifício no teto da gruta donde cai verticalmente o raio da estrela. Esta estrela é o pequeno Rei da constelação de Leão. Regulus, ou alfa Leo, é o coração do leão. Devido a seu levantar helíaco ela preside às vocações reais segundo a tradição iraniana. É uma estrela branca de magnitude 1,3. Pode-se ver muito facilmente esta estrela brilhante ao Sul da Grande Ursa.
O presépio será portanto uma gruta de dois orifícios, dominada pela estrela dos Reis Magos. A Virgem está ao fundo. Diante dela o Filho. Na entradas da porta dos homens, de pé, São José.
O boi, símbolo da perseverança e do poder, está à direita do Cristo. O asno, símbolo da dissipação, está à esquerda. Eles são como o anjo e o demônio ao redor do homem piedoso meditando.
Os pastores são os homens da vontade reta e boa; os outros, homens ordinários. Os primeiros aportam o cordeiro, os outros os frutos do trabalho e das paixões do homens.
E Ravi é o louco de Deus, o simples de espírito, o iluminado, o dervixe.
Frequentemente presentes nos presépios, os ciganos figuram os homens da idade de outro, eles que não estão fixos em uma sociedade materialista e espiritualmente cristalizada.
Em seguida chegam os Reis Magos, com seus dromedários e seus elefantes: o primeiro Rei é Melchi-or (Melquisedeque). Ele é velho, branco. Aporta o ouro da Realeza. O segundo é Gaspar. Está vestido de vermelho, signo do sacrifício e da paixão. Aporta o incenso do sacerdócio. O terceiro é Baltasar. Ele é negro. Oferece a mirra, signo da morte.
Estes três reis são os três poderes da alma, diz Boaventura. São as três gunas hindus:
- a força de elevação, de interiorização,
- a força de expansão, de exteriorização,
- a força de decadência, o pesadume.
Estas três gunas, tradicionalmente branca, vermelha e negra, são também a parte superior da cruz, a parte horizontal e a parte inferior.
Notemos que estes três Reis Magos (Reis-Pontífices) vêm legitimar a tradição nova e sobretudo Melchi-or, rei de Salem, rei-pontífice sempre.
Notemos também que Melchi-or, o maior sobre a terra, coroa o Cristo, enquanto os dois outros reis fazem oferenda em signo de respeito e de fidelidade.
A festa da Epifania será marcada além pela partilha da torta do mundo entre os homens e Deus. No interior deste doce circular está oculta a semente. Ela se abrirá àquele que Deus escolheu.