Paul Nothomb, Tuniques d’aveugles [PNTA]
Em seguida à abertura do Gênesis (Bereshith vem o “criar” “os céus e a terra” cuja sorte de “hieróglifo” gráfico em seis letras, pelo qual se abre — certamente não por acaso — a “Bíblia das Origens” pareceria situar de maneira críptica (porque muito adiante de seu tempo) a criação, não somente em “um princípio” mas em um “lugar”. De maneira críptica mas que aparece hoje em dia surpreendentemente precisa à luz das recentes descobertas da neurobiologia. Posto que este “lugar” sugerido é “a cabeça” ou “uma cabeça”. E qual cabeça, senão aquela que contém o córtex cerebral mais desenvolvido, onde se elabora o conjunto das representações mentais que denominamos a realidade, e que a ciência descreve como o universo físico que nos cerca? Este conjunto, a Bíblia das Origens o denomina “os céus e a terra”. Hebraísmo corrente que consiste em reunir noções contrárias ou complementares para exprimir a totalidade (outro exemplo logo em seguida no texto “houve uma noite, houve uma manhã” para dizer “uma jornada ou um período inteiro”).
Assim desde a primeira linha da Bíblia e antes de qualquer menção do Homem ou de um qualquer evento precedendo o Homem na cronologia bíblica, é evocado o papel central desempenhado pelo cérebro humano na “criação dos céus e da terra”. Certamente ela é atribuída a um ato divino específico, atestado pelo sujeito “Deus” do verbo “Criar” (escrito com maiúscula para distinguir do “criar” em português) presente em hebreu, tanto “no princípio” como “na cabeça” (vide Bereshith).