ESCOTO ERIUGENA — (HPESJ|HOMÍLIA SOBRE O PRÓLOGO DO EVANGELHO DE SÃO JOÃO))
XX SEU PRÓPRIO (Jo I,11; Jo I,12)
“Ele veio para o que era seu próprio” — para estas coisas, quer dizer, que foram feitas por ele e portanto não eram sem valor para seu próprio — “e o seu próprio não recebeu ele”.
“Seu próprio” é a humanidade, que ele queria redimir e que ele redimiu.
“Mas, a todos quantos o receberam, a eles deu-lhes poder para se tornarem filhos de Deus mesmo àqueles que acreditaram em seu nome”.
Aqui uma divisão é feita, não na humanidade do mundo racional, mas nas sua vontade. Aqueles que recebem o Verbo encarnado estão separados daqueles que o rejeitam. O fiéis acreditam que o Verbo veio e livremente recebem seu Senhor. Os incrédulos negam e teimosamente o recusam — os judeus pela inveja, os pagãos pela ignorância. Para aqueles que o receberam, ele deu o poder de se tornar filhos de Deus. Para aqueles que não o receberam, ele deu a oportunidade de recebê-lo um dia.
Pois a possibilidade de crer no Filho de Deus e de se tornar um filho de Deus não é negada a ninguém — pois isto é feito da vontade humana, junto com a cooperação da Graça divina.
Para quem, então, é dado o poder de se tornarem filhos de Deus? Para aqueles que o recebem e creem no seu nome. Muitos receberam o Cristo. Os seguidores de Arius, por exemplo, o receberam, mas não creram no seu nome. Eles não creem que ele é o único primogênito Filho de Deus, consubstancial com o Pai. Eles negam sua homoousion — sua co-essencialidade com o Pai — e afirmam sua heteroousion — seu ser de outra essência que o Pai. Por este ponto não os beneficia receber o Cristo, pois esforçam-se para negar seu nome. Aqueles que verdadeiramente recebem o Cristo — verdadeiro Deus e verdadeiro ser humano — e creem nisto muito firmemente: para aqueles é dada a possibilidade de se tornarem filhos de Deus.