PHILOKALIA — Pedro Damasceno
Nicodemos Hagiorita identifica Pedro Damasceno com Pedro, bispo de Damasco no final do século VIII. Entretanto os dois manuscritos utilizados na Philokalia contradizem indicando um autor do século XII e outro do século XI. Além do que o Pedro Damasceno, incluído na Philokalia por Nicodemos, refere-se a Simeão Metafrastes que viveu na segunda metade do século X. Por outro lado, este Pedro parece não ter sido tocado pela obra de Simeão o Novo Teólogo, que anta repercussão teve no século XI. Deste modo deve-se situar este Pedro Damasceno no século XI antes da irradiação da obra de Simeão, embora continue-se sem saber quem foi este Padre.
A Philokalia reúne uma coletânea de meditações sobre a ascese, sobre o sentido das beatitudes, sobre as virtudes (arete) e as contemplações (theoria) espirituais. O segundo trabalho é uma coleção de vinte quatro meditações sobre as virtudes (arete). O cerne da obra está na exposição das oito gnoses (contemplações) dadas no primeiro livro.
Segundo a tradução inglesa da Philokalia a obra de Pedro ocupa mais espaço na Philokalia que a de qualquer outro autor, com exceção à obra de Máximo o Confessor. Embora nada de seguro se saiba sobre Pedro de Damasco, supõe-se que a s indicações dos compiladores da Philokalia, não correspondem ao autor que deve ser de alguns séculos além. Trata-se certamente de um monge escrevendo para outros monges, onde seu tratamento do monasticismo indica três tipos a considerar: “obediência corporal” em uma comunidade inteiramente organizada; a vida eremítica (koinobion); e o caminho semi-eremita ou intermediário, onde dois ou três monges perseguem uma “vida de silêncio”, juntos em um kellion, considerando este um “caminho real”.
Considera-se este último tipo de monasticismo o que Pedro adotou, até porque quase não fala dos aspectos sociais e comunais da vocação monástica, pouco sobre visitantes, hospitalidade ou serviços litúrgicos. Ele efetivamente se preocupa com a ascese (askesis) pessoal e a oração (euche) do hesicasta (hesychia) individual; além do mais, não trata da situação daquele que está inteiramente solitário, pois sempre se refere ao “irmão”.
Logo no início oferece indicações das razões que o levaram a compor esta obra, incentivado por amigos devotos e se atendo a tudo que pode ler em termos de Bíblia e Patrística. Suas fontes mais citadas são Basílio e João Crisóstomo, em seguida João Clímaco, Isaac de Nínive, os Apotegmas, João Damasceno e Gregório de Nazianzo. Apesar das poucas referências a Máximo o Confessor e Evágrio, sua obra pertence a esta linhagem da tradição cristã.
Sua obra não é sistemática, embora construa vários esquemas — as virtudes (arete) cardiais, os oito pensamentos (logismos) maus (kakon), as sete ações (praktike) corporais, os oito estágios de contemplação (theoria) —, existem muitas digressões, repetições e mudanças abruptas de temas. O Livro Dois, com seus Vinte e quatro Discursos correspondendo às vinte e quatro letras do alfabeto grego, guarda uma estrutura mais coerente do que o Livro Um, embora ao final se perca um pouco. Os títulos das seções nem sempre refletem seu conteúdo, o que não desqualifica em nada o que se apresenta, valorizado por muitos de seus leitores, que o consideram uma espécie de recapitulação da santa vigilância (nepsis)… um círculo dentro de um círculo, uma Philokalia concentrada dentro da mais extensa Philokalia, como dizia Nicodemos Hagiorita.
Embora escrevendo para monges, ele insiste que a salvação e o conhecimento espiritual estão ao alcance de todos; a oração (euche) contínua é possível em todas as situações sem exceção. Enquanto enfatiza o esforço ascético (askesis) do lado humano, nunca subestima a suprema importância da ajuda divina: tudo que temos é um dom da graça (kharis) de Deus. Lágrimas, compunção, pesar (penthos) são muito mencionados, especialmente nos três primeiros estágios da contemplação, mas a nota predominante é a da esperança (elpis).
Como muitos de seus predecessores pedro é reservado no tocante a sonhos e visões. Prefere, como Evágrio, recomendar uma oração (euche) sem imagens — “pura” oração do intelecto, em um nível acima do pensamento discursivo (dianoia). Segue Marcos o Asceta defendendo uma meditação vívida e detalhada da encarnação e particularmente da paixão de Cristo. Embora mencionando as palavras “Senhor, tende piedade” (Kyrie Eleison), não se refere a Oração de Jesus. Muitas vezes chama a atenção para a necessidade de direção espiritual.
Na Internet:
- inglês
St Peter Damascene — excerto em grego e inglês - francês:
Pierre Damascène
Excertos:
- RESUMO
- LIVRO I