Origenes Amigo Importuno

Orígenes — Comentários sobre a parábola do “amigo importuno” (Lc 11: 5-13)

Tradução de Antonio Carneiro

Antonio Orbe — referências para uma exegese da parábola
Tratado dos Princípios:

Diz-se que tudo o que foi feito foi por Cristo e em Cristo, como o apostolo Paulo afirma muito claramente: Pois Nele e por Ele tudo foi criado, o que está no céu, o que está na Terra, as realidades visíveis e invisíveis, sejam Tronos, Dominações, Principados ou Potências: tudo foi criado por Ele e Nele. João em seu Evangelho fala o mesmo: No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus (Jo I,1); estava no princípio com Deus. Tudo foi feito por Ele (Verbo), e, sem Ele (Verbo), nada teria sido feito. Está escrito de forma parecida nos Salmos: Tu fizeste tudo em tua Sabedoria. Pois, ao mesmo tempo, que Cristo é o Verbo e a Sabedoria, é também a Justiça, resultar-se-á sem dúvida alguma que tudo o que foi feito pela Palavra e pela Sabedoria foi feito também, é preciso dizê-lo, pela Justiça, o Cristo. É porque no que foi feito não é preciso ver nada de injusto nem nada de fortuito, mas, ensinar que tudo está conforme o que pede a regra da Equidade e da Justiça. Como se pode compreender a imensa justiça e a enorme equidade de tal variedade e diversidade dos seres? Estou certo que nem o entendimento, nem a palavra humana, podem explicá-lo, se não implorarmos, prosternados e suplicantes, àquele que é ele-mesmo Palavra, Sabedoria e Justiça, o Filho único de Deus, para que haja por bem, em se espalhando por sua graça em nossos pensamentos, iluminar o que está obscuro, abrir o que está fechado e revelar o que é secreto. É necessário para isso que peçamos, que procuremos, que batamos à porta de uma maneira bastante digna para que, quando peçamos, mereçamos receber, quando procuremos, mereçamos encontrar, quando batamos à porta, a ordem seja dada para nos abrir. Isso não é, então, em nos apoiando sobre nosso próprio talento, mas, sobre a ajuda desta mesma Sabedoria que criou o Universo e desta Justiça que cremos presente em todas as criaturas, mesmo se, pelo momento, não tivermos força para afirmar nada, é, então, confiando em sua Misericórdia que tentaremos pesquisar e examinar, como esta tão grande variedade e diversidade do mundo parecem concordar com todas as razões da Justiça. Quando falo de razão, digo somente em um sentido geral. Pois, procurar a razão particular de cada ser é próprio de qualquer um que é sem experiência, e querer prestar conta disso é daquele de um insensato.

Contra Celso:

Quando cita ainda outra passagem de Platão, onde declara que é procedendo por questões e por respostas que ilumina a inteligência dos adeptos de sua filosofia, que se me deixa provar pelas Santas Escrituras que o Logos divino também nos convida à dialética. Tanto Salomão disse: « A instrução sem exame extravia-se »; quanto Jesus, filho de Sirach, que nos deixou o ‘Livro da Sabedoria’ (‘Eclesiástico’ ou ‘Sirácida’) declarou: « Ciência do insensato, palavras desconsideradas ». Também existem mais refutações benevolentes entre nós, quando aprendemos que o mestre da doutrina deve ser capaz de « refutar os contraditores ». E mesmo se houver pedantes (“nonchalants” em francês) que negligenciam em se aplicar às divinas leituras, em escrutar as Escrituras e, seguindo a ordem de Jesus, em procurar o sentido das Escrituras, em pedir inteligência a Deus, em bater à suas portas fechadas, a Escritura não é, portanto, vazia de Sabedoria.