ERÍGENA — HOMÍLIA SOBRE O PRÓLOGO AO EVANGELHO DE S. JOÃO
Minha tradução feita a partir da edição inglesa feita por Christopher Bamford (Lindisfarne Press,1990)
XII — E A LUZ BRILHOU NA ESCURIDÃO (Jo I,5)
“E a luz brilhou na escuridão”. Ouçam o Apóstolo: “Pois estáveis algumas vezes na escuridão, mas agora sois luz no Senhor”. Ouçam Isaías: “Aqueles que habitam na terra da sombra da morte, sobre eles a luz brilhou”.
A luz brilhou na escuridão. Toda a humanidade, em virtude do pecado original, estava na escuridão — não escuridão dos olhos externos que sentem as formas e cores das coisas sensíveis, mas escuridão dos olhos internos que discernem as espécies e belezas das coisas inteligíveis; não na escuridão de uma atmosfera sombria, mas na escuridão da ignorância da verdade; não na ausência da luz que revela o mundo corporal, mas na ausência da luz que ilumina o mundo incorpóreo. Nascida de uma virgem, esta luz brilha na escuridão — quer dizer, nos corações daqueles que a conhecem.
E seguindo isto, posto que é verdade que a humanidade é agora, como foi, dividida em duas partes — aqueles cujos corações são iluminados pelo conhecimento da verdade e aqueles que ainda permanecem na escuridão do não sagrado e sem fé — o Evangelista adiciona: “E a escuridão não a compreendeu”.
Isto é como se tivesse dito: A luz brilha na escuridão das almas cheias de fé, e brilha aí mais e mais, começando na fé e se dirigindo para o conhecimento; mas os corações do não sagrado, através dos sem fé e ignorantes, não apreendeu a Luz do Verbo glorificando a carne. “Seus tolos corações estavam escurecidos”, como o Apóstolo diz. “Professando a si mesmo como sábios, se tornaram tolos”. Tal, finalmente, é o sentido moral da escuridão.