IX O que nele foi feito
“O que nele foi feito era vida”. O mais longe possível de toda razão e intelecto, o abençoado Evangelista revela os mistérios divinos. Demonstra o Deus–Verbo claramente revelado no Deus que fala, deixando para aqueles que contemplam as Escrituras Divinas a revelação do Espírito Santo em ambos.
Com efeito, assim como quem quer que fale, na palavra que fala, necessariamente espira sopro, dá nascimento a seu Filho, e através de seu Filho, assim nasce, produz seu Espírito.
Seguindo isto, o Evangelista adiciona que através do Filho todas as coisas foram feitas e que nada subsistiu fora dele.
Então, assim como perseguindo o desdobramento de sua teologia a partir de outro início, ele diz, “O que nele foi feito era vida”. Antes disse, “Todas as coisas foram feitas por ele”, e então, como se alguém tivesse perguntado sobre estas coisas que são feitas por Deus — como e o que estas coisas feitas por ele nele eram — o Evangelista responde, “O que nele foi feito era vida”.
A última sentença é ambígua e pode se dita de duas maneiras. Pois, ora se diz “O que foi feito”, ajuntando, “nele era a vida”. Ora se diz, “O que nele foi feito”, e então adiciona-se, “era vida”.
Através destas pontuações, dois significados diferentes nos são dados para contemplação. Pois a contemplação que afirma, “O que foi feito em lugares, tempos discretos, espécies, formas e números distintos, se de substância sensível e intelectual, compacto ou separado, tudo isto nele era vida”, não é o mesmo como quando se declara “O que nele foi feito outro não é que vida”.
Deixe nosso significado, portanto, ser o seguinte: Todas as coisas nele foram feitas, nele são vida e são unas. Todas as coisas nele foram — subsistem — como causas antes de serem em si mesmas como efeitos. Pois as coisas que são feitas através dele estão sob ele de certa maneira; e as coisas que ele é nele são em outro.