Casa de Zaqueu (Lc XIX, 1-10)

Atos de Jesus – Casa de Zaqueu (Lc XIX, 1-10)
EVANGELHO DE JESUS
1 Ele entra, atravessa Ieriho,
2 e eis, um homem chamado de nome Zakaî. É um chefe de coletores, um rico.
3 Ele procura ver quem é Iéshoua’,
mas não consegue por causa da multidão: ele é de pequena estatura.
4 Ele corre à frente, sobe em um sicômoro
a fim de vê-lo: é por ali que ele deve passar.
5 Quando ele chega ao lugar,
Iéshoua’ eleva o olhar e lhe diz:
«Zakaü, apressa-te, desce!
Sim, hoje, preciso ficar em tua casa.»
6 Ele se apressa em descer
e o acolhe com bem-querer.
7 Vendo isto, todos murmuram e dizem:
«Ele entra para se hospedar em casa de um homem faltoso!»
8 Zakái, de pé, diz ao Adôn:
«Eis, a metade de meus bens,
Adôn, eu a dou aos pobres.
E se roubei alguém, devolvo o quádruplo.»
9 Iéshoua‘ diz-lhe:
«Hoje há salvação para esta casa,
pois ele também é um filho de Aḇrahâm.
10 Sim, o filho do homem vem procurar e salvar o que está perdido.» (Chouraqui; Lc 19:1-10)

Roberto PlaEvangelho de Tomé – Logion 85

Um exemplo evangélico da “diminuição” psíquica quanto ao mundo, pode ser a história lucana daquele chefe de publicanos, homem “rico”, chamado Zaqueu, que esperava a Vinda de Cristo subido a um sicômoro. O Sicômoro que galgava Zaqueu para suprir assim sua “baixa estatura” não é outra coisa que uma falsa figueira, uma árvore geralmente corpulenta que todos os fruto que dá são figos não comestíveis.

Em situação semelhante à figueira estéril (FIGUEIRA INFRUTÍFERA) e seca se encontra o sicômoro de figos indigestos no qual, ignorante, galga Zaqueu para ver a Vinda do Senhor (VINDA DO FILHO DO HOMEM). Zaqueu confia, cego, em sua árvore, em sua alma estéril, para entrar na ressurreição do espírito que anela. Mas, em rigor, sua árvore é para a morte, como um destes sepulcros sobre os quais as vezes se anda sem sabê-lo. Inclusive, a madeira muito densa, quase imputrescível do sicômoro, era a madeira empregada em algumas nações de seu tempo para fazer ataúdes.

É a voz do Senhor que aconselha Zaqueu que desça de sua “grande riqueza” para se fazer digno do “grande poder” e receber ao Senhor em sua morada. Este é o nascimento em Espírito, e Zaqueu, manso, diligente, desce em seguida da árvore e adota a humildade dos “pobres de espírito”. Na boca de Jesus põe então o evangelista o cumprimento oculto: “Hoje chegou a salvação a esta casa, porque também este é filho de Abraão”. Isto o diz pela “diminuição” sobrevinda em Zaqueu em consequência da fé e para o crescimento do Cristo oculto. E posto que a fé o moveu, o reconhece Jesus como filho de Abraão ao qual foi reputada a fé como justiça e com isto o foi concedido a promessa a ele e a sua posteridade espiritual, de ser herdeiro do mundo.

Como se diz ao final do relato de Zaqueu: “A isto veio o Filho do Homem, a buscar e salvar o que estava perdido”. Em verdade essa foi a Boa Nova que Jesus anunciou aos “pobres” quando fez sua leitura de ofício na sinagoga de Nazaré: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porquanto me ungiu para anunciar boas novas aos pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos, e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos” (Lc 4:18-19).