Eriugena Três Mundos

Escoto Eriugena — Homília sobre o Prólogo do Evangelho de São João
XIX Três mundos
Notem que o bendito Evangelista nomeia “o mundo” quatro vezes. No entanto, devemos compreender que há três mundos.

O primeiro destes mundos em ordem é preenchido unicamente com as substâncias invisíveis e espirituais das hierarquias angélicas. Quem quer que nele entre possui completa participação na verdadeira Luz.

O segundo é diretamente oposto ao primeiro, pois é constituído de naturezas corporais e visíveis. E no entanto, por mais baixa que possa ser a posição deste mundo no universo, o Verbo estava apesar de tudo nele, e ele foi feito pelo Verbo. Assim é o primeiro estágio daqueles desejando ascender à cognição da verdade por meios sensíveis, pois as espécies das coisas visíveis atrai a alma pensante em direção à cognição das coisas invisíveis.

O terceiro mundo é aquele que, como um princípio mediador, une em si mesmo o superior, o mundo espiritual, e o inferior, mundo corporal, fazendo destes dois um. Este mundo refere-se unicamente à humanidade; mundo no qual todas as criaturas estão associadas como um. Pois o ser humano consiste de um corpo e uma alma. Atando juntos o corpo deste mundo e a alma do outro mundo, o ser humano — a humanidade — cria um único cosmo. Pois o corpo possui toda a natureza corporal e a alma toda a natureza espiritual, e estes se combinando em uma única harmonia formam o mundo cósmico do ser humano. Eis porque o “homem” é chamado “todo” — pois todas as criaturas estão na humanidade com se fundidas em um cadinho. Por conseguinte o Senhor ele mesmo ensina seus discípulos, quando estes estão para prosseguir e pregar: “Preguem o Evangelho para toda criatura”.

Este mundo, por conseguinte, que é a humanidade, não conhece seu Criador. Nem pelos símbolos da lei escrita nem pelos paradigmas da criação visível os seres humanos, presos pelos laços da pensamento carnal, quiseram conhecer seu Deus. “E o mundo não o conheceu”.

Os seres humanos não conheceram Deus o Verbo nem através de nudez de sua verdadeira divindade, antes de assumir a natureza humana, nem através da vestimenta da encarnação, depois de assumir a natureza humana. Eles não conhecem o invisível; ele negam o visível. Eles não quiseram buscá-lo, a quem os buscou. Eles não quiseram ouvi-lo, a quem os chamou. Eles não quiseram cuidá-lo, a quem os deificou. Eles não quiseram recebê-lo, a quem os recebeu.