ERÍGENA – Prólogo João
XI A luz dos seres humanos
“E a vida era a luz dos seres humanos”. O Filho de Deus, que previamente chamastes o Verbo, ó bendito teólogo, agora o chamas vida e luz. E não sem razão trocastes os nomes, mas a fim de nos permitir compreender significados diferentes. Se, de fato, nomeastes o Filho de Deus “o Verbo”, é porque o Pai falou todas as coisas através do Verbo. Como está escrito, “Ele disse e foi feito”. E agora o chamas “luz” e “vida”, porque este mesmo Filho, que é o Verbo, é a vida e a luz de todas as coisas que são feitas através dele. E o que ele ilumina? Não outro do que ele mesmo e seu Pai. A luz, portanto é e ilumina, a si mesma. A luz do Verbo revela a si mesma para o mundo; manifesta a si mesma para o ignorante.
Quando a humanidade abandonou Deus, a luz do conhecimento divino retirou-se do mundo. Desde então, a luz eterna revela a si mesma de uma maneira dupla através da Escritura e através da criatura. O conhecimento divino pode ser renovado em nós de outro modo que não seja as letras da Escritura e as espécies de criatura. Aprenda, portanto, a compreender estes divinos modos de expressão e conceber seus significados em sua alma, pois aí conhecerás o Verbo.
Observe as formas e belezas das coisas sensíveis, e compreenda o Verbo de Deus nelas. Se assim o fizeres, a verdade se revelará em ti em todas tais coisas apenas ele que as fez, fora de quem não tens nada a contemplar, pois ele mesmo é todas as coisas. Pois o que quer que verdadeiramente é, em todas as coisas que são, é ele. De fato, assim como nenhum bem substancial existe fora dele, assim também nenhuma essência ou substância existe que não é ele.
E a vida era a luz dos seres humanos. Porque o teólogo adiciona “a luz dos seres humanos”, como se a luz que é a luz dos Anjos, a luz do universo criado, de fato a luz de toda a existência visível e invisível, devesse ser especial e peculiarmente a luz da humanidade. Não é o Verbo que dá vida a todas as coisas talvez afirmado especial e peculiarmente ser a luz da humanidade, porque em seres humanos ele declara a si mesmo não apenas a eles, mas também aos anjos e a todas as criaturas capazes de participar em conhecimento divino?
Pois Deus não apareceu como uma anjo para todos os anjos, nem como um anjo para humanidade, mas como um ser humano para ambos, seres humanos e anjos. Deus apareceu não simplesmente em aparência mas em verdadeira humanidade, que ele assumiu ele mesmo completamente, em uma unidade de substância. Assim ele apresentou-se a si mesmo — cognição de si mesmo — a todos que podem conhecê-lo. A luz da humanidade, portanto é nosso Senhor Jesus Cristo, que em sua natureza humana mostrou-se a si mesmo para todas as criaturas racionais e intelectuais, revelando os mistérios ocultos de sua divindade, pelos quais é igual ao Pai.