Gnosticismo Luz

Fox

QUAKERS

A tradição mística, perpetuada pelos Reformadores Espirituais Protestantes, tinha-se tornado difusa na atmosfera religiosa do tempo quando George Fox obteve sua primeira grande “abertura” e conheceu, por experiência direta:

que cada Homem é iluminado pela Luz Divina de Cristo, e eu a via brilhar através de todas as coisas. E aqueles que acreditavam nisso deixaram a Condenação e chegaram à Luz da Vida e novamente tornaram-se crianças; e aqueles que a odiavam e nela não acreditavam foram por ela condenados, embora fizessem a profissão pública de Cristo. Isto eu via na pura Abertura de Luz, sem o auxílio de qualquer homem, pois nem eu sabia onde a encontrar nas Escrituras, embora mais tarde, buscando nas Escrituras, a encontrasse. (Do Journal de Fox)

Allard

Andre Allard: L’ILLUMINATION DU COEUR

Sobre a Luz Branca existencialmente conhecida no Desvelamento, é preciso entender que a Luz existencial é branca na medida que não desvela ao contemplativo «O Exemplar eterno (Arquétipo) à imagem do qual foi criado», como diz Ruysbroeck, quer dizer o Aspecto «colorido» do qual o contemplativo procede; mas esta Luz é entretanto «colorida» segundo a Clemência misericordiosa ou segundo a Justiça rigorosa, pois tudo isto que Deus criou, o fez por «seu Braço (ou lado) direito que guarda a Vida e a Clemência, por seu Braço (ou lado) esquerdo, que detém a Morte e o Rigor, e pela coluna do Meio, cujo coração é Tipheret, que harmoniza todas as oposições em sua unidade». Não, a princípio, que Deus tenha criado para fazer alternar implacavelmente Clemência e Rigor. Vida e Morte, em um Samsara (devir) submetido à necessidade, quer dizer, no final das contas, ao Rigor. Mas Deus utilizou o Rigor para promulgar leis limitativas, na ausência das quais não teria nenhuma finitude formal, e portanto, nenhuma Criatura; e, até o pecado original que foi transgressão da Lei das leis, o universo criado existia em regime de Clemência, esta recobrindo o Rigor e o tronando inaparente e inofensivo, desde que o homem, criado livre, continuasse a observar a única Lei da qual dependia sua vida.

Contendo nela os dois grandes aspectos de Clemência e de Rigor, a Luz Branca de Deus pode ser conhecida seja em regime de Clemência, seja em regime de Rigor. Logo ela é «colorida» na medida que é recebida como uma bendição ou como uma maldição. O Trono sobre o qual Alá está assentado é chamado «Trono da Clemência» segundo é ensinado que «Minha Misericórdia precede Minha Cólera». Aí onde reina a ordem divina (aos dois sentidos de comando e de harmonia), o Rigor divino não é abolido, mas é «coberto» pela Clemência. O Rigor, ou Justiça, não se manifesta senão aí onde há pecado; aí onde o pecado não é mais, a Clemência absorve o Rigor e a oposição Clemencia-Rigor desaparece.

Roberto Pla

Evangelho de ToméLogion 83

Se se quer penetrar no significado que para o homem que ama o evangelho deve ter a palavra LUZ, quer dizer, se se quer saber o significado “real” que para Jesus e seus discípulos tinha a palavra, há que começar por recordar que Jesus, Cristo oculto e manifesto ao mesmo tempo, disse: “Eu sou a luz do mundo”. Não falava Jesus, ao dizer isto, da luz “em si”, desnuda, perfeita no seio do Pai, senão dessa mesma luz, pois não há outra, quando está escondida, oculta, nas imagens que cada homem do mundo vê (vide a notável análise de Michel Henry VERDADE DO MUNDO). Por isso não disse Jesus: “Eu sou a luz, o que em tal caso teria o mesmo significado puramente espiritual de luz pura, intacta, não cativa, que essa que nomeia o apóstolo João em sua primeira espístol quando exclama: “Deus é luz”.

Há muitas passagens testamentárias que são válidas para esclarecer que determinações da luz pode perceber nossa inteligência sob a locução: “Luz do Mundo”.

Quando o salmista recita: “Em ti está a fonte da vida e em tua luz vemos a luz” (Sl 36,10), o que explica é que a glória luminosa de Cristo é poder de Deus que há que aprender a receber na dupla acepção de ser vida eterna e conhecimento. Esta luz que vem do Pai como a luz solar irradia e se distribui desde o sol, é com efeito, o manancial da Vida eterna, isenta de morte, que alimenta, escondida nelas, todas as imagens do mundo. O homem que nasce do Espírito “se abriga sob a sombra de suas asas”, quer dizer, vive sob o amparo bendito da luz, com renúncia ao fruto das imagens manifestadas. Assim é como a luz escondida nas imagens do mundo, se manifesta ao homem pneumático e o ilumina para que transforme sua vida mortal em Vida imperecedoura.

Como um fluxo subjetivo paralelo, a glória luminosa de Cristo, a luz do mundo, é para o homem “o conhecimento”, pois diz o salmista que esta é luz pela qual é possível “ver a luz”. Por isso se disse que a sabedoria — a glória de Cristo — é um reflexo da luz eterna. A luz pela qual vemos a luz, esta glória, não é, certamente, outra que a luz do conhecimento, e esta, por sua vez, é uma luz que aparece fragmentada — em ideias, em pensamentos 0 para que resulte acessível ao mundo a luz absoluta, a sabedoria, que circunda a Cristo como uma coroa na qual reluz a verdade. Na epístola aos efésios se diz a este respeito: “O Pai da glória os conceda espírito de sabedoria e de revelação para conhecê-lo perfeitamente”.

A glória luminosa é além do mais, poder, força que segundo se diz: “conforta com toda fortaleza”. O que segue sua senda pode entrar no conhecimento perfeito, submeter-se na verdade e receber a revelação da vida eterna. A glória de Cristo, é “o Caminho, a Verdade e a Vida”, e por isto é primícia da ressurreição.

O cumprimento do evangelho de Cristo consiste em que a luz que permanece oculta nas imagens do mundo, se revele no final como filha da ressurreição. No que se refere à ressurreição do homem, é bem conhecida a explicação dada por Paulo Apostolo, segundo a qual a imagem do homem é o “homem velho” do que há de despojar-se para deixar passagem renovada ao “homem novo”, feito de luz — à “imagem” de Deus (eikon) —, do qual há que revestir-se.

A peregrinação desde a imagem à luz é a grande renovação religiosa do homem segundo a Boa Nova, porque ela é por si só a viagem a essência verdadeira. O primeiro homem — o homem velho — ao qual Paulo Apostolo denomina em outra ocasião, “Adão, alma vivente” é aquele cuja consciência aparece identificada de maneira “natural”, ingênua, ainda que só por ignorância, com os conteúdos passageiros, temporais, da psique, os quais toma, erroneamente, por seu verdadeiro Ser, por seu eu. Tal homem primeiro — o qual será último segundo o evangelho (ÚLTIMOS PRIMEIROS) — é qualificado de “vivente” porque tudo aquilo com o qual ele se identifica é mortal, pois consiste em ser imagem terrena, manifestada, do homem verdadeiro. Sua vida, tomada “de empréstimo”, só dura enquanto se mantém à prestação.

Quando o homem “primeiro”, o psíquico, se “converte” e passa a ser seguidor da ordem da luz em lugar de continuar apegado ao recipiente de barro, transfere a identificação de sua consciência ao homem último, denominado por Paulo Apostolo, “Adão, espírito que dá vida”. Se se diz deste homem segundo que “dá vida”, é porque possui a “vida eterna” e participação com a glória do Filho, ao qual o Pai deu em propriedade desde o princípio.

Uma vez se identifica a consciência com o homem “de acima”, com o regenerado do Espírito, a luz se revela e a imagem fica definitivamente oculta, escondida. Osso foi dito na epístola: “Todo o que fica manifesto é luz”.

Como diz o profeta Isaías em uso poético para toda a geração humana: “porque o teu orvalho é orvalho de luz, e sobre a terra das sombras fá-lo-ás cair”.