Pomba

SÍMBOLOS — ESPÍRITO SANTOPOMBA
VIDE: UNÇÃO


Simbolismo
Charbonneau-Lassay: POMBA


Roberto Pla:

A descida do poder e da Glória de Deus, desde o absoluto insondável do Pai até a consciência pura do homem, o descrevem os evangelistas “em parábola” ao representar na breve cena do batismo de Jesus no Jordão o por vezes muito longo e duradouro processo da realização espiritual do homem (Batismo de Jesus).

O relato funde em um só os dois batismos, o de água e o de fogo, e inclusive este último o apresenta como consumado, quer dizer, com a unção já culminada e perfeita; mas essa perfeição não evita o caráter paradigmático que o batismo de Jesus tem para cada homem “em Cristo”.

  • A chegada do Espírito se descreve como ocorrida uma vez que Jesus, batizado, saiu da água na qual se havia efetuado o primeiro batismo.

O rasgar-se, ou abrir-se dos céus, acontecimento que os evangelistas mencionam, assinala a nova transparência do “teto” da consciência do homem. Quanto a chegada do Espírito em forma de pomba, não é tanto “baixada” (que o é, porquanto desce de Deus ao homem), como “subida” desde a semente até a cabeça ou “coroa” do homem, onde se pousa o Espírito “como uma pomba”, para começar sua obra de unção com o néctar da oliva.

E se Lucas explica que o Espírito baixou “em forma corporal”, não é porque o Espírito possa ser outra coisa que espírito, pois ser espírito é sua substância, senão porque tomou forma e vestimenta corporal no corpo de Jesus; e ali foi donde incendiou com fogo do conhecimento, pois essa é a unção, e esse é também o fogo que Jesus, posto que o tinha, queria logo trazer sobre a terra (v. Fogo sobre a terra).

A tradição cristã da aparição do fogo no episódio do duplo batismo de Jesus, que não mencionam os evangelistas, a recolhe Efrem, ainda que não de todo, pois diz que: “Se incendiou um fogo no Jordão”, e devia dizer “às margens do Jordão”, posto que os sinópticos coincidem em relatar que o Espírito Santo em forma de pomba, “baixou” quando Jesus, já batizado, “estava posto em oração”.

O Espírito é o agente do fogo, pois sua unção de conhecimento desde sobre a alma que está em oração, “voltada” para Deus, como se caísse um rio de fogo. Mas este fogo “novo” não arde em mistura com as águas da alma por mais puras que estas sejam, senão que como nascido em prolação da Luz (Sabedoria, a Glória do Filho), é a chama fria, branca, que transmite a formosura da Luz. Este fogo novo, puro, só vem quando a água do batismo de penitência tenha sido libada.

Tal é a descida da Luz e da Vida que o Cristo toma das asas do Espírito que sobre ele se pousa como pomba, quando seu batismo de unção, o segundo, concluiu. E este é o Filho do homem, do qual se diz que “vem” — ainda que não vem, senão que é “des-coberto”, pois ali esteve sempre enquanto grão ou semente — “com grande poder e Glória”.

O cantor das Odes de Salomão, descreve assim este momento preciso do Cristo interior, esta unção verdadeira, e o descreve com seu alto estro poético:
“Como as asas da pomba estão sobre seus pintinhos
e os bicos de seus pombinhos em seu bico,
assim também estão as asas do Espírito sobre meu coração”.

  • Nos Atos de Tomé, o Espírito Santo é denominado a “pomba sagrada que engendrou dois pombinhos”, e entre os nomes com que pode ser invocada figuram os que designam aos dois pombinhos: “Vem, tesouro da Glória e Vem, Mãe, a que confere Vida (poder) ainda que esteja escondida”.