Água

As significações simbólicas da água podem reduzir-se a três temas dominantes: fonte de vida (infinidade de possíveis), meio de purificação, centro de regenerescência. (Dicionário de Símbolos, Chevalier & Gheerbrant)

Evangelho de Jesus: Termo citado em 333 versos

Vocabulário Teológico do Evangelho de São João: Juan Mateos & Juan Barreto

A água-Espírito. Além da oposição entre as duas alianças que se estabelece em Caná, João, assumindo a linguagem dos profetas (cf. Is 32,15-18; Jo 3,12; Zc 12,10), faz da água o grande símbolo do Espírito.

A primeira vez que se associam água e Espírito é em (Jo 1,33): o que batizará com Espírito Santo; o verbo “batizar” não tem neste caso o significado de “submergir”, mas de “embeber”, como a chuva (cf. Is 44,3: alento = Espírito), de acordo com o duplo sentido do verbo grego. Compara-se o Espírito com água que penetra no interior do homem e lhe dá vida e fecundidade.

A infusão da vida pela água-Espírito compara-se com novo nascimento que permite entrar no reino de Deus (Jo 3,5); é princípio de vida definitiva, em oposição à “carne”, que produz somente vida transitória (Jo 3,6) (Carne I; Espírito Vb; Vida IIc).

Essa água-Espírito substitui a Lei, como aparece na cena de Caná (água-vinho = Espírito) e, mais tarde, no episódio da samaritana, onde o manancial de Jesus (Jo 4,6.14) substitui o poço de Jacó, também figura da Lei (Jo 4,12); é, pois, o guia interior da conduta do homem. A água-Espírito é designada agora como a água viva que, em oposição à Lei, mata a sede do homem. É de mais a mais fato personalizante, por transformar-se em manancial interior que fecunda o seu ser (Jo 4,14): rega “a terra” de cada um, desenvolvendo nele suas próprias capacidades. Assim como em 3,5 se identifica com a que jorra do lado de Jesus (Jo 3,3.7: de novo/do alto; cf. 19,34) (Céu II), aqui se concebe como água que se bebe e se torna princípio interno de vida (Jo 4,14). A condição para receber esta água é acolher Jesus em sua humanidade (Jo 4,7: Dá-me de beber). A água que expressa amor e acolhimento Jesus responde com a água do Espírito-amor. O contrário ocorrerá na cruz, quando, ao pedido de água (Jo 19,28: Tenho sede) responderão com o vinagre do ódio (Jo 19,29). Exemplificam-se assim as reações, positiva e negativa, enunciadas no prólogo (Jo 1,12: quantos o acolheram; 1,11: os seus não o acolheram).

A água-Espírito aparece também em Jo 7,37-39, onde se identifica explicitamente com o Espírito que, neste caso, brota de Jesus novo templo, segundo o simbolismo próprio da festa das Tendas (Jo 7,37) (Festa VI). Nos rios de água que jorram de suas entranhas (Jo 7,38) há alusão à rocha do deserto que coincide com a água do novo templo, segundo a síntese efetuada no judaísmo de todas as fontes de água que apareciam no AT: poços dos patriarcas, rocha do deserto, novo templo etc. Este simbolismo complexo transfere-se para a água que brota do lado de Jesus na cruz (Jo 19,34), momento da manifestação de sua glória (cf. 7,39).